quinta-feira, 26 de maio de 2016

Nota de repúdio

Pausa para falar de assunto sério. De assunto importante e preocupante.

Quero deixar meu repúdio ao crime cometido por TRINTA homens contra uma menor de idade e que, posteriormente, foi divulgado através de vídeos e postagens em diversas plataformas de interação social.

Sou feminista. Sou mãe. Sou mulher. Não posso me calar diante de episódios de misoginia e de feminicídio (a moça ainda vive, ao que eu saiba, mas em que corpo, em que condições psicológicas?). Não posso deixar de falar, em nenhuma mídia que uso, o quanto isso é doentio e sistemático, o quanto é triste as violências diárias que todas as mulheres sofrem no Brasil. Seja presidenta, seja mera eleitora. Nada escapa ao machismo brasileiro.

Passei muito tempo ruminando o que vou comentar agora, primeiro porque é uma exposição que não sei muito bem se estou disposta a encarar (qualquer coisa depois apago), segundo porque discordo do senso comum de que "aqui nos EUA, onde tudo é infinitamente melhor do que no Brasil..." (não existe o Eldorado e todos os lugares do mundo têm defeitos e qualidades). Acontece que preciso  destacar que uma das coisas que mais me impactou quando cheguei aos Estados Unidos foi justamente o fato de me sentir infinitamente mais respeitada enquanto mulher habitante de um corpo feminino do que me sentia no Brasil. Três anos aqui e escutei UMA cantada na rua (de um imigrante). Ontem passei de vestido em frente a uma obra imensa, com uns 10 trabalhadores no caminho que eu precisava usar. Eles olharam, mas não ouvi comentários, nem "elogios", nem assovios. Queria dizer que não me senti insegura ou com medo, mas, infelizmente, 30 anos de Brasil fizeram de mim uma refém do machismo. Homens são e sempre serão uma grande ameaça para mim, porque homens me assediaram longa e insistentemente, de tal modo que a roupa que visto, o penteado que faço, a maquiagem que uso, a rota que escolho, os lugares a que vou, as bebidas que tomo e os horários que permaneço na rua são profundamente influenciados por essa experiência. É corporal: sinto ansiedade e medo constantemente.
Mesmo aqui, onde fui cantada apenas uma vez, sinto isso. E não se enganem, porque aqui também temos episódios misóginos/machistas e criminosos: minha vizinha de baixo sofreu uma terrível tentativa de estupro no primeiro ano em que moramos aqui. A portaria do prédio ficou coberta de sangue. Do sangue dela. Do medo dela, mas do meu medo também! Ela foi perseguida, assediada e agredida na esquina da nossa casa. Policiais vieram aqui, perguntar se tínhamos visto ou ouvido algo que pudesse ajudar. Infelizmente, não pude ajudar.
Notem: houve uma tentativa de estupro na esquina da minha casa, mas ainda assim eu sinto que o corpo que habito é infinitamente mais respeitado aqui. Percebem como é errado?

Nem sei o que desejar a esta menina.
Só espero que nós, mulheres, continuemos a fazer MUITO barulho. Por todas as violências cotidianas que sofremos. Vamos fazer um escândalo!

Um comentário:

  1. Essa história é escandalosamente tenebrosa, nao consigo nem ler sobre o assunto. Mas concordo com você: morei fora e tinha a mesma sensação. Sinto impotencia diante do ocorrido, mas é isso: temos que fazer barulho.

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