Parece gincana, desafio, teste de aptidões e limites. Parece corrida, maratona, prova de resistência. Parece um lugar novo, embora muito familiar.
Faltam menos de dois meses para a mudança. Com certeza não temos mais dois meses de Brasil, mas ainda não sabemos exatamente quando vamos.
No momento, temos: passaportes. Não todos, ainda faltam dois. Mas é isso. Não temos apartamento alugado, passagens compradas, visto carimbado, móveis, matrícula nas escolas, nada disso. Temos um carrinho com colchão e escrivaninha na Amazon e uma sacola com toalhas e lençóis que uns amigos nos deram na casa de outros amigos. O carrinho é pra gente não chegar sem nada, numa casa completamente vazia. Também devem ter umas panelas, uns talheres, coisas de cozinha, porque tem sempre gente se mudando.
As malas estão longe de estarem prontas. Os trabalhos se acumulam com tantas e tantas urgências pipocando todos os dias.
Pegamos viroses (não covid), atrasamos coisas no trabalho, desmamei completamente o Gael e tô apertadíssima de grana (quem não está?).
Será que vai ter passagem? Será que o voo vai ser tranquilo? Será que vamos conseguir o apartamento do qual gostamos? Será que compro casaco agora ou mais pra frente?
Uma amiga de lá está grávida! Que loucura! Vai ser lindo estar lá quando o bebê nascer. Vai ser incrível poder ajudar, poder retribuir a ajuda de quando eu fui a puérpera.
Será que vou conseguir um emprego? O que será da gente em 2023? Gael vai gostar? Que bom que ele já sabe um pouco de inglês, pelo menos chega com alguma referência! Arthur está quase indo pra middle school! Onde vamos passar o Natal? Não posso esquecer de levar um estoque de farofa. Saudades do meu pai, que comprava farofa, mate e paio para eu levar na mala.
Vai ser difícil fazer outra mudança daqui a um ano. Tomara que minha família fique bem por aqui no Brasil. Tomara que o Brasil fique bem. E que eu fique bem por lá. Não deu tempo de ir aos médicos que eu queria. Vou fazer o que der nesses 40 ou 50 dias que ainda temos. Pensei em fazer um diário, mas não cabe na minha vida mais uma tarefa, um compromisso. Eu mal consigo cumprir o essencial. Em setembro, lá pelo dia 20, eu acho que consigo tirar umas mini férias, passar uns três dias sem fazer nada, olhando pro teto. Mas até lá, até lá é gincana, maratona, prova de resistência, insanidades cotidianas e burocráticas que não acabam quando pisarmos em solo estadunidense. Essa gincana vai, com certeza, até setembro/outubro. Talvez até mais longe.
Sigamos.