sábado, 22 de dezembro de 2012

Sororidade, protagonismo e outras estranhezas do amor

Minha maternagem tem um pouquinho de cada mãe que conheço ou conheci. Suas histórias, seus relatos, seus traumas, suas vontades, desejos, anseios, ansiedades, expectativas, teorias e intuições. Cada experiência que troco me faz ser mais mãe, mais inteira, mais completa.
Por isso, minha mensagem de fim de ano no ano mais importante da minha vida é de agradecimento.
Obrigada a todas as leitoras e blogueiras que, ao comentarem, partilharem, abraçarem, consolarem e relatarem, recriaram (e resgataram) a importantíssima rede de sororidade (o feminino de fraternidade) que ajuda a resgatar o protagonismo feminino nesta nossa sociedade tão machista.
Em outras palavras: conhecendo facetas de cada uma de vocês, vou criando um arcabouço de padrões e conhecimentos que me tornam, enfim, a mãe que quero ser. Uma mãe consciente, crítica, que busca as melhores soluções dentro das condições, e que quer muito, muito, muito amar e ser amada, porque Arthur fez crescer em mim um amor infindável!
Desejo que o novo ano traga muitas alegrias (e algumas poucas tristezas, que nos ajudam a crescer e a valorizar os bons momentos), muitas conquistas e realizações. Que 2013 seja um ano bom, um ano humano, um ano feminino.
Quanto a mim, meu desejo pessoal para 2013 é que eu continue tendo muitos motivos para agradecer.

Boas festas!
Bons bebês!

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

6 meses e nós conseguimos!

O meu bico plano não facilitou a primeira mamada. Nem as demais. Visitei um centro de referência em amamentação com reputação internacional e me disseram que não era impeditivo ter um bico plano ou mesmo um invertido. Não era impeditivo e não foi, mas doeu e dói até hoje.
Os dois cistos que eu tinha no mamilo não fizeram da amamentação um mar de rosas. Até hoje, de vez em quando, Arthur pega de mal jeito e me faz ver estrelas sem olhar para o céu (e sem qualquer poesia). Fui visitada por uma especialista em amamentação, mestre (de verdade, pela UFF!) no assunto, que me garantiu que o melhor tratamento para os cistos inoperáveis que moravam no meu mamilo seria a boquinha voraz de meu filho, mamando. Doeu horrores, muitíssimo, mais que qualquer rachadura, e ainda dói, mas um dos cistos sumiu de fato. O outro está bem menor e menos dolorido. Só de vez em quando sobem as lágrimas (e não são lágrimas de felicidade ou emoção, garanto).
Sair do hospital com uma monília que não foi diagnosticada tão cedo não facilitou minhas primeiras semanas. Eu ouvia, de todas as mães a quem me queixava, que as dores passariam logo, e que depois do primeiro mês tudo melhoraria muitíssimo e dar de mamar seria fantástico. Não foi nada assim. Arthur fez dois, três, quatro meses e a primeira abocanhada me fazia querer chutar o mundo, me retorcia os dedos do pé, numa tentativa inútil de desviar a atenção da dor intensa e aguda para outra parte do corpo, de preferência uma bem distante. Seis meses depois, ainda dói, porque a monília que me pegou é carente e encontrou em mim uma mãe carinhosa, dedicada, afetuosa; apaixonou.
Sentir meu corpo ferver e amolecer em um febrão no momento em que as que pariram comigo estavam começando a gostar muito de amamentar não ajudou a construir uma ideia positiva do meu futuro como provedora de leite do meu filho. A mastite e seus medicamentos abalaram minha ideia romântica de amamentar meu pequeno, embalando-o na cadeira de balanço, com um sorriso nos lábios e toda a placidez que tal imagem evoca. No entanto, não abalou minha vontade de querer insistir em oferecer ao Arthur o melhor alimento que eu poderia.
Ter um bebê alérgico à proteína do leite de vaca, o que me obrigou e ainda obriga a seguir uma dieta rígida e bastante limitadora, não tornou minha vida mais prática. O trabalho que uma mãe que oferece fórmula tem, eu também devo ter. O gasto que essa mesma mãe tem, eu também devo ter. Menos o desgaste emocional de não saber por que seu filho chora e vomita, menos a vontade que passo por não comer chocolate, leite condensado, bolos, manteiga e outras delícias. Limita, dói, incomoda.
Voltar a trabalhar depois de apenas quatro meses e meio não fez com que minha vida se tornasse libertadora. Ir para o trabalho, além do próprio trabalho, implicou em jornada extra: em casa, com o pequeno, é claro, mas também no trabalho, três ou quatro vezes por dia trancafiada num quartinho de depósito gelado como o inferno (detesto passar frio, logo, o inferno deve ser gelado!), ordenhando, lutando para manter estoque para o bebê que, na creche e em casa, longe de mim, mama de tres a quatro mamadeiras diárias com cerca de 150ml cada. É preciso muita disciplina e foco, para conseguir dar conta de toda a jornada.
Colocar o Arthur na creche, que tem uma psicóloga toupeira, que vive insinuando que eu devo inserir alimentos sólidos na dieta do meu filho (entre outras bizarrices irritantes), não foi receber exatamente o apoio de que eu precisava nesse momento de transição. Muito menos com as ameaças subjacentes ao discurso ensaboado de quem lida com "mãezinhas" o tempo todo: olha, ele vai ficar subnutrido, ele precisará de mais calorias, ele pode não se adaptar à mamadeira, e como ficamos?, vai deixar seu filho com fome? Precisei acreditar em mim, nas minhas escolhas e convicções, e buscar apoio em outros lugares, no pediatra, no marido, em outras mães. Doeu e deu medo de estar escolhendo errado. Mas os números do crescimento do filhote não deixam mais espaço para dúvidas.
Bico plano, empedramento, bicos rachados, faltando um pedaço, cistos no mamilo, monília, mastite, dieta para ALPV, ordenha no trabalho, ordenhas na madrugada para manter a produção. Amamentar foi e continua a ser um desafio para mim. Dói, incomoda, cerceia e exige.
Por isso, hoje, quando Arthur completa seis meses, eu venho aqui, com muitíssimo orgulho, me achando o suprassumo humano, para anunciar que conseguimos! Amamentação exclusiva! Nem água, nem chá, nem suquinho, nem fórmula. Só peito. Seis meses perfeitos em sua imperfeição. Seis meses muito sofridos, doloridos física e emocionalmente, mas, como acontece em maratonas e outras situações em que precisamos superar as limitações do corpo, da mente e do espaço (físico e temporal), eu venci! Nós vencemos! E isso dá um prazer, um orgulho de rei, de rainha, de mãe: eu que fiz, eu que nasci, eu que fiz crescer!
Agora, vamos em frente.
Arthur começará a experimentar frutinhas, e depois comidinhas salgadas. E nós continuaremos com a amamentação, que pode agora durar muito ou durar pouco, ele escolhe, mas certamente foi fundamental para que construíssemos um vínculo maravilhoso, este sim eterno em nossa perenidade.
Arthur, meu filho, nós podemos mais! Nós podemos tudo!

