quinta-feira, 9 de agosto de 2012

O parto (ou O dia em que sambei na cara da sociedade) - considerações finais

Parir é um ato íntimo e solitário, mas quando um nascimento derruba pré-conceitos e lança a fagulha para que outras mulheres conquistem partos dignos, respeitosos e seguros, trata-se de um ato social. E se estou aqui, relatando o momento mais lindo e íntimo da minha vida, é porque acredito no feminino e tenho a imensa pretensão de plantar a sementinha da dúvida ou da vontade de parir em pelo menos uma mulher que leia meu blog.
Depois de contar a melhor história da minha vida, preciso deixar BEM claro que este é um post político e que eu acredito no parto normal. Acho que é a melhor maneira de nascer e estou mais do que convencida de que o parto normal é para a grande maioria das mulheres, embora estejamos sendo convencidas do contrário. No que eu não acredito é que o tipo de parto determine que uma mulher é melhor ou pior mãe que outra. Obviamente eu sou uma mulher muito realizada por ter planejado e conquistado o parto que considero o melhor para mim e meu bebê, e acho que minha conquista de um parto natural respeitoso, digno e seguro é uma vitória feminina, pois prova que o corpo humano é perfeito para gerar e parir, a despeito das inúmeras (e cada vez mais estaparfúdias) desculpas que médicos e pacientes encontram para cesárias desnecessárias. (Mais sobre as desculpas neste maravilhoso artigo!)
Não me crucifiquem antes de ler este parágrafo até o fim, ok? Considero dever da mulher se informar sobre o que vai acontecer durante gravidez, parto e puerpério, e acho que faz parte da boa e saudável preparação feminina para a maternidade buscar esse tipo de informação. Então, conseguir um parto normal seguro e bacana é responsabilidade, sim, da mulher. No entanto, reconheço que nem todo mundo tem interesse ou facilidade em acessar informações sobre o que acontece durante a gravidez e o parto. Também sei que não é fácil bancar determinadas decisões e escolhas porque há pressão familiar, social e, claro, maternal, porque nasce uma mãe, nasce uma culpada, e por mais que a escolha acalente seu coração, muitas vezes gera uma culpa danada por peitar pessoas em que se confia (familiares, médicos, amigos etc.). Acho, por isso, um absurdo inenarrável que profissionais de saúde se valham de seu lugar privilegiado de "especialistas" para convencer, induzir ou até mesmo enganar uma gestante saudável a respeito da necessidade de uma cirurgia de médio porte em lugar de uma via de nascimento natural e mais segura. Acho inadmissível que médicos e enfermeiros enganem ou induzam seus pacientes a acreditar na necessidade de uma cesária. Se é responsabilidade da mulher se informar sobre gravidez e parto, é obrigação dos profissionais de saúde que a atendem e assistem informar a essa gestante sobre suas condições, opções, riscos e alternativas. A escolha é SEMPRE da mulher. O corpo é dela, o filho é dela e a decisão não pode ser pautada jamais em conveniências do profissional que a atende.
Deveria ser realidade, no Brasil e no mundo, que as mulheres tivessem acesso a informação, para que suas escolhas fossem seguras e pautadas em evidências. Ainda não é assim que funciona, e minha briga política é por que cada vez mais mulheres possam se apossar de seus corpos e decisões, contando com os profissionais de saúde relacionados ao nascimento para auxiliá-la em suas escolhas e decisões, o que torna o parto mais seguro, tanto do ponto de vista emocional quanto do ponto de vista prático. Bons profissionais nunca sonegam ou manipulam informações, eles a partilham e estimulam o conhecimento e o crescimento pessoal. Isso em qualquer área, inclusive na médica.
Esta é minha opinião e espero que ninguém se sinta julgada ou menosprezada por ter sido submetida a uma cesária, desnecessária ou não. Os motivos, as vivências e as escolhas são pessoais e intransferíveis. Minha briga é para que mais mulheres escolham um parto normal e de fato conquistem um parto normal, e que não vivam com a frustração de terem sido induzidas a fazer algo que não queriam (ou que temiam) por mera conveniência alheia (seja em relação a uma agenda pré-organizada e que não pode ser mudada, seja por não querer repensar conceitos e crenças já estabelecidos e comodamente reproduzidos).
Dito isto, fico muito feliz em contar que sou uma mulher realizada porque tive o parto perfeito para mim. Sonhado, planejado e executado com muito amor e entrega, como acontece com todas as coisas boas da vida.

8 comentários:

  1. Ártemis, teu relato todo foi lindo!
    Parabéns por lutar e conquistar o parto que tu desejava.

    Infelizmente acho que o que falta mesmo é informação, conheço tantas grávidas "alienadas" que preocupam-se apenas com enxoval e deixam o parto nas mãos dos médicos...e óbvio acabam todas caindo na cesária.

    Bjão pra vcs!

