quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

A desilusão da maternidade

Antes que todo mundo se apavore, explico logo que a maternidade do título e a desilusão a que me refiro não têm absolutamente nada a ver com o post anterior. Os enjoos melhoraram (yey!!) e não me sinto de jeito nenhum abatida pela experiência de me construir mãe.

É que nesse último fim de semana fui visitar uma maternidade badalada aqui no Rio. Fui com marido, a fim de tirar umas dúvidas, conhecer os procedimentos e saber um pouco mais sobre como seria no big day.
A mocinha que nos recebeu, muito sorridente, logo nos levou para um dos quartos (miudinhos, mas dignos) e danou de explicar que chegaríamos na data agendada pelo médico, faríamos os procedimentos de internação, subiríamos para o quarto, onde seríamos preparadas para sermos levadas ao centro cirúrgico e, então, seríamos operadas, voltaríamos para o quarto e, cerca de uma hora depois, viria o bebê, que - olhem só que alegria! - poderia ficar o tempo todo com a gente.
Ela sorriu, piscou os olhos cheios de rímel, e perguntou, mais por educação e protocolo que real interesse:
- Alguma dúvida?
Sim. Eu tenho muitas, mas vou começar por uma: e quem vai parir, e não se submeter a uma cirurgia?
Ela riu, e ainda fazendo graça, respondeu:
- Bom, no caso de parto normal é assim: você vai chegar com muitas dores, vai deixar todo mundo assustado e confuso, daí vamos tentar te ajudar a fazer tudo o mais rápido possível. Mas vai ser uma correria danada, uma confusão.
Olhei para o marido, incrédula, e não consegui rir. A vontade era de chorar. Como uma instituição que se diz "maternidade" tem essa visão a respeito do nascimento? Só existe um jeito, e se não for da maneira protocolar e artificial a que eles estão acostumados (e para o qual estão preparados) o evento mais importante da vida de uma mulher (e de um homem, por que não?) será tratado primeiro com deboche e depois com falta de profissionalismo (como assim "vai ser a maior confusão?" Melhor eu correr para um hospital ortopédico, então, onde os profissionais sabem lidar com dores agudas sem "confusão e correria")?!
Estava eu, revoltada assim, transmitindo minha completa indignação ao marido somente com o olhar (uma das vantagens de uma parceria de longa data) quando o marido de uma grávida que também estava no tour pergunta, muito sério: "Acompanhante tem direito a refeição?"
Depois dessa, fui conhecer o banheiro, olhar para aquele chuveiro minúsculo, me perguntar onde caberia meu marido ali dentro, comigo, na hora do trabalho de parto e tentar respirar fundo para me acalmar. Deu certo. Ouvi mais umas três ou quatro abobrinhas burocráticas, fui questionada sobre qual era o meu plano de saúde (e informada de que meu marido tem direito a refeições pelo plano. Ufa, não é mesmo?) e perguntei: e a sala de parto humanizado?
Ah, ela existe. Mas fica dentro do centro cirúrgico, por isso tem ar condicionado forte (legal, né? Achei super humano. Ainda mais que eu MORRO de frio o tempo todo, mesmo grávida), e pode ser usada, pasmem, por gestantes que serão submetidas a uma cirurgia! Bacana, heim. Enquanto a que está parindo, cheia de contrações e precisando da banheira (ou da piscina, segundo da mocinha sorridente de rímel) para aliviar as dores fica espremida no chuveiro, toda desconfortável, a que vai ser operada faz fotos em um banho de espuma enquanto espera a manicure chegar.
Fiquei pensando em como seria tentar parir em um hospital que não se diz humanizado e concluí que seria melhor fazer como os pinguins de Madagascar, o filme (sorrir e acenar), antes que meu nome fosse parar na lista negra da maternidade, com um aviso em letras garrafais: PROBLEMA!
Ouvi mais perguntas importantíssimas, tipo: vocês têm serviços de foto e filmagem? Ou: a lojinha fica aberta 24 horas? E segui o grupo para visitar o berçário.
