terça-feira, 7 de agosto de 2012

O parto (ou O dia em que sambei na cara da sociedade) - parte 2

O processo do parto vocês acompanharam de pertinho aqui: teve gincana, estresse, cansaço, introspecção catártica e recolhimento ao ninho. No dia 16, portanto, sentia, mais uma vez, umas contrações que poderiam sinalizar ou não o início do trabalho de parto. Para tentar dar uma mãozinha para a mãe-natureza, fui caminhar. Escolhi um lugar muito significativo (onde dei o primeiro beijo no homem que hoje é meu marido) e fui com minha família passear: marido, cachorro e filhote na barriga. Eram contrações doloridas, mas espaçadas. Liguei para a enfermeira que me acompanharia e avisei: "Pode engrenar ou não, mas estou avisando que é para deixá-la de sobreaviso."
Cheguei em casa e nada mais aconteceu... até que às duas da manhã, já no dia 17, comecei a sentir contrações suaves, porém ritmadas. Estava na internet, insone (como vinha acontecendo com frequência no fim da gravidez), quando senti umas dores parecidas com cólicas menstruais. Procurei me distrair, mas fiquei de olho na frequência, se estavam vindo com algum ritmo. Não me precupei neste momento em marcar os minutos certinho, apenas via se a cada 10 ou 15 minutos eu tinha tido contrações. Por volta das 4 da manhã, as contrações ficaram mais poderosas e eu não conseguia me concentrar em outra coisa quando elas apareciam: se eu estivesse lendo algo, não conseguia entender muito bem o trecho, se estivesse escutando uma música, não prestava atenção na letra. Meu marido dormia, e confesso que a tentação de acordá-lo foi grande, mas pensei que ele precisaria dirigir e, por isso, não poderia estar muito cansado e eu ainda teria muitas horas de trabaho de parto pela frente. Eu sabia que estava começando o trabalho de parto e passei a contar os intervalos das contrações. Então, às 6 da manhã, eu não conseguia mais cronometrar nada, e acordei meu marido para me ajudar a contar a contrações. Ele, sonado, não levou muito a sério meu pedido porque achou que as contrações fossem estar espaçadas ainda. Quando, às 6h30, ele notou que a cada 3 minutos eu contraía, levantou e passou a anotar tudinho. Perguntou, então, se eu queria entrar em contato com a minha equipe, mas eu ainda achava que era cedo demais (ninguém merece ser acordado num domingo, às 6h30 da matina, para um trabalho de parto ainda no comecinho, né?). A cada contração eu agachava na beirada da cama e soltava uns gritinhos. Também ia muito ao banheiro, porque a impressão que eu tinha era de que eu faria xixi durante as contrações e a última coisa que eu queria era limpar chão em pleno trabalho de parto. Fui levando, com ajuda do maridão, até às 8 da manhã, quando contatei a equipe e comecei a mergulhar mais fundo no processo. As contrações ainda vinham de 3 em 3 minutos, mas estavam mais fortes. Lembro que entre uma contração e outra eu não sentia nada, exceto por uma dor bastante forte e incômoda (mais incômoda que a própria contração) no músculo adutor da perna esquerda assim que a contração passava. Na hora, pelo telefone, comentei o fato com a enfermeira que me acompanharia e não me lembro o que ela disse, mas era normal. Hoje, pensando sobre o assunto, faz todo sentido que eu estivesse estirando/dilatando o meu músculo mais resistente e atrofiado.
Também liguei para minha GO para avisar do progresso (eu já havia telefonado no dia anterior e minha enfermeira tinha contatado ela) e, mais tade, depois de Arthur nascer, fiquei sabendo que minha GO ligou para a minha EO e avisou: "ela está em trabalho de parto, sim, porque está gritando. Você já viu a Ártemis gritar por alguma coisa?"
O combinado era minha enfermeira vir me acompanhar em casa, pelo máximo de tempo que eu aguentasse, até que eu quisesse ir para o hospital. Minha GO seguiria diretamente para a maternidade.
Por volta das 9h30 a enfermeira, então, chegou aqui em casa e foi devidamente recepcionada por meus gritos (que agora já não eram baixinhos como antes, mas mais fortes, intensos e poderosos) e por meu boxer. Não lembro a sequência certinha, mas sei que logo que chegou a enfermeira obstétrica pediu para auscultar o bebê e para verificar a dilatação. Aceitei tudo, mas disse que não queria, de jeito nenhum, saber a quantas andava minha dilatação. Primeiro porque eu estava com dores havia bastante tempo, e elas não estavam fraquinhas, não. Assim, se eu descobrisse que estava com 1cm apenas, depois de tanta dor e de tanto tempo, eu ficaria louca. Disse isso para ela, de maneira um pouco mais dramática ("Se eu estiver com 1cm, me jogo da varanda"). Outra razão para não querer saber da dilatação devia-se ao fato de eu ser muito controladora, e fiquei realmente com medo de saber da dilatação e ficar fazendo contas e previsões sobre quando Arthur nasceria. Eu queria e precisava mergulhar cada vez mais fundo no processo, me entregar às contrações, ao parto e deixar tudo acontecer, sem tentar controlar ou prever qualquer coisa. A EO, então, auscultou o bebê (tudo certo! Tudo lindo!) e verificou a dilatação (já estava com 5cm!). Vendo