quarta-feira, 6 de julho de 2016

Nosso primeiro 4 de julho

Três anos aqui e nunca calhou de estarmos nos EUA naquele que, talvez junto com o Thanksgiving e o Halloween, seja O feriado deles.
Mas este ano resolvemos fazer algo diferente e, como não temos piscina mas temos um pimpolho (não dá para beber muitos bons drinques, portanto), fomos ver a programação da cidade para o dia da independência norte-americana.
Felizmente, pude constatar com bastante alívio, não havia invasões alienígenas programadas, então achei que poderia ser bacana fazer passeios ao ar livre, já que a previsão era de mormaço e tempo nublado, mas sem chuva.
A ideia era acordar, ir ao parque, onde haveria muitas brincadeiras e diversão, depois voltar para casa, almoçar, tirar uma sonequinha, assistir à parada, voltar para casa, jantar e ir para a beira do lago assistir à banda e à queima de fogos.
Acontece que that's my life, neam? E qual é a principal lei de Murphy? Se uma coisa puder dar errado, dará.

Então, pega aí seu cachorro quente, seu refresco Tampico, seu Pop Tart e senta no gramado para acompanhar a saga.

E clica aqui, ó, para entrar no clima:

Acordamos todos felizes (depois da dose cavalar e diária de cafeína para os adultos) e iniciamos os trabalhos diários, a saber, brincar de Lego até você querer jogar todas aquelas porras daquelas pecinhas microscópicas no lixo ou o almoço ficar pronto, o que acontecer primeiro.
Nove horas tocou o telefone aqui em casa. Odeio telefone. Nunca é notícia boa. E, de fato, não era. Na verdade, era uma notícia bem triste. Bom, faz parte da vida adulta com filhos seguir em frente, apesar das más notícias, fingindo que tudo está melhor do que realmente está.
Com isso, nossa ida ao parque parecia fadada ao fracasso antes mesmo de conseguirmos tirar os pijamas. Mas a gente não desiste e, com muita lábia e jogo de cintura, consegui arrastar Arthur para fora de casa (e para longe dos Legos).
As atividades começavam 9h30. Eram 10h41 quando chegamos ao parque. Conseguimos ver as duas últimas duplas de pais e filhos jogando ovos uns para os outros e o coordenador do evento agradecendo a presença de todos, até o ano que vem. Pelo menos ainda tinham umas fatias de melancia e torta de cereja. Arthur comeu as duas coisas e quis ir brincar.
Estava eu testando minha musculatura femural em um eterno para-cima-para-baixo na gangorra com Arthur quando me lembrei que: Putz1) acabou o arroz lá em casa! e Putz2) esqueci a carteira em cima da mesa! Qual a solução? Isso mesmo: catar moedinhas no fundo da bolsa e ir rezando para o mercado.
Assim fomos. Achei umas merrecas em moedas soltas pela bolsa. O arroz custava menos que as merrecas e, felizmente, consegui comprar o arroz sem precisar passar pelo constrangimento de cancelar a compra por falta de verba.
Em casa, tudo parecia prestes a entrar nos eixos, então fui fazer arroz, almoço pronto porque cozinhei um pratão ontem, que teve sobras. Arroz pronto, abri a geladeira e cadê a comida? Marido, como se avisasse que viu um balão no céu, informa que comeu a comida toda ontem mesmo.
E agora? 
Improvisei.
Almoçamos. A ideia, lembrem-se, era tirar uma sonequinha e depois ir à parada, voltar, jantar e ir, enfim, para o lago.
Acontece que as sonecas aqui são recebidas como um convite para a amputação de um membro sem anestesia: dor, sofrimento, negação solene e veemente. Pior coisa. Seguida logo de perto por: cortar unhas, cortar cabelo, escovar dente, colocar roupa para sair, tomar banho, sair do banho, almoçar, arrumar o quarto, jantar, colocar pijama, ir ao mercado, ir ao clube, ir ao parquinho, ir ao médico, ir ao dentista, ir ao trabalho do pai etc. E não necessariamente nesta ordem.
Depois de muito choro e ranger de dentes, dormiu! Ufa! Deitei ao lado dele, para aproveitar a sonequinha e... acordei com um puta susto quando marido me informa (e também o céu lá fora) que já eram perto das seis da tarde. SEIS da tarde. Uma singela sonequinha de quatro horas!
Lembram da parada? Esqueçam, então. Não será desta vez que farei um relato dela. Lembram do jantar? Esqueçam também. 
O jeito foi juntar uns cacarecos aqui e partir para o lago. A ideia era fazer um piquenique frugal e esperar pela queima de fogos, programada para nove e meia da noite. Arthur sugeriu: vamos levar minha barraca! (A barraca dele é uma tenda tamanho criança de 2 anos, dentro da qual ele não cabe mais em pé.)
A barraca dobra, é festa, qualquer coisa é só não abrir a dita cuja e fingir que nada aconteceu: OK. Pega a barraca. Pega o piquenique frugal. Pega manta para sentar em cima. Pega casaco, porque, afinal, isso aqui é Chicago.
Já era a hora do crepúsculo e encontramos diversas famílias indo para a mesma direção que nós. Adoro esse clima de coletividade que existem em algumas festas aqui! Me emociona mesmo ver as pessoas cumprimentando umas às outras, sendo simpáticas e colaborativas.
Quando finalmente chegamos ao lago...

