segunda-feira, 9 de maio de 2016

Sem TV

Um dia eu estava descendo as escadas da escola do Arthur papeando com uma das mães da sala dele. Falávamos sobre amenidades, até que a mãe comenta que a filha está viciada em algum personagem do qual não me lembro o nome. Digamos que fosse algum do Frozen, que ainda não assisti.
Bom, eu não ia comentar nada, porque, geralmente, quando fazia comentários sobre o assunto, causava espanto e rancor. Mas ela perguntou. E eu não tinha como mentir em inglês - em português dá para raciocinar mais rápido e sair pela tangente, neam?
Arthur não assistia TV.
- Nunca?
- Nunca.
- Mas nem...?
- Nem.
- Como você faz?
- Ué, não tenho TV em casa e não mostro filmes pra ele.
- Tá, mas o que ele faz o dia todo?
- Brinca, vê as figurinhas dos livros, sai para passear...
- Nossa, você é uma ótima mãe.

Sou? Não por isso. Definitivamente, não se mede a qualidade de uma mãe assim, tão de bate-pronto, tendo apenas um item como referência.
Mas, sem sombras de dúvida, fui uma mãe pior quando liberei a TV aqui em casa.

(Pausa necessária: se você leu até aqui e, em algum momento do texto, entendeu que estou criticando quem coloca filhx para ver televisão, convido que volte ao texto e releia. Este é o meu blog, onde conto coisas que aconteceram comigo. Cada mãe sabe onde o(s) calo(s) aperta(m) e não cabe a mim julgar nada.)

Eu acho televisão um pé no ovário! Não tenho a menor paciência, não gosto do modelo, não gosto da ideia de grade, não suporto anúncios entre os blocos do programa. A TV on demand, aquela que você escolhe o que e quando assistir, fez mais minha cabeça, mas ainda assim não sou muito afeita à mídia. Prefiro internet. Prefiro outros hobbies.
Quando Arthur morava na pança, eu já não queria muito que ele assistisse TV. Mas quando ele saiu, comecei a ler, pesquisar e muitos estudos apontavam que havia mais malefícios que benefícios na exposição de pequenos às telas, tanto na parte física quanto na psicológica. Também me incomodava a questão do consumismo infantil e da propaganda direcionada às crianças. Por causa dessas convicções e prioridades, de um modo geral, posso dizer que Arthur, de zero a dois anos, teve praticamente nada de exposição a televisão, tablets ou computadores. Óbvio que às vezes ele assistia a uma coisa ou outra, pois não era proibido, mas nunca foi um hábito ou algo estimulado por nós aqui em casa.
No começo da nossa estada aqui, consegui manter a rotina telinha free. Era cansativo, sem dúvida, às vezes meio estressante por conta dos longos períodos trancada dentro de casa por conta do mau tempo. Mas sobrevivemos.
Acontece que depois dos dois anos fiquei bem cansada. As noites ainda picotadas, a rotina extenuante, um filho muito mais ativo e cheio de energia, que não se entretia mais facilmente apenas com meia dúzia de brinquedos e, é claro, o fim da soneca salvadora da tarde contribuíram para um estado de exaustão completa da minha parte. Então um dia, com a desculpa de ir lavar louça, deixei ele assistindo uma coisinha no Netflix. No outro, um vídeo no YouTube. Com a desculpa do estímulo ao português, apresentei desenhos brasileiros. Veio o Amazon Prime, com outros filmes e desenhos. O fato é que, quando eu vi, tinha sido incorporado ao nosso cotidiano muito mais telinha do que eu gostaria que tívessemos em nossas vidas. Arthur já não queria fazer coisas bacanas se elas significassem abrir mão do vídeo. Arthur já brincava com roteiros pré-concebidos das histórias que tinha visto. Arthur desligava do mundo e de mim por quanto tempo ficasse na frente da tela. Arthur começou a ficar difícil. Muito choro, agressividade, irritabilidade, falta de concentração, falta de foco e de empatia, ansiedade, até pesadelos frequentes. Eu, matando os mil leões diários. Marido, idem. Comecei a me perguntar como romper esse círculo vicioso. Até que um dia ele bateu num amigo da escola.
Foi a gota d'água para nós.
Conversamos com Arthur e explicamos que a partir daquele dia, não haveria mais vídeo.
Arthur só pode assistir vídeo nas manhãs de domingo. Fora isso, zero, nada, necas.
Houve muito choro e ranger de dentes nos dois primeiros dias. Mas depois de passado este período, meu menino voltou! Centrado, seguro, risonho, disposto a sair e brincar e explorar, carinhoso, empático. Claro que apronta umas e reage de maneira desproporcional às vezes. Ele tem 3 anos, afinal. No entanto, ele faz isso dentro da personalidade dele.

