segunda-feira, 30 de maio de 2016

Neandertal da maternidade pergunta

Confesso: sou uma jovem senhora neandertal da maternidade.
Quando comecei a frequentar este mundinho fascinante, ainda se usava bate-papo UOL e Yahoo Groups. Lembro até hoje do dia em que uma das moças modernosas e ligadas em tecnologia do grupo de discussão do qual eu fazia parte perguntou quem queria convite para o Orkut. Gente: con-vi-te para o Orkut!
Depois disso veio o próprio Orkut, com umas discussões bem chinfrins nas comunidades, os blogs e, por fim, descobri o Baby Center e o Family alguma coisa (esqueci o nome). Passava hooooooras na internet lendo e conversando com pessoas dentro de um esquema misto de sala de bate-papo UOL com Yahoo Groups e me sentia super na crista da onda (expressão, inclusive, que denuncia o quanto estou por dentro das modas, neam?).
Os blogs de outrora já não existem mais: "João, o astronauta", "Piscar de olhos", "Pequeno guia prático para mães sem prática", "Pequena que pariu" (né, dona Lilian?), entre outros. Poucos daquela época continuam até hoje, destaco o "Carol e suas baby bobeiras" e o "Potencial gestante". Daí que quando eu pensei no segundinho, no século passado, voltei para essas plataformas tipo Baby Center e Family-sei-lá-o-quê e vi que tudo estava meio esvaziado, as pessoas já não postavam com tanta avidez, passei a me perguntar onde estariam as tentantes malucas e ansiosas? Será que nossa raça evoluiu e elas não mais se descabelam? Recorri ao Facebook, mas aí é terreno complicado, porque os grupos secretos são, dããã, secretos e eu não os encontro; os grupos não secretos são meio terra de ninguém, com comentários ácidos e bate-bocas homéricos, fora que basta apertar aquele botão "participar" e realmente participar a todos de sua timeline que você está ingressando em um grupo chamado "Malucas por um segundinho" ou "Desesperadas da ovulação" e coisas do naipe. A blogosfera já não me parece mais aquela de outrora, onde a cada dia eu descobria um novo blog suuuuuper interessante, cheio de histórias e postagens divertidas.
Eu, então, uma neandertal e tal da maternidade em rede, pergunto-vos: ó, novas blogueiras que tive a sorte de achar e que se comunicam com a minha pessoa, onde está a mina das conversas neuróticas das mães e tentantes?

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Nota de repúdio

Pausa para falar de assunto sério. De assunto importante e preocupante.

Quero deixar meu repúdio ao crime cometido por TRINTA homens contra uma menor de idade e que, posteriormente, foi divulgado através de vídeos e postagens em diversas plataformas de interação social.

Sou feminista. Sou mãe. Sou mulher. Não posso me calar diante de episódios de misoginia e de feminicídio (a moça ainda vive, ao que eu saiba, mas em que corpo, em que condições psicológicas?). Não posso deixar de falar, em nenhuma mídia que uso, o quanto isso é doentio e sistemático, o quanto é triste as violências diárias que todas as mulheres sofrem no Brasil. Seja presidenta, seja mera eleitora. Nada escapa ao machismo brasileiro.

Passei muito tempo ruminando o que vou comentar agora, primeiro porque é uma exposição que não sei muito bem se estou disposta a encarar (qualquer coisa depois apago), segundo porque discordo do senso comum de que "aqui nos EUA, onde tudo é infinitamente melhor do que no Brasil..." (não existe o Eldorado e todos os lugares do mundo têm defeitos e qualidades). Acontece que preciso  destacar que uma das coisas que mais me impactou quando cheguei aos Estados Unidos foi justamente o fato de me sentir infinitamente mais respeitada enquanto mulher habitante de um corpo feminino do que me sentia no Brasil. Três anos aqui e escutei UMA cantada na rua (de um imigrante). Ontem passei de vestido em frente a uma obra imensa, com uns 10 trabalhadores no caminho que eu precisava usar. Eles olharam, mas não ouvi comentários, nem "elogios", nem assovios. Queria dizer que não me senti insegura ou com medo, mas, infelizmente, 30 anos de Brasil fizeram de mim uma refém do machismo. Homens são e sempre serão uma grande ameaça para mim, porque homens me assediaram longa e insistentemente, de tal modo que a roupa que visto, o penteado que faço, a maquiagem que uso, a rota que escolho, os lugares a que vou, as bebidas que tomo e os horários que permaneço na rua são profundamente influenciados por essa experiência. É corporal: sinto ansiedade e medo constantemente.
Mesmo aqui, onde fui cantada apenas uma vez, sinto isso. E não se enganem, porque aqui também temos episódios misóginos/machistas e criminosos: minha vizinha de baixo sofreu uma terrível tentativa de estupro no primeiro ano em que moramos aqui. A portaria do prédio ficou coberta de sangue. Do sangue dela. Do medo dela, mas do meu medo também! Ela foi perseguida, assediada e agredida na esquina da nossa casa. Policiais vieram aqui, perguntar se tínhamos visto ou ouvido algo que pudesse ajudar. Infelizmente, não pude ajudar.
Notem: houve uma tentativa de estupro na esquina da minha casa, mas ainda assim eu sinto que o corpo que habito é infinitamente mais respeitado aqui. Percebem como é errado?