Skol latão um é três, dois é cinco.
Bróder! Quanta ingenuidade e amadorismo da nossa parte!
As pessoas vieram com mesas, cadeiras, carrinhos abarrotados de comida e geladeiras portáteis recheadas com refrigerantes, cervejas, águas, vinhos e até mesmo cafés gelados. E não só! Ao nosso lado tinha uma senhorinha muito fofa e simpática que montou uma mesa com toalha, vasinhos com flores e velas! Me senti num piquenique na Lagoa, fiquei esperando o tio do Skol latão passar, até porque mais adiante tinha uma galera fazendo um churrasquinho e havia um bando de camelôs vendendo sabres de luz de todas as cores e formatos ( (!) juro! tinha um com uma estrela na ponta). E nós ali, singelamente, abrindo uma tenda tamanho 2 anos, com um colar luminoso (que comprei por um dólar no mercado, crente que estava abafando), uma manta e dois potinhos, um com pretzel e outro com framboesa para o nosso lanche frugal. 
Marido se empolgou ao ver que os velhinhos à nossa direita estavam bebericando vinho gelado e resolveu: vou sair e comprar uma bebida para nós.
Assim que eu gosto! Foi com esse homem que me casei!
Ele foi.
Arthur ficou matando a população do entorno de fofura e eu fiquei esperando. Beliscando minhas framboesas.
Foi quando me dei conta de que framboesas pelas próximas duas horas + euzinha que sou chegada num desmaio por hipoglicemia não seriam uma boa combinação. Mandei, então, um torpedo (alguém ainda manda torpedo?) para marido e pedi um alimento.
Vinho, comida e um gramado para o meu bólido correr e pular sem incomodar o vizinho. Isso é que é vida, pensei. Ainda tem uns camaradas ali adiante, com uns instrumentos, tocando altas músicas maravilhosas. Ah, que beleza. E foi mesmo uma beleza por vinte minutos. Depois meia hora. Quarenta minutos. UMA HORA E VINTE.
Começou a tocar a marcha imperial. Arthur pirou. Incorporou o Darth Vader e achei que fosse fazer a senhorinha simpática do nosso lado infartar de ternura. Ele marchava para um lado, e para o outro. Parava, fazia caras e bocas.
E marido nada!
Os músicos continuaram no tema Star Wars (não entendo nada, então só acredito no que foi dito antes de começarem a música, posto que não reconheci nem um acorde sequer daquilo). E nada de marido.
Foi quando ele voltou, já no fim da apresentação da banda/orquestra, com uma sacolinha mixuruca da farmácia na mão. Opa! Na farmácia não tem birita.
Pois é: tudo fechou e a única coisa aberta nas redondezas era a farmácia. Marido voltou com dois sanduíches pré-embalados estilo posto da Dutra ou lanchonete da faculdade, uma mini garrafa de suco de laranja (sem vodka dentro, que fique claro) e um iogurte sem colher.
Mas, para não dizer que não houve ostentação em nosso feriado, voltou também com um sabre de luz para o nosso pequeno Jedi, que correu, pulou, marchou, lutou e quase acertou a cabeça de umas 798 pessoas.
Ficamos ali, esparramados na grama, até a hora da queima de fogos.

Pou! Pou! Pou!
POU!
Eu, garota carioca suíngue sangue bom, já vi Copacabana, né? Então nada no mundo deve ser impressionante para mim no quesito concentração populacional + queima de fogos. Mas foi legal. Tinha uma caixa de som tocando umas músicas variadas (de Frank Sinatra a Bon Jovi, de Van Halen a Tchaikovsky) e que os fogos tentavam acompanhar.
Chegamos em casa perto das onze da noite e ainda precisei esfregar estes pés.

Cruzes!
Daí, que depois de tudo isso, depois, inclusive, de lavar a criança, Arthur me olha nos olhos, onze da madrugada, e diz: mamãe, quero comer macarrão!

Ainda bem que é só uma vez por ano!

5 comentários:

  1. Ahhhhhh...eu morri de amores lendo...imagino o pessoal morrendo de ternura pessoalmente!
    Eu moro "proximo" ao Rio (da pra ir de carro), mas nunca fui...fogos em Copacabana só pela tv mesmo.
    Adorei e ri muito!!
    Beijos

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  2. Que demais, amei ler sobre a experiencia!

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  3. Ahahaha!!!! Me acabei de rir aqui!
    Aqui o tradicional de 4 de julho é churrasco (bem americano: uns hot dogs e hambúrguer) com os amigos e depois ir ver os fogos em Boston. Este ano passamos em uma cidadezinha de Maine com amigos e foi tudibom! Os fogos foram estourados por um carinha na praia e teve no sabado um desfile com muitas crianças fantasiadas. Tipico americano de 60 anos atrás. Foi muito especial por ser meu ultimo antes de me mudar de volta pra terrinha e meu primeiro como cidadã americana. :)

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  4. hahahah rindo até 2017!!!!
    A música caiu como uma luva!
    E seu Jedi, foi direto pra máquina de lavar, né?! hahaha

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  5. Que delícia! Texto gostoso de ler.. rsrs

    Deve ser o máximo.

    E esses pézinhos? <3 Curtiu demais!



    Blog Jovens Mães

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