"Mas, Ártemis, aqui é impossível fazer isso porque..."
Não estou aqui para doutrinar ou julgar alguém. O que tinha em mente ao escrever este post eram duas coisas: 1) destacar a mudança de comportamento que observei tanto quando entramos no círculo vicioso quanto quando entramos no círculo virtuoso; 2) provocar uma auto-reflexão nas mães que estão incomodadas com a quantidade de televisão que x(s) filhx(s) está(estão) assistindo, perguntando se elas não estariam abrindo mão de algo importante para elas em nome de uma comodidade que de repente nem é tão cômoda assim.
"Tudo muito lindo, tudo muito maravilhoso. Mas o que eu faço com essa criança, então?"
Ah, isso é assunto para outro post.
;)

5 comentários:

  1. Nossa, tivemos uma experiência parecidíssima aqui em casa!
    Dos 0 aos 2 anos, H não assistiu nada de TV/tela/etc. Ok, para não dizer que não assistiu nada, confesso que, durante um vôo diurno Munique-DC aos 18 meses, ela assistiu dois episódios do Mickey Mouse Clubhouse e, um mês depois, no dia que fomos ao Brasil (só ela e eu, sem o pai) deixei-a assistir o filme do Winnie the Pooh enquanto eu fazia as malas... Mas fora essas duas experiências, ZERO tv.
    Aí, um belo dia, depois dos 2 anos, coloquei um vídeo do Daniel Tiger no Netflix. Menina, ela gritou tanto, mas tanto, quando falei para desligar pois estava na hora do jantar, que concluí que o "benefício" de assistir TV (ou seja, os 30 min que ganhei de "paz" para fazer o jantar) não valia a pena, pois 30 min de paz na TV = praticamente uma hora gritando e fazendo malcriação depois quando desligamos a TV...Isso sem falar que ela passou os dias seguintes pedindo para assistir Daniel Tiger e chorando quando ouvia "Não." Hoje, temos um acordo: TV só nas sextas-feiras a noite, bem estilo "family movie night": sentamos todos juntos no sofá e assistimos um filminho juntos.

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  2. Acho muito legal mesmo!
    Aqui não proíbo, mas tem hora e principalmente priorizamos outras coisas, tem brinquedo, quintal pra correr, folha pra desenhar...
    Um dia me mudo pro mato e passo a comer só orgânico e viver sem TV...um dia eu chego lá!

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  3. Acho muito legal mesmo!
    Aqui não proíbo, mas tem hora e principalmente priorizamos outras coisas, tem brinquedo, quintal pra correr, folha pra desenhar...
    Um dia me mudo pro mato e passo a comer só orgânico e viver sem TV...um dia eu chego lá!

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  4. Confesso que quando era menor...eu não me lembro muito da rotina "televisistica"...assistia bem isso eu sei!
    Tinha vários dvds (os cocoricos e galinhas pintadinhas da vida), mas não me lembro de dar trabalho para desligar ou chorar para ver.
    Agora maior (8 anos) ela já sabe ligar/desligar e escolher o canal, mas sempre pergunta se pode e por varias vezes abandona para brincar no quarto...mas aqui em casa o mau foi o bendito tablet...que eu ja aposentei..rs
    Beijos

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  5. nossa que legal!
    Aqui em casa assistimos pouca tv... No máximo alguma série (Friends principalmente) ou algum filme!
    Nunca parei pra pensar nisso, mas tai um assunto pra lá de interessante =)
    tõ curiosa pra saber o que vc faz pra entreter o Arthur hahaha
    bjss

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