Nem sei o que desejar a esta menina.
Só espero que nós, mulheres, continuemos a fazer MUITO barulho. Por todas as violências cotidianas que sofremos. Vamos fazer um escândalo!

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Traje escroto fino

Recebemos um convite. No rodapé vinha escrito "business casual". Traduzi como "esporte fino".
Saí catando os trapos que usamos como roupa aqui em casa para os três (lembra? sem babá, sem família, é tipo corda e caçamba: vai um, vão todos). Coordena daqui, ajeita de lá, estávamos prontos e minimamente dignos. Parecia "business casual".
Tomamos o rumo e já no primeiro quarteirão fiquei pensando que a parte do "fino" não era para mim. O sapato, bico fino, salto agulha, estrangulava.
Se você me acompanha há algum tempo, já sabe que sandálias ou sapatos de tiras + meu pé não dão uma equação bonita. Mas a gente esquece, não é mesmo? Ainda mais quando o sapato é um pitéu. Ainda mais quando é o único que poderia se encaixar no traje "business casual". Ainda mais quando temos um dia de sol e calor de verdade, com trinta deliciosos graus e você está há três anos usando botas e suas variações.
Então, lá fui eu, de "business casual/esporte fino" dos pés à cabeça, já pisando meio de lado e contando mentalmente quantos quarteirões ainda faltavam para chegar ao local da festa.
Tô estropiada, mas tô na moda.
Achei que dava para aguentar, mas a verdade é que não. Teimosa e orgulhosa, porém (e também atrasada, como sempre), segui em frente. Às vezes segui meio de banda, porque era muito difícil pisar com todas as partes do pé no chão, posto que eu já não sentia algumas partes, sobretudo os dedinhos. Mas fui. Cheguei. Recompus minha elegância na antessala do evento (festa chique tem disso, né?) e adentrei o recinto, sonhando com o sapato confortável que com certeza, sem qualquer sombra de dúvida compraria tão logo saísse dali.
E adivinhem quem foi uma das primeiras pessoas que vi ao fazer minha entrada triunfal em "business casual"? O rapaz. O rapaz que estava usando camiseta tipo Hering. O rapaz que estava usando calça fucking jeans. O rapaz de TÊNIS. Na festa "business casual mandatory". Na festa em que meus dedinhos do pé agonizavam enquanto eu lutava para não fazer um esgar de dor. Na festa em que, aleluia, grazadeusa!, Arthur ficou pertinho da gente e não me obrigou a sair correndo sobre saltos agulha.
Agora, sabem do pior? O rapaz de camiseta, calça jeans e TÊNIS não estava só em seu traje "casual, not business at all". Muitas pessoas trajavam coisas confortáveis e despojadas, inúmeros filhinhos do puto estavam usando sapatos deliciosamente confortáveis e sem salto. Homens, mulheres, jovens, velhos, carecas, cabeludos, gays, héteros, estrangeiros e locais.
Felizmente a festa foi breve e tinha camarão e chocolate. Comi, fiquei menos miserável e encarei o trajeto de volta. Ao menos até a primeira loja que encontrei: uma farmácia.
As farmácias aqui vendem de tudo um pouco, são meio como Lojas Americanas, então eu sabia que encontraria qualquer coisa para meus pés tão fatigados. Só que, amigxs, se tem uma coisa com a qual nunca me canso de me surpreender é a capacidade norte-americana de comercializar itens. Dos mais lindos aos mais esdrúxulos, todos têm seu lugar ao sol neste paraíso capitalista. E o que havia na loja era: uma sandália tipo Havaianna (de novo! Oh, céus!), mas de qualidade MUITO inferior e que me custaria 8 doletas OOOOOUUUUUU um calçado azul-marinho que me custaria 3 doletas. Sofri, ponderei, me debati em questionamentos, mas achei que 8 dólares por um pedaço de espuma de alta densidade era demais.
Por alguns quarteirões eu amei aquele sapato recém-adquirido. Por alguns quarteirões eu pensei que nunca na minha vida usaria outro par em meus pobres pezinhos carcomidos pela sandália assassina. Por alguns quarteirões eu até achei bonito e combinante o que cobria meus pés.
Mas hoje era um dia de sol e calor, minha gente. Fosse um dia de chuva e frio, poderia manter essa ilusão por mais algum tempo. Como não era, no entanto, eu vi: um dos sapatos mais feios que já calcei nesta vida. E ainda um ou dois números maior que meu pé.