sábado, 15 de dezembro de 2012

Pé de pato, mangalô, três vezes!

O dia começou com uma dorzinha incômoda. Ali, na direita, doía quando eu caminhava ou fazia movimentos bruscos. Continuei, vida normal.
Mas de tarde comecei a ficar enjoada, a sentir mais e mais o incômodo e comentei com alguém (eu estava numa festa cheia de gente da área de saúde), que logo sugeriu uma apendicite.
Claro! Eu estava com todos os sintomas clássicos! Se não fosse pelo mero detalhe que eu já retirei o apêndice (e senti exatamente o que estava sentindo quando a crise estourou), certamente eu correria para o hospital mais próximo.
Assim, na falta de apêndice para ser retirado, fui mesmo foi para a casa mais próxima, que era a da minha sogra. Tomei um banho, almocei (o enjoo poderia ser fome), me deitei no ar-condicionado e fiquei brincando com Arthur, esperando a ziquezira passar. Como a casa da sogra não é baby friendly, o brinquedo disponível era o controle remoto, que, sem as pilhas, foi parar na mãozinha do meu filhinho tão lindo e pequenininho.
Tudo ia bem, exceto pelo fato de que eu continuava com a dorzinha chata, incomodada com aquele enjoo e cogitando seriamente em me mandar para um hospital.
- Eu chamo minha mãe para ficar com Arthur, que tal?
Marido pensando junto, até que...
POF!
(Assim mesmo!)
Meu filhinho tão pequenininho e delicadinho enfiou o controle remoto no meu olho!
Lágrimas involuntárias rolaram, mas eu ri do ridículo enquanto corri para buscar gelo e minimizar a tragédia.
Fui ágil o suficiente para não ficar cega, mas lerda demais para me desviar, e agora estou com um inchadinho no olho esquerdo, que ficou ligeiramente arroxeado e dói quando encosto.
Daí, marido, depois que o susto passou, quis saber:
- Você melhorou da dorzinha chata do lado direito?
- Não.
- Quer, então, ir mesmo para o hospital?
- Acho melhor não. Se eu chego no hospital com uma dor estranha e o olho roxo, a primeira pessoa que vai me atender será a assistente social, querendo saber se você vai ser enquadrado na Maria da Penha. Por via das dúvidas, melhor ficar em casa e ver se melhora tudo.

Melhorei.

E por via das dúvidas, melhor colocar aqui um galhinho de arruda, porque é peito, é barriga, é olho... Credo!

Xô uruca!

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Só por amor

Uma palavra: mastite.
Duas palavras: de novo!
Três palavras: só por amor.

Entrei de novo no antibiótico, antifúngico e antitérmico. Mas vamos em frente, porque pela saúde do meu pequeno, todo sacrifício é nada.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Tá calor aí?

Aqui no Rio, com certeza, está muito mais!
Duvida?
Então vem comigo, para mais este passeio pelos caminhos insanos da minha vida cotidiana!

De dentro do ônibus avistei: trinta e nove graus, às dez e quinze da manhã. Ponderei se seria melhor descer no ponto antes do meu e comprar um sanduíche, "pra mó de evitá caminhá de debaixo do solão na hora do almoço", pensei preguiçosamente. Mas eram trinta e nove graus. Às dez da manhã. Achei melhor me enfiar o quanto antes no ar-condicionado.
E fui.
Porém, estômago não tem termômetro, e era uma da tarde, sol a pino, quando precisei sair para comer.
O relógio de rua marcava 13h14 e singelos 42°C. Sensação térmica de combustão espontânea.
Entrei correndo no restaurante, pensando se estaria mais assada que a comida que serviam ali. Mas era um japonês, e mesmo tendo levado tanto sol na cabeça, ainda sabia que sushi não se assa ou cozinha.
Sentei-me, pedi o cardápio, escolhi. Enquanto esperava, distraí os olhos observando os esbaforidos que chegavam da rua e os já confortavelmente acomodados dentro do restaurante. E então, de repente, sem qualquer aviso prévio, eu avisto, a uma cadeira de distância, ele: Rodrigo Santoro! Ainda mais bonito que na TV. Charmoso. Comendo sushis variados. Ali, bem do meu ladinho.
Dentro das possibilidades hormonais e sociais, me contive e consegui terminar a refeição. Ele se levantou, pagou e foi-se embora, deixando atrás de si uma labareda a setenta e cinco graus que nem toda babação feminina conseguiu apagar.

