sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Positivo (parte II)

Era uma quarta-feira de setembro. Dia de consulta com a médica Iemanjá.
Saí do trabalho rumo ao laboratório (para buscar a ultra) e de lá iria para o consultório quando me dei conta de que minha carteira ficara em casa. Carteirinha do plano, identidade, tudo. Ou melhor: nada. Nada ali comigo. Liguei para o marido, pedi ajuda (santo homem!) e fui tentar, na cara de pau, buscar a ultra sem identidade. Consegui, mas marido não: o carro morreu na contra-mão atrapalhando o tráfego da esquina de nossa casa. Resultado: fui encontrá-lo, demorei um tempão para chegar ao consultório, o que fiz esbaforida e num franco ataque de falta de ar.
A recepcionista já havia ido embora e a médica quase se apiedou de mim. Cheguei apenas cinco minutos atrasada. Mais uma vez fui atendida com calma e paciência, mas, se eu já estava decidida a tentar uma outra opinião sobre meus OP (na semana anterior eu havia marcado uma endócrino), o fato de ela dizer que se enganou sobre a "atualidade" dos meus exames de sangue e me pedir duzentas dosagens hormonais me fez ter certeza de que eu não gostaria de continuar a me consultar com ela.
Não foi o fato de ela me pedir os exames. O que me deixou cabreira foi ter me sentido insegura quando ela fez isso: numa consulta os exames estão válidos, na outra, duas semanas depois, eles estão velhos demais? Isso e eu ter perguntado novamente sobre as minhas alternativas, sem ser beber água, claro, para meus OP. Ao que ela respondeu: por enquanto, água. Mais tarde, se você quiser, uma terapia de acesso ao inconsciente e blá-blá-blá. Não confiei mais.
Ela anotou todos os exames na guia e, aproveitando que minha cara de pau estava mode on, pedi um beta. Expliquei que sentia os seios doloridos e coliquinhas havia alguns dias. Ela riu, disse que a chamavam de cegonha, e anotou bem bonito: BHCG.
Eu ri.
E saí correndo para o laboratório, que colhia sangue até 19h, e já eram 18h50. Cheguei e perguntei se eu poderia fazer somente o beta naquele dia, porque os demais exames precisavam de jejum de 10h e eu, obviamente, não cumpria essa exigência às 19h. A mocinha explicou que tudo bem, que eu poderia fazer os outros exames outro dia, anotou isso na minha ficha e me mandou para a coleta.
Eu estava nervosíssima. Não sei por quê. Não era medo, não tinha grandes expectativas, não era um exame desconhecido. Mas o fato era que eu estava nervosa a rodo.
Mas respirei fundo, contei minha história para a enfermeira (é que quando eu fico nervosa, abro meu coraçãozinho e quero que todos me deem a mão) e me deixei furar.
Voltei para casa, contei para o marido sobre meu dia e avisei: a mocinha do laboratório disse que por volta de meia-noite deve ter o resultado. Vocês dormiriam cedo? Pois é, eu também não dormi. E a meia-noite, lá estava o resultado: indeterminado.
Quando eu abri o exame fiz um barulho de susto, e marido riu, achando que eu estava pregando uma peça nele. Quando ele viu meu olhar assustado e percebeu que eu comecei a tremer, logo entendeu e foi ver os valores de referência do laboratório. Eu já sabia de cor, por isso o susto foi imediato. Ele não. Talvez por isso tenha tido tempo de processar tudo de maneira mais racional e deu a boa ideia: Ártemis, desce, compra dois testes na farmácia e faz um hoje e outro amanhã de manhã.
Era bem tarde, mas eu desci na mesma hora. Comprei os testes e ácido fólico. Por via das dúvidas, tomei logo um comprimido e danei a beber água. É que, nervosa, não tinha a menor vontade de fazer xixi. Bebi quase toda a água da casa e fiz xixi no palitinho. A listrinha era tão discreta que marido nem a viu. Eu acendi a luz mais potente da casa e lá estava ela: clarinha, tímida, mas inegavelmente existente.
Respirei fundo, tentei colocar a cabeça no lugar e decidi: no dia seguinte iria à consulta com a endócrino (que eu já havia marcado antes do retorno na médica Iemanjá) e contaria minha história para que ela decidisse se e como me atenderia.
Acordei cedinho e, claro, fui fazer o segundo teste que eu comprara na noite anterior. Xixi no palitinho e: duas listrinhas. A segunda ainda clarinha, mas definitivamente visível. Tanto que marido nem precisou de legenda.
Me despenquei para o consultório e já lá dentro fui perguntada: por que você me procura?
Eu ri. Estava meio nervosa porque não tinha pensado muito bem em como começar o papo e acabei falando que eu marquei a consulta por um motivo, mas que algo havia mudado e agora ela me ajudaria de outra maneira, achava eu. Contei do meu histórico de OP, da médica do botox que me passou indutores, da médica Iemanjá que me mandou beber água, da ultra, do médico catador de milho que disse que eu não ovulara naquele mês, do exame indeterminado e dos testes de urina positivos. Ela me olhou e disse: vou passar um novo beta para você fazer daqui a dois dias. Se der negativo, você volta aqui que vamos pensar em um tratamento mais que água e menos que indutores. Se der positivo, aí não é mais comigo e você pode procurar um obstetra.
Fui para o trabalho com a bolsa pesando vinte toneladas: novo BHCG.
Aproveitando minha peregrinação médica, consegui um encaixe na minha dermatologista, já pensando em orientações anti-estrias. Ela viu meu exame indeterminado, me olhou muito seriamente e disse que o valor estava baixo demais, que eu deveria repetir o exame porque é muito comum que as primigestas perdessem o primeiro filho, que aconteceu com ela e que ela só me consideraria grávida quando eu fizesse a ultra e escutasse o coraçãozinho do feto.
Saí arrasada. Mas lembro que pensei: que bom que essa médica é minha dermatologista, e não minha obstetra. E me lembrei do que a minha ex-médica, a do botox, havia me dito quando que ainda era sua paciente: as grávidas precisam filtrar tudo que lhes dizem porque alguém sempre tem uma história escabrosa para apavorá-la.
Achei que a médica foi sem tato, mas não fez por mal. Respirei fundo e pensei que não havia absolutamente nada que eu pudesse fazer para controlar qualquer tipo de coisa naquele momento. Assim, decidi viver minha vida, um dia de cada vez, e esperar pelo dia do novo exame.

