terça-feira, 10 de julho de 2012

A mão de vaca não é amor de vaca

Joguem pedras. Ou melhor, joguem suas tetas empedradas sobre mim e o leite mau na cara dos caretas.
É que a dona das divinas tetas aqui está numa luta árdua, doloridíssima, regada a sangue e analgésico contra o inferno que é amamentar.
Meu mamilo esquerdo está literalmente pela metade, já que Arthur deve ter sugado em suas ávidas mamadas na madrugada micropedaços e amolecido com sua saliva biônica outros micropedaços, que grudaram em camisas, casacos, sutiãs e tops. As conchas de amamentação me fizeram derramar lágrimas demais para que eu as usasse mais que duas vezes. O lado bom da mama esquerda é que depois do minuto inicial de dor suprema, quando aquela boquinha tão delicada e pequenininha do meu filho reabre a enorme ferida no meu bico, tudo fica praticamente indolor (exceto por pontadas, mordiscadas fora do prumo ou perdas de pega ao longo da mamada).
Meu mamilo direito já sangrou, rachou e cicatrizou, e tem, desde a sala de parto, a pega mais fácil para mim. Some-se isso ao fato de que meu seio esquerdo está mutilado e teremos o seio da chupeitação, aquela prática de tortura milenar, praticada por todos os bebês humanos, desde priscas eras. Bebês das cavernas, que não faziam ideia do que era uma chupeta, já chupeitavam suas mães (aliás, quem será que teve a péssima ideia de colocar um delicado e sensível mamilo na boca surrealmente potente e massacrante de um recém-nascido?! Nem argumentar é possível com um ser tão pequeno! Porque quando maridos, namorados e afins passam dos limites com nossos mamilos, podemos gritar e argumentar, né? Mas vai explicar para um bebê de 23 dias que dói como a morte essas mordiscadas na beirinha do bico, a chupeitação toda...). E aqui em casa, essa chupeitação teve como consequência uma dor constante e intensa, durante toda a mamada.
Então, todos os dias, a cada chorada do meu pequeno, preciso escolher entre uma dor lancinante e enlouquecedora por cerca de um minuto, ou uma dor tolerável por toda a mamada.
Além disso, carrego nos peitos outras dores, mais subjetivas, é verdade. A primeira delas diz respeito ao ritmo do Arthur. De manhã ele passa o dia INTEIRO pendurado no peito. E não dorme fora do peito (nem no meu colo). E chora quando está fora do peito, e chora até quando está mamando. E puuuuuxa meus bicos com a boquinha dermo-abrasiva com vacuosucção e belisca e aperta meus seios e mamilos com suas unhas-alfinete, numa bastante evidente demonstração de que fisicamente ele é todinho o meu marido, mas em termos de gênio puxou mesmo à mamãe. Eu limpo nariz, visto, dispo, seguro, converso, choro e não sei mais o que fazer. Dói muito não conseguir entender o que o deixa tão irritado. Já até pensei que poderia ser falta de leite na peitola, mas não é, não.
Outra dor que sinto mora nos peitos (que doem cheios, vazios, se enchendo e se esvaziando), nos braços, ombros, costas, pernas e pés, e vem da imensa tensão que sinto ao dar de mamar. A qualquer momento posso perder a pega, levar uma mordida, um beliscão, uma puxada nos mamilos ou posso sentir gengivas potentes morderem com vontade um bico pela metade. Impossível relaxar.
E a última dor deste post atende pelo nome de chupeta. Comprei, usei e estou sofrendo a cada sugada que meu filho dá no objeto endemonizado por mães-modelo e por mim (porque usei chupeta quando era criança e foi um trauma terrível e até hoje lembrado por mim quando resolveram que era hora de eu parar com o hábito. Logo, não queria que meu filhote corresse o risco de passar por essa experiência horrorosa). Sofro porque me sinto péssima e morro de medo de que Arthur largue o peito, comece a pegar errado de novo, tenha problemas de fala, de superação da fase oral, problemas de dentição. Enfim. Medo, culpa e frustração, teu nome é chupeta!
Diante de tudo isto, às vezes me pergunto por que raios eu ainda insisto em amamentar, se tudo anda tão sacrificante e dolorido, e minha resposta é óbvia (para mim): se eu fiz o melhor que pude no parto do meu filho, também vou tentar oferecer a ele o melhor alimento. Mas sempre tem aquela pessoa absolutamente irritante, que desdenha das suas posições e opções e dá conselhos, pitacos e dicas não solicitadas. Para essas pessoas eu uso o melhor argumento-paisagem que pude arrumar: não quero abrir mão da amamentação porque sou mão de vaca e não quero gastar rios de dinheiro com leites artificiais, mamadeiras, bicos e esterelizadores.
E assim, sigo amamentando (e chorando e sofrendo horrores com essa coisa pavorosa que é ter o mamilo despedaçado), mentalizando que estou doando amor a meu filhote, um amor quase de vaca. E vocês, que nasceram na década de 1980 e viram o surgimento do Casseta e Planeta, sabem que mãe é mãe, paca é paca e mulher é tudo vaca. Ou, se preferirem algo menos machista e mais erudito, vamos de Caetano: dona das divinas tetas, derramarei o leite mau na cara dos caretas!

