O processo do parto vocês acompanharam de pertinho aqui: teve
gincana, estresse, cansaço, introspecção catártica e recolhimento ao
ninho. No dia 16, portanto, sentia, mais uma vez, umas contrações que
poderiam sinalizar ou não o início do trabalho de parto. Para tentar dar
uma mãozinha para a mãe-natureza, fui caminhar. Escolhi um lugar muito
significativo (onde dei o primeiro beijo no homem que hoje é meu marido)
e fui com minha família passear: marido, cachorro e filhote na barriga.
Eram contrações doloridas, mas espaçadas. Liguei para a enfermeira que
me acompanharia e avisei: "Pode engrenar ou não, mas estou avisando que é
para deixá-la de sobreaviso."
Cheguei em casa e nada mais
aconteceu... até que às duas da manhã, já no dia 17, comecei a sentir
contrações suaves, porém ritmadas. Estava na internet, insone (como
vinha acontecendo com frequência no fim da gravidez), quando senti umas
dores parecidas com cólicas menstruais. Procurei me distrair, mas fiquei
de olho na frequência, se estavam vindo com algum ritmo. Não me
precupei neste momento em marcar os minutos certinho, apenas via se a
cada 10 ou 15 minutos eu tinha tido contrações. Por volta das 4 da
manhã, as contrações ficaram mais poderosas e eu não conseguia me
concentrar em outra coisa quando elas apareciam: se eu estivesse lendo
algo, não conseguia entender muito bem o trecho, se estivesse escutando
uma música, não prestava atenção na letra. Meu marido dormia, e confesso
que a tentação de acordá-lo foi grande, mas pensei que ele precisaria
dirigir e, por isso, não poderia estar muito cansado e eu ainda teria
muitas horas de trabaho de parto pela frente. Eu sabia que estava
começando o trabalho de parto e passei a contar os intervalos das
contrações. Então, às 6 da manhã, eu não conseguia mais cronometrar
nada, e acordei meu marido para me ajudar a contar a contrações. Ele,
sonado, não levou muito a sério meu pedido porque achou que as
contrações fossem estar espaçadas ainda. Quando, às 6h30, ele notou que a
cada 3 minutos eu contraía, levantou e passou a anotar tudinho.
Perguntou, então, se eu queria entrar em contato com a minha equipe, mas
eu ainda achava que era cedo demais (ninguém merece ser acordado num
domingo, às 6h30 da matina, para um trabalho de parto ainda no
comecinho, né?). A cada contração eu agachava na beirada da cama e
soltava uns gritinhos. Também ia muito ao banheiro, porque a impressão
que eu tinha era de que eu faria xixi durante as contrações e a última
coisa que eu queria era limpar chão em pleno trabalho de parto. Fui
levando, com ajuda do maridão, até às 8 da manhã, quando contatei a
equipe e comecei a mergulhar mais fundo no processo. As contrações ainda
vinham de 3 em 3 minutos, mas estavam mais fortes. Lembro que entre uma
contração e outra eu não sentia nada, exceto por uma dor bastante forte
e incômoda (mais incômoda que a própria contração) no músculo adutor da
perna esquerda assim que a contração passava. Na hora, pelo telefone,
comentei o fato com a enfermeira que me acompanharia e não me lembro o
que ela disse, mas era normal. Hoje, pensando sobre o assunto, faz todo
sentido que eu estivesse estirando/dilatando o meu músculo mais
resistente e atrofiado.
Também liguei para minha GO para avisar do
progresso (eu já havia telefonado no dia anterior e minha enfermeira
tinha contatado ela) e, mais tade, depois de Arthur nascer, fiquei
sabendo que minha GO ligou para a minha EO e avisou: "ela está em
trabalho de parto, sim, porque está gritando. Você já viu a Ártemis
gritar por alguma coisa?"
O combinado era minha enfermeira vir me
acompanhar em casa, pelo máximo de tempo que eu aguentasse, até que eu
quisesse ir para o hospital. Minha GO seguiria diretamente para a
maternidade.
