sábado, 2 de novembro de 2013

Primeiro Halloween

Vocês, que me acompanham, sabem que eu não faço muito o estilo "querido diário", né? Geralmente faço um texto gaiato ou drama queen das coisas que me acontecem e vamos que vamos. Mas hoje eu vou fazer diferente. É que meu pequeno teve seu primeiro Halloween, e isso foi tão importante que merece nota.
Mas, já que vamos fazer, que façamos direito: deixem-me começar de novo o post.


Querido diário,

ontem foi Halloween aqui nos Estados Unidos. Nunca curti muito a data, non creo en las brujas (pero que las hay, las hay) e achava essa coisa toda meio estranha, porque carnaval era tão mais interessante em termos de fantasia, e logo depois vinha finados, que no Brasil é uma data tristonha, melancólica, então achava a coisa meio fora do eixo, meio desesperada. Mas eu não estou mais no Brasil, né, Di? Tô aqui, no Tio Sam halloweenesco, cheia dos frios e dos R retroflexos para tentar me comunicar, cheia do espírito de imigrante-vamos-nos-integrar-à-comunidade, essas coisas todas. E cheia dos hormônios de amamentação também. Porque, né, a ocitocina ajuda. O quê, Di? Não entendeu a conexão entre ocitocina e Halloween? Pô, Di, eu comprei um raio de uma fantasia de raposa para o Arthur! RAPOSA! Laranjinha, com rabo e enchimento na barriga! E Arthur, que já é a coisa mais fofa e deliciosa do universo todinho, ficou dolorosamente divino! Tudo bem que ele não curtiu muito o capuz que fazia a cara da raposa, mas durante o passeio, incomodado pelo frio e pela chuva (sim, choveu, como sempre acontece no dia dos mortos... uma tradição brasileira que talvez tenhamos importado), ele deixou ficar aquela cara de raposa, e não houve uma única pessoa que não tivesse elogiado a criatura!
Bom, mas deixa eu voltar aqui pro começo, antes de contar como foi.
Eu comprei a fantasia, espetei a criança lá dentro e, culpa da ocitocina, fiquei louca! Tirei 312 fotos (literalmente), suspirei, pirei e... broxei. Olhei para fora e a garoa fina da manhã virara chuva de verdade. Aqui, Di, o Halloween é tipo Carnaval no Brasil: tem anúncio de início e término (mas não dura uma semana; e se durasse, acho que eu infartava com tanta fofura!), e ao contrário do que mostram os filmes, não acontece de noitão. Porque é uma festa principalmente das crianças, é preciso se pensar na segurança, e a cidade onde moro decretou o horário oficial das 16 às 19h. E às 16h30, chovia canivete (ou gatos e cachorros, para gracejar com o idioma que agora speakamos). Deprimi. Mas aí comecei a ver a criançada nas ruas, todo mundo fantasiado, e pensei: "pô, primeiro Halloween do pequeno, e eu aqui no maior bode. Vou colocar isso no livrinho dele? 'Filhinho, no seu primeiro Halloween você e sua mãe ficaram dentro de casa, vendo a chuva, assistindo as crianças brincarem. Mas, ó, tirei baciada de fotos!' Eu não! Sapequei o moleque dentro do carregador de bebês (achei que seria mais prático, apesar de o carrinho ter capa de chuva), atochei o capuz de raposa, máquina de um lado, bolsa do outro, e bora enfiar a cara nessa de mergulhar na cultura. Ou melhor, bora pular de bomba nesse mergulho.
Nossa rua é bem residencial. Aliás, nossa vizinhança toda. E por isso fomos dar uma volta no quarteirão. Arthur ficou todo feliz, porque rua é com ele mesmo! E quando viu as primeiras crianças fantasiadas começou a apontar e fazer "ãhn-ãhn-ãhn", como quem diz: "caceta, mãe, olha essa cambada fantasiada! Que porra é essa?" (Porque ele é meu filho, e vai aprender logo umas palavras pesadas, não tem jeito.) Eram princesas, ladrões, roqueiros, pêras, coelhos, jilós e outras coisas que não fui capaz de identificar (o povo é criativo e crafter por aqui). E Arthur ficou embasbacado. Acompanhou-as com olhar e... logo descobriu que elas iam até as casas das pessoas. Casas essas que estavam decoradas e repleta de brinquedos (ou que pelo menos assim pareciam ser). Pronto!
Di, o menino enlouqueceu! Foi "ãhn-ãhn-ãhn" e dedinho em riste o tempo todo. E quando eu perguntava: "Meu filho, você quer entrar nesta casa?", ele sacolejava as duas cabeças (a dele e da raposa) e ficava com os olhinhos vidrados. Liguei pro marido aos prantos, tocada pela comoção que o evento causa: crianças fofas e felizes brincando nas ruas, todo poder ao povo! Ah, chorei mesmo. E fiz marido largar trabalho e vir ficar com a gente, afinal era uma festividade familiar.
O que era para ser uma voltinha no quarteirão virou uma peregrinação pela vizinhança. Vimos casas com decorações simples, casas que pareciam saídas de filmes de terror, casas com pessoas simpáticas, casas com pessoas ultra-simpáticas, casas com cachorros, com gatos, com outras crianças. Pegamos mais de trinta guloseimas (noventa porcento chocolate, uma pena!) e uma mini-tangerina com carinha de abóbora! Fiz questão de visitar minha casa favorita (aqui perto, em frente à igreja, Di. Espetáculo de casa!) e dar uma bisoiada em quem mora, como vive, o que come gente que tem casas lindas como aquela.
Era um cara de uns 40 anos, com cara de rico, roupa de rico (e três carrões na garagem), um cachorro (que pelo latido era grande), bebendo vinho e ouvindo The Doors enquanto distribuía chocolates em meio a uma bomba de fumaça (Arthur ficou fascinado). Ele nos mandou assistir este vídeo, que, segundo ele, já era viral (a filha dele, na faculdade, mandou para ele porque todo mundo estava assistindo). Bom, eu sei lá como é que a raposa faz, mas a minha raposa fazia "ãhn-ãhn-ãhn" a cada casa, e no fim da noite já estava enfiando a mãozinha gorda nas tigelas cheias de doces e enfiando um pirulito verde-euforia na boca. Claro que eu não tirei o papel. Claro que duzentas e doze pessoas vieram me avisar que o pirulito estava embrulhado.
Enfim, foi um dia muito especial, porque além de gostoso fez com que eu me sentisse parte de algo, fez com que eu conhecesse alguns vizinhos e que eu visse que crianças são crianças, e são felizes com pouco.
Agora, Di, o Halloween fez sentido para mim: encheu de esperança e renovou minhas energias para enfrentar o inverno que vem chegando impiedosamente. Mas eu, marido e minha pequena raposa enfrentamos o tempo ruim e, juntos, unidos, nos divertimos.