Piteuzinho.
E foi assim, queridxs leitorxs, que em um belo dia de sol nas longínquas terras norte-americanas, passei, em questão de três dólares, do traje esporte fino para o traje escroto fino.

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Nomes bilíngues?

Hoje estava em um grupo virtual de mães lendo sobre nomes. Uma moça queria sugestões de nomes que funcionassem tanto em inglês quanto em português, e eu fiquei pensando nisso.
Alguns nomes que surgiram na discussão eram bem furados, como Feliph (isso não funciona aqui nos EUA, precisaria ser Philipe) ou Tiago (para quem não sabe, Tiago em inglês é James, e Guilherme é William). Mas outros eram bem factíveis, como Oliver/Olivia, Sophia, Vivian e Noah.
Se você está nesse dilema, vou dar meus pitacos furados aqui embaixo para ver se ajudo.

O português e o inglês são línguas bastante diferentes. Isso porque a raiz comum entre eles data de muito tempo atrás. O indo-europeu deu origem à maioria das línguas faladas na Europa (e suas posteriores colônias), no Irã e no norte da Índia, mas, certamente, depois de mais de 5 mil anos de diferenciação linguística, as semelhanças que todas essas línguas modernas guardam entre si é pequena. Por que estou falando isso? Porque apesar de o português ter uma origem em comum com o inglês, fazemos parte de dois grupos diferentes: o inglês é uma língua germânica (assim como o alemão, por exemplo) e o português é uma língua neolatina (prima do francês, italiano, espanhol e romance). Dito isto, friso que é praticamente impossível haver um nome que seja exatamente igual, em termos de pronúncia e de grafia, em ambas as línguas. O que temos são nomes cuja grafia pode ser aceita em ambas as línguas ou nomes que não soam estranhos porque foram popularizados pela cultura .
Noah é, para mim, um dos melhores exemplos de como um nome estrangeiro pode ser bem aceito no Brasil. Noah existe em português: Noé. Mas por questões culturais, Noah passou a ser um nome "novo", inclusive muita gente nem sabe que é a tradução de Noé. Alguns outros exemplos de nomes importados que acabaram interpretados como nomes "novos", diferentes de suas traduções, são o já citado James (Tiago) e Elisabeth (Isabel).
Arthur é um bom exemplo de como a grafia estrageira pode ser bem aceita. Em português não temos o som do TH, como no inglês. Como no português o H é mudo, o que fazemos ao ver o TH (assim como acontece com outros nomes, feito Thiago, Nathalia, Martha ou Thomas) é justamente ignorar a letra e entendê-la como um "enfeite". Essa aceitação da grafia diferente acontece também com os nomes Sophia (não temos mais o PH com som de F, como tínhamos até pouco tempo atrás), Olivia (que pelas regras do português culto padrão deveria receber um acento), Thomas (que deveria, pelas regras, ser Tomaz ou Tomás) e Vivian (que deveria receber M ao final). Na verdade, os exemplos são muitos! O Brasil tende a ser bastante flexível, sobretudo se comparado a Portugal, no que diz respeito a aceitar a grafia não aportuguesada dos nomes. Contudo, alguns nomes foram estigmatizados como sendo "de pobre" por questões culturais complexas que não conseguirei explicar aqui. Quero frisar que não compactuo com este preconceito, viu? Por isso, não listarei nome algum que possa ter recebido o estigma. 
A mudança da pronúncia é um caso mais complexo que a grafia, porque acontece e é praticamente impossível de ser evitada na dupla inglês-português. Temos maneiras diferentes de dar ênfase às sílabas e questões fonológicas que influenciam diretamente a ortoépia (modo como as palavras são pronunciadas). Para ficar mais claro, basta pensarmos nos nomes da vogais em inglês. São completamente diferentes do português, então será praticamente impossível termos grafia+pronúncia coincidindo.
Arthur, em casa, se chama "Ar"; já na rua, ele é "Árthur" (com o som do TH e os Rs norte-americanos, claro). O mesmo acontece com nomes já citados aqui e cuja pronúncia muda consideravelmente: Elisabeth (Elizabete X Ezabeth), Thomas (Tomás X Thômas), Philipe (Fipi X lip), Julia (lha X Djúlia), Daniel (Daniél X niel), Laura (ura X ra), Benjamin (que deveria ser grafado Benjamim, segundo as regras do português: Benmim X Bênjamin), Sarah (ra X rah) etc.

