domingo, 28 de julho de 2013

A viagem

O que é caos para você?
Para mim, a concepção de caos foi refeita após nossa viagem de mudança, e nada parecerá tão ruim que possa ser comparado a ela: a viagem.

O dia amanheceu simples e lindo: Arthur acordando cedíssimo, eu e marido tomando café da manhã e nos arrumando para sairmos, céu azul e passarinhos gorjeando. Ó, vida linda, ó, vida boa!
Fomos ao pediatra e não era catapora (só mosquito mesmo). Saímos do pediatra e não havia trânsito. Chegamos em casa e havia pouco mais que arrumar: umas roupinhas aqui, umas latinhas de leite condensado acolá, risos, alegria, leveza e fantasia. Consegui até cochilar de tarde, vejam vocês! Não havia pistas.
Às quatro da tarde tudo estava quase pronto e começamos a nos arrumar para partir.
Malas nos carros, todos vestidos e despedidos, passaportes, documentos, passagens.
Apesar do engarrafamento quilométrico, a vida era bela. Arthur, jururu no carro, brigava contra o tédio de um acelera-freia-não-passa-da-primeira de quase uma hora.
Chegamos, enfim, ao aeroporto a tempo até de ver minha prima, que embarcava no mesmo dia para outro destino. Tudo perfeito e agradável.
Tola eu, acreditei que nosso começo seria com o pé direito, e que este post viria deliciosamente recheado de histórias invejáveis.
Rá!
Já no embarque as coisas começaram a ficar estranhas. Minha restrição por conta da APLV gerou um estresse, porque eu levei minha própria comida para o avião (já que não havia meios de se garantir que a comida oferecida seria isenta de leite e/ou derivados) e ninguém sabia responder se eu de fato poderia embarcar com ela. Fui orientada a solicitar comida Kosher, que não pode misturar leite e derivados com carne, mas não havia um rabino para benzer a refeição, então ela não poderia ser servida. Como eu já estava no erro, comendo comida sagrada sem seguir a religião, achei melhor respeitar a não benção como um empecilho sério.
Assim, fomos comer alguma coisinha ainda no aeroporto (no meu caso, para garantir).
Chegando à praça de alimentação, achei melhor garantir mesmo: pela quantidade de gente ali, era o holocausto nuclear! Tinha gente de todas as cores, de várias idades, de muitos amores, e não foi fácil abrir espaço para nos sentarmos e comermos. Dividimos a mesa com um recifense indo para Brasília e aproveitamos para conversar (já que tinha gente para correr atrás do Arthur, que se esgueirava por entre pernas, mesas e cadeiras, numa destra demonstração de suas habilidades andarilhas).
Chegou a hora de embarcar e houve muito choro e ranger de dentes, aquela coisa da família se despedindo, como se eu fosse morar em Marte e só com bilhete de ida!
Embarcamos (inclusive com a comida congelada!).
No começo, só alegria: Arthur explorando as novidades da cadeira (que se resumiam àqueles botõezinhos de controlar rádios e volumes, porque o avião era tão velho que nem tela individual tinha: era aquela coletivona mesmo), do bolso (saco de vômito, cartilha para o caso de queda da aeronave, essas coisas positivas e que trazem boas perspectivas que eles colocam à nossa disposição, não é mesmo, minha gente?!) e dos passageiros (mandando bye-bye para todos os gringos a bordo. Ê beleza!).
Mas eram quase 21h. E Arthur costuma dormir entre 19 e 20h. Visualizem, portanto, o tamanho do sono que se avultava no horizonte: dois dias de empacotar coisas, com duas avós querendo tirar o atraso de mais de um ano (papo para outra postagem, gente), um dia com sonecas irregulares, hora habitual do soninho já vencida, ambiente novo, pais ansiosos e animados...
Pois ele veio com tudo, e Arthur se atracou no peito, como se não houvesse amanhã, e CAPOTOU.
Que ótimo! Tudo com que sonhei!
Fiquei aconchegadinha a ele, namorando meu bebê, curtindo a viagem (tá bom, tá bom: com um medo do cacete do voo. É, eu tenho medo de voar, mas confesso que ele melhorou bastante depois do parto. Coisas que só Freud explica.), feliz da vida.