Viu como aqui está bem mais quente?

domingo, 9 de dezembro de 2012

ahahahah (mas só por dentro)

Estávamos passeando aqui por perto: eu, marido e pequeno. Como chuviscava, filhote ia dentro do carrinho, com a capota protetora toda arriada, deixando só o pezinho gordo do lado de fora. (Puro amor!)
Numa esquina, aponta um rapaz que, pelo sorriso, logo vi que conhecia marido. Não deu outra: oi, oi, quanto tempo, pois é, ih, que novidade é essa? virou papai? pois é... há seis meses, blá-blá-blá.
Abrimos capota (chuviscava mais brandamente) e Arthur se derreteu para o amigo do papai. Riu, fez charminho, chutou o brinquedinho. Achei até que o amigo ia tentar levar meu molequinho embora de tanto que se entreteu com e amou as gracinhas.
E aí, ele se vira e anuncia, em regozijo indisfarçável:
- Também vou ser papai. Fulana já está de três meses.
- Ah, que lindo. Oh, parabéns. Vixi, que beleza, que maravilha! Oba, oba, oba!
- Pois é... estamos animados.
- Poxa, vamos marcar uma cervejinha dia desses? Te passo umas dicas.
- Claro, claro! Vou precisar.
- Ah, é. Sempre bom ouvir histórias e experiências porque o primeiro mês é MUITO difícil.
- Já ouvi falar. Mas acho que nem vou sentir tanto o impacto.
[Não precisei olhar para marido. Eu sabia a cara que ele estava fazendo e praticamente escutei seus pensamentos. E seus pensamentos eram mais ou menos assim: "hã...? ele disse que não vai sentir o impac...AHUAHAUHAUAHUAHUAHAAU {risada histérica} AHUHAUHUAHUAHUAHUAHUA"]
Placidamente, com um sorriso apenas amistoso nos lábios, marido perguntou:
- Ah, é? Mas por quê?
- Ah, eu tenho trabalhado muito, sabe? Tenho dormido tarde, acordado cedo.
- Bom, nesse caso... ["AHUAHUAHUHAUAHUAHUAHU"]
- É... - olhando agora para mim, que também oferecia um amistoso sorriso - Fulana vai até ter um descanso, vai se dar bem: vou ficar trabalhando até tarde e vou aproveitar para olhar o bebê para ela dormir.
["AHUAHAUHAUAHUAHAUAHUAHAUAHAUHAUAHAUHAUAHAUAHUAHAUHAUAHU"]
- Ah, que maravilha! Sua mulher é uma sortuda! ["AHUAHUAHAUHAUAHUAHAU"]
- Pois é. Estou animado. Vai ser moleza.
- Vai, vai, sim, rapaz. Parabéns! ["AHUAHUAHUAHAUHAUAHU"]
- A gente se vê.
- Valeu! Bora marcar o chope, heim...

E estamos rindo até agora.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Consumismos