Na minha breve experiência aqui, os norte-americanos não costumam ser muito resistentes a nomes "diferentes". Mas vale prestar muita atenção nos equivalentes aos nomes em espanhol, porque alguns deles são bastante populares por aqui. Lembrando ainda que: 1) os mexicanos são a maioria dos imigrantes, atualmente; 2) o espanhol é uma língua MUITO falada aqui; 3) muita gente não sabe MESMO que no Brasil se fala português em vez de espanhol; 4) mesmo que saibam, muitas vezes os anglófonos podem ter dificuldades de compreender o que falamos (assim como nós a eles) e preencherem a lacuna de compreensão com algo que eles já conhecem. Arthur aqui ficou Árthur mesmo porque em espanhol Arthur é Arturo, e eu não curto. Se for para chamar de um modo diferente, que pelo menos seja um que eu não precise soletrar - um trabalho a menos, né? Outra dica importante é que eles não conseguem fazer a nasal do ÃO. Portanto, nomes como João ou Sebastião vão ser pronunciados errado para todo o sempre, amém.

Segue abaixo uma listinha com nomes de meninos e meninas que vão funcionar minimamente nas duas línguas.

Legenda: * mudança na pronúncia
                # grafia diferente em português

Nome em inglês (nome em português)

Alex*
Arthur *# (Artur)
Bruce
Daniel *
David*# (Davi)
Douglas
Erik/Erick/Eric *# (Éric)
Gabriel *
George# (Jorge)
Ian*
Jonas
Jonathan*
Kevin
Logan
Luca
Max*
Luke*# (Lucas)
Martin *# (Martim)
Nathan *# (Natan)
Nicholas *# (Nícolas)
Noel *
Oliver *
Oscar *
Philip # (Felipe)
Robin*
Roger *# (Rogério)
Samuel *
Sidney/Sydney *# (Sidnei)
Thomas *# (Tomás/Tomaz)
Victor *# (Vítor)


Abgail *
Agnes *
Alice *
Amanda *
Angela *
Bernadette *# (Bernadete)
Brenda
Charlotte *# (Charlote)
Chloe *# (Cloé)
Cleo *# (Cléo)
Christina *# (Cristina)
Claudia *# (Cláudia)
Daisy # (Deise)
Deborah *# (Débora)
Diana *
Denise *
Doris # (Dóris)
Elaine *
Eliza *
Elizabeth *# (Elizabete)
Erica *# (Érica)
Erin *
Eunice *
Geraldine *
Glenda
Grace *# (Greice ou Graça)
Helen *# (Helena)
Hilda *
Ingrid
Iris *# (Íris)
Isabel/Isabella # (Isabela)

Jacqueline # (Jaqueline)


E você? Como escolheu o nome dx filhote? Tem alguma sugestão para ser acrescentada aqui?

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Quem?

No restaurante, estamos todos sentados. Cada qual com uma comida diferente, todos almoçando.
Marido se vira para mim e comenta:
- Você devia provar isso aqui. Você vai adorar!
- É? O que tem?
- Ah, quinoa, cenoura e cheiro verde.
Arthur:
- Que Noah?
Eu:
- É o quê, filho?
Ele repete:
- Que Noah é esse?
Marido:
- Noah?
Eu:
- Filho, o papai tava falando de uma comida, a gente não falou em Noah.
Marido:
- É, o papai tava falando para a mamãe que a comida era feita de quinoa...

E o silêncio da súbita compreensão recai sobre nós.

Quinoa, que Noah...

