sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Ártemis Tribiani, ou o mico do dia do peru

Vocês já assistiram a esse episódio de Friends? É um que a Rachel decide fazer a comida e não percebe que misturou duas receitas: um bolo de carne e uma espécie de pavê. Todo mundo acha aquilo horrível, menos Joey, que come e ainda explica porque gostou:


GIF daqui: https://goo.gl/images/63tPqF

Então...
Ontem foi Dia de Ação de Graças. Também conhecido como Thanksgiving ou Dia do peru, como preferirem.
Fomos gentilmente convidados para o jantar por um amigo meu. Família tradicional, jantar tradicional, aquela coisa.
Às vezes é bem tenso ser estrangeiro, porque a gente nunca sabe de verdade, e geralmente até cometer uma gafe, quando foi que ultrapassamos um limite social ou quando ficamos aquém da polidez esperada.
Tomei o cuidado de levar flores para a dona da casa, cuidei para que estivéssemos todos vestidos adequadamente, me certifiquei de usar todos os porfavores e obrigadas. Mas não estava preparada para o jantar.
A anfitriã passou a manhã toda cozinhando um imenso peru, o molho de cranberry, as vagens com um toque de limão e gengibre, uns bolinhos de alguma coisa que não identifiquei, as couves-de-bruxelas temperadas e misturadas com macadâmias glaceadas, o purê de batatas e mais alguns pratos que estavam à mesa. Eu não queria fazer desfeita, eu queria ser delicada e grata àquela pessoa que cozinhou para mim, eu queria que meu amigo continuasse meu amigo, então fiz o que mamãe me ensinou: coloquei no prato um pouquinho de cada coisa, tomando o cuidado de pôr quantidades proporcionais ao meu apetite, para não fazer a desfeita de deixar comida no prato.
Fomos para a mesa. Bebemos, comemos. Todos rindo muito das tiradas engraçadíssimas e mordazes da dona da casa (uma: ela virou-se para nós, falando do Arthur: "ele é adorável! quantas vezes por dia vocês precisam bater nele para que ele se comporte bem assim?" e todos rimos muito). Que sorte a minha, porque ninguém reparou quando eu tive um acesso de riso. Que sorte, porque ninguém prestou atenção no que ia no meu prato. Que sorte! Porque entre perus, couves-de-bruxelas, vagens e purês de batatas, eu me servi de um doce feito de custard (um creme bastante tradicional nos países anglófonos), abacaxi e marshmallows, achando que fosse uma espécie de salada de batatas (aquelas com maionese e maçã, sabem?). Agora vocês imaginem minha surpresa ao mordiscar um marshmallow entre um naco de peru e vagens!
Em minha defesa, informo que meu amigo foi nomeando os pratos e chamou isso de "salada". Óbvio que eu não ia perder a oportunidade de rir de mim mesma, então eu contei a história ali mesmo, à mesa, logo depois do ocorrido, e só o casal de mexicanos que também estava lá como convidados riu frouxamente. Os norte-americanos não entenderam muito bem, porque, conforme eles me explicaram, algumas pessoas comem aquilo, sim, como uma salada, junto com a comida salgada.
Eu deveria ter desconfiado quando fui a única a me servir daquilo, ou mesmo quando uma bolota branca rolou para a beirada do prato. Mas eu estava preocupada em manter a polidez, em prestigiar os anfitriões, então apenas me sentei e comi quietinha: peru? booom. Vagem? boooom. Purê de batatas? booom. Custard com marshmallow e abacaxi? boooom!

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