domingo, 3 de março de 2013

Profissão: bebê

Arthur nasceu ativista político pró-humanização do parto. Além de ter escolhido nascer justo no dia da passeata pela humanização do parto que teve aqui no Rio, nasceu de mãe e com equipe defensoras da causa. Ele também já nasceu cantor de ópera, com um choro no estilo dó de peito que fez o vizinho da frente, músico profissional, professor universitário, comentar "chora forte, né?".
Depois, um pouco mais crescido, quis ser o novo beijoqueiro do novo Maracanã: fazia bicos e mais bicos, quase por 24 horas. Ou então, pensou em ser atleta olímpico na modalidade arremesso. Como não tinha nada em sua mão que estivesse disponível para treinar, arremessava mesmo era o xixi, assim que abríamos a fralda.
Também quis ser cabeleireiro (agarrando os cabelos que dessem sopa), feirante (só entrar no sling e ele berrava "ahhhhhh" durante todo o trajeto), bailarino (fazia poses e mais poses), contorcionista (queria mamar de bruços), carrasco (mordendo e beliscando o mamilo da mamãe e depois dando uma risadinha sádica), faxineiro (limpando a casa quando encontrava uma sujeirinha no chão, usando os dedinhos em pinça para recolher o microobjeto e examiná-lo), espeleólogo (tentando se enfiar em buracos escuros), contador ou arquivista (revirando nosso arquivo de contas), acadêmico (rasgando o livro que estávamos lendo), operador de caixa (querendo digitar minha senha na maquininha do cartão), Don Juan (sorrindo para todas as mulheres do caminho), político (tentando convencer-nos de seu ponto de vista só na lábia, quero dizer, no lábio: seja chorando ou sorrindo), engenheiro eletriscista (mexendo em todos os fios da casa e tentando enfiar o dedo nos buracos das tomadas), e tantas outras possibilidades que mal consigo me lembrar.
O fato, porém, é que adulto não pode ver uma criança ou bebê fazendo uma coisa que logo quer tascar um rótulo bem rotuladinho: "ih, esse aí vai ser _______ porque faz _______."
Só que não, né, gente?
Arthur é um bebê, e seus gestos e atos não têm a ver com suas aptidões ou habilidades. Tudo nele evolui e involui numa velocidade impressionante. E quando ele crescer mais um pouco, terá na infância o espaço de experimentação tão fundamental para seu desenvolvimento e para o processo de construção de sua auto-imagem.
Agora, se eu fosse dar um palpite (e ignorar tudo isso que acabei de falar), acho que a grande potencialidade de Arthur é a coisa mais incrível e sem limites que um ser humano pode vivenciar: meu filho tem grande vocação para a felicidade (a própria e a que nos desperta) e para ser livre para experimentar!
E que assim seja!

3 comentários:

  1. Acabo de conhecer o blog. Adorei.
    Também detesto os rótulos! Lara mal abria o olho e já tinha milhões de rótulos. Que mania! Mas uma coisa é verdade, a maior vocação da minha pequena é fazer a mamãe cada dia mais apaixonada! hehehe

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  2. Adorei o post! O povo adora rotular e fazer previsões... Cansa! E qdo se tem duas crianças em casa, a chatice envolve comparações sem noção. Cansa muito!
    beijo!

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  3. Que lindo Nat! me emocionei do ladinho de cá ;)

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