Era ali que eu queria chegar: no tratamento oferecido ao recém-nascido. Estava cheia de dúvidas e inseguranças e esperava que ao menos alguma coisa me fosse ser esclarecida. Ledo engano!
Ao chegarmos ao berçário, a mocinha sorridente de rímel ficou ainda mais sorridente e, tal como as vendedoras de lojas de vestido de noivas, ficou nos fitando, esperando que as lágrimas caíssem diante daqueles bebezinhos lindos, fofos, rosinhas e... chorando SOZINHOS em seus bercinhos aquecidos.
Sabe, sou super sentimental, amo bebês, sempre sonhei ser mãe, sou canceriana assumida e convicta, mas comigo, não, violão! Os bebês eram lindos e deliciosos, mas minha sensibilidade, naquele momento, não foi aflorada por isso, mas sim pelo fato de eles estarem sozinhos!
Pensem comigo: você é um recém-nascido. Até poucas horas atrás, você estava em um lugar quentinho, escurinho, escutando a voz da sua mãe e seus batimentos cardíacos o tempo todo, sentindo as paredes do útero te protegendo e tendo sua sensação de peso dimiuída pela bolsa amniótica. Mas agora, você está nu, solto no espaço, sem a voz, o coração ou a pele da sua mãe para te acalmar, sentindo que tem um peso diferente, sentindo pela primeira vez cheiros e gostos, ouvindo e respirando também pela primeira vez, e você está SOZINHO. Horror dos horrores, não? Bom, eu não sei vocês, que leem essa maluca aqui, mas eu realmente acho isso meio filme de terror, sabem? Então, se EU puder evitar que isso aconteça com o MEU filho, assim o farei (embora, lógico, eu saiba também que o bercinho aquecido e as enfermeiras do berçário têm suas excelentes serventias, sobretudo para as mamães que tiveram problemas sérios na gestação e no parto e precisam de alguém qualificado para cuidar de seus filhotes. O que eu questiono é a necessidade de deixar o bebê ali, quando mãe e filho estão bem. É como internar uma pessoa com quadro estável e relativamente saudável em um CTI).
A mocinha grávida que fazia o tour comigo não devia pensar em nada disso, certamente, pois olhou para o marido, acariciou a barriga e suspirou.
Já o meu marido, chegou do meu lado e perguntou: esses bebês são prematuros? São tão pequenos...
Eu respondi que do jeito que se devia fazer cesárias ali, não havia como saber se todos aqueles bebês tinham nascido a termo, e falei que era provável que alguns fossem, sim, prematuros. Mas acho que falei isso meio alto e a mocinha sorridente olhou para mim.
Alguma pergunta?
Coitada! Ela não deveria ter sido gentil naquela hora, porque perguntei quais eram os procedimentos obrigatórios, por que os bebês ficavam naqueles bercinhos, para que servia toda aquela parafernália tecnológica e se eu poderia ficar o tempo todinho com o meu bebê nos braços ou no quarto.
Ela assustou, murmurou umas respostas bem sem sentido e disse "não sei" para a serventia do bercinho. Disse que os pediatras todos enviavam os bebês para o bercinho por cerca de uma hora e encerrou a visita perguntando se havíamos gostado e dizendo que, assim que o médico marcasse a data do parto (tal e qual um deus), era para fazermos a pré-internação no site. Mais uma vez a chata maluca e perguntadora aqui lembrou que em caso de parto normal, a coisa não funcionava assim, tão burocraticamente. Ela bateu os cílios cheios de rímel, disse que eu fizesse a pré-internação com a data provável para o parto e nos acompanhou até a porta.
Nos despedimos, a outra grávida me desejou boa sorte, desejei boa sorte a outra grávida e saí com mais dúvidas e inseguranças do que quando entrei.
Marido viu meu choque e propôs: vamos tomar um lanche ali, naquele café?
Fui, aliviada e amando muito esse homem que me entende como ninguém!
Nos sentamos, fizemos os pedidos, olhamos a decoração, até que marido não aguentou e perguntou: foi impressão minha ou a mocinha sorridente de rímel disse que mulheres que querem parto normal são mais difíceis?
Eu ri e respondi que eu não tinha ouvido nada, mas que eu, com certeza, seria bem difícil. E que meu parto, se tudo der certo, será uma bela de uma confusão... para eles.