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  2. Parabéns novamente, pois concordo que tornar público é atuar politicamente e contribuir para que a informação seja difundida. Infelizmente, parto normal é associado às maternidades públicas, ao atraso. Todo esse individualismo que impera fortalece a cesárea como escolha, beleza e modernidade. Escolha e autonomia não existem pra quem é enganado e ludibriado, como são muitas mulheres nas mãos de GOs de convênio, pra quem é muito mais cômodo agendar uma cesárea. Novamente agradeço e parabenizo sua escolha, sua conquista e sua decisão de dividir conosco! Um grande abraço

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  3. Ártemis, concordo com o que disse!

    Minha revolta pesssoal reside aqui nesse ponto: "Acho, por isso, um absurdo inenarrável que profissionais de saúde se valham de seu lugar privilegiado de "especialistas" para convencer, induzir ou até mesmo enganar uma gestante saudável a respeito da necessidade de uma cirurgia de médio porte em lugar de uma via de nascimento natural e mais segura. Acho inadmissível que médicos e enfermeiros enganem ou induzam seus pacientes a acreditar na necessidade de uma cesária." Concordo com cada linha do que escreveu.

    Acho um ABSURDO os médicos enganarem suas paciente assim. Acho uma questão ética, além de ser uma questão de saúde pública. E não é só no parto que fazem isso, também por conveniência muitos pediatras não estimulam a amamentação, o que é o ó.

    Vamos seguir lutando.

    Se conseguirmos plantar ao menos uma interrogação na cabeça de uma mãe, de um pai, um médico, já terá valido a pena.

    Grande beijo

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  4. Snif, snif, lindo e concordo plenamente!

    E filha, to me entupindo de água. Daqui a pouco sai até por onde não tem como sair.

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  5. Isso aí! Concordo com vc!
    Eu quis muito o PN e fiz td q estava ao meu alcance. A médica disse q faria meu parto normal, mas com 38 semanas, arrumou uma cesárea de emergencia.Essa era a unica maneira dela me convencer. Teve aval de ultrason e tudo. Não me convenceu, mas eu já não tinha mais o q fazer. Queria pelo menos ter entrado em trabalho de parto, mas hj eu entendo q se isso tivesse acontecido, talvez a medica ficaria sem opção e por isso minha médica nem quis correr o risco. Fazer o q? Estava além das minhas forças! Não me sinto culpada. Sei q fiz o máximo q poderia fazer e isso me enche de orgulho.

    To me preparando (e mudando de médico) pro segundo vir pelo parto normal!

    Beijo!

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  6. Olá, Ártemis, também demorei a vir agradecer a visita pois estava esperando a narração do seu parto terminar e não poderia ter sido melhor.

    Eu tenho 21 anos, desde o princípio minha gravidez foi um susto, moro numa cidade pequena, de mente bem fechada. Sempre tem alguém que vem me perguntar: Normal o cesárea? Sempre falo: 'se for possível, se estiver tudo bem, normal!' E a resposta é sempre a mesma: 'Nossa, você está doida? Cesárea é muito melhor, você não vê e nem sente nada, não sente dor.'
    Por favor, né? Sem dor, sem ver nada? Onde fica a emoção de ver seu filho nascer? De PARTICIPAR daquele momento? Tenho 21 anos, sou nova demais pra passar por uma cirurgia que pode gerar riscos e que a recuperação, na maioria dos casos que já vi, são piores que o trabalho de parto!
    E se minha saúde e do Bernardo estiverem em perfeitas condições, e estão até agora, também pretendo sambar na cara da sociedade Lagopratense!

    Adorei o seu relato, me passou confiança, a de que pode ser que seja TENSO demais, dolorido demais, mas que vale a pena. Vai ser melhor pra mim e pro meu filho, que é o que importa.

    Ah, e sobre o mantra das mamães, já comecei e acho que já passou um pouco. Rs Tem que passar, né? E você falou que se o Arthur tiver um irmãozinho vai se chamar Bernardo, né? O Bernardo tem um irmãozinho por parte de pai que se chama Arthur! rs

    Beijos, já estou seguindo o blog também e adoro o jeito como você escreve!

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  7. Oi Artémis! Consegui só agora vir comentar sobre esse seu lindooo relato de parto!! Relatos frufruzentos demais não me agradam, a verdade sim!! E a realidade de um parto assim é toda linda!! rsrs...

    Olha, eu sempre tive nos meus planos um parto normal... mas meus dois filhos vieram por meio de uma cesárea... se foi necessária ou não, eu ainda fico me perguntando... do Leonardo tive uma induficiência placentária e fui meio no susto ter meu filho no dia seguinte... confesso que na hora meu mendo de algo acontecer com meu nenê foi maior do que tudo e eu nem lembrei de parto natural nem nada... Daí que do Felipe eu queria tentar um normal pós cesárea, procurei 3 médicos e todos me falaram que não dava pelo tempo e tralálá... e eu fui vencida... como já tinha feito uma, como não foi tão traumático assim, encarei numa boa... Não me sinto frstrada, enganada, perplexa como muitas mães, rsrs... porque pra mim a maternidade começa realmente depois do parto... aí sim tem que ser leoa para aguentar o tranco!! rsrs...

    Beijos

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