segunda-feira, 25 de julho de 2016

Vivendo na base do monkey payment

Toda vez que eu recebo um convite para socializar com os locais já sei: vai rolar pagação de mico. Ou melhor, vou realizar um lindo monkey payment.
E minha vida é assim, monkey payment atrás de monkey payment.
Começou logo numa das primeiras festas, sendo apresentada a um colega de trabalho do marido com grande prestígio e reputação. Arthur, na época, tinha um ano de pura corrida desequilibrada e a festa era em um salão com um lindo terraço de concreto. Arthur para lá, para cá, quase se esborrachando no concreto, ainda sem plano de saúde para cobrir os remendos que fatalmente seriam necessários em caso de queda. Nisso, marido resolve me apresentar ao figurão do trabalho, e emenda (em inglês, of course): ele é da Holanda. Eu, um olho no gato e outro na missa, tentando ser multitarefa em duas línguas, duas realidades, com duas pessoas, em duas velocidades (moço importante parado, me olhando; Arthur correndo e cambaleando), não entendi Netherlands. Fiquei só com o fim da palavra e concluí que era London. E lasquei um "Eu amo Londres" para o moço de Amsterdã.
Foi aquele climão, sabe?
Eu nem me liguei porque quando entendi o que tinha acontecido já estava do outro lado do terraço, com Arthur catando do chão um bolinho amassado.
Rio até hoje disso e faço questão de contar para as pessoas, afinal, quem não ri de si mesmo não é feliz.

Pois bem, as demais interações sociais com locais e em língua em inglesa, confesso, não melhoraram tanto assim de lá para cá. Estou sempre parcialmente na conversa, seja porque me perdi naquela expressão idiomática que desconheço, ou porque achei super interessante a maneira como a pessoa pronunciou uma palavra que eu só conhecia escrita, ou ainda porque Arthur está tentando escalar um muro ou lambe o vidro da janela com gosto.
Por isso, quando recebemos o último convite, já coloquei na bolsa o cheque com o qual pagaria o mico da vez.

Tudo corria bem. Fiz piada engraçada, ri na hora certa, acompanhei até fofoca! A dona da festa falava na velocidade 5 da dança do créu, mas eu ia no ritmo, acompanhando bonito, toda orgulhosa.
=)
Até que... (sempre tem, né?) bateu aquela vontadinha de fazer xixi. Fui ao lavabo da casa, que àquela altura da festa se encontrava bezuntado de sorvete de chocolate derretido e cobertura de marshmallow do bolo recém-cortado. Preocupada em não babar a camisa querida que escolhi usar, fui fechando a porta cuidando tentando não esbarrar nos restos de comida espalhados por ali, na pia, na parede, até mesmo na tábua do vaso. Fechei a porta e procurei, então, a tranca. Não havia. Hum, pensei, melhor fazer um xixizinho bem rápido que é para ninguém abrir a porta e me pegar em flagrante. E assim fiz.
Tudo certo, até agora uma festa mico free.
Até que... (sempre, sempre, sempre!) olha, que curioso! A porta não tem tranca, mas fecha bem fechada! Vou girar a maçaneta e puxar que ela vai se abrir com um clique e... não. Não abriu. Vou tentar o outro lado, sentido horário agora. Nada. Oquéi. Vou puxar apenas. Nem um milímetro.
Por obra do acaso, entrei com o celular no banheiro! E não titubiei em ligar para o marido, que atendeu descrente e um tanto amedrontado.
- Alô?
- Marido, tô aqui no banheiro. Presa. Me ajuda?
- Claro, peraí.
A maçaneta gira em falso também pelo lado de fora.
Ligo novamente, já que o barulho da festa não o deixa me escutar através da porta:
- Marido, empurra a porta, para ver se ela abre!
CREK!
- Ártemis, vai quebrar a porta!
- Deixa. Melhor avisar ao dono da festa. Eu posso sair pela janela, mas não quero deixar o banheiro trancado, né?
- Tá. Pera.
Marido foi, mobilizou: dono da festa, dona da festa, mãe da dona da festa, uns três convidados adultos e dois convidados infantis curiosos com aquele aglomerado de gente grande em torno de uma porta.
Eis, então, que resolvi puxar a porta, uma última vez, vai que...
POC
A porta se abriu e me senti, de repente, no programa Silvio Santos, abrindo a porta da esperança e dando de cara com ela bem cheia: todo mundo ali, resgatando a brasileira presa no banheiro que não tem tranca. Senti o alívio dos anfitriões por não precisarem chamar alguém para desmontar a porta. Senti o alívio do convidado que aguardava, pacientemente, que eu saísse para usar o banheiro. Mas, acima de tudo, senti uma vontade quase incontrolável de gritar para o marido "Eu amo Londres!".
Mas resisti bravamente, sorri, acenei, agradeci e assinei o cheque.

Monkey payment do evento: 

4 comentários:

  1. Primeiro rola um panico, mas depois vira historia pra contar.
    Eu vivo caindo...já chego no chão rindo de mim mesma!
    Beijos

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    1. ahahah
      Bem mais leve, né? Imagina se você ficasse arrasada toda vez que caísse? Ia ser uma vida tãooo mais dura, né?
      ;)

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  2. hahaha o que seria de nós sem nossos micos, né?!
    eu tenho uma teoria: os atrapalhados sempre se divertem mais =)

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    1. Segundo sua teoria, então, sou Ártemis Diversão Em Pessoa. Prazer!
      ;)

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