que as contrações estavam intensas, a EO sugeriu que eu entrasse no banho,o que recusei porque nãoqueria ficar de cabelo molhado, o que me incomoda muito (e, confesso, também pensava que eu teria que pentear cabelo, fiquei com preguiça e com medo de ficar descabelada e parecer muito maluca quando chegasse a hora de ir para a maternidade). Marido aproveitou a chegada dela para levar o cachorro para passear e eu fiquei curtindo minhas dores. Lembro de conversar bastante com a enfermeira (que é uma fofa, uma doçura, super divertida e carinhosa) e também de estar bem contente. Marido aproveitou a saída e, a meu pedido, comprou chocolate e água de côco. Eu sabia que precisava me manter hidratada e, como tenho pânico de vômito, não quis comer nada em grande quantidade, para não correr o risco de vomitar (sim, ocitocina é um hormônio que dá náusea e é bem comum vomitar durante o trabalho de parto). Fiquei mordiscando o chocolate e bebericando a água de côco, mas, para falar a verdade, comi e bebi muito pouco: meu medo falou mais alto.
Em algum momeno entre 10 e 11 da manhã a EO sugeriu que eu trocasse as bolsas de água quente (que eu vinha usando desde cerca das 8h) por um banho quente e eu aceitei. Mas não sem antes vestir uma blusa e justificar para a enfermeira: "não quero ficar com os peitos ao léu, balançando." Eu, heim! Lá fui eu, então, seminua, para o banho. De repente surgiu, sei lá de onde, minha bola de pilates (que eu nem sei onde estava guardada), uma toalha e um chuveiro ligado. Entrei no meu boxe minúsculo com bola e toalha (para sentar em cima e para, caso a bolsa estourasse, a gente pudesse ver a cor do líquido amniótico e contorlar se havia mecônio) e fiquei lá, gemendo alto, gritando, relaxando com a água quente. Para quem se lembra, já falei aqui que meu banheiro dá para o vão central do prédio, então todo mundo ouve todo mundo no banheiro, e se não fecharmos a porta do banheiro, nossa privacidade pode ficar um pouco afetada. No começo do TP, me preocupava em fechar a porta do banheiro cada vezque ia fazer xixi, para que meus gritinhos (e depois gritos e gemidos) não assustassem a vizinhança. Nesse momento, dentro do banho, lembro de ter pensado: os vizinhos vão me escutar, mas que se dane. Tá doendo e ninguém tem nada com a minha vida.
Saí do banho porque senti falta de ar. Não sei como é com vocês, mas eu, às vezes, me sinto meio sufocada em um banho quente. E aquele era um banho beeeeem quente. Me sequei e me vesti (já a roupa que eu havia separado para ir para a maternidade) com a ajuda da enfermeira, que também sugeriu que eu colocasse um absorvente pós-parto (que é IMENSO, quase uma fralda!) para relaxar durante as contrações (lembram que eu ficava com a sensação de que faria xixi?) e para evitar que eu molhasse tudo caso a bolsa estourasse (e, novamente, para garantir que veríamos a cor do líquido). Foi realmente ótimo, porque relaxei bem. Lembro que nesse momento eu notei que as contrações deram uma espaçada e comentei com a enfermeira, que disse ser algo normal, já que eu havia relaxado. Em uma das primeiras contrações pós-banho, ainda sem absorvente, senti uma água escorrer e falei: "acho que minha bolsa estourou." Ela verificou e viu que o líquido estava claro. Isso, confesso, é um grande mistério no meu TP, porque eu jurava que minha bolsa havia estourado ali, naquele momento, e o absorvente serviria para evitar que o líquido, que fatalmente sairia, molhasse tudo. Mas, mais tarde, minha GO, dentro da sala de parto, disse: "Sua bolsa acabou de estourar!" Então, confesso, não faço ideia de quando a bolsa estourou.
Depois do banho a EO perguntou se poderia fazer novo toque e eu permiti, desde que, novamente, ela não me revelasse a dilatação. Assim foi feito e a EO telefonou para a GO. Ao desligar, veio falar comigo: "você decide se quer ir para a maternidade agora ou se prefere esperar mais um pouco." Eu quis ir. E ri: "passei nove meses falando que não queria parir ao meio-dia, e vou parir o meio-dia." A EO disse que eu não iria parir ao meio-dia e começamos a organizar minha ida. Eu queria chegar rápido ao hospital porque as contrações estavam muito fortes e eu não imaginava entrar num carro, ficar restringida em minha liberdade de locomoção e fadada a manter a mesma posição dentro do carro, com dores ainda mais intensas e, quem sabe, até mesmo menos espaçadas. Falei isso com a EO e ela entrou em contato com a GO, que partiu para a maternidade, onde nos encontraríamos. Nosso plano inicial era ir para uma maternidade aqui no Rio que tem sala de parto humanizado, com banheira e ambiente menos "frio" (embora fique dentro de um centro cirúrgico). Só que existem duas dessas maternidades aqui, uma mais perto da minha casa, mas que só tem uma sala de parto humanizado, e outra mais distante, que conta com mais salas desse tipo. Isso significa que nossa ideia inicial era tentar chegar na maternidade com mais salas de parto humanizado, mas eu estava com muitas dores e 9cm de dilatação (embora eu ainda não soubesse disso) e resolvemos ir para a maternidade mais próxima.