Eu ando com dois buracos por aí: um no peito e outro no bolso. Passar horas longe do meu pequeno realmente me abalou de maneira profunda, e tenho ocupado muito do meu tempo livre (e, às vezes, até do comprometido) em consumismos loucos.
Tirando a parte engraçada do causo do sapato, pisca dentro de mim o sinal vermelho da infelicidade, da insatisfação e da ansiedade. Todos os dias quero comprar brinquedos lindos e educativos, pensando em quanto será divertido empilhar, fazer rolar, balançar e emitir sons diversos com meu filho. Diariamente penso nas roupinhas que quero lhe comprar, para tirar fotos lindas, que ficarão para a posteridade e registrarão o crescimento do meu filho. Não se passa um dia em que eu não pense no que possa estar faltando em casa, para comer, trocar fralda, beber, enfim, viver. Tão vendo o tamanho do buraco, da solidão, da tristeza em não estar em tempo integral com meu filho? Brinquedos para tornar divertidas as ridículas (em termos de duração) horas que passo com Arthur. Roupas que não vejo ou verei ele usar, porque estou enfurnada num escritório, e que marido fotografa para que saiba como ficaram. Itens de higiene, hortifritigranjeros, bebidas de todas as naturezas, tudo que não pode faltar, tudo o que nutre e traz bem-estar.
Veem como é triste isso?
Veem como parece desesperador?
E é. Triste e desesperador, porque quando me vê, ao chegar da creche, Arthur não quer brinquedo e nem me importo com o que ele veste: só queremos nos abraçar, nos amar, nos aconchegar. Claro que brincamos, claro que fico toda prosa quando vejo meu filhote lindo dentro de uma roupinha fofa ou gaiata que escolhi para ele. Mas se ele estivesse pelado e tudo o que me restasse fosse minha voz, nós estaríamos lindos e entretidos.
E aí, além disso, penso em como é triste também constatar que, de repente, eu entendo muito aquelas mães (e aí a minha se inclui) que querem fazer todas as vontades materiais dos filhos, eu entendo a importância equivocada que "ter" tem na nossa sociedade. E deprimo um pouquinho, sabem? Porque eu trabalho feito uma mula manca para ter dinheiro para pagar a creche que acolhe meu filho enquanto eu ganho dinheiro para preencher na nossa relação um buraco imensurável, que é do tamanho de 10 horas diárias de separação, do tamanho de mamadas fora do peito, de choros sem o meu colinho, de dormidas sem o meu calor. É um buraco tão grande, mas tão grande, qque muitas vezes faz de buraco negro, e suga todas as luzes ao redor. Menos, é claro, o sorriso do Arthur. E minha preocupação é justo com isto: o sorriso do Arthur. Mantê-lo, cativá-lo, prendê-lo no rostinho do meu filho. E sinto que falho.
Querem saber? Para mim, o ideal seria largar emprego, carreira, dinheiro e canudo, porque Arthur é muito maior, muito melhor que tudo isso junto. Detesto ir trabalhar e saber do dia do meu filho por uma tabela pré-impressa, com categorias planas e tão vazias de sentido: alimentação, evacuação, sono, observações.
Meu filho é mais, muito mais, infinitamente mais complexo que categorias estanques numa página de agenda. Mas, por enquanto, ele é isso também, porque não posso tirá-lo da creche, porque não posso largar o emprego.
Daí, hoje, exatamente hoje, vem aquele bafafá todo sobre infância, consumismo, reality show de bebês e mães. Fiquei mal, pensando em como as coisas às vezes saem da proporção e entram numa perspectiva doida e enganosa.
Enganosa? Não me iludo, apenas me engano, me distraio, porque preciso aprender a processar emoções e experiências que não estavam aqui até bem pouco tempo atrás. Então, quero crer, numa distorção que hão de me perdoar, que meu consumismo equivale ao processo catártico aristotélico, e que na falta de tempo para ler, assistir a peças, filmes ou espetáculos artísticos, me fio no espetáculo do consumo para tentar experimentar novas formas de lidar com todo esse espaço que sobra (e que paradoxalmente comprime, aperta, estrangula). Um espaço de 64cm e 7,5kg. Dimensões objetivas bem definidas, dimensões subjetivas impossíveis e inomináveis.
Sigo, então consumindo produtos, me consumindo em dores e angústias, sendo consumida pelos dias.
Espero que meu consumismo não saia do controle (e controle aqui é me reconhecer consumista e ligar o sinal de alerta) e que eu consiga não perder a perspectiva de que o importante aqui não se compra, não se vende, não se empresta: damos.

(Quase) sem pé, (totalmente) sem cabeça (para outra coisa)

Eu sou a rainha das coisas mais estaparfúdias acontecíveis. Sério. Se existir algo bem improvável e digno de roteiro de comédia pastelão, isso vai acontecer comigo!
E a maternidade não mudou isso.

Encosta aí na cadeira, afofa o travesseiro nas costas e vem comigo, para o fantástico mundo de Ártemis, onde tudo vai acontecer e a louca serei eu.