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Arthur e o esmalte

Eu não uso esmalte. A última vez que fiz minha unha deve ter sido no meu casamento, não me lembro. Então, Arthur nunca me vê de unhas pintadas.
Acontece que essa semana me deu vontade de pintar as unhas de dourado. Saí, catei as moedas no fundo da bolsa e comprei um esmalte e um batom. Batom eu uso de vez em quando, logo não causou muita sensação - embora ele tenha ficado hipnotizado quando passei pela primeira vez esta nova cor, além de ter perguntado por que eu tinha colocado aquilo na boca. O esmalte, porém, era novidade absoluta. Pintei as unhas e mostrei para ele.
- Mamãe, o que é isso?
- Esmalte, filho. Tipo uma tinta para as unhas.
- Por que você fez isso?
- Porque achei que ia ser divertido ter unhas coloridas. Gostou?
- Não. [Ah, a sinceridade infantil!] Você pode lavar a mão e tirar?
- Não, filho. Eu vou ficar assim porque eu estou gostando.
- Vai ficar assim para sempre?
- Ah, não. Quando eu quiser, posso tirar.
- E aí?
- E aí eu posso ficar sem ou usar uma cor nova. Eu posso pintar com qualquer cor!
- Azul?
- Até azul.
- Oba!

Acho que vocês já conseguem adivinhar qual vai ser a próxima cor do meu esmalte.
;)

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Sem TV - dicas para reduzir e controlar a exposição às telas.

Já contei que adotamos aqui regras bastante rígidas quanto ao acesso à televisão/tablet. Se tem alguém se perguntando o que fazemos no nosso dia a dia e, quem sabe, o que será que é preciso fazer para também diminuir bastante a quantidade  de tempo de exposição dos pequenos às telas, eis meus palpites furados e o que funciona aqui em casa. Obviamente que minha realidade é de gente que trabalha em casa, que tem só um filho, sem necessidades especiais e tal.


  • A primeira e mais importante coisa é estar segura de sua decisão. E também que essa seja uma decisão conjunta da casa. Não adianta ser inconsistente (em uma semana não pode nada de TV, mas na outra pode) ou ter gente boicotando a ideia.

Acho que aqui em casa também ajuda bastante o fato de eu não considerar que a TV é um hobby ou bom passatempo. Eu prefiro fazer outras coisas, então meu filho não me vê assistindo à TV. E a gente já sabe que o que fazemos é mais importante do que o que falamos, certo?

  • Outra coisa importante é conhecer a personalidade de sxx filhx e entender em qual fase do desenvolvimento cognitivo elx está. Isso vai ajudar a direcionar as energias e interesses, vai permitir que você identifique sinais de cansaço, estresse ou tédio, vai lhe dar mais ferramentas para conduzir e situação como uma pessoa adulta: tendo consciência do que se está fazendo e ajudando a criança a passar pela situação se sentindo amparada e protegida.
  • Depois disso, sugiro fazer uma lista (pode ser no papel ou mesmo mental) de comportamentos que você tem observado e que pensa estarem ligados à TV. Isso é importante para que você possa comparar o antes e o depois, identificando possíveis distúrbios que possam estar surgindo e que não têm nada a ver com TV ou falta dela.
  • Como cortar a TV? Aos poucos? De uma vez? 
Isso depende da dinâmica de vocês e dos motivos que estão levando a família a se reorganizar em volta das telinhas. Aqui em casa foi de uma vez. Julgamos que assim seria mais fácil, rápido e adequado à nossa realidade e ao que esperávamos conseguir. Deu certo. Mas não havia garantias, e se tivesse dado errado, teríamos tentado mudar de estratégia. Conhecendo a personalidade de sxx filhx e a rotina da casa, com certeza você terá muitas chances de acertar em pouco tempo, mesmo que precise adaptar um pouco o plano inicial.
  • Já que falamos em lista, vale reestruturar a rotina e segui-la ao máximo possível.
Aqui em casa, a rotina é: acorda, brinca, se arruma, vai para a escola, volta da escola, brinca, almoça, descansa (raramente dormimos, mas descansamos corpo e mente), sai para passear, brinca, toma banho, janta, lê livro e dorme. Às vezes mudamos uma coisinha ou outra, tipo banho depois do jantar, ou logo que chega da escola, mas o básico está bem estruturado, com horários mais ou menos certinhos.

  • Crie opções e alternativas atraentes. Engaje sxx filhx na rotina da casa também.

Não adianta tirar a TV e deixar a criança entendiada a tarde toda. Tédio, na minha opinião, é importante e necessário. Mas não pode ficar tão grande que se transforme em outra fonte de estresse. Uma atividade que elx goste de fazer, brincadeiras diferentes e feitas a partir de brinquedos e/ou materiais diferentes dos que elx está acostumado, convites para que amiguinhos venham brincar em casa, pedir ajuda para cozinhar ou limpar a casa, dar pequenas tarefas e responsabilidades diárias, tudo isso ajuda a manter a cabeça e o corpo ocupados. Existem mil sites com sugestões de atividades, ligados à Dona Maria ou não, com materiais tão acessíveis quanto lixo (sucata) e que não demandam grandes habilidades artísticas e/ou manuais. 

