sexta-feira, 15 de junho de 2012

Reflexões muito loucas sobre a gestação do elefante

*Para ler ao som de "Chacal Blues".

Antes de embarcar no carrinho que vai te levar para o meio da selva hormonal da minha cachola, aviso: este post não terá o menor compromisso com a lógica ou com a coerência. Além do que, informo que um amigo, "grávido", com bebê previsto para JULHO, se tornou papai hoje e furou a fila. E que também hoje, ao telefonar para o consultório da minha médica, ouvi a secretária perguntar "nasceu?", e eu fui obrigada a dizer que não, e a secretária informou: "é que a dra. teve um parto no meio da madrugada e eu achei que tivesse sido o seu". Na última consulta a médica me garantiu que eu era a próxima, e que ninguém furaria essa fila. #todaschoraesedescabela Dito isso, embarque por sua conta e risco. Obrigada.

Nasci de uma desnecesária. Quer dizer, a cirurgia era, como sempre é nesses casos, desnecessária para mim e para minha mãe, mas absolutamente fundaental para o médico, que queria viajar e curtir os jogos da Copa do Mundo numa boa. Então, aos 8 meses de gravidez minha mãe se vestiu, tirou fotos no jardim interno do hospital, deitou-se numa maca e ganhou, além de horríveis feridas porque a enfermeira não leu que ela era alérgica a iodo e a besuntou com a substância, um bebê minúsculo, porém saudável. Nasci com 45cm e 2,750kg. Incrivelmente não tive grandes problemas por conta da evidente prematuridade (mas convém ressaltar que tive sapinho e minha mãe não teve leite - ou pelo menos orientação adequada para conseguir me amamentar). O médico, claro, viajou tranquilo, e minha mãe descobriu quando foi tirar os pontos porque eu "estava morrendo, meu deus, que perigo horrível esse cordão enrolado no pescocinho dela!".
Não sei se por conta disso, tenho meu próprio tempo. Nunca fui maria-vai-com-as-outras em nada nessa vida, e enquanto as meninas da escola falavam de beijos e meninos, eu brincava de boneca e fazia as minhas coisas no meu tempo. Precisei amadurecer muito cedo por conta das porradas que a vida nos dá, e o resultado disso foi que, aos 12 anos eu já cozinhava minha comida, aos 15 tive meu primeiro emprego e nunca mais pedi aquilo que eu poderia conquistar. Então, as coisas em minha vida tinham um ritmo muito peculiar, afinal, se eu era "atrasadinha" por um lado, por outro era precoce e até responsável demais.
Por conta desse meu traço característico, foi aos 20 anos, muito tempo antes de engravidar, portanto, que eu decidi o que eu queria para o meu parto: dignidade, cuidado real e respeito ao meu espaço, ao meu tempo, a mim.
E aí eu engravidei. No meu tempo. Foi rápido.
E aí enjoei, e não parei por um longo tempo (fiquei mal até cerca de 20 semanas!). Foi demorado (e chato).
E aí trabalhei bagarái e entrei no segundo trimestre. E foi demoraaaaado.
E aí comecei com as contrações de Braxton Hicks. Foi rápido.
E aí os dias começaram a voar, um atrás do outro, de enfiada, tão ligeiros que fiz 38 semanas e só então fui arrumar mala de maternidade, quartinho, cueiro, cadeirinha e todas as fanfarronices que vocês já estão carecas de saber que inventei. Foi superrápido.
E aí completei 40 semanas.
E 40 semanas e 1 dia.
E 40 semanas e 2 dias.
E 3 dias, 4 dias, 5 dias.
E nada de trabalho de parto. Nada de contração efetiva (as de Braxton Hicks continuam firmes, fortes e indolores por aqui), nada de tampão, nada de cólicas leves ou fortes, nada de nada.
Sei que as coisas na vida sempre têm um motivo, e eu acredito de verdade que aquilo por que passamos e que nos incomoda merece uma atenção especial por se tratar, na maioria das vezes, de uma oportunidade espetacular para nos conhecermos melhor ou aprendermos uma importante lição. Aquela bordoada que a vida te dá pode ser uma oportunidade. Aquela chatura na vida cor-de-rosa que todos levamos pode ser ótima para descobrirmos novas facetas e maneiras de lidar com a vida.
