terça-feira, 21 de novembro de 2017

"A Grace gosta muito de peru" e outras gracinhas

Faz tempo que não comento das gracinhas/fofuras do Arthur por aqui. Então, quando hoje ele voltou para casa com mais uma história deliciosamente engraçadinha, decidi vir aqui registrar.

Estamos na época do Thanksgiving, que é tipo "o" feriado norte-americano. As famílias viajam para jantarem juntas, a escola do Arthur fica uma semana inteirinha sem aula (socorro!), as pessoas começam a comprar imensos perus que serão assados e comidos acompanhados de molho de cranberry e uma espécie de farofa de pão temperada com ervas e alho (chamada stuffing) e também é quando as pessoas contam os segundos para a famosa Black Friday, que como o nome sugere, acontece na sexta-feira depois do Thanksgiving.
Pois bem, como aqui nada se perde, tudo vira consumo, é hora de substituir a decoração de Halloween pela decoração de Thanksgiving, que geralmente envolve as cores laranja, vermelho e marrom, alusões a folhas secas, cornucópias recheadas de abóboras remanescentes e outras coisas na paleta de cores acima, perus e trajes típicos dos chamados pioneiros, os primeiros colonos (ou dependendo da leitura histórica, os usurpadores de terras indígenas e assassinos do povo que aqui habitava).
Saíamos do clube. E aqui eles têm um espaço kids, onde as crianças podem brincar, correr, andar de bicicleta e desenhar. E os desenhos/pinturas das crianças ficam expostos no corredor. É bem fofo!
Então, saíamos do clube, passando por esse tal corredor, quando Arthur para diante de um desenho de um peru sorridente.
— Pai, o que está escrito ali?
— Grace, meu filho. Foi quem pintou esse desenho.
— E aqui?  — outro desenho de peru, em outra posição agora, com as penas abertas como se fosse um pavão.
— Também foi a Grace, filho.
— Nossa! A Grace gosta muito de peru!

***

Hoje foi dia de vacina. E, ao que parece, também foi dia do número quatro: nossa consulta foi às 4, eram 4 vacinas e foram precisos 4 adultos para segurar Arthur.
Bom, passado o estresse necessário (eu, pelo menos, considero necessário), voltamos para casa e começamos a preparar o jantar. (Jantar no inverno nessas bandas é cedo: seis da tarde já está todo mundo desesperado de fome como se fossem nove, dez horas no Brasil.) Aqui temos o hábito de ouvir música enquanto cozinhamos, e hoje o aplicativo escolheu Wilson Simonal para trilha sonora.
Daqui a pouco, Arthur se vira para nós com a expressão de quem entendeu tudo e diz:
— Ahhhhh, já sei porque vocês escolheram essa música para tocar!
Nós:
— ??????
— Porque fala de vacina!
E Simonal, como que para referendar Arthur, canta seu refrão: "nem vem, guarda seu lugar na fila, todo homem que VACILA, a mulher passa pra trás."

***

Por fim, para finalizar esta adorável coleção de gostosuras, uma mais antiguinha, mas ainda inédita por aqui.

Eu não sei se vocês todxs sabem, mas almoço aqui nos EUA é um troço meio esquisito. Acho que a melhor definição é de uma amiga brasileira que mora aqui há quase 15 anos: é comida que não é de panela.
Então, vale tudo, desde que panelas não estejam envolvidas: sanduíches, saladas, biscoitinhos, queijo, legumes crus (geralmente cenoura, brócolis, couve-flor, aipo e tomate), pipoca, cheetos, maçã, frutas. Enfim, qualquer coisa, dependendo do hábito alimentar da pessoa. Mas qualquer coisa que não esteja quente (única exceção é sopa, que eles também tomam no almoço, mas que costuma ir na garrafinha térmica).
Bom, Arthur é um brasileiro morando fora, então, mesmo que já tenha absorvido muitos aspectos de outras culturas, a base é brasileira ainda, e com o almoço não é diferente: ele come comida de panela, que geralmente eu faço às sete da matina, antes de despachar a criança para a escola.
Bom, confesso que eu estava um pouco apreensiva quando chegamos porque seria a primeira vez que Arthur almoçaria na escola, e eu sei dessa diferença cultural. Então, me perguntava se Arthur notaria a diferença (claro que sim, mas eu me perguntava em que nível, com que leitura), como os amiguinhos receberiam um hábito alimentar diferente, essas coisas.
Aí, logo depois da primeira semana de aulas, Arthur se vira para mim e fala:
— Mamãe, ninguém almoça na minha escola!
— Ah, é, filho?
— É, eles só fazem um lanchinho, eles até chamam de lunch.

(<3)

Aí eu expliquei que lunch era almoço em inglês e que as pessoas têm hábitos diferentes na hora de comer.
Ele segue levando comida de panela, os amiguinhos seguem só fazendo um lanchinho, e tá tudo bem. :)

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