Acordei bem. O dia prometia uma rotina bacana. Me arrumei, vesti um vestido dos tempos de grávida, uma sandália dos tempos de não grávida e a mala dos tempos presentes, tempos de amamentação exclusiva, tempos de bombinha, potinhos, bolsas térmicas e muita disciplina.
Fui caminhando calma e atentamente. Com calma porque não consigo correr com a mochila imensa que carrego todos os dias. Atenta porque tem tido uma onda de assaltos aqui perto de casa, um horror!
Então tomei o ônibus, quase não peguei trânsito e cheguei cedo no trabalho. Até pensei que seria um dia insosso, como muitas vezes eu merecia ter. Mas não! Óbvio que não! Murphy deve ter vindo no ônibus atrás do meu e logo estava nos meus calcanhares.
No trabalho, tudo correndo bem, apesar de uma dorzinha no pé. Trabalhei, lanchei e bateu, enfim, a fominha da hora do almoço. Desci, comi, ri e... a dor no pé.
Como eu disse, o sapato que escolhi era pré-gravidez, e devido aos hormônios, encolheu. (Ou meu pé cresceu um pouquinho, como custo a crer.) E as tiras (era uma sandália com padrão de pele de cobra. Uau!) começaram a estrangular meus pobres dedinhos, que pareciam reféns amarrados no fundo de um quarto escuro (acho que eles começaram a ficar roxos).
Pensei: droga! Vou comprar um sapato novo, mas jamais uma Havaianna (porque mamãe me ensinou a não andar de chinelo na rua e porque estou no trabalho, e com esse vestido tão lindo e tão pouco Havaianna friendly). E fui.
A primeira sapataria era de um ex-interno do Pinel. A sapatilha Moleca estava a 129,90. Você não leu errado! Três dígitos para uma Moleca. Os meus dedinhos pediam clemência, mas ainda respiravam e estavam conscientes. Arrisquei negociar com o sequestrador e atravessei para ir ao shopping. A Mr. Cat era a primeira loja de sapatos. Ponderei que sequestrador por sequestrador, melhor manter o que estava no meu pé, que além de não me custar nada, já era familiar e poderia até me render uma Síndrome de Estocolmo (como geralmente sapatos-meliantes bem-apessoados costumam fazer; ou vai me dizer que você tem coragem de jogar fora aquele sapato DI-VI-NO, mas que trucida seu pé?!), e fui para outro piso. Duas lojas surtadas, cobrando duzentinhos em pisantes que não valiam sequer cinquentinha. Até que achei uma sapataria bacaninha, com uma sandália delicinha, por cem reais. Pensei: tô sem sandália, verão taí, décimo terceiro tava aí até ontem, cem reais é um frila, tem meu número. Por que não? Experimentei, gostei, separei e fui pagar. Abri minha carteira e... cadê o cartão? Pausa dramática. Atendentes me olham, lágrimas se equilibram em meus olhos, mãos vasculham nervosamente o fundo da bolsa até que o cérebro relembra: em cima da mesa da sala! Mão no telefone e marido confirma a tristeza. Ok, sem dramas, sem pânico: bora usar o outro cartão, da outra conta. Bip-bip-bip. Sua senha, senhora. Senha inválida. Bom, vou ali tirar dinheiro, então, e já volto. Separa aí. Desço ao térreo, entro no banco, pego a fila (sem o Arthur não sou preferencial, droga!) e chego ao caixa: oi, vim sacar um dinheiro da minha conta, mas estou sem o cartão. Sem problemas, senhora, sua identidade, por favor. Ok, um momento. Revira, remexe, rebola: ficou na mochila! Droga, droga, droga!!!
Ok, respirei fundo e fui ao outro banco, do outro lado da rua. Desse eu tinha o cartão, só precisava sacar o dinheiro na boca do caixa porque estava sem função débito. Entrei. Uma fila caracolesca para os caixas eletrônicos. Ainda bem que vou ao caixa normal. Porta giratória e testa no vidro. Lá de longe vem um guardinha (moço, aqui embaixo!, gritavam meus dedinhos reféns) meio esbaforido e pergunta: objetos de metal? chave, guarda-chuva, moeda, celular? (eles devem ser treinados pelo pessoal do Spoletto). Não tenho nada disso. Mas o guardinha desconfia e pede para ver dentro da minha bolsa: vazia, um papel solitário rola. Entro e a fila dos caixas é gigantesca. Saio e penso: o que faço? Meus dedos gritam por socorro, resolvo comprar uma bala de hortelã e voltar ao escritório. Sentada, sem usar os pés, hei de raciocinar melhor.
Entro na sala mancando. Minha dor agora irradia perna acima, me causando arrepios involuntários. Sinto que se tirar a sandália, nunca mais conseguirei calçar nada com tiras, tamanho o inchaço dos dedos e adjacências. Eles continuam arroxeados. Olho para um lado, olho para o outro e... minha colega está almoçando! Vou telefonar e pedir ajuda.
Telefone toca e ela atende rápido. Conto brevemente minha saga e peço, adivinhem?, uma Havaianna. Qualquer cor, qualquer modelo, tamanho 35 porque preciso dar folga para meus pés (calço 34). Ela me informa que o banco da fila gigante tinha a fila quilométrica e o guardinha mau-humorado porque foi assaltado. Acabou de ser assaltado e por pouco não fico refém junto com meus dedinhos do pé (que agora agonizam e já não se mexem). Meus peitos doem, estou descalça no trabalho e louca de vontade de fazer xixi. Vou até o banheiro arrastando correntes, digo, sandálias não calçadas, faço xixi e volto para ordenhar. Ordenho. Na minha cadeira, quando volto, tem um embrulho da Havaiannas. Dentro, uma sandália roxa e rosa, que eu jamais compraria porque detesto esta combinação Barbie.
Penso: ok, tudo já aconteceu! Sapato machucando, cartão esquecido, banco assaltado, Havaianna no pé e o expediente está acabando. Falta pouco e tudo vai terminar bem!
De fato, o dia de trabalho termina e eu, minha mochila de viajante, meu chinelo roxo e rosa e minha  urucubaca vamos pegar o ônibus rumo à creche.
Claro que o ônibus quebrou! Mas cheguei na creche a tempo, voltei para casa, encontrei meu cartão (corremos pela praia até nos abraçarmos ao som de Endless Love) e, claro, resolvi assuntar na internet. Cartão a mão, cem reais "mais rica" (ahahahah... Ah, a lógica feminina!), claro que vou consumir. Decido comprar um mimo para o Arthur, outro para o marido e, claro, um para mim.
Arthur ganhou um bichinho de pelúcia com chocalho. Marido, uma furadeira de alto impacto. E eu, bem....eu ganhei mesmo foi um massageador de pés. Acho que traumatizei.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Mãe que trabalha

Sabem o que é legal de ser uma mãe que trabalha fora?
É virar para as pessoas que trabalham com você, e que estão sobrecarregadas (igualzinho a você), e perguntar:
- Não vai dar tempo de terminar o projeto? E o que vocês fazem entre meia-noite e seis da manhã? Porque eu amamento, troco fralda...

tsss-tsss-tá!

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Nasce uma mãe, nasce uma mãe...

Já ouviram aquele ditado "Nasce uma mãe, nasce uma culpada"? Pois é, aqui em casa ele ficou meio tautológico: "Nasce uma mãe, nasce uma mãe." A nova mãe, no caso eu, ganhou ares de mãe... Dinah (lembram dela?). Ou, para os menos esotéricos, a nova mãe, que ainda sou eu, ganhou ares da própria mãe.
Tá confuso? Vou explicar.

Minha mãe sempre falava: "Minha filha, pega o guarda-chuva que o tempo vai virar!" Eu olhava aquele solzão lá fora e ria internamente da previsão desastrosa da minha mãe. Porém, quando chegava em casa, invariavelmente, estava encharcada pelo temporal de verão (não importando a estação do ano) que havia caído e para o qual eu, é óbvio, não estava preparada. Eu achava isso um pé no saco, porque as coisas iam muito bem, até que minha mãe fazia previsões para meu dia e tudo mudava e acontecia. Uruca das urucas!
Então que eu descobri que deve ser um dom materno. Sabem o famoso "instinto materno"? Deve ser, na verdade, "visão futurística materna", porque aqui em casa eu ando arrasando nas previsões!

