Meu sonho sempre foi Parir. Com letra maiúscula, sem anestesia, nada de véu e grinalda: parir. Dilatar, contrair, fazer nascer de dentro de mim o amor maior da vida de tanta gente - eu, marido, avós, futura companheira (ou companheiro) e quem mais quiser e puder amar meu filho. E assim, por anos, cultivei esse sonho, acalentei esse sonho, cuidei, acarinhei e busquei trilhar caminhos que me fizessem realizá-lo. Fiz minhas oferendas à Nossa Senhora do Bom Parto, tendo sempre cuidado com minha saúde e minha mente, para que o parto fluísse e, no que dependesse de mim, acontecesse.
E aconteceu. Foi lindo, intenso, mágico, fundador. E, se por um lado ficou (na lembrança, na memória, no Arthur e na mulher que hoje sou), por outro, passou. Foi um momento, brevíssimo nessa vida longa (ainda bem!) que venho tendo. Onze horas em trinta anos é um átimo.
[Suspiro]
Agora, claro que continuo sonhando com os próximos partos. Meus e alheios, sonhando com uma melhoria significativa das condições de nascimento no Brasil e no mundo, sonhando com ocitocina natural democratizada. Mas, confesso, tenho e tive outros sonhos, que diante da beleza e da magnitude da maternidade se tornaram sonhos outros, sonhos distantes, não porque irrealizáveis, já que Parir, com maiúscula, dá uma sensação de tudo poder, mas distante porque as prioridades são outras e as vontades acompanham risadinhas e mãozinhas na boca.
Em termos profissionais, por mais que ame minha ocupação extra-casa, dá uma vontade muito grande de não voltar quando a licença-maternidade acabar. Porém, trabalhar é preciso, maternar é impreciso, e temos necessidade aqui em casa do meu salário no fim do mês. Ossos da luta pela igualdade de gêneros. Além disso, tenho um projeto profissional em suspenso no espaço etéreo do sonho.
E aí eu me pergunto (e a quem mais quiser responder, claro) para onde vão os sonhos depois que parimos? Porque meu espaço se multiplicou e se expandiu, abarcando outros mundos. Mundos em que Arthur e marido vivem, e meu caminho não pode mais ser trilha, aberta no facão da tentativa-e-erro que tantas coisas exigem. Não penso em pedir demissão, não penso em dar um passo rumo ao impalpável. E sofro sorrindo (porque tenho meus amores a meu lado) porque não sei como e quando dar vazão a minhas aspirações de outrora. Notem bem, não digo que não tenho meus pequenos sonhos, minhas ambições profissionais imediatas e plausíveis. Falo daquela conquista epopeica que, ao lado do parto, fundaria uma Ártemis completamente completa e realizadora das forças em potencial. Claro que trabalho e continuarei a trabalhar, mas onde e quando ousar?
Faz-se necessário, portanto, um mapa. O mapa dos lugares alcançáveis depois da realização de dois grandes sonhos: parir e maternar. Para onde rumar agora que tenho meus olhos postos na plena alegria de querer, lutar, conquistar e ser feliz? Como continuar (em moto contínuo) a ser feliz? Os sonhos param em um momento? Ser feliz é mesmo uma condição imanente aos seres, ou apenas "estamos felizes" e o devir, graça da vida, acabará com tal estado tão logo entremos no rio caudaloso do cotidiano? E se somente "estamos felizes", como manter-se feliz se não sabemos onde os sonhos estão?
Quem souber responder, agradecida. Por enquanto vou feliz, querendo continuar assim por tempos imortais.
Aaaamoooo seus posts Artemis.... é meio que uma " critica-reflexiva"..... desculpe estar ausente nos comentarios....mas acredite sempre os leio....e adoro.
ResponderExcluirSeja feliz amiga... vc e seu lindo e doce Arthur
Que texto lindo!!! Quando eu crescer quero escrever desse jeito! Bjos
ResponderExcluirNo meu caso todos os sonhos foram guardados dentro do porão quando me tornei mãe. A necessidade e vontade de crescer e construir a minha vida profissional, foi substituída pelo plano de cuidar e criar do Bryan,e agora da Isabela. Depois vou correr de encontro para meus objetivos, e espero me realizar tmb nessa área.
ResponderExcluirAdoro seus textos.
bjos