terça-feira, 13 de novembro de 2012

Quando Nietzsche se revirou no túmulo (ou distorcendo a filosofia)

Aqui em casa temos um rotina. Todo dia, mais ou menos nas mesmas horas, fazemos as mesmas coisas. E assim vamos vivendo um dia de cada vez, aprendendo, errando, acertando, vendo Arthur se desenvolver e também nos desenvolvendo. Porém, por mais que tenhamos uma rotininha, nenhum dia é igual ao outro (e, segundo Nietzsche, por isso mesmo todos os dias são iguais, porque são diferentes, e todos os dias tudo pode acontecer - mas vamos voltar ao planeta Terra).
Acho importante falar isso aqui porque, de vez em quando, vejo que as pessoas ficam muito impressionadas com meu relato de parto e de amamentação, e algumas chegam a dizer: espero que não seja tão dolorido/difícil assim comigo. Gente, eu também espero que toda a mulherada tenha um parto bacanudo, de preferência com dores suportáveis (e por pouco tempo), e uma amamentação espetacular, daquelas que a gente sonha: espeta o mamilo no menino e lê/assiste TV/dorme enquanto ele mama (porque, vocês sabem, no começo da amamentação, eu me retorcia tremendamente, sem conseguir me concentrar em nadica de nada, nem relaxar para dormir). Acho, então, que minha experiência não deve ser encarada como destino inexorável para quem engravida e vai um dia parir (se o médico e o sistema deixarem) e amamentar (novamente, se o médico e o sistema deixarem). Não, gente! Há um mundo cor-de-rosa na maternidade. Acreditem! Pode ser que com você, querida leitora, tudo seja absolutamente fantástico e indolor e fácil e instintivo e anatomicamente perfeito. Há mulheres que não sentem nenhuma dor no parto, há aquelas que amamentam seu filho (e o meu, o nosso e o do vizinho) como quem chupa um Chicabon (ai, Nelson Rodrigues!). Quando eu venho aqui contar que meu parto, apesar de lindo, incrível, totalmente perfeito e transformador, doeu bagarái, quero mostrar que, caso você não se sinta assim tão incrível porque sentiu contrações doloridas por 12h enquanto a vizinha da irmã do jornaleiro da esquina chegou no hospital "com uma sensação esquisita" e pariu rindo ou espirrando, tudo bem. Se você tem o mamilo invertido (ou simplesmente plano e com cistos, como o meu), você PODE e deve amamentar. Vai doer, vai ser complicado, mas tudo bem. A gente encontra na blogosfera materna todo o apoio de que precisa para ir em frente e ficar sabendo que a coisa toda é linda e blá-blá-blá, mas também tem o dark side. (Eu poderia citar Victor Hugo, mas vou mesmo é de Angélica: "a Lua também tem uma face escura".) E aí, eu venho aqui contar que comigo não foi tão simples, porque quando a gente percebe que tem alguém igualzinho a gente, que sofre, que luta, que não acha tudo tão supimpa o tempo todo, a gente se sente parte do mundo. Eu não sou filósofa (ao menos não fora de um botequim), mas acho que podemos voltar a Nietzsche e distorcer um bocadinho a coisa toda para dizer que, se encontramos pessoas que vivem experiências semelhantes às nossas, nos sentimos parte do mundo e da vida porque, assim como os dias são todos iguais porque têm sempre o potencial para qualquer acontecimento, todas as pessoas são iguais, porque sendo elas diferentes, guardam em si todas as possibilidades.

Pri, este post foi inspirado no seu comentário (e em muitos outros também), mas não é recado ou mensagem para ninguém, viu? Só que seu comentário me fez matutar sobre como trocamos experiências nessa vida ( = vida real + vida virtual).
=)
Depois volto para contar como sobrevivi até agora sem meu piercing de mamilo (ohhhh, céus!!!).

4 comentários:

  1. Ártemis,
    To passando rapidamente pra dizer que o teu relato de parto foi o que mais me emocionou, o que mais se aproximou (do que acho) que será a minha realidade.
    Eu tenho lido bastante sobre e acho lindos os relatos, mas lendo o seu fui realmente tocada. Até mandei o link pra uma amiga grávida de uns 6 meses.
    A amamentação espero que seja menos dolorida, confesso que me orgulho por você ter conseguido, não sei se eu conseguiria suportar tanta dor, mas ainda não sou mãe... Vai ver é isso! =D
    Curto demais a forma como tu escreve e sobre o que escreve (claro, se não o que eu estaria fazendo aqui dãããããã).
    Muitos Beijos

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  2. Fiquei radiante aqui com o seu carinho! Ártemis, minha irmã tbm sofreu muito com a amamentação e superou, amamentou até meu sobrinho não querer mais, acho vcs mulheres mto guerreiras, claro que adoraria amamentar igual aos comercias de aleitamento mas se não for o caso vou fazer o que estiver ao meu alcançe! Beeijo

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  3. Árte, o que me levou a seguir seu blog, foi justamente a sensação de "gente como a gente" sabe como é? Pessoas com vidas perfeitas, experiências perfeitas me assustam. Vc sofreu no seu parto, seus mamilos quase cairam mais em nenhum post eu percebia desânimo ou desmotivação! AMO SEUS POST. Bjos

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  4. E desde quando o mundo florido é o mais lindo?? Eu acho que não viu...
    Amei teu relato de parto! E é muito bom ler que existem pessoas que também tem difuculdades para amamentar, alimentar, cuidar, limpar, etc...etc...
    A vida real é um pouco diferente da virtual, e tem muita gente nessa mamísfera que pinta um mundo muito perfeito... gosto não! pronto falei kkkk

    Beijos

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