quarta-feira, 25 de maio de 2016

Traje escroto fino

Recebemos um convite. No rodapé vinha escrito "business casual". Traduzi como "esporte fino".
Saí catando os trapos que usamos como roupa aqui em casa para os três (lembra? sem babá, sem família, é tipo corda e caçamba: vai um, vão todos). Coordena daqui, ajeita de lá, estávamos prontos e minimamente dignos. Parecia "business casual".
Tomamos o rumo e já no primeiro quarteirão fiquei pensando que a parte do "fino" não era para mim. O sapato, bico fino, salto agulha, estrangulava.
Se você me acompanha há algum tempo, já sabe que sandálias ou sapatos de tiras + meu pé não dão uma equação bonita. Mas a gente esquece, não é mesmo? Ainda mais quando o sapato é um pitéu. Ainda mais quando é o único que poderia se encaixar no traje "business casual". Ainda mais quando temos um dia de sol e calor de verdade, com trinta deliciosos graus e você está há três anos usando botas e suas variações.
Então, lá fui eu, de "business casual/esporte fino" dos pés à cabeça, já pisando meio de lado e contando mentalmente quantos quarteirões ainda faltavam para chegar ao local da festa.
Tô estropiada, mas tô na moda.
Achei que dava para aguentar, mas a verdade é que não. Teimosa e orgulhosa, porém (e também atrasada, como sempre), segui em frente. Às vezes segui meio de banda, porque era muito difícil pisar com todas as partes do pé no chão, posto que eu já não sentia algumas partes, sobretudo os dedinhos. Mas fui. Cheguei. Recompus minha elegância na antessala do evento (festa chique tem disso, né?) e adentrei o recinto, sonhando com o sapato confortável que com certeza, sem qualquer sombra de dúvida compraria tão logo saísse dali.
E adivinhem quem foi uma das primeiras pessoas que vi ao fazer minha entrada triunfal em "business casual"? O rapaz. O rapaz que estava usando camiseta tipo Hering. O rapaz que estava usando calça fucking jeans. O rapaz de TÊNIS. Na festa "business casual mandatory". Na festa em que meus dedinhos do pé agonizavam enquanto eu lutava para não fazer um esgar de dor. Na festa em que, aleluia, grazadeusa!, Arthur ficou pertinho da gente e não me obrigou a sair correndo sobre saltos agulha.
Agora, sabem do pior? O rapaz de camiseta, calça jeans e TÊNIS não estava só em seu traje "casual, not business at all". Muitas pessoas trajavam coisas confortáveis e despojadas, inúmeros filhinhos do puto estavam usando sapatos deliciosamente confortáveis e sem salto. Homens, mulheres, jovens, velhos, carecas, cabeludos, gays, héteros, estrangeiros e locais.
Felizmente a festa foi breve e tinha camarão e chocolate. Comi, fiquei menos miserável e encarei o trajeto de volta. Ao menos até a primeira loja que encontrei: uma farmácia.
As farmácias aqui vendem de tudo um pouco, são meio como Lojas Americanas, então eu sabia que encontraria qualquer coisa para meus pés tão fatigados. Só que, amigxs, se tem uma coisa com a qual nunca me canso de me surpreender é a capacidade norte-americana de comercializar itens. Dos mais lindos aos mais esdrúxulos, todos têm seu lugar ao sol neste paraíso capitalista. E o que havia na loja era: uma sandália tipo Havaianna (de novo! Oh, céus!), mas de qualidade MUITO inferior e que me custaria 8 doletas OOOOOUUUUUU um calçado azul-marinho que me custaria 3 doletas. Sofri, ponderei, me debati em questionamentos, mas achei que 8 dólares por um pedaço de espuma de alta densidade era demais.
Por alguns quarteirões eu amei aquele sapato recém-adquirido. Por alguns quarteirões eu pensei que nunca na minha vida usaria outro par em meus pobres pezinhos carcomidos pela sandália assassina. Por alguns quarteirões eu até achei bonito e combinante o que cobria meus pés.
Mas hoje era um dia de sol e calor, minha gente. Fosse um dia de chuva e frio, poderia manter essa ilusão por mais algum tempo. Como não era, no entanto, eu vi: um dos sapatos mais feios que já calcei nesta vida. E ainda um ou dois números maior que meu pé.

Piteuzinho.
E foi assim, queridxs leitorxs, que em um belo dia de sol nas longínquas terras norte-americanas, passei, em questão de três dólares, do traje esporte fino para o traje escroto fino.

6 comentários:

  1. Hahahaha! Tô contigo nessa!!!!
    Há séculos que não uso sapato bico fino E salto (ok, tenho botas com saltinhos e tenho UMA plataforma simpática que uso com alguma frequência, mas dia-a-dia: Keds, Toms e Uggs...marido reclama, falando que "Você nunca mais usou salto" e eu respondo apenas com cara de alface...)
    Mas voltando... Te entendo!!! Hoje, quando coloco salto, já penso: "Tenho que andar?! A gente vai estacionar o carro no valet/em frente ao evento, né?! Se for festa, vão oferecer havaianas de brinde?!" Se não, já coloco um par de havaianas na bolsa e sigo feliz! Porque pé doendo, ninguém merece!!!!

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  2. Já eu, baixinha, nem tenho mais sensibilidade nos pés de tanto salto que uso!

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  3. Farmácia que vende sapato a 3 dólares = <3

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  4. Kkkkkkkk kkkk
    Sapato de bico fino eu detesto. O troço foi feito pra quem tem um único dedo no meio do pé, obviamente não é o meu caso.
    Eu compro porque não tenho vergonha na cara e não resisto a um sapato bonito e barato, mas uso uma vez, me arrependo eternamente e volto pro ínicio do ciclo.

    Sempre amei salto, mas depois da cria nunca mais. No máximo anabelas que dá pra correr sem ter que se esforçar pra manter o equilíbrio e a dona havaiana sempre no carro, obviamente.

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  5. Eu passo bem longe de qualquer sapato de bico fino.Odeio de verdade!!!Meus pés têm vida própria e preferem os mais confortáveis hahaha

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  6. hahahah morri de rir!!!! Sou igualzinha! Pareço uma girafa recém nascida quando tô de salto, ainda mais por ter pernas longas ¬¬
    Acho que esses foram seus 3 dólares mais bem gastos =)
    bjss

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