Eu sou a rainha das coisas mais estaparfúdias acontecíveis. Sério. Se existir algo bem improvável e digno de roteiro de comédia pastelão, isso vai acontecer comigo!
E a maternidade não mudou isso.
Encosta aí na cadeira, afofa o travesseiro nas costas e vem comigo, para o fantástico mundo de Ártemis, onde tudo vai acontecer e a louca serei eu.
Acordei bem. O dia prometia uma rotina bacana. Me arrumei, vesti um vestido dos tempos de grávida, uma sandália dos tempos de não grávida e a mala dos tempos presentes, tempos de amamentação exclusiva, tempos de bombinha, potinhos, bolsas térmicas e muita disciplina.
Fui caminhando calma e atentamente. Com calma porque não consigo correr com a mochila imensa que carrego todos os dias. Atenta porque tem tido uma onda de assaltos aqui perto de casa, um horror!
Então tomei o ônibus, quase não peguei trânsito e cheguei cedo no trabalho. Até pensei que seria um dia insosso, como muitas vezes eu merecia ter. Mas não! Óbvio que não! Murphy deve ter vindo no ônibus atrás do meu e logo estava nos meus calcanhares.
No trabalho, tudo correndo bem, apesar de uma dorzinha no pé. Trabalhei, lanchei e bateu, enfim, a fominha da hora do almoço. Desci, comi, ri e... a dor no pé.
Como eu disse, o sapato que escolhi era pré-gravidez, e devido aos hormônios, encolheu. (Ou meu pé cresceu um pouquinho, como custo a crer.) E as tiras (era uma sandália com padrão de pele de cobra. Uau!) começaram a estrangular meus pobres dedinhos, que pareciam reféns amarrados no fundo de um quarto escuro (acho que eles começaram a ficar roxos).
Pensei: droga! Vou comprar um sapato novo, mas jamais uma Havaianna (porque mamãe me ensinou a não andar de chinelo na rua e porque estou no trabalho, e com esse vestido tão lindo e tão pouco Havaianna friendly). E fui.
A primeira sapataria era de um ex-interno do Pinel. A sapatilha Moleca estava a 129,90. Você não leu errado! Três dígitos para uma Moleca. Os meus dedinhos pediam clemência, mas ainda respiravam e estavam conscientes. Arrisquei negociar com o sequestrador e atravessei para ir ao shopping. A Mr. Cat era a primeira loja de sapatos. Ponderei que sequestrador por sequestrador, melhor manter o que estava no meu pé, que além de não me custar nada, já era familiar e poderia até me render uma Síndrome de Estocolmo (como geralmente sapatos-meliantes bem-apessoados costumam fazer; ou vai me dizer que você tem coragem de jogar fora aquele sapato DI-VI-NO, mas que trucida seu pé?!), e fui para outro piso. Duas lojas surtadas, cobrando duzentinhos em pisantes que não valiam sequer cinquentinha. Até que achei uma sapataria bacaninha, com uma sandália delicinha, por cem reais. Pensei: tô sem sandália, verão taí, décimo terceiro tava aí até ontem, cem reais é um frila, tem meu número. Por que não? Experimentei, gostei, separei e fui pagar. Abri minha carteira e... cadê o cartão? Pausa dramática. Atendentes me olham, lágrimas se equilibram em meus olhos, mãos vasculham nervosamente o fundo da bolsa até que o cérebro relembra: em cima da mesa da sala! Mão no telefone e marido confirma a tristeza. Ok, sem dramas, sem pânico: bora usar o outro cartão, da outra conta. Bip-bip-bip. Sua senha, senhora. Senha inválida. Bom, vou ali tirar dinheiro, então, e já volto. Separa aí. Desço ao térreo, entro no banco, pego a fila (sem o Arthur não sou preferencial, droga!) e chego ao caixa: oi, vim sacar um dinheiro da minha conta, mas estou sem o cartão. Sem problemas, senhora, sua identidade, por favor. Ok, um momento. Revira, remexe, rebola: ficou na mochila! Droga, droga, droga!!!
Ok, respirei fundo e fui ao outro banco, do outro lado da rua. Desse eu tinha o cartão, só precisava sacar o dinheiro na boca do caixa porque estava sem função débito. Entrei. Uma fila caracolesca para os caixas eletrônicos. Ainda bem que vou ao caixa normal. Porta giratória e testa no vidro. Lá de longe vem um guardinha (moço, aqui embaixo!, gritavam meus dedinhos reféns) meio esbaforido e pergunta: objetos de metal? chave, guarda-chuva, moeda, celular? (eles devem ser treinados pelo pessoal do Spoletto). Não tenho nada disso. Mas o guardinha desconfia e pede para ver dentro da minha bolsa: vazia, um papel solitário rola. Entro e a fila dos caixas é gigantesca. Saio e penso: o que faço? Meus dedos gritam por socorro, resolvo comprar uma bala de hortelã e voltar ao escritório. Sentada, sem usar os pés, hei de raciocinar melhor.