Os dias se arrastaram, mas finalmente chegou o dia 1­° de outubro, um sábado, três dias depois do primeiro beta. Aproveitei que seria furada e fui fazer os outros exames que a médica Iemanjá me pedira.
Acordei supercedo (quem me conhece sabe o quanto isso é digno de nota), respirei fundo e fui para o laboratório. A mocinha foi simpaticíssima e me avisou que no meio da tarde, por volta das 16h30 ou 17h eu já teria o resultado do beta. Me desejou sorte, tudo de bom e uma boa gestação. Achei fofo e ri.
Voltei para casa, arrumei minhas coisas e fui com marido para a região serrana do Rio. A casa em que me casei, pensava, é um excelente lugar para receber a notícia da minha gravidez.
Às 16h41, na casa em que me casei, abri o resultado do exame: positivo. Marido já estava escolado nos valores de referência e nem precisou que eu me assustasse ou tremesse. Eu estava grávida! Sem dúvidas!
Gostaria de contar aqui, sobretudo para fins dramáticos, que nos abraçamos e nos beijamos chorando copiosamente, mas a verdade é que ficamos tão atônitos que tudo o que conseguimos fazer foi rir um para o outro.

6 comentários:

  1. Olá Flor, primeiro parabéns, que Deus abençoe esta gestação!
    Agora, menina que peregrinação, hein? Senhor, e esse louco que fez o US, meu Deus, como existem médicos insensíveis!?
    Diga-me, quantas semanas? Já fez o US trans? Como você está se sentindo?
    Mande notícias!
    Um super abraço!

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  2. Ainnn q lindo amigaaaa!!!

    Me emocionei com seu relato part 1 e 2...rsrs

    Parabens mais uma vez lindona!!
    Vc merece!

    Bjusss

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  3. Legal!
    É, a vida é uma caixinha de surpresas... Adorei a sua história.

    Conta mais!

    Um beijo!

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  4. ixi, cheguei em boa hora!
    Parabéns por essa nova fase!
    q vc tenha uma gestação tranquila!

    Beijos

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  5. Parabéns!!!!
    Mtas felicidades!!!
    Adorei teu blog...adorei a notícia!

    Abração!!!

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