Mas às vezes é difícil. Tipo agora, para mim.
Já fui muito aniosa nessa vida, de tomar bolinha e tudo porque sozinha não estava dando, mas aí aprendi a relaxar, a entrar em contato com o meu eu profundo, aprendi a viver um momento de cada vez, a ser menos controladora e mais easy going, aprendi até mesmo a respirar (técnica zazen) quando mais nada é possível, permitido ou controlável. Sente-se e respire, Ártemis.
E assim faço e assim vivo. Sem remédios há mais de 12 anos.
E então hoje, depois de ler que meu amigo, cujo filhote estava previsto para julho, se tornou papai antes  que eu me tornasse mamãe, me permiti dar aquela surtadinha básica de "oh, céus, por que comigo? Por que eu?", mesmo sabendo que era puro drama (e hormônios e ansiedade), e nada sério de verdade estava acontecendo. Mas eu me permiti, sabem? Fiquei chateada, só faltei fazer beicinho e bater o pé no chão, de birra. E vou dizer que deu vontade de fazer os hots, de faxinar a casa, de subir escada, comer abacaxi, beber chá de canela, marcar acupuntura e homeopata. E fazer promessa, e colocar roupa de cama e camisola novinhas, só para ver se Murphy está ligado. Até mesmo ligar para as pessoas que fazem meu pré-natal deu vontade, só para dizer: tô miserável nessa ansiedade, e nessa ansiedade que é quase toda minha porque já não estou trabalhando mais, porque menti a DPP para todos ao meu redor, porque não atendo mais telefonemas e respondo às cobranças com evasivas, porque minha equipe de apoio ao parto está suuuuuuuuperzen. Logo, a ansiedade é minha, me pertence. Não posso culpar outra pessoa pelas madrugadas em claro, pelas manhãs de sono entrecortado, pelas inúmeras listas de horários com as (três ou quatro) contrações irregulares que venho sentindo já há bastante tempo.
Escrevi e reescrevi e desisti de inúmeros e-mails, mensagens e posts.
Então pensei que talvez essa demora tenha a ver com o tempo que preciso para processar tudo, e me organizar emocionalmente para receber meu filhote. É minha sombra se avultando no horizonte, indicando para mim um parto assustadoramente cru, nu, visceral. Não sei o que esperar do processo por que passarei em breve: se entrarei em TP naturalmente, se precisarei ser induzida, se acabarei numa cirurgi. Não sei se vai doer da maneira como penso que vai, se vai minar minhas forças, se vai me levar às raias da sanidade, se vai me transformar. Mas tenho certeza de que essa longa espera ansiosa faz parte dos MEUS pródomos, da minha maneira de lidar com situação no meu tempo, do meu jeito. E, em certo sentido, até fico feliz de ter um filho maravilhoso vindo por aí, um filho que está respeitando esse momento em que preciso encarar e enfrentar o fantasma da ansiedade novamente. E também fiquei contente de perceber o momento antes que ele passasse, e acho que realmente preciso me desligar do "trabalho de parto" e encarar o "processo do parto", buscar meus caminhos para relaxar, ou pelo menos aceitar o incômodo, e respirar. Poucas coisas fizeram tanto sentido em minha vida quanto a frase "tudo o que você pode fazer em alguns momentos é respirar".
Desculpem o post longuíssimo, absolutamente descompromissado com começo-meio-e-fim ou com historinhas interessantes e engraçadinhas. Faz parte do meu processo de introspecção e, por incrível que pareça, vir aqui no meu cantinho, onde eu sou quem sou, livre de amarras sociais, ajuda. Aqui eu me sento e observo os pensamentos e sentimentos passando, um a um, enquanto eu faço tudo o que posso fazer: respirar.

E que mais ninguém passe a minha frente.
=P

Um comentário:

  1. Ai, como eu te entendo.
    Lembro de estar com 41 completas e nego parindo na TRIGESIMA SETIMA, sabe assim?
    Respira, agora falta pouco. Mesmo.
    Beijo, bom parto!
    Roberta
    Piscar de Olhos

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