As mãos gorduchas não prendem mais no reflexo: acertam, manipulam, refinam a coordenação e arrastam meu olhar para os detalhes que passam correndo nesta vida: a poeira, o grão, o mínimo. Como tão pequena semente engolfa minha vida desse jeito? Como tão minúscula musculatura provoca espasmos tão intensos, instiga, belisca, bate e aperta bem forte meu peito, meu corpo, minhas emoções?
Onze meses, meu filho. Onze meses parece a crise dos trinta anos: uma nostalgia de uma vida distante, uma saudade daquelas vivências loucas e intensas do tempo de recém-nascido e certo medo do que vem pela frente, não pelo que viverei, mas medo de deixar de viver porque tendemos a esquecer os detalhes.
Filho, mamãe é terrível com datas e marcos, não se lembra de anotar quase nada. Por um lado porque estou vivendo os momentos e não catalogando-os em coleções de números e letras; por outro lado porque as transformações são sutis: levanta-se num dia, no outro fica mais meio segundo de pé, até que dá um passo, depois outro: quando começou a andar? Com dez meses é certo, mas sem dia definido e definitivo (talvez porque dentro do andar está o devir). Quando começou a sorrir? Quando engatinhou? Sentou-se? Comeu? É bom, sob certo aspecto, que se um dia vier um irmãozinho teu, não haverá comparações desonestas (desonestas porque impossíveis! Como comparar pessoas diferentes e com habilidades e interesses diferentes?). Mas fica o medo de tudo ser estrangulado pela linha do tempo que torna tudo grande (gente grande, tarefas grandes, fases) e deixa fugir o detalhe.
E você, com as mãozinhas gorduchas, futucando o chão em busca de migalhas do cotidiano, me dá uma dor e uma lição: que eu saiba selecionar, conter e dedicar-me minuciosamente ao pequeno, que das pequenas migalhas cotidianas é que é feita a vida.
Meu filho, onze meses, quase um ano: meu melhor.
Ah, que lindo! Vc escreve tão lindamente... Sério.
ResponderExcluirEu ando assim nostálgica como vc. Minha mocinha está com o primeiro dente mole. Está lendo. Está tomando injeção com coragem. E dá saudades de quando eu conseguia carregar no colo, das mãozinhas com covinhas... E minha caçula fez 3 anos e passou de bebê para criança. É uma mini pessoa. Um barato! Mas dá saudades.
Olha só, vamos p/ o RJ no fds de 29/30 de junho! Vou ficar no Arpoador dessa vez, não no Leblon. Te mando msg, ok?! bjo
Ártemis, que belas palavras!!
ResponderExcluirQue lindo esse sentimento!
Tá tudo guardado no seu coração, na sua memória. Mais vivo do que se tivesse anotado, né?!...
Às vezes penso se vou anotar tudo, mas acho que vai acontecendo tudo tão naturalmente que vou me esquecer, com certeza, hahaha
O tempo passa rápido mesmo...
Beijo beijo!