Serviram a refeição e eu, claro, não podia nada. Mas nada iria acabar com meu bom humor e euforia. Conversei com o aeromoço, expliquei e ele anunciou: Claro que podemos preparar sua refeição, mas não temos micro-ondas na aeronave, então só se for uma comida congelada que pode ir no forno normal.
TAQUIOPA! Não basta você ter que achar uma comida INDUSTRIALIZADA congelada, é preciso que ela possa ser esquentada em forno convencional! É claro que não era. Eu, no supermercado, estava muito ocupada, escolhendo a cachaça que iria levar e catando paçoquinha para malocar na bagagem. Nunca que ia passar pela minha cabeça que, obviamente, não tinha micro-ondas no avião. O rapaz, então, apiedando-se da minha situação, até tentou descolar um recipiente onde eu pudesse descongelar a sopa (tudo isso por uma sopa!!!), mas não se esforçou muito, é verdade: prometeu encontrar um recipiente para descongelar a comida, mas nunca mais passou na minha poltrona oferecendo-se para ajudar. Com isso, a sopa ficou na bolsa térmica a viagem toda. E eu, bem, eu fiquei com fome mesmo.
Enquanto isso, em paralelo ao drama da comida, houve o drama do avião.
Lembram que pequeno capotou logo no começo, e que tudo era amor e ternura e alegria e entusiasmo? Vocês também se lembram que na minha vida nada é simples e calmo? Tudo vem cheio de aventuras e confusões?
Bom, primeiro de tudo, o voo foi terrível. Além de o avião ser velho e pequeno, além de eu ter viajado de classe econômica, além de eu não ter comido, ainda por cima pegamos MUITA turbulência. Eu sei que acabei de falar que meu medo de avião foi drasticamente reduzido depois do parto, mas também não tenho sangue de barata, né? Ninguém passa, de um dia para o outro, de uma pessoa que treme e sua frio o voo inteiro para uma pessoa que dorme enquanto o avião chacoalha e cai em vácuos. Então, eu, apesar de ter me mantido bem calma durante a maior parte do voo, foi chato e cansativo ficar sobressaltada durante muitos minutos (quiçá horas, se somarmos todo o tempo).
Mas, o que realmente nos quebrou não foi essa desgraceira que acabei de contar. Não. O que nos quebrou de verdade foi Arthur não conseguindo mais dormir depois da primeira hora de voo!
Se até a primeira hora tudo estava indo muito bem, apesar da turbulência, da falta de comida e do desconforto, as outras 13 horas (que se transformaram em 16) de viagem foram tenebrosas! Arthur não conseguia dormir no meu colo, nem no colo do marido, nem no colo da madrinha (que viajou com a gente!). Não conseguia dormir na poltrona, nem no sling. Cogitei colocar o moleque no chão, mas bom senso mandou lembranças e desisti da maluquice. O resultado disso foi um bebê irritado, cansado e estressado, pais e madrinha exaustos, insones e moídos. Tentamos nos revesar, e eu até consegui dormir umas três ou quatro horinhas, se juntarmos todas as cochiladas que dei (o que não difere muito das horas que durmo numa cama, mas que, por terem sido passadas em uma cadeira apertada, que reclina dois graus apenas, me deixaram arrasada e repleta de dores e incômodos). Marido, coitado, ficou hoooras com Arthur no colo, no corredor do avião, dormindo em pé, praticamente. A madrinha do pequeno, coitada, dormiu sentada na cadeira, espremida, nas acrobacias que tentávamos para conseguir fazer Arthur dormir.
Para completar essa viagem infernal (o que me fez suspeitar ainda mais que estávamos a beira do fim do mundo, como eu previra no aeroporto), um senhor passou mal durante o voo (e as televisões solicitaram que passageiros médicos se voluntariassem para atendê-lo) e precisou de cuidados e oxigênio, causando comoção geral, e, ao chegarmos em Dallas, onde faríamos a conexão, devido ao tráfego do Galeão e à toda burocracia de embarque e desembarque nos EUA, nos atrasamos e perdemos a conexão. O próximo voo (que seria às 9h) também atrasou horrores, e acabamos esperando dentro do avião por quase duas horas. Assim, quando finalmente chegamos a Chicago, éramos três adultos e um bebê exaustos, famintos, doídos e irritadiços.