Entro na sala mancando. Minha dor agora irradia perna acima, me causando arrepios involuntários. Sinto que se tirar a sandália, nunca mais conseguirei calçar nada com tiras, tamanho o inchaço dos dedos e adjacências. Eles continuam arroxeados. Olho para um lado, olho para o outro e... minha colega está almoçando! Vou telefonar e pedir ajuda.
Telefone toca e ela atende rápido. Conto brevemente minha saga e peço, adivinhem?, uma Havaianna. Qualquer cor, qualquer modelo, tamanho 35 porque preciso dar folga para meus pés (calço 34). Ela me informa que o banco da fila gigante tinha a fila quilométrica e o guardinha mau-humorado porque foi assaltado. Acabou de ser assaltado e por pouco não fico refém junto com meus dedinhos do pé (que agora agonizam e já não se mexem). Meus peitos doem, estou descalça no trabalho e louca de vontade de fazer xixi. Vou até o banheiro arrastando correntes, digo, sandálias não calçadas, faço xixi e volto para ordenhar. Ordenho. Na minha cadeira, quando volto, tem um embrulho da Havaiannas. Dentro, uma sandália roxa e rosa, que eu jamais compraria porque detesto esta combinação Barbie.
Penso: ok, tudo já aconteceu! Sapato machucando, cartão esquecido, banco assaltado, Havaianna no pé e o expediente está acabando. Falta pouco e tudo vai terminar bem!
De fato, o dia de trabalho termina e eu, minha mochila de viajante, meu chinelo roxo e rosa e minha urucubaca vamos pegar o ônibus rumo à creche.
Claro que o ônibus quebrou! Mas cheguei na creche a tempo, voltei para casa, encontrei meu cartão (corremos pela praia até nos abraçarmos ao som de Endless Love) e, claro, resolvi assuntar na internet. Cartão a mão, cem reais "mais rica" (ahahahah... Ah, a lógica feminina!), claro que vou consumir. Decido comprar um mimo para o Arthur, outro para o marido e, claro, um para mim.
Arthur ganhou um bichinho de pelúcia com chocalho. Marido, uma furadeira de alto impacto. E eu, bem....eu ganhei mesmo foi um massageador de pés. Acho que traumatizei.
Guardinha treinado pelo pessoal do Spoleto? hahaha! Adorei! (vc já viu um vídeo do site kibeloco sobre o spoleto???)
ResponderExcluirEu, que sou pequena, adoro uma sandália de tirinha e um saltão, combinação que, óbvio, destrói meus dedinhos. Já judiei tanto dos coitados dos dedos dos pés que eles estão parecendo umas garras de dragão, sabe? cheios de calos! um horror!
beijos!
hahahahaha
ResponderExcluirOlha, sapatos assassinos já fizeram parte do meu dia a dia! um dia fui numa entrevista de emprego, calçando um sapato LINDO, mas que me deixou com sangue, veja bem: SANGUE no calcanhar. agora, imagina a cena, eu entrando na entrevista, com os pés sangrando. Um loosho.
haha
Pelo menos o dia já acabou e agora Murphy deve estar à caça de outra vítima! hehe
bjs
Carol
hahahah
ResponderExcluirAgora pode rir, né? rss
Sapatos assassinos, eu jurei que nunca mais compraria.
Mas, dia desses vi um tão lindo, tão lindo que... comprei.
E aí na minha bipolaridade o coitado tá lá em casa esperando "ânimo" pra ser calçado. Porque comprar eu até compro, mas usar... (a louca!!).
beijocas
Quem nunca teve um sapato assassino que atire a primeira Havaianas!!
ResponderExcluirTenho vários pares! Comprados apenas pela beleza ou na esperança de que "esse" não vai machucar (mesmo sendo do mesmo modelo dos outros).. rs
Mas no final todos ficaram felizes com seus presentinhos!!
BjO
Ainda não me conformei com o fato de minhas sapatilhas e sandàlias não darem mais em mim. Ainda estou esperando meu pé voltar ao tamanho normal. A esperança é a última q morre!! Que bom que sua intuição(ou anjo da guarda, ou papai do céu, seja lá no que acreditas) te protegeu!!
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