Por volta das 9h30 a enfermeira, então, chegou aqui
em casa e foi devidamente recepcionada por meus gritos (que agora já não
eram baixinhos como antes, mas mais fortes, intensos e poderosos) e por
meu boxer. Não lembro a sequência certinha, mas sei que logo que chegou
a enfermeira obstétrica pediu para auscultar o bebê e para verificar a
dilatação. Aceitei tudo, mas disse que não queria, de jeito nenhum,
saber a quantas andava minha dilatação. Primeiro porque eu estava com
dores havia bastante tempo, e elas não estavam fraquinhas, não. Assim,
se eu descobrisse que estava com 1cm apenas, depois de tanta dor e de
tanto tempo, eu ficaria louca. Disse isso para ela, de maneira um pouco
mais dramática ("Se eu estiver com 1cm, me jogo da varanda"). Outra
razão para não querer saber da dilatação devia-se ao fato de eu ser
muito controladora, e fiquei realmente com medo de saber da dilatação e
ficar fazendo contas e previsões sobre quando Arthur nasceria. Eu queria
e precisava mergulhar cada vez mais fundo no processo, me entregar às
contrações, ao parto e deixar tudo acontecer, sem tentar controlar ou
prever qualquer coisa. A EO, então, auscultou o bebê (tudo certo! Tudo
lindo!) e verificou a dilatação (já estava com 5cm!). Vendo que as
contrações estavam intensas, a EO sugeriu que eu entrasse no banho,o que
recusei porque nãoqueria ficar de cabelo molhado, o que me incomoda
muito (e, confesso, também pensava que eu teria que pentear cabelo,
fiquei com preguiça e com medo de ficar descabelada e parecer muito
maluca quando chegasse a hora de ir para a maternidade). Marido
aproveitou a chegada dela para levar o cachorro para passear e eu fiquei
curtindo minhas dores. Lembro de conversar bastante com a enfermeira
(que é uma fofa, uma doçura, super divertida e carinhosa) e também de
estar bem contente. Marido aproveitou a saída e, a meu pedido, comprou
chocolate e água de côco. Eu sabia que precisava me manter hidratada e,
como tenho pânico de vômito, não quis comer nada em grande quantidade,
para não correr o risco de vomitar (sim, ocitocina é um hormônio que dá
náusea e é bem comum vomitar durante o trabalho de parto). Fiquei
mordiscando o chocolate e bebericando a água de côco, mas, para falar a
verdade, comi e bebi muito pouco: meu medo falou mais alto.
Em
algum momeno entre 10 e 11 da manhã a EO sugeriu que eu trocasse as
bolsas de água quente (que eu vinha usando desde cerca das 8h) por um
banho quente e eu aceitei. Mas não sem antes vestir uma blusa e
justificar para a enfermeira: "não quero ficar com os peitos ao léu,
balançando." Eu, heim! Lá fui eu, então, seminua, para o banho. De
repente surgiu, sei lá de onde, minha bola de pilates (que eu nem sei
onde estava guardada), uma toalha e um chuveiro ligado. Entrei no meu
boxe minúsculo com bola e toalha (para sentar em cima e para, caso a
bolsa estourasse, a gente pudesse ver a cor do líquido amniótico e
contorlar se havia mecônio) e fiquei lá, gemendo alto, gritando,
relaxando com a água quente. Para quem se lembra, já falei aqui que meu
banheiro dá para o vão central do prédio, então todo mundo ouve todo
mundo no banheiro, e se não fecharmos a porta do banheiro, nossa
privacidade pode ficar um pouco afetada. No começo do TP, me preocupava
em fechar a porta do banheiro cada vezque ia fazer xixi, para que meus
gritinhos (e depois gritos e gemidos) não assustassem a vizinhança.
Nesse momento, dentro do banho, lembro de ter pensado: os vizinhos vão
me escutar, mas que se dane. Tá doendo e ninguém tem nada com a minha
vida.
