O meu bico plano não facilitou a primeira mamada. Nem as demais. Visitei um centro de referência em amamentação com reputação internacional e me disseram que não era impeditivo ter um bico plano ou mesmo um invertido. Não era impeditivo e não foi, mas doeu e dói até hoje.
Os dois cistos que eu tinha no mamilo não fizeram da amamentação um mar de rosas. Até hoje, de vez em quando, Arthur pega de mal jeito e me faz ver estrelas sem olhar para o céu (e sem qualquer poesia). Fui visitada por uma especialista em amamentação, mestre (de verdade, pela UFF!) no assunto, que me garantiu que o melhor tratamento para os cistos inoperáveis que moravam no meu mamilo seria a boquinha voraz de meu filho, mamando. Doeu horrores, muitíssimo, mais que qualquer rachadura, e ainda dói, mas um dos cistos sumiu de fato. O outro está bem menor e menos dolorido. Só de vez em quando sobem as lágrimas (e não são lágrimas de felicidade ou emoção, garanto).
Sair do hospital com uma monília que não foi diagnosticada tão cedo não facilitou minhas primeiras semanas. Eu ouvia, de todas as mães a quem me queixava, que as dores passariam logo, e que depois do primeiro mês tudo melhoraria muitíssimo e dar de mamar seria fantástico. Não foi nada assim. Arthur fez dois, três, quatro meses e a primeira abocanhada me fazia querer chutar o mundo, me retorcia os dedos do pé, numa tentativa inútil de desviar a atenção da dor intensa e aguda para outra parte do corpo, de preferência uma bem distante. Seis meses depois, ainda dói, porque a monília que me pegou é carente e encontrou em mim uma mãe carinhosa, dedicada, afetuosa; apaixonou.
Sentir meu corpo ferver e amolecer em um febrão no momento em que as que pariram comigo estavam começando a gostar muito de amamentar não ajudou a construir uma ideia positiva do meu futuro como provedora de leite do meu filho. A mastite e seus medicamentos abalaram minha ideia romântica de amamentar meu pequeno, embalando-o na cadeira de balanço, com um sorriso nos lábios e toda a placidez que tal imagem evoca. No entanto, não abalou minha vontade de querer insistir em oferecer ao Arthur o melhor alimento que eu poderia.
Ter um bebê alérgico à proteína do leite de vaca, o que me obrigou e ainda obriga a seguir uma dieta rígida e bastante limitadora, não tornou minha vida mais prática. O trabalho que uma mãe que oferece fórmula tem, eu também devo ter. O gasto que essa mesma mãe tem, eu também devo ter. Menos o desgaste emocional de não saber por que seu filho chora e vomita, menos a vontade que passo por não comer chocolate, leite condensado, bolos, manteiga e outras delícias. Limita, dói, incomoda.
Voltar a trabalhar depois de apenas quatro meses e meio não fez com que minha vida se tornasse libertadora. Ir para o trabalho, além do próprio trabalho, implicou em jornada extra: em casa, com o pequeno, é claro, mas também no trabalho, três ou quatro vezes por dia trancafiada num quartinho de depósito gelado como o inferno (detesto passar frio, logo, o inferno deve ser gelado!), ordenhando, lutando para manter estoque para o bebê que, na creche e em casa, longe de mim, mama de tres a quatro mamadeiras diárias com cerca de 150ml cada. É preciso muita disciplina e foco, para conseguir dar conta de toda a jornada.
Colocar o Arthur na creche, que tem uma psicóloga toupeira, que vive insinuando que eu devo inserir alimentos sólidos na dieta do meu filho (entre outras bizarrices irritantes), não foi receber exatamente o apoio de que eu precisava nesse momento de transição. Muito menos com as ameaças subjacentes ao discurso ensaboado de quem lida com "mãezinhas" o tempo todo: olha, ele vai ficar subnutrido, ele precisará de mais calorias, ele pode não se adaptar à mamadeira, e como ficamos?, vai deixar seu filho com fome? Precisei acreditar em mim, nas minhas escolhas e convicções, e buscar apoio em outros lugares, no pediatra, no marido, em outras mães. Doeu e deu medo de estar escolhendo errado. Mas os números do crescimento do filhote não deixam mais espaço para dúvidas.