6 comentários:

  1. Que saudade de te ler lindona.

    Concordo com vc, e sua narrativa, me colocou em seu lugar naquele ambiente frio e calculista, onde os bebezinhos nascem.
    Espero q tudo corra bem, q vc consiga ter seu bebe, conforme tenha vontade! E se Deus quiser vai sim! Desejo a vc um 2012 abençoado...obrigada pelo carinho de sempre!
    Quanto ao sonho..seria um aviso? Seria bom se fosse mesmo né?! Bjusss

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  2. Querida!!! Para de sumi tanto... Nos mantenha atualizadas sobre o desenvolvimento do nosso (a) sobrinho (a)! Quanto essa maternidade de "humanizada" acho que ela não tem nada, você tem todo direito do mundo de querer tranquilidade no momento que certamente será o mais importante da sua vida,não desista vc vai achar um lugar especial... Obrigada por passar no meu catinho, as vezes o desânimo habita o meu ser rs!!! Bjos bjos

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  3. Que chato isto né, o parto nomral devia ser tratado como normal ora bolas, acho que é por isso que tantas mulheres tem medo: porque a sociedade impõe que é mais difícil, mais trabalho, e blabláblá, tomara que isso mude.
    E que você consiga seu parto humanizado!!
    Bjos

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  4. Nossa, quanta coisa passou pela minha cabeça ao ler seu post.
    Bem, eu concordo plenamente com vc e passei por essa situação burocrática, já que para ter parto normal aqui na minha cidade, só indo pro SUS. então eu fiz uma cesárea de emergência (emergência pra medica que teve medo que eu entrasse em trabalho de parto, huiahuia). E sei bem pra que serve o berçário. Serve pro teu filho te esperar, no caso de cesárea, ja que os procedimentos com ele é bem mais rápido que os seus. Eu fiquei horas lá pra médica me colar (já que não se costuram mais)

    Mas ó, se quer um pitaco, já q vc tem opção, procura uma outra maternidade que vc se sinta segura!!

    Beijo

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  5. Também sou do Rio e imagino qual maternidade você tenha ido visitar...
    Foi lá onde meus filhos nasceram.

    Infelizmente esse tratamento dado à gestante e, especialmente, à criança que chega ao mundo é muito bizarro, desumano mesmo e (quase) todo mundo acha que isso é normal (oi??).

    Eu já era super triste por ter sido operada no nascimento dos meus dois filhos (motivo: pressa do médico), mas outro dia tive que ir lá na maternidade pra buscar um prontuário no berçário e, diante dessa cena que você descreveu, saí de lá chorando.

    E daí, saí pensando que se as mães soubessem o que se passa com seus filhos nesses primeiros momentos extra-útero, nunca, jamais se submeteriam a uma cesárea ou deixariam levar o bebê assim.

    Infelizmente eu tinha esquecido que as pessoas vão lá sim, visitam a maternidade, mas não se fazem questionamentos mais profundos. Preferem saber da manicure ou da refeição do acompanhante. Lamentável.

    Ártemis, te desejo um parto lindo e digno. Mas você já deve estar cansada de saber disso, né: precisa investir numa equipe que te respeite de verdade! Na primeira gestação não acreditei que o negócio era tão difícil quanto o pessoal nas listas pintava e acabei sendo submetida a um cirurgia sem necessidade alguma. E foi uma grande violência pra mim! A maioria dos GOs são como lobos em pele de cordeiro: carinha mansinha, sorriso fácil no rosto e um bisturi elétrico na mão.

    Beijocas pra você e uma linda jornada ao encontro do principe Arthur.

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  6. É, aqui no curso de gestantes do trabalho tinha uma representante da tal maternidade, veio falar sobre a instituição. Quando eu perguntei sobre a quantidade de salas humanizadas ela olhou com um certo desdém e falou: são duas ou três (não lembro), mas não se preocupe, pouquissimas mulheres querem PN...
    bjus

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