  • Deixe bem claro para a criança que TV não é prêmio e sugiro não negociar bom comportamento com mais horas na frente da telinha. No meu caso, eu quero que meu pequeno entenda que TV é bacana, mas tem momento certo para ser assistida e que existem muitas outras coisas bacanas no mundo, que é grande e merece ser explorado.

Aqui em casa eu regulo bem reguladinho o que ele assiste. Dói no coração falar que ele não vai assistir ao desenho que todos os amiguinhos assistem? Dói. Mas se eu não acho que aquele desenho ou filme é próprio para a idade dele ou até mesmo para a personalidade dele, veto mesmo. Mais uma vez, a mensagem que quero passar é: tem outros desenhos e filmes que também são legais.



E vocês? Como lidam com a TV em casa? Têm estratégias ou regras para reduzir a exposição dos pequenos às telinhas? Vivem uma rotina também com isso? 

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Sem TV

Um dia eu estava descendo as escadas da escola do Arthur papeando com uma das mães da sala dele. Falávamos sobre amenidades, até que a mãe comenta que a filha está viciada em algum personagem do qual não me lembro o nome. Digamos que fosse algum do Frozen, que ainda não assisti.
Bom, eu não ia comentar nada, porque, geralmente, quando fazia comentários sobre o assunto, causava espanto e rancor. Mas ela perguntou. E eu não tinha como mentir em inglês - em português dá para raciocinar mais rápido e sair pela tangente, neam?
Arthur não assistia TV.
- Nunca?
- Nunca.
- Mas nem...?
- Nem.
- Como você faz?
- Ué, não tenho TV em casa e não mostro filmes pra ele.
- Tá, mas o que ele faz o dia todo?
- Brinca, vê as figurinhas dos livros, sai para passear...
- Nossa, você é uma ótima mãe.

Sou? Não por isso. Definitivamente, não se mede a qualidade de uma mãe assim, tão de bate-pronto, tendo apenas um item como referência.
Mas, sem sombras de dúvida, fui uma mãe pior quando liberei a TV aqui em casa.

(Pausa necessária: se você leu até aqui e, em algum momento do texto, entendeu que estou criticando quem coloca filhx para ver televisão, convido que volte ao texto e releia. Este é o meu blog, onde conto coisas que aconteceram comigo. Cada mãe sabe onde o(s) calo(s) aperta(m) e não cabe a mim julgar nada.)

Eu acho televisão um pé no ovário! Não tenho a menor paciência, não gosto do modelo, não gosto da ideia de grade, não suporto anúncios entre os blocos do programa. A TV on demand, aquela que você escolhe o que e quando assistir, fez mais minha cabeça, mas ainda assim não sou muito afeita à mídia. Prefiro internet. Prefiro outros hobbies.
Quando Arthur morava na pança, eu já não queria muito que ele assistisse TV. Mas quando ele saiu, comecei a ler, pesquisar e muitos estudos apontavam que havia mais malefícios que benefícios na exposição de pequenos às telas, tanto na parte física quanto na psicológica. Também me incomodava a questão do consumismo infantil e da propaganda direcionada às crianças. Por causa dessas convicções e prioridades, de um modo geral, posso dizer que Arthur, de zero a dois anos, teve praticamente nada de exposição a televisão, tablets ou computadores. Óbvio que às vezes ele assistia a uma coisa ou outra, pois não era proibido, mas nunca foi um hábito ou algo estimulado por nós aqui em casa.
No começo da nossa estada aqui, consegui manter a rotina telinha free. Era cansativo, sem dúvida, às vezes meio estressante por conta dos longos períodos trancada dentro de casa por conta do mau tempo. Mas sobrevivemos.
Acontece que depois dos dois anos fiquei bem cansada. As noites ainda picotadas, a rotina extenuante, um filho muito mais ativo e cheio de energia, que não se entretia mais facilmente apenas com meia dúzia de brinquedos e, é claro, o fim da soneca salvadora da tarde contribuíram para um estado de exaustão completa da minha parte. Então um dia, com a desculpa de ir lavar louça, deixei ele assistindo uma coisinha no Netflix. No outro, um vídeo no YouTube. Com a desculpa do estímulo ao português, apresentei desenhos brasileiros. Veio o Amazon Prime, com outros filmes e desenhos. O fato é que, quando eu vi, tinha sido incorporado ao nosso cotidiano muito mais telinha do que eu gostaria que tívessemos em nossas vidas. Arthur já não queria fazer coisas bacanas se elas significassem abrir mão do vídeo. Arthur já brincava com roteiros pré-concebidos das histórias que tinha visto. Arthur desligava do mundo e de mim por quanto tempo ficasse na frente da tela. Arthur começou a ficar difícil. Muito choro, agressividade, irritabilidade, falta de concentração, falta de foco e de empatia, ansiedade, até pesadelos frequentes. Eu, matando os mil leões diários. Marido, idem. Comecei a me perguntar como romper esse círculo vicioso. Até que um dia ele bateu num amigo da escola.
Foi a gota d'água para nós.
Conversamos com Arthur e explicamos que a partir daquele dia, não haveria mais vídeo.
Arthur só pode assistir vídeo nas manhãs de domingo. Fora isso, zero, nada, necas.
Houve muito choro e ranger de dentes nos dois primeiros dias. Mas depois de passado este período, meu menino voltou! Centrado, seguro, risonho, disposto a sair e brincar e explorar, carinhoso, empático. Claro que apronta umas e reage de maneira desproporcional às vezes. Ele tem 3 anos, afinal. No entanto, ele faz isso dentro da personalidade dele.