Saí do banho porque senti falta de ar. Não sei como é com
vocês, mas eu, às vezes, me sinto meio sufocada em um banho quente. E
aquele era um banho beeeeem quente. Me sequei e me vesti (já a roupa que
eu havia separado para ir para a maternidade) com a ajuda da
enfermeira, que também sugeriu que eu colocasse um absorvente pós-parto
(que é
IMENSO, quase uma fralda!) para relaxar durante as contrações (lembram
que eu ficava com a sensação de que faria xixi?) e para evitar que eu
molhasse tudo caso a bolsa estourasse (e, novamente, para garantir que
veríamos a cor do líquido). Foi realmente ótimo, porque
relaxei bem. Lembro que nesse momento eu notei que as contrações deram
uma espaçada e comentei com a enfermeira, que disse ser algo normal, já
que eu havia relaxado. Em uma das primeiras contrações pós-banho, ainda
sem absorvente, senti uma água escorrer e falei: "acho que minha bolsa
estourou." Ela verificou e viu que o líquido estava claro. Isso,
confesso, é um grande mistério no meu TP, porque eu jurava que minha
bolsa havia estourado ali, naquele momento, e o absorvente serviria para
evitar que o líquido, que fatalmente sairia, molhasse tudo. Mas, mais
tarde, minha GO, dentro da sala de parto, disse: "Sua bolsa acabou de
estourar!" Então, confesso, não faço ideia de quando a bolsa estourou.
Depois
do banho a EO perguntou se poderia fazer novo toque e eu permiti, desde
que, novamente, ela não me revelasse a dilatação. Assim foi feito e a
EO telefonou para a GO. Ao desligar, veio falar comigo: "você decide se
quer ir para a maternidade agora ou se prefere esperar mais um pouco."
Eu quis ir. E ri: "passei nove meses falando que não queria parir ao
meio-dia, e vou parir o meio-dia." A EO disse que eu não iria parir ao
meio-dia e começamos a organizar minha ida. Eu queria chegar rápido ao
hospital porque as contrações estavam muito fortes e eu não imaginava
entrar num carro, ficar restringida em minha liberdade de locomoção e
fadada a manter a mesma posição dentro do carro, com dores ainda mais
intensas e, quem sabe, até mesmo menos espaçadas. Falei isso com a EO e
ela entrou em contato com a GO, que partiu para a maternidade, onde nos
encontraríamos. Nosso plano inicial era ir para uma maternidade aqui no
Rio que tem sala de parto humanizado, com banheira e ambiente menos
"frio" (embora fique dentro de um centro cirúrgico). Só que existem duas
dessas maternidades aqui, uma mais perto da minha casa, mas que só tem
uma sala de parto humanizado, e outra mais distante, que conta com mais
salas desse tipo. Isso significa que nossa ideia inicial era tentar
chegar na maternidade com mais salas de parto humanizado, mas eu estava
com muitas dores e 9cm de dilatação (embora eu ainda não soubesse disso)
e resolvemos ir para a maternidade mais próxima.
Artemis do céu! como assim vc para seu relato justo agora, mulher rsrsrsrs
ResponderExcluirParabéns pela sua disposição. E achei interessante vc não querer saber sobre a dilatação. Eu tb sou controladora assim, mas não sei se abriria mão, hehehehe
Beijos e até o proximo capitulo.
Ansiosa pelas cenas dos próximos capitulos!!!!
ResponderExcluirObrigada por compartilhar essa experiência tão importante.
Aproveito p te convidar para participar de um concurso lá no meu blog e concorrer a um Kit de BRINQUEDOS da Xalingo: http://bit.ly/NwzCtR
um abç,
Maura
coisasdamaura.blogspot.com
bom, você já dividiu o relato.
ResponderExcluiragora publica tudo, vai!
beijos da Anna, roendo as unhas
Aiaiiii!
ResponderExcluirE a curiosidade pela continuação?!!
Mais que fim de capítulo de avenida brasil!
:)
ai deusuuu, quero saber o restooo!
ResponderExcluirmas olha, algumas coisas interessantes: eu vomitei no meu tp! nao sabia que era normal, que coisa! e outra: eu quis saber a minha dilataçao... foi medida umas 3 vezes e eu fiquei feliz de saber a quantas estava, sei lá!
ansiosa pelo resto!
beijos!
que lindo! tõ adorando!!! tô doida pra ler o resto!!! bjs
ResponderExcluirContinuaaaaa ! ;)
ResponderExcluirBoa tática não saber da dilatação! Seus vizinhos devem ter te amado hehehe gritos de manhã cedo num domingo rsss
ResponderExcluirconfesso que estou um pouco assustada depois de ler o relato inteiro... minha pergunta é: será que sou capaz?
bjus