sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Até que o último homem tombe sobre o solo

Este texto contém palavrões.

Eu tenho um pequeno e bravo guerreiro em casa. Todas as manhãs e todas as tardes ele luta com ferocidade, geralmente sucumbindo somente diante do peitinho franco-atirador, que sua mãe saca quando mais nada parece conseguir fazê-lo parar, ou do som do útero materno, que seu pai aciona quando sua fúria parece sem fim.
As batalhas são muitas: Soneca Para Mãe Dormir Mais Cinco Minutinhos, Soninho Para os Pais Almoçarem, Cochilo Para Frear Mal-humor Vespertino (também conhecida como a Batalha do Boi da Cara-Preta) e, a mais ferrenha, Dorme Para Mamãe Tomar Banho.
Todo dia é a mesma coisa: acordamos, ele de bom-humor, eu caindo pelas tabelas depois de loooongas e doloridas mamadas no meio da madrugada, daí marido fica com ele para que eu possa dormir mais um pouquinho (geralmente entre 20 minutinhos e 1 santa horinha), e então começamos a luta, filhos da pátria! Arthur pede peitinho, eu dou. Ele dorme e solta o peitinho. E chora. Eu reacoplo o menino nas peitolas. Ele chupeita e dorme, relaxa a boquinha e solta o mamilo. Alívio para as doloridas mamas da mãe, mas terror para os ouvidos de todos na casa (e, eventualmente, vizinhança). Pai se apieda dos urros de dor da mãe, que tenta recolocá-lo no seio, e aciona o som secador de cabelo. Arthur chora. Berra. Urra. Se descabela, mesmo sendo meio careca. Mamãe saca o peito para fora da blusa, mas papai inicia o método radical de ninada: pulinhos, mão na testa, som do útero e Boi da Cara-preta cantado ad infinitum. É hora do almoço, mas mamãe nem fez o xixi da manhã ainda. Bebê dorme. Papai pergunta: no berço, na cama, no carrinho, no bebê-conforto ou no balancinho? Mamãe responde: em qualquer lugar, já que ele vai acordar assim que sair do colo ou parar de chacoalhar. O video do Youtube termina, sem que papai ou mamãe percebam. Mas bebê nota. Abre os olhinhos. Pisca. E urra. Berra. E se acopla novamente ao peito rachado e mastitizado. Papai vai comer, porque o exército não pode ter tal baixa. Esquenta a comida e engole qualquer coisa meio requentada. Aproveita e faz um arroz com ovo para a mãe. Toma o bebê dos braços da mãe, que dá uma garfada, duas e... quase! Bebê acorda e a internet caiu, não há som milagroso, somente o colinho (e peitinho) da mamãe. Todos choram, menos papai, que precisa trabalhar e se tranca no home office. Mamãe derruba arroz com ovo no bebê. Uma súbita vontade de arrotar agita o bebê, que puuuuuuxa o mamilo esquerdo, perde a pega e abocanha aquela mutilação. Cai a casquinha. Sangue. Leite. Lágrimas. Home office foi para a puta que o pariu e papai lança mão do Boi da Cara-preta, mas Tutu Marambaia mora no nosso telhado. E ali mantém seu home office. Como Tutu mora no telhado, Arthur não dorme. Mamãe consegue fazer xixi. Mas ainda tem arroz com ovo.  Bebê de novo no peito. Dorme. Papai no home office. Mamãe, no sofá, tenta alcançar o antibiótico, que mais parece uma cápsula espacial, sem fazer o bebê perder a pega ou acordá-lo. São cinco da tarde. Um mau-humor generalizado toma conta da casa. Reload de todas as técnicas e estratégias já aqui listadas. Bebê dorme, mas acorda 20 minutos depois graças ao Reflexo de Moro. TománocuMoro! Bora dar uma volta? De carro ou de sling? De sling. Arthur, meu filho, calma, com as pernas esticadas assim, fica difícil te colocar no sling. Segura a perninha, amor. A cabeça tá meio torta. O quê? A cabeça. Meio torta (e entorta a cabeça). O quê? Porra, vou colocar ele na cadeirinha. Você viu  chave do carro? O quê? Aaaaaarrrghhhhhh! Shhh, meu filhinho, a gente vai dar uma voltinha para você dormir um pouquinho. Cinto afivelado. Garagem se abre. Que dia é hoje? Terça. Sábado. Sei lá: é o Dia da Marmota. Caralho! Sexta-feira, seis da tarde. Dá dedinho para o Arthur. Já dei. Ele não quer. O quê? O quê? Dedinho, meu filho, não posso te amamentar no carro. O quê? [Este engarrafamento é um oferecimento de Eduardo Paes] Pega a próxima à esquerda, tá mais livre. Ok, ele dormiu? Não, mas tá quase. Que horas são? Sete e meia, falta pouco para o banho, graças a deus! Ele dormiu? Não, mas tá rindo para o móbile. Pelo menos não está chorando. É. Bora voltar. Oito horas. Tira roupa, tira fralda, limpa bumbum, enrola na fralda, liga música, apaga luzes da casa (sempre rola uma topada ou uma canelada em algum canto) e mergulha o menino na água morna. Bocejo. Pais também bocejam. Sai do banho, roupa e fralda limpas, enrola no dudu, dá mais peito mutilado e não mutilado, coloca para arrotar e, enfim, ele dorme.
Lutou até que o último homem tombasse sobre o solo. Neste caso, o último homem é uma mulher.

2 comentários:

  1. Que fase, né? Eu queria saber se vc está melhor das peitolas? bjo

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  2. Pois é, apesar de muitas não confessarem, passamos todas por isso. Revivi meus dias com Guilherminho Recem nascido. E vc foi legal em não contar sobre a noite, rs

    Beijo e q td melhore(sei q vai)

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