Cena 1
Marido sai de casa com rebento no sling e guarda-chuva na mão.
- Amor, tá indo? Olha, cuidado para não esquecer esse guarda-chuva, viu? Eu adoro ele e vou ficar triste se você perdê-lo.
Ao que ele responde:
- Claro, pode deixar.

Meia hora mais tarde, voltam: marido, filhote e sling. Meu guarda-chuva azul de bolinhas brancas está protegendo algum espertinho que o achou na agência dos Correios onde meu marido o deixou.

Cena 2
Marido vai ferver as mamadeiras carérrimas do bebê. Eu vejo a panela e aviso:
- Olha, não é por nada, não, mas acho que você deveria colocar mais água quando fosse ferver as mamadeiras, porque se você esquece e deixa passar os 5 minutos de fervura, corre o risco de estragar a mamadeira.

Pelo menos salvamos a panela!

Cena 3
Marido recebe café na cama (<3). Eu aviso:
- Chega mais para o lado porque Arthur pode chutar sua xííííííícara...

Adivinha quem vai dormir no colchão cheio de café?

Tô pensando em abrir uma tenda aqui na portaria do prédio e faturar uma graninha. Por enquanto, está fácil. Vamos ver se eu acerto é a sequência da Mega Sena da Virada.

(Pensando bem agora, o título do post poderia ser "Nasce uma mãe, nasce uma f***ing b**ch", porque ô previsõezinhas chatas e agourentas, né?)

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

A volta ao trabalho em números

165 dias de afastamento
576 mensagens não lidas no e-mail da empresa
4 novas contratações
1 demissão
1.587,54 de saldo negativo no banco
2 dias para depositarem o décimo terceiro
2 dias para os vencimentos todos, que levarão embora meu décimo terceiro
3 frilas na sequência
380 ml ordenhados por dia
450 ml mamados na mamadeira por Arthur a cada dia (façam as contas e chorem comigo)
250,00 numa nova bombinha elétrica
80,73 num brinquedinho novo para o pequeno
4 horas, em média, que vejo meu filho acordado
1 mamadeira queimada
1 mamadeira na ativa
4 horas, em média, de sono diário

Fora isso, tudo muito bom, tudo muito bem. E uma saudade imensa do meu bebê!

sábado, 17 de novembro de 2012

5 meses de todo o amor

Arthur, meu filho, se eu precisasse te dar apenas um único conselho nesta vida, eu diria: nunca duvide do poder do amor.
Você nasceu do amor, cresceu no amor e foi parido com amor. Todo o amor: ocitocina. Diariamente renovo minhas embebedações de amor na amamentação, que só foi possível graças ao amor, e que se reproduz num ciclo louco, em que você cresce, e quanto maior fica, mais ama, é amado e cativa amor. Quando amamento, sou o amor.
Então, meu filho, na dúvida, ame. Na dor, ame. No desespero, ame. Na alegria, ame. São, feliz, satisfeito, ame. E se canse. E recomece tudo de novo quando nada mais fizer sentido ou tudo parecer muito complicado. Recomece a amar, ou nunca deixe de amar.
Mamãe está encantada com você, pois você me ensinou novas maneiras de amar, e que tudo de que precisamos nessa vida é sermos aceitos do jeitinho que somos. Nem mais, nem menos. Por isso, meu filho, eu torço para você conseguir amar, inclusive, a si mesmo. Porque é tarefa dura nessa vida conviver tão intimamente com sentimentos pouco nobres ou pensamentos doloridos e, ainda assim, amar. Se amar.
Eu acredito no amor, filho. Acho que ele não basta, mas é o melhor ponto de partida e a melhor linha de chegada. Se você souber amar, se você conseguir amar, meu filho, a vida fará sentido, porque só se entregando é que você consegue receber sua parte.

Há exatos cinco meses, sou toda amor.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Top 5 fofura

1. Quando Arthur ri enquanto mama, sobretudo se está mamando e dormindo.
2. Quando Arthur ri (e gargalha) enquanto dorme.
3. Quando esfrega os olhinhos, com sono.
4. Quando espirra (e, principalmente, quando espirra em falso).
5. Quando se joga para o meu colo, com os bracinhos esticados.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Quando Nietzsche se revirou no túmulo (ou distorcendo a filosofia)

