sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Positivo (parte I)

Era manhã de setembro. Dia 21, para ser exata. Na hora do almoço dei uma corridinha no laboratório porque havia uma ultra marcada. Essa ultra fora o único exame que a médica Iemanjá me pedira porque, segundo ela, os de sangue que eu havia feito uns meses antes ainda estavam atuais o suficiente. Confesso que achei bom. Já me acostumei, porque tendo OP desde que me entendo por mulher, fiz muitos exames de sangue. Mas convenhamos: não é nada legal ficar tomando agulhada. Então, o que é uma sala gelada e um exame que não dói se comparado aos hemogramas? Alívio.
Naquele dia eu tinha esperança. Mas eu sempre carrego minha dose de positividade, então não posso dizer que houve uma pista, um indício claro ou um evento marcante. Era só minha velha e incansável esperança. Essa mesma que vocês todos conhecem: a expectativa de que as coisas deem certo mesmo quando não há muito que indique isso. E ela foi minha companheira na sala de espera.
Laboratório cheio, não fui atendida na hora marcada. Nem liguei. Estava ansiosa, esperançosa e o médico, apesar de ligeiramente irritante, coitado!, era simpático. Antes do exame avisei que meu último ciclo se fechara em maio, que eu tinha esperanças de estar grávida, mas que sabia que tinha OP e que tudo poderia não passar de uma brincadeirinha hormonal sem graça do meu organismo.
Ele me examinou, mediu tudo o que tinha de medir e setenciou: você não está grávida e nem sequer ovulou esse mês. Se minha vida tivesse trilha sonora, eu ouviria aquele "quém-quém-quém" de desenho animado. Foi tipo a bigorna caindo no Coyote enquanto o Ligeirinho fazia seu "bip-bip" são e salvo. Na hora, pensei que o Coyote fosse eu e o Papaléguas meus OP. Mas depois descobri que não era bem assim...
Voltei arrasada, me arrastando com meu óvulo que não fora liberado e, para solapar de vez minha esperança e meu bom-humor, levei uma cusparada no casaco.

Mas, como diria minha avó, nada como um dia após o outro.
Joguei fora o casaco (já estava velhinho e fiquei tendo nojinhos incontroláveis da sacolinha plástica onde o havia colocado, quando ainda tinha esperança de mandá-lo lavar na lavanderia), acordei para ir trabalhar e... senti de novo o gostinho de metal na boca. No dia da ultra eu já tinha acordado com um sabor diferente na boca, como se eu tivesse bebido um copo d'água em que, sem querer, tivesse caído um prego enferrujado dentro. Não era nada muito intenso. Mas achei curioso. Lembrei que a única coisa que minha mãe sentira quando estava grávida de mim fora justamente um gostinho de metal na boca. Claro que achei que estava sugestionada e segui adiante. Trabalhei. As pessoas me olhavam na rua. Achei glamour. Achei luxo e poder. Mas nem dei muita pelota. Achei que fosse minha roupa colorida e segui minha vida.
De noite, como sempre, fui ao pilates. Havia comentado na aula anterior que eu achava que poderia estar grávida. A mulherada que faz aulas comigo ficou em polvorosa e quando cheguei essa foi a primeira pergunta: e aí?
Meu muxoxo denunciou a negativa. O jeito era descontar a frustração nos exercícios. E assim foi.
Chegou o fim de semana. Chegou uma nova semana. Chegou o dia da consulta com a médica Iemanjá. Uma quarta-feira.

Quer saber o que aconteceu?
No próximo post...

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