8 comentários:

  1. Artemis do céu! como assim vc para seu relato justo agora, mulher rsrsrsrs

    Parabéns pela sua disposição. E achei interessante vc não querer saber sobre a dilatação. Eu tb sou controladora assim, mas não sei se abriria mão, hehehehe


    Beijos e até o proximo capitulo.

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  2. Ansiosa pelas cenas dos próximos capitulos!!!!
    Obrigada por compartilhar essa experiência tão importante.
    Aproveito p te convidar para participar de um concurso lá no meu blog e concorrer a um Kit de BRINQUEDOS da Xalingo: http://bit.ly/NwzCtR
    um abç,
    Maura
    coisasdamaura.blogspot.com

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  3. bom, você já dividiu o relato.

    agora publica tudo, vai!

    beijos da Anna, roendo as unhas

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  4. Aiaiiii!
    E a curiosidade pela continuação?!!
    Mais que fim de capítulo de avenida brasil!
    :)

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  5. ai deusuuu, quero saber o restooo!

    mas olha, algumas coisas interessantes: eu vomitei no meu tp! nao sabia que era normal, que coisa! e outra: eu quis saber a minha dilataçao... foi medida umas 3 vezes e eu fiquei feliz de saber a quantas estava, sei lá!

    ansiosa pelo resto!

    beijos!

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  6. que lindo! tõ adorando!!! tô doida pra ler o resto!!! bjs

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  7. Boa tática não saber da dilatação! Seus vizinhos devem ter te amado hehehe gritos de manhã cedo num domingo rsss

    confesso que estou um pouco assustada depois de ler o relato inteiro... minha pergunta é: será que sou capaz?

    bjus

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