"Mas, Ártemis, aqui é impossível fazer isso porque..."
Não estou aqui para doutrinar ou julgar alguém. O que tinha em mente ao escrever este post eram duas coisas: 1) destacar a mudança de comportamento que observei tanto quando entramos no círculo vicioso quanto quando entramos no círculo virtuoso; 2) provocar uma auto-reflexão nas mães que estão incomodadas com a quantidade de televisão que x(s) filhx(s) está(estão) assistindo, perguntando se elas não estariam abrindo mão de algo importante para elas em nome de uma comodidade que de repente nem é tão cômoda assim.
"Tudo muito lindo, tudo muito maravilhoso. Mas o que eu faço com essa criança, então?"
Ah, isso é assunto para outro post.
;)

sexta-feira, 6 de maio de 2016

O rolo do rolo

Arthur me pediu leite. Aqui, ele vem em galão, pesado, difícil de manobrar e jarro com leite na geladeira dá aquele gostinho, né? Então dona Maria que me desculpe, mas nada de Montessori para pegar leite aqui em casa. Fui lá eu.
Arthur resolveu fazer xixi. Fez. Deu descarga. E de novo.
Opa! Duas descargas?
O alerta "deu ruim" começou a tocar e perguntei, com a voz doce, tentando administrar o leite e a calma ao mesmo tempo:
- Filhinho, tudo bem? O que aconteceu?
- Nada, mamãe. Caiu um papel no vaso e eu dei a descarga.
- Ah, tá bom. Então lava a mão e vem buscar seu leite.
Alguns minutos depois derrubei um pouco de café no chão e limpei com papel toalha. Cansada, pensei: ah, vou jogar no vaso mesmo, tá tão mais perto que a lixeira. Joguei.
Noé deve ter sentido a mesma angústia que senti vendo aquela enchente de água de privada se aproximando da borda do vaso. A diferença era que Noé sabia o que estava acontecendo porque deus avisou e quando tudo passou, ele não precisou pegar pano nenhum para limpar água de privada. Portanto, pensando bem, talvez eu tenha ficado mais nervosa e angustiada que Noé.
Felizmente, não transbordou, mas não restava qualquer dúvida de que o vaso estava entupido.
Ora, por mais que a tubulação aqui seja velha, uns pedaços de papel toalha não causam este estrago todo. Foi quando me lembrei das duas descargas que ouvi.
- Filho, lembra quando caiu o papel no vaso?
- Lembro.
- Que papel era esse?
Ele pega um dos milhares rolos vazios de papel higiênico que guardo para fazer brinquedinho reciclado.
- Aqui, ó.
Cogitei chorar. Cogitei fugir. Amaldiçoei minha vocação crafter.
Mas a água ainda fluía, por isso apenas pensei que papel se dissolve na água, né? Era, portanto, tudo uma questão de tempo.
Só que dois dias depois as coisas não iam mais bem. O papelão do rolo não se dissolvia e as muitas descargas que dei na esperança de fazer descer o cilindro, na verdade, devem tê-lo girado, e a água passou a não mais descer. Ou melhor, descia a proporções nanométricas. E paciência tem limite, sobretudo quando estamos falando do único vaso da casa.
Fui a uma loja de ferramentas e utilidades domésticas. O vendedor da loja acabou com as minhas esperanças de comprar uma coisa tipo o bom e velho diabo verde. Mas this is USA, minha gente, e não há problema, real ou inventado, crônico ou agudo que não tenha uma invenção revolucionária para exterminá-lo. O moço, então, me puxou para outro corredor da loja, apontou uma parafernalha estranha e me jurou de pés juntos que uma geringonça que parecia a mistura de uma vara de pescar com manivela para desenrolar cortina de estabelecimento comercial era o que eu precisava. Não tinha muita alternativa a não ser acreditar naquilo.
Voltei com o trambolho na mão, depois de um dia intenso, com direito a compras de supermercado e devolução de livros na biblioteca. Tudo que eu não queria era labutar no vaso. Mas fui eu lá, labutar, lá botar a geringonça no vaso.
Olhei descrente para a vareta. Arthur fez o mesmo. Perguntei:
- Será que vai funcionar, filho?
- Quero ajudar mamãe!
O troço tem uma mola meio brocha que sai de um tubo ligado a uma manivela que não entendi para o que servia. Um mistério que nem a tarja com instruções resolveu. Evoquei a lembrança do vendedor me explicando como deveria usar o aparelho e decidi arriscar. Primeira tentativa e eu achei que nada aconteceu. Nível de água nojenta preservado. Empurrei o cabo e dei uma girada discreta na manivela. Nada. Mais força, Arthur tentando me ajudar, eu tentando preservar meu filho da queda que parecia inevitável naquela água radioativa, mais força, filhinho chega mais para cá, até que... POFT! Funcionou. A água escoou. Puxei a descarga e, sim, o rolo desceu, que alegria! que júbilo!
Virei para Arthur:
- Ah, meu filho, olha, funcionou - dizia eu, visivelmente emocionada, como se o vaso tivesse cantado lindas músicas na festinha de dia das mães para mim.
Ao que meu rebento, igualmente animado, responde:
- Oba, mamãe! Agora eu posso jogar outro rolo lá dentro, porque o aparelho funciona!