7 comentários:

  1. Oie Ártemis, só de ler o seu relato já fui sentindo dor...com o Bryan foi igualzinho, com a diferença que ele não sabia sugar, ficava nervoso quando não encaixava a boquinha direito,e grudava que ninguém conseguia tirar. Minha amiga até tentou amamentá-lo para ver seo problema era meu seio, mas ela disse que sentiu horrores de dor, porque ele não sugava corretamente. Mas continuei na luta. O meu mamilo sangrou e tem a maior facilidade em descamar, então sei a dor que vc está sentindo.Acho que por esse motivo o meu baby blues atacou com força, pois só de pensar que o Bryan ia acordar e mamar eu já chorava de dor. O seio esquerdo machucou mais que o direito, e assim eu oferecia o direito e ordenhava o esquerdo para não empedrar, e dava na mamadeira depois. Mas eu sucumbi a mamadeira, chupeta e tudo mais que pudesse aliviar meu sofrimento, porque a amamentação nos primeiros meses foi isso pra mim,um sofrimento. Mas melhorou, e o negócio ficou tão bom, que quando Bryan largou sofri horrores.
    O problema pode estar sendo nele ficar chupeitando direto.
    Força na peruca que já já melhora!!!
    P.S: quando vc coloca as conchas dói?? aquilo foi a salvação pra mim.
    bj

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  2. Artemis, sua lymda, vamos lá, repita comigo em voz alta: VAI PASSAR, VAI PASSAR. Eu juro, pelo meu filho: VAI PASSAR. A dor, a pressao, a pega errada, o mamilo em pedacinhos, tudo isso.

    Nao me jogue pedras (ou seu peito empedrado, rá!), mas é o lema básico da maternidade, precisa ser repetido por nós nesses momentos, só assim eles sao mais toleraveis.

    Pelo que vc contou, já se certificou que a pega está correta, certo? Pq ele nao deveria estar mordiscando a pontinha do mamilo, a pontinha deveria estar enfiada quase lááá na garganta dele. Mas nao vou dar mil pitacos pq vc nao pediu (e sei que sao ruins e abalam nossa confiança). Só vou te dizer que continue sim. Dá o peito, luta por isso. Lucas mama há 14 meses e agora, te juro, é só prazer.

    Te desejo mto leite e cicatrizaçao e alegrias!

    beijos

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  3. ah, sobre a chupeta: tb sofri, mas foi um mal necessário em casa. Ainda nao sei como vou tirar, mas já to planejando!

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  4. Árte, acho que nenhum preparação psicológica nos prepara para a prova de fogo que é o nascimento serei dos nossos bêbes, mas como tudo na vida superamos com muito amor e determinação.

    Amigaaaaaa estou tão feliz serei mãe de um meninão tbém! Bjos carinhosos para vc e o Arthur!

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  5. Puxa Artemis, que difícil hein. Não posso dar pitaco, porque tenho zero experiência com babies, mas espero que essa fase passe logo e endosso o coro -dá o peito, luta e não desiste!

    Bjão pra vcs

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  6. Ártemis,

    entendo bem seu problema, pois aqui passei pela mesmíssima coisa.

    Meu peito sangrava e eu via o sangue nas fezes do Lucas. Triste.

    Mas insistimos e, acredite, uma hora melhorou (um mês mais ou menos).

    A pomada Lansinoh me ajudou muitíssimo. E eu andava feito índia pela casa, com as peitcholas de fora, porque só de encostar o sutiã eu sentia dor.

    No post anterior vc disse que contratou uma consultora em amamentação. Certeza que você está no caminho certo.

    Quanto à chupeta, também era totalmente contra. Até que...
    nasceu meu filho. rá! primeiro cuspe que cai direto na testa. E foi ótimo pra gente, viu?! Ele só usava pra dormir e largou quando fez um ano. Foi muito, muito tranquilo.

    Continue acreditando nos seus instintos!

    Beijoca pra vocês!

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  7. Olá, Artemis, tudo bem? Primeira vez que passo por aqui e confesso que foi o único post que li ainda, então não sei se você tentou o que vou falar, mas não me custa falar, rs.

    Esses dias encontrei com a madrinha de uma amiga e ela estava me contando que a nora dela estava sofrendo horrores para amamentar, que tava dando dó dele, dos seios, de tudo. Que ela não conseguia usar a concha de acrílico, porque machucava. Então ela foi a farmácia e comprou uma de silicone, disse que foi tiro e queda. Que ela antes estava tendo pouco leite e que agora tem muito, que hidratou o mamilo.

    Infelizmente, não sei o nome da concha, mas se você ainda não tiver tentado com ela e estiver afim de mais uma experiência, me fale no meu blog que eu olho o nome com ela e te passo, se não tiver tentado, não custa tentar!

    Beijos e boa sorte!

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