Então você tem um bebê de 11 meses e meio que resolveu acordar e ficar de pé na cama, quando antes ele apenas se sentava.
Então você faz cama compartilhada com ele, mas não na sua cama, porque você está se mudando de país e morando de favor na casa de outra pessoa, cuja cama é embutida.
Então que a cama fica no mesmo lugar e não dá para colocar o colchão no chão. E nem cabe berço ou carrinho no quarto emprestado.
Então você está sozinha em casa quando o bebê se descabela porque quer dormir.
Então você não vê outra opção, dá peitinho até o garoto botar leite pelo ladrão e capotar.
Então você tem um bebê de 11 meses e meio, que fica de pé quando acorda, dormindo numa cama alta e está sozinha em casa.
Então você tem um corpo que amamenta, que morre de fome e sede, e que desmaia se não se alimenta a cada 3 horas.
Então, com o bebê dormindo e a fome estrangulando onde você calcula ser seu estômago, porque já não raciocina direito e escuta o apito inicial do desfalecimento. É hora de comer. Agora. Vai!
Então você pensa: bebê que fica de pé + cama alta + ausência da mãe do quarto = tragédia anunciada.
Se você, como eu, teve a sorte de ganhar uma babá eletrônica com câmera, pensa, como eu pensei, que está tudo certo e tranquilo: você vai, liga a câmera, liga o transmissor do outro lado e, ao menor sinal do moleque acordar, volta para o quarto num átimo. Zááááázzzzzz...
Então você tem um marido.
Então você tem um marido que escondeu o carregador da babá eletrônica com câmera, que agora é um enfeite bem feio em cima da mesa no quarto emprestado.
Então seu marido perdeu o celular (de novo!) e está incomunicável, você crê, em Niterói. Outra cidade. Pertinho do Rio, eu sei, mas ainda sim longe o bastante para que ele não ouça seus gritos.
Sorte a dele.
Você tem vontade de chorar, mas está seca, sem água, não brotam mais lágrimas.
Você quer gritar, mas é um dispêndio de energia que está além de suas capacidades caloríficas do momento. Você começa a delirar, vendo um frango assado de padaria dançar cancan na sua frente, em cima da mesa do quarto emprestado. Ele está sensualizando com a babá eletrônica sem bateria. Ele está rindo da sua cara (pálida).
O apito fica mais forte. Você PRECISA comer.
Então você decide arriscar: forra a cama e arredores com todos os travesseiros que encontra, sacode o menino, para verificar que ele está mesmo ferrado no sono e é pouco provável que ele acorde, e vai.
Corre para cozinha, pega prato, talheres e...
Volta correndo para o quarto emprestado. Bebê plácido.
De volta à cozinha, serve-se: arroz, feijão, o que é isso? dane-se, vai assim mesmo para o prato e purê de batata com leite de coco (porque você faz dieta, lembra?). E corre de volta para o quarto: bebê na mesma posição.
Dispara mais uma vez para a cozinha: 1 minutinho....quarto, bebê em paz. Cozinha: Piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii. Claro que o purê está frio. É um fenômeno da culinário microondística: purês NUNCA esquentam adequadamente no centro. Dane-se.
Então você leva seu prato para o quarto, engole nacos e bocados sofregamente, torcendo para que não desmaie em cima daquilo que você está comendo e não faz a menor ideia do que seja.
Então acaba a comida no prato. E você ainda está faminta. E sem ter qualquer ideia do porquê, sente vontade de fazer xixi. Sim, porque você está trancafiada no quarto emprestado com o bebê de 11 meses e meio que dorme na cama alta e não bebe água há pelo menos três horas e meia, mas ainda assim sente vontade de fazer xixi. Mistérios da fisiologia.
Bebê acorda.
Pânico.
Seu e do bebê.
Você o acalma, mas ele quer peito. Você dá. E sente todos os nutrientes e as calorias recém-deglutidos serem imediatamente transformados em leite. Fome. Sede.
Então você desiste, deita-se em posição fetal e reza para que alguém lhe salve. Decide escrever no blog, tipo como um registro de seus últimos momentos de consciência.
Então você pensa: será muito degradante usar a fralda do seu filho? Será que bala de hortelã pode ser considerado jantar? Será que aquele frango assado sensual ainda está por aqui? Que gosto terão esses travesseiros?
Então marido chega.
E lhe salva? Não, não: diz que está com fome e pergunta se pode ir comer rapidinho, antes de lhe ajudar.
Então você...
Desfalece... Ahah
ResponderExcluirJá disse o quanto adoro as suas crônicas do cotidiano? Rsrs
E valeu pelo toque lá no blog. Hahaha Já descobri onde foi o bug, e já tirei do ar enquanto não é consertado. Rsrs
Beijo!!!