Bico plano, empedramento, bicos rachados, faltando um pedaço, cistos no mamilo, monília, mastite, dieta para ALPV, ordenha no trabalho, ordenhas na madrugada para manter a produção. Amamentar foi e continua a ser um desafio para mim. Dói, incomoda, cerceia e exige.
Por isso, hoje, quando Arthur completa seis meses, eu venho aqui, com muitíssimo orgulho, me achando o suprassumo humano, para anunciar que conseguimos! Amamentação exclusiva! Nem água, nem chá, nem suquinho, nem fórmula. Só peito. Seis meses perfeitos em sua imperfeição. Seis meses muito sofridos, doloridos física e emocionalmente, mas, como acontece em maratonas e outras situações em que precisamos superar as limitações do corpo, da mente e do espaço (físico e temporal), eu venci! Nós vencemos! E isso dá um prazer, um orgulho de rei, de rainha, de mãe: eu que fiz, eu que nasci, eu que fiz crescer!
Agora, vamos em frente.
Arthur começará a experimentar frutinhas, e depois comidinhas salgadas. E nós continuaremos com a amamentação, que pode agora durar muito ou durar pouco, ele escolhe, mas certamente foi fundamental para que construíssemos um vínculo maravilhoso, este sim eterno em nossa perenidade.
Arthur, meu filho, nós podemos mais! Nós podemos tudo!
olha, depois disso tudo, só tenho a dizer: parabéns!! Tb travei minhas lutas pra amamentar (inclusive com APLV) e até hoje travo (ainda ordenho no trabalho, pra manter produçao, meu peito ainda empedra...). Mas, vale a pena, vale muito! Espero que vc ainda consiga comemorar muitos e muitos meses (sem tanto sofrimento, pelamor!).
ResponderExcluirbeijao em vc e no pequeno
Uau! Olha, se posso dizer uma coisa é: PARABÉNS! saõ poucas as mães que continuam a amamentar diante de tantas dificuldades! eu mesma, não sei qual seria minha reação!
ResponderExcluirParabéns, amiga! que venham mais 6 meses de amamentação e sem sofrimento! :-)
bjoks
Parabéns!!! Você, com certeza, é um exemplo de luta e também de sucesso!! Parabéns também ao pequeno!!
ResponderExcluirBeeijos
Ártemis querida,
ResponderExcluiracompanhando de perto sua luta só posso te dizer: parabéns, vocês conseguiram!
Grande beijo
Ártemis, que vontade suprema de amamentar!!! A gente escuta tanto "motivo" para não dar certo... (escutei um ainda hoje de uma amiga: "ele não pega o peito direito e aí o leite secou". O bb tem 20 dias só... tenta mais um pouco pufavôôôôô...)
ResponderExcluirO seu post é uma prova de que querer é poder! Parabéns! Foi uma verdadeira luta e vcs venceram!
bjo
Parabéns, Ártemis!!!
ResponderExcluirEu tenho um biquinho pequenininho de nada, mas já tô dando umas torcidinhas na hora do banho. Já tá formando! \o/
Não sei se vc queria isso, mas virou exemplo e pronto! :)
Lindo relato de amor... Parabéns!!
ResponderExcluirSó posso lhe dizer uma coisa PARABÉNS!!!
ResponderExcluirConsegui amamentar com exclusividade até os dois meses, não por problemas nos mamilos, mas por falta de leite.
Fiz tudo que me recomendaram para aumentar a produção, mas infelizmente não deu.
Quem sabe com o segundo eu não melhoro.
Parabéns novamente e continue seguindo seus instintos maternos que valem muito mais do que qualquer coisa.
Bjs