Se eu havia suspeitado que se mudar de país era parecido com parir, agora eu tenho certeza!
Só espero imensamente que o pós-mudança, assim como o pós-parto, seja cada vez melhor. E que não tenhamos baby blues.

8 comentários:

  1. Ai, que saudades de seus posts!!! eu ia mesmo perguntar a vc como estavam as coisas na nova vida!
    espero que, em que pese o "parto" da partida, os primeiros dias em Chicago tenham te trazido a boa e velha amnésia materna e que vc se anime para passear mais e mais!
    e que história é essa de perder medo de avião pós maternidade? eu era das que dormem em aviões até... parir! agora, rezo, suo, piro a cada barulhinho...
    bjo

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  2. Caramba!Que epopéia!!!
    Eu sempre penso nisso, como viajar com os pequenos? é mto complicado, pq se pra gente, adulto, já é um saco viajar, imagina para eles!
    Ah, mas pensa que agora vcs já chegaram, tudo ficou para trás! vcs já devem estar dormidos e felizes e o Arthur vai poder se divertir nas terras do Tio SAM!
    No baby-blues! hehehe
    bjoks
    Carol
    www.meuparasita.com

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  3. Ufa, Ártemis! Que canseira!! Mooorro de medo das viagens, ainjisuis.
    Que bom que já chegaram. Espero que esteja tudo correndo bem. Volta logo com novas peripécias. :)

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  4. Não vai ter baby blues não!! estou aqui virtualmente e de coração para não deixar isso acontecer =P

    Jura que comida Kosher precisa ser benzida por um rabino antes? senão ngm pode comer?? isso é sério???

    beijo beijo

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  5. Ai, fiquei exausta só de ler! Nossa, deve ter sido uma aventura e tanto!!!
    Ah, não sabia que vc seguia dieta sem proteina de leite de vaca. Lá em casa fazemos isso também (marido é alérgico a todos derivados de vaca: leite e carne!) SUPER recomendo você experimentar o leite de amendoas (e o leite de coco) do Whole Foods, ou até do Trader Joe's, se este já estiver aberto (marido me contou que, pelo visto, o Trader Joe's abre na Chicago Ave. até o meio de agosto...Tô contando os dias, pois é meu supermercado predileto!) O Whole Foods tb tem várias opções sem leite (AMO uma "manteiga" vegana feita a base de azeite e o "queijo" Daiya, que é carinho, mas é bem gostosinho e quebra um galho!)
    Depois quero saber como foram as impressões de Chicago/Evanston :)
    Beijinhos e boa semana!

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  6. Nossa, fiquei com dó de vocês, que cansaço!
    Mas menos mal que chegaram e agora tudo se ajeita!

    Beijo

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  7. Ufa,que aventura de perder o fôlego!Rsrsr.
    Que bom que acabou tudo bem,e espero que esteja começando ainda melhor!!

    Bjs,se puder nos siga!
    http://paraminhaalice.blogspot.com.br/

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  8. Poxa, que epopeia!!
    Espero que logo estejam bem instalados e bem adaptados a nova rotina!

    Fique com medo, pois vou para os EUA em breve com meu pequeno de 1 ano e (quase) 2 meses!

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