quarta-feira, 4 de maio de 2016

A louca das caixas

Oi, eu sou a louca das caixas.
Guardo todas. TO-DAS. E vivo no país da Amazon. Imagine só a quantidade e a variedade delas. Não que eu seja consumista, mas algumas coisas regulares e volumosas, tipo papel toalha e sabão em pó, compro online e as caixas vão chegando, lindas e formosas.
Também guardo os papelões dos rolos usados de papel toalha e papel higiênico, os restinhos de barbante ou lã, as tampinhas e potinhos coloridos e também alguns gravetos que meu golden retriever traz para casa.
Mas, Ártemis, o que é que você faz com todas essas tralhas e caixas?
Ah, eu boto meu filho para dormir nas caixas e...

Tá confortável, filhinho?

Não! Pera.
Eu faço decorações sazonais.

Wicca ou Natal?
Faço fantasia de Halloween.

Ele era o pirata. Sobrou para mim ser o navio.

E faço muitos brinquedos (pena que não achei a foto da cozinha que fiz ano passado).




Ah, que lindo, Ártemis.
Não percam a próxima postagem. ;)

segunda-feira, 2 de maio de 2016

A referência do sol

O relógio marca duas da manhã. Estou indo dormir, mas antes de fechar os olhos dou uma olhada no aplicativo de previsão do tempo porque preciso saber em quantas camadas minha vida será vivida dali a algumas horas. Três anos morando aqui e tenho a impressão de que qualquer coisa pode acontecer fora do inverno: frio, calor, chuva, neve, granizo. Porque no inverno não existem muitas dúvidas, né? Só uma gradação que aqui, geralmente, fica entre o aturável e o desagradável. Frio.
O relógio marca duas da manhã e o termômetro, doze graus. Abro a previsão hora a hora porque sei que aqui o sol não funciona como no Brasil.
Perdi a referência de um saber corporal que nem passava mais pelo plano racional: vento quente, lá vem chuva; se vai sair à noite, casaco; se vai acordar antes de o sol esquentar, frio; sol a pino é calor.
O sol está lá no alto como uma lâmpada fluorescente. Não amorna o dia em sua trajetória elíptica rumo ao poente. Não deixa o frio para a lua. E bagunça a sensação de que prata é fria e bronze é quente. O dia segue seu rumo sem se importar com o sol, mero coadjuvante em um ato estrelado por ventos e nuvens e águas.
Olho para saber a temperatura porque perdi a referência do sol, e aqui, apesar de estranho, é cotidiano que as temperaturas sigam ao sabor de inomináveis e misteriosas trajetórias da Terra ao redor do brilhante vazio.