quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Para onde vão os sonhos depois que parimos? - parte 2

Parir. Gosto tanto dessa palavra! Começa com uma consoante plosiva bilabial absolutamente familiar: a mesma letra de papai, papá, pé. Depois, se abre por completo, em um A que vai no topo da pirâmide fonética das vogais, lindo, vivo, amplo. E aí termina com a multiplicidade de erres, termina-se rindo: RIR. Pode falar: lindão parir, né?
Pois é, mas como fazer para sonhar depois de fazer nascer uma pessoa?
Essa pergunta anda me apoquetando (e inspirando textos como o de ontem) porque se por um lado é muito fácil querer, desejar e planejar muitas coisas, é inquietante saber que todas as possibilidades incluirão o Arthur. Para o bem (fazer parte de seu crescimento, ajudá-lo a viver seus sonhos e desejos, tê-lo por perto e fazer da minha vida, da vida dele e da vida do marido a nossa vida) e para o mal (projetar, tolhir, supor, sufocar de amor). Hoje, se planejo uma viagem, Arthur e marido vêm antes do destino, da mala ou do dinheiro. É lindo, mas dá medo, porque parece que meus sonhos não são mais meus, embora tenha sido exatamente com isso que sempre sonhei.
Não quero que vocês leiam este texto como se fosse um desabafo desesperado, por favor. Leiam com leveza. Pensem no sol através da bolha de sabão e leiam, pois assim é a pergunta na minha cabeça: leve, furtacor, cambiante.
Se sonho, incluo minha família, e o sonho é nosso. Mas como manter o direito que nós três temos de sonhar? Como planejar novos rumos e evitar saltos no vazio, tombos coletivos e rastejar na mesmice em nome da segurança?
Tenho muito medo de que minha vida se torne pouca para mim. Notem bem: para mim. Não quero optar pelo trabalho em casa e achar que merecia mais valia, décimo terceiro e competitividade. Não quero escolher pelo trabalho CLT e pensar que deveria estar em casa, cuidando de perto do que me faz feliz, tendo a chance de vivenciar todas as experiências da maternagem. Não quero embarcar no sonho do marido e supor, mais tarde, que me faria melhor tentar do meu jeito.
Acho que embutida nessa pergunta dos sonhos está meu questionamento infindável pela identidade: onde estou? quem sou? como viver plenamente este desafio que sou eu?
Enfim, para onde vão os nossos sonhos depois que os filhos nascem? Às vezes eu acho que os meus foram todos inspirados com sofreguidão pelo Arthur na hora do parto, e que ele os vai liberando delicadamente, para sempre, a cada suspiro ou sorriso.

2 comentários:

  1. Eu tô adorando muito essa inspiração toda. Tá me fazendo pensar um monte de coisas... Post lindo, de novo. beijo!

    ResponderExcluir
  2. Se você encontrar onde seus sonhos foram parar, por favor, me fala, rs, pois aqui está uma confusão danada!
    Eu não sei se foi "pause" ou "stop", só sei que estou curtindo outro som e não sei como vai ser a hora que esse disco acabar (leia-se licença maternidade acabar).

    ResponderExcluir