Aqui em casa temos um rotina. Todo dia, mais ou menos nas mesmas horas, fazemos as mesmas coisas. E assim vamos vivendo um dia de cada vez, aprendendo, errando, acertando, vendo Arthur se desenvolver e também nos desenvolvendo. Porém, por mais que tenhamos uma rotininha, nenhum dia é igual ao outro (e, segundo Nietzsche, por isso mesmo todos os dias são iguais, porque são diferentes, e todos os dias tudo pode acontecer - mas vamos voltar ao planeta Terra).
Acho importante falar isso aqui porque, de vez em quando, vejo que as pessoas ficam muito impressionadas com meu relato de parto e de amamentação, e algumas chegam a dizer: espero que não seja tão dolorido/difícil assim comigo. Gente, eu também espero que toda a mulherada tenha um parto bacanudo, de preferência com dores suportáveis (e por pouco tempo), e uma amamentação espetacular, daquelas que a gente sonha: espeta o mamilo no menino e lê/assiste TV/dorme enquanto ele mama (porque, vocês sabem, no começo da amamentação, eu me retorcia tremendamente, sem conseguir me concentrar em nadica de nada, nem relaxar para dormir). Acho, então, que minha experiência não deve ser encarada como destino inexorável para quem engravida e vai um dia parir (se o médico e o sistema deixarem) e amamentar (novamente, se o médico e o sistema deixarem). Não, gente! Há um mundo cor-de-rosa na maternidade. Acreditem! Pode ser que com você, querida leitora, tudo seja absolutamente fantástico e indolor e fácil e instintivo e anatomicamente perfeito. Há mulheres que não sentem nenhuma dor no parto, há aquelas que amamentam seu filho (e o meu, o nosso e o do vizinho) como quem chupa um Chicabon (ai, Nelson Rodrigues!). Quando eu venho aqui contar que meu parto, apesar de lindo, incrível, totalmente perfeito e transformador, doeu bagarái, quero mostrar que, caso você não se sinta assim tão incrível porque sentiu contrações doloridas por 12h enquanto a vizinha da irmã do jornaleiro da esquina chegou no hospital "com uma sensação esquisita" e pariu rindo ou espirrando, tudo bem. Se você tem o mamilo invertido (ou simplesmente plano e com cistos, como o meu), você PODE e deve amamentar. Vai doer, vai ser complicado, mas tudo bem. A gente encontra na blogosfera materna todo o apoio de que precisa para ir em frente e ficar sabendo que a coisa toda é linda e blá-blá-blá, mas também tem o dark side. (Eu poderia citar Victor Hugo, mas vou mesmo é de Angélica: "a Lua também tem uma face escura".) E aí, eu venho aqui contar que comigo não foi tão simples, porque quando a gente percebe que tem alguém igualzinho a gente, que sofre, que luta, que não acha tudo tão supimpa o tempo todo, a gente se sente parte do mundo. Eu não sou filósofa (ao menos não fora de um botequim), mas acho que podemos voltar a Nietzsche e distorcer um bocadinho a coisa toda para dizer que, se encontramos pessoas que vivem experiências semelhantes às nossas, nos sentimos parte do mundo e da vida porque, assim como os dias são todos iguais porque têm sempre o potencial para qualquer acontecimento, todas as pessoas são iguais, porque sendo elas diferentes, guardam em si todas as possibilidades.

Pri, este post foi inspirado no seu comentário (e em muitos outros também), mas não é recado ou mensagem para ninguém, viu? Só que seu comentário me fez matutar sobre como trocamos experiências nessa vida ( = vida real + vida virtual).
=)
Depois volto para contar como sobrevivi até agora sem meu piercing de mamilo (ohhhh, céus!!!).

domingo, 11 de novembro de 2012

O custo da amamentação

O leitinho que forneço a meu filho não vende em supermercado, drogaria ou loja de bebê. Ele vem pronto, na temperatura ideal, no recipiente perfeito, que não precisa de esterelização e tudo é superfácil de carregar. O leite que ofereço tem água, gordura, açúcar, ferro e sais na medida certa, é rico em vitaminas e contém anticorpos exclusivos. Nenhuma fórmula bate essa mistura que, para completar, fortalece o vínculo mãe e bebê.
O leite que ofereço a meu filhote não causa constipação, é de fácil digestão e ajuda a previnir várias doenças da idade adulta, inclusive as modernas, como obesidade. É, portanto, um alimento com benefícios a longuíssimo prazo.
Mas ele tem um custo.

***

Leite condensado, chocolate, estrgonofe, risotos, comer fora de casa (de modo geral), biscoitos, sorvete, iogurte, molho branco e praticamente qualquer doce. Essa é a lista das coisas que mais sinto falta de comer na minha vida de dieta.
Cento e cinquenta reais em potinhos de vidro, duzentos e dez reais em antifúngicos (tópico e oral), em antibiótico e em antitérmicos, setenta reais em outros gastos de armazenamento, duzentos reais em mamadeiras especialmente projetadas para a manutenção do aleitamento materno, gasolina, muita gasolina em visitas ao IFF e a grupos de incentivo à amamentação. Bombinha tira-leite, absorventes para seios, noites de ordenha, madrugadas de ordenha, gás para ferver potes de vidro, bicos especiais, mamadeiras especiais, lágrimas, sangue e suor.
A lista é longa e não acho que vá terminar por agora. Aliás, eu não quero que termine por agora.
Meu plano é ir adiante na amamentação, mesmo voltando a trabalhar. Porque, para mim, os custos dessa empreitada, os custos desses grandes investimentos, não são absolutamente nada quando penso no tamanho do poder que, depois de gerar e parir, agora é nutrir uma pessoa.

Dona das divinas tetas (eu e Gal).

sábado, 10 de novembro de 2012

Vantagens (não ditas) da maternidade

Outro dia, na rua, encontrei uma conhecida. Eu usava uma camiseta justa e cuja cor evidenciava meu bronzeado. Notem bem: sou garota carioca suingue sangue bom, mas não curto praia (e nem pizza e nem carnaval. J'adore épater la bourgeoisie!). Logo, estar bronzeada é algo digno de nota na minha pessoa.
Bom, claro que minha conhecida (que não era íntima, mas também não era cega) notou e comentou. Mais ou menos assim:
- Menina, há quanto tempo! Soube que você teve um bebê. Quantos meses?
- Quase cinco.
- Mas você está óóóóótima: cabelo brilhoso, bronzeada, mesmo corpo de antes e... esses braços e essa comissão de frente, heim! Já voltou a malhar?
- Não, ainda não. Estou amamentando ainda.
- Eu tenho que ir, depois a gente se fala. Beijo e você está mesmo ótima!