Beijo, Di. Volto outro dia.

Criançada aqui na rua. <3
OBS: Valeu pela dicas, Helen!

4 comentários:

  1. Que gostoso, Ártemis! Comemorar é sempre uma delícia! Aqui, amamos o saci, mas comemoramos o halloween sim. Toda a criançada do prédio põe as fantasias e se reúne no salão (algumas mães bem legais arrumam o salão de festas, fica lindo, decorado com teias de aranha, morcegos, fantasmas... e fazem hot dog, pipoca e pão de queijo e cada um desce com suco ou água). Enfim, criançada reunida, hora de ir a cada apartamento pedir doces. Tem gente bem legal que enfeita a porta com o tema e entra no clima com a criançada (esse ano até tinha cachorrinho de fantasia). Outros não querem brincar e não abrem a porta. OK. Depois doamos parte dos doces, porque né? o importante é a brincadeira, a reunião, as risadas e não os doces.
    bjo

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  2. Acho que vou chorar no dia em que ver (e viver!) a experiencia de um verdadeiro Halloween! Só de ver fotos já ficou louca!
    E que vídeo é esse? hahaha
    Realmente fiquei encucada pra saber o que seu vizinho come, se tem três carrões, mora numa casa legal e ouve the doors é capaz de ser uma boa referencia gastronomica também! Conseguiu ver os hábitos alimentares? Compartilha, please! haha
    Bjs!

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  3. Oba!!! Que bom que aproveitaram bem essa data! Deve ter sido uma fofura só! E dá uma sensação de comunidade, né? De "está tudo bem com o mundo, vou lá no vizinho pegar um chocolatinho e volto já..." (sensação essa que não existe nas cidades grandes, muito menos no Rio...) Já estou aqui pensando nas fantasias da cria ano que vem (Cub que me perdoe, mas vai rolar um Harry Potter/Hermione e "velhinho do Up!" independente do genero... http://1.bp.blogspot.com/-QgwTAaB_xHQ/TrM5kHedChI/AAAAAAAAGGM/eQ-pMAxMyxE/s640/UP+halloween+costume.jpg )
    Beijinhos!

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  4. Que legal!!! Adorei sua disposição de sair mesmo chovendo. Imagino que o pequeno deve ter amado. Mudando de pato pra ganso, aii como eu suspiro com essas calçadas largas, arborizadas e lindas daí... é todo lugar assim?? Lindo demais

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