segunda-feira, 20 de junho de 2011

Ansiedade, essa palavra de quatro letras

O ser humano é um bicho engraçado, tenta rotular e determinar tudo aquilo que o cerca, de modo que ele possa dizer "eu sei" ou "eu conheço". Não é de hoje que elegemos uma doença ou patologia como o "mal do século", desde a Peste até a depressão, passando inclusive pela opção sexual, tudo parece estar sujeito ao aval daquele carimbador maluco do Raul (o Seixas), pois se não for selado, registrado, carimbado, avaliado, rotulado, não se voa, não se move e se liberta. Há algum tempo venho ouvindo a máxima de que o mal do século é a ansiedade, porém acho interessante notar que há não muito tempo esse posto era ocupado pelo estresse. Mas aí a inflação estabilizou, os loucos anos 80 deram lugar a menos yuppies e os anos 90 e sua geração Y explodiram o estresse, dando à depressão um memorável primeiro lugar na lista dos mais-mais e, em breve, os anos 10 deslindarão uma nova doença que irá desbancar a ansiedade. Até lá, fiquemos com ansiedade como o mal do século. De posse desse, quero pensar sobre outro clichê, para ir treinando, já que dizem que ser mãe é, entre outras coisas, cultivar e repetir clichês.
A primeira palavra que passa a fazer parte do vocabulário das mães deve ser ansiedade. Mesmo a mais zen, a mais ponderada tem suas angústias assim que se descobre grávida ou, não raro, mesmo quando começa a planejar a ampliação da família.
Para mim, a ansiedade é plural e composta por quatro letras.

M
De menstruação.
Muitas mulheres têm uma relação complicada com seus períodos. Cólicas, intensidade do sagramento, variações de humor, inconveniência, muitas são as reclamações que coleciono nesses quase trinta anos de feminilidade. E realmente, ser mulher e menstruar impressiona. Aos seis anos impressionava porque era sangue, e nossas mães diziam não estar machucadas. Hoje, aos 29, impressiona porque está intimamente relacionado ao poder de gerar, parir e perpetuar a vida. É visceral. Mas, para mim e meus ovários policísticos, menstruar é um motivo de ansiedade, já que nunca sei quando acontecerá, nem em que intensidade e, sobretudo, se fará parte de um ciclo ovulatório e, portanto, fértil.

E
De estrutura, de estabilidade.
Não conseguiria contar a quantidade de vezes que pensei sobre o assunto. Existe um dito popular que afirma que "filho vem com pão debaixo do braço", mas como classe média malresolvida, sempre penso se devo esperar mais tempo, para ter mais dinheiro, mais estrutura, uma casa maior, mais tempo, mais qualidade de vida, mais segurança para ter esse filho. E aqui, onde digo "segurança", desdobram-se diante dos meus olhos muitos outros significados para essa tal segurança (outra palavrinha de muitas letras). Minha segurança mora nas escolhas e é irmã siamesa da insegurança, ou seja, onde uma vai, a outra é carregada a reboque, e basta ter a andança interrompida por arrogâncias e surpresas para olhar para o lado e se lembrar de que ali está a gêmea. Minha segurança, então, é instável porque sinaliza o outro lado da moeda e é constantemente posta à prova pelas circunstâncias e decisões que tomo (ok, acontece assim com todos, não sou diferente, mas isso não minimiza a ansiedade que isso traz).

D
De dor.
Morro de medo de dor. Com o parto não poderia ser diferente. Mas meu medo da dor não se limita ao momento do nascimento, com suas contrações misteriosas, suas intervenções indesejadas. Morro de medo da dor que um parto diferente daquilo que desejo possa me causar. E falo aqui bastante especificamente da cesárea. Não sou radical e tenho bem claro que ser uma boa mãe não está necessariamente relacionado ao tipo de parto a que fomos submetidas (se não, mães adotivas jamais seriam boas mães e isso definitivamente não acontece). Porém, quero muito, muito, muito ter um parto normal, sem anestesia (mas e a dor?), sem episiotomia (mas e a dor?) e sem desassitência. Por outro lado, como bancar esse desejo? De dar a cara a tapa? Sustentar minhas escolhas e decisões? E se eu perder o controle e acabar frustrada no meu intuito de parir naturalmente? E se eu tiver de lidar com essa dor (a dor do que não foi porque não tive força e fibra) por toda a vida? Dor e estrutura se entrelaçam numa perigosa dança: médico, informação, poder de escolha, confiança no profissional, acesso aos melhores recursos; é necessário dosar tudo isso em uma química perfeita, que me permita ter o parto que eu quero, mas não sei se sou capaz.

O
De ônus.
Sendo muito sincera, nem só de alegrias vivem as mães. E aquilo que não é só alegria me deixa ansiosa, pois preciso de garantias inexistentes de que conseguirei lidar com uma nova realidade feita de sono entrecortado, baby blues, cansaço, birras, manhas, rebeldia (adolescente ou não), brigas, dores, dores, dores. Serei eu capaz de ser uma boa mãe mesmo sendo posta tão à prova?

Então, minha ansiedade tem quatro letras: M-E-D-O
Conseguirei eu ser mãe? Conseguirei eu ser uma boa mãe?
Tenho muito medo porque não posso determinar o que o futuro me reserva. E assim, tentando antecipar dores e alegrias, fico presa, impedida pelo carimbador maluco que carrego dentro de mim de ultrapassar esse clichê: da ansiedade da treinante.

E vocês? Quantas e quais são as letras da sua ansiedade?

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