***

Das vantagens de ser mãe todo mundo já sabe: fofurices, amor louco, ter o prazer de uma pessoa te idolatrar, salve, salve por pelo menos uns 5 aninhos, amor, amor, amor... Mas e aquilo que não te contam? Já reparou como maternidade é cheio de pegadinha? Fiquei pensando sobre isso e sobre como a maternidade ensina a transformar um limão, gentilmente cedido pela vida a todas as pessoas viventes e conectadas com a realidade, em uma deliciosa torta de limão, geladinha, docinha, com aquela massa fininha no fundo.
Delírios de dieta a parte, fiquei mais gostosona porque meu corpo mudou, ficando mais arredondado depois da maternidade. Meus cabelos brilhosos provavelmente são resultado dos dias que passo sem conseguir lavar a cabeça. Meus músculos definidos nos braços e pernas são decorrentes da malhação com o pesinho de sete quilos que chora, mama, ri, adora um colinho e só dorme embalado. E a cor do pecado eu ganhei nos banhos de sol diários, na brava luta que travo contra a monília já há, praticamente, cinco meses.
Nada mal para quem fazia uma imagem materna no melhor estilo manjar (branca, flácida e cheia de olheiras) e teve uma boa surpresa. Agora, só falta me livrar da pelanca que alguns chamam de barriga e já posso, se quiser, mesmo não gostando da folia, sair só de purpurina no carnaval carioca.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Marido, te amo!

Daí que você está na triste tarefa de selecionar fotos para mandar imprimir e levar para o trabalho, a fim de minimizar um pouco a saudade sufocante que você está sentindo do filhote, e em meio a fofuras, carinhas e caretas do seu bebê você se depara com o seguinte clique:

Este NÃO é o Arthur.


Marido, te amo! Minha intimidade é muito mais louca, selvagem e divertida com você me trollando.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Memezando

Tá, eu nem sabia que isso se chamava meme porque, na minha época (mais ou menos 1982 a.C.), a gente respondia isso no caderno perfumado e cor-de-rosa da amiga. E invariavelmente tinham as perguntas "Qual a primeira letra do nome do garoto de quem você gosta?" e "Onde quer passar sua lua-de-mel?" (que na época era grafada com hífen, então mantenho, para ser fiel ao clima nostálgico da postagem).
Achei bacana e fofo, não só por ser lembrada pela Lilian, mas porque me dá margem a explanar minha identidade secreta, toda trabalhada no estilo "gato escondido com o rabo de fora" (é que ando dando pistas no mundo real e aqui, e como diria Raulzito: "tá bandeira demais!"). Sério: vou editar o meme (e trollar a brincadeira) para não esculhambar com meu anonimato besta e cada vez mais questionado e hamletiano (ser ou não ser, eis a questão!).

Chega de trololó e vamos ao meme/caderno de perguntas:


As regras pra participar são as seguintes:

  • Escrever 11 coisas aleatórias sobre você. (Rá!)
  • Responder as 11 perguntas que a pessoa lhe mandou e criar 11 novas perguntas para as pessoas para quem irá mandar. (Vou criar algumas perguntas para eu mesma responder, tá?)
  • Escolher 11 pessoas para repassar esse meme e colocar os links de seus respectivos blogs. (Quero escolher gente, não. Sou tímida e só dou o caderninho para quem pedir. Nunca ofereço.)
  • Avisar os blogs escolhidos. (Se você pediu meu caderninho, tá avisada de que tem que responder, tá? =) )
  • Não retorne esse meme para quem te enviou. (ok)
  • Postar as regras. (ok)
 11 coisas aleatórias sobre mim:

1) Passei de primeira na prova do Detran, achando meus fiscais "fofos" porque a moça que me treinou nas aulas práticas era a personificação das fúrias mitológicas. Apesar disso, nunca voltei para buscar a carteira. Shame on me.
2) Se contar todas as provas individuais de vestibular que fiz, chego à impressionante marca de 9. Nunca soube o que queria ser quando crescesse.
3) Nunca comi jaca. Nem angu.
4) Odeio pizza.
5) Prefiro Banco Imobiliário ou Imagem & Ação a War. E sempre chutava, sem querer, o tabuleiro, zunindo os exércitos, quando ia me levantar para beber, comer ou fazer xixi.
6) Não tenho medo de barata.
7) Faço análise há oito anos (e continuo mutcho louca).
8) Sou muito flexível, e todo mundo me pergunta quanto tempo eu fiz de balé. E eu só fiz balé aos 26 anos, por cerca de seis meses.
9) Tenho olhos castanhos.
10) Morei seis meses em Portugal.
11) Quase não bebo café, mas quando o faço, é sem açúcar ou adoçante.

Perguntas da Lilian para eu responder:

  1. Por que resolveu criar o blog? Porque estava absolutamente neurótica com a proximidade dos inícios das tentativas de engravidar e queria ter uma válvula de escape para essa tensão. Além disso, tive um blog há cerca de doze anos e queria repetir a experiência de falar a alguém, mesmo não conhecendo essa pessoa na vida offline.
  2. Qual tua principal atividade na vida offline? Mistério... Mas para não ficar chata a brincadeira, vou trocar a pergunta, tá? Que tal: "Qual o primeiro blog materno que você leu?" Na verdade, não era um blog materno. Era um blog literário chamado "Brazileira Preta", e a autora postