quinta-feira, 8 de março de 2012

O lado bom da ignorância alheia

Desde que me entendo por mulher discuto o assunto parto. Me interessei cedo pelo tema e li muito sobre muitas coisas. Não sei tudo, é claro, e tenho outros interesses na vida. Mas sempre posso contar com minha capacidade crítica para avaliar e reavaliar questões que desconheço ou de que sei pouco.
Dito isto, conto que quando engravidei já tinha decidido que não contaria a ninguém (ou a quase ninguém) antes de completar meus três meses de segurança. Eu precisava gestar minha gravidez, precisava do meu tempo e do meu espaço respeitados para que eu me acostumasse com a ideia de ter sob minha total responsabilidade a nutrição uma vida pelos próximos meses. Eu precisava desse tempo. Eu sabia, sempre soube, e fico muito grata a mim mesma (e ao marido também, claro!) por respeitar essa necessidade.
Muitas vezes me questionava como as pessoas não desconfiavam de que eu estava grávida. Não era possível que aqueles sinais absolutamente evidentes não despertassem a dúvida: seios fartos, apetite alterado, alterações de humor, corpo mudando.
Mas não. Felizes dentro de seus problemas e suas questões, amigos, parentes e colegas de trabalho me davam a benesse da ignorância alheia, e me permitiam fazer as coisas do meu jeito, sem intromissões (quem dera se ninguém nunca se metesse nas nossas vidas, não?) e atropelos. Uma delícia!
E agora, quase chegando ao último trimestre, continuo contando com a ignorância alheia para ter o sossego de que preciso.
Minto o tempo de minha gestação e simplesmente omito a informação de que existe uma Data Provável para o Parto. Ninguém sabe quando chego às quarenta semanas, porque não quero ser erroneamente questionada sobre um "prazo de validade" que só existe na cabeça dos médicos cesaristas, já que somente meu filho pode determinar (enquanto ele estiver bem, estou bem e a gravidez segue adiante! Não importa se tenho 24, 36 ou 42 semanas). Ninguém saberá quando chegar minha hora de ir para a maternidade (isso, é claro, se eu não tiver um início de trabalho de parto apoteótico, com bolsa rompendo dramaticamente na frente de público pagante, como já vi acontecer). Por que isso tudo? Porque entendo que a gravidez é o ápice da intimidade de um casal, quando todos os limites serão testados, todas as arestas serão sentidas, todas as dinâmicas serão postas a prova. Porque entendo que as pessoas, ao contrário de mim, entendem que aquela barriga que desponta funciona como um salvo-conduto para invasões de espaço. Eu nunca pedi conselhos ou opiniões, mas já escutei cada barbaridade! Desde que minha barriga é grande demais e por isso devem ter dois bebês aqui dentro, até que manter o pé na costela pode gerar uma deformidade óssea no bebê. Desde que parto normal é só para quem tem uma série de condições físicas e psicológicas (dentro das quais, claro, eu não me enquadro, e a pessoa, superboazinha, está me alertando para que eu não me iluda com um parto que não posso ter), até que se passar de quarenta semanas o bebê tem problemas porque engole líquido. É muita vontade de opinar no que não lhe diz respeito, de invadir o meu espaço só porque há uma nova configuração espacial/corporal em mim, como se a barriga avançando tomasse o espaço que, antes, era entendido como limite social.
Assim, buscando me preservar e, acima de tudo, proteger esse serzinho que se forma dentro de mim, tento transformar o lado ruim da gestação (achismos, pitacos, conselhos e preconceitos) em algo positivo, e valho-me da ignorância alheia para ir fazendo tudo do meu jeito.
E que atire a primeira pedra quem nunca mentiu (ou omitiu) por amor.
;-)

Um comentário:

  1. Ártemis,

    Pôxa, tinha um tempão que eu não passava aqui e quando chego te encontro assim, super grávida?!!

    Que coisa mais linda! Parabéns, parabéns e parabéns mais uma vez!

    Adorei a notícia!

    Beijocas

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