quarta-feira, 14 de agosto de 2013

O quintal do vizinho e as responsabilidades

Vim aqui rapidinho. Tô na dívida, eu sei. Volto bem, provavelmente, em setembro. Antes disso, pouco provável, porque tenho um mundo de coisas para resolver, aprender e adaptar.
E justamente nessa coisa de adaptar eu me dei conta de uma coisa: o quintal do nosso vizinho é mais verde. E mais bem-aparado. E, porque não estou falando em sentido metafórico, o buraco também é mais embaixo.
Longe de mim querer vir com o discurso plano e raso de que viva tal país perfeito. Nem Brasil, nem EUA, nem qualquer outro país do mundo é perfeito. Mas acho que devemos, assim como fazemos em nossas referências pessoais, buscar o que há de melhor em cada nação e tentar trazer isso para nossa vida e experiência.
Dito isso, peço licença para fazer uma pequena digresão, mas não muito, e dizer que num desses flashes diários do Facebook eu li uma matéria muito interessante sobre a juventude não estar muito interessada em assumir determinadas responsabilidades da vida adulta. Como o texto era gringo, as tais responsabilidades incluíam hipoteca da casa.
Outra digressão e eu quero voltar ao texto bacanudo da Eliane Brum: nossos filhos precisam lidar com as dores e frustrações da vida para crescerem com mais chances de serem felizes, pois ensiná-los a sofrer e a lidar com as mazelas é mais uma ferramente que devemos fornecer a eles. (Pelo menos é essa a minha leitura do texto.)
Juntando lé com cré, meus primeiros dias aqui me fizeram (e ainda estão fazendo) refletir muito sobre responsabilidades, privilégios, culturas e criação.
Nascida e criada em um país cujas raízes escravocratas se deitam sobre um leito de organização urbana peculiar, vejo que não sei fazer uma porção de coisas na minha casa porque sempre tive que fizesse por mim. Não falo de cozinhar, coisa que faço desde meus 11 anos, nem de limpar, varrer, lavar, arear, esfregar e organizar, pois isso eu também já faço há longos anos. Minha questão é: se eu tivesse um jardim aqui (isto é, se eu morasse em uma casa), ele seria verdinho, bem-aparado e vistosamente bem cuidado? Não. Definitivamente, não. Eu mal dou conta de lavar, passar, cozinhar, frilar, fazer supermercado, cuidar do rebento e tentar ajudar o marido. Imaginem agora se eu precisasse desentupir fossa, instalar ventilador de teto, remover carpete, pintar parede, aparar grama e podar árvore?!
De repente, então, me senti adolescente, morrendo de medo de acabar numa hipoteca de uma casa com infindáveis pequenas aporrinhações que não podem ser resolvidas pelo síndico ou pelo porteiro. E de repente me dei conta também de que, embora tenha sido muito protegida (no sentido de carinho) pela minha mãe, também fui exposta a problemas e dificuldades, e por isso tenho umas ferramentas bem úteis para os pepinos da vida.
Esse trololó todo para dizer que está complexa a adaptação, mas não difícil, e também que o quintal aqui é sempre mais verdinho, não só porque se deixarem ele feio os americanos pagam multa, mas principalmente porque eles botam a mão na massa e, acima de tudo, encontram prazer em cuidar daquilo que tomam como sua responsabilidade.
E eu espero que esse valor o Arthur assimile. Porque ele não merece nada, e também porque ele merece a chance de ser feliz com o que tem, como tem e com as ferramentas e habilidades que tem.

Volto em breve!

Um comentário:

  1. Pois é, acho que aqui, na média (tô generalizando mesmo...), as pessoas são muito mais auto-suficientes do que no hemisfério sul, principalmente os homens. Essa história de sair de casa aos 18 anos para fazer faculdade pode parecer meio "violenta" dentro da cultura brasileira (onde, muitas vezes o jovem só sai debaixo da asa dos pais para casar), mas acho que acaba sendo muito importante para um amadurecimento do indivíduo. Além disso, acho que aqui, pelo menos nas cidades onde morei, as pessoas têm uma noção de comunidade muito mais ativa do que o carioca. Elas participam mais da comunidade, e assim se preocupam mais com o bem-estar e o cuidado da mesma. É realmente interessante (e soa meio contraditório), pois o estereótipo é que o brasileiro é mais amistoso, mais aberto, mais convidativo, enquanto o americano é visto como mais frio, mais distante...no fundo, acho que esses estereótipos não tão com nada!
    Ah, mais uma vez, seja bem-vinda a Evanston! Acabei de chegar no domingo, estou matando as saudades do meu lar e amanhã já viajo novamente (passar uma semana em DC dando aula...) Mas assim que voltar, que tal combinarmos de nos conhecer pessoalmente?
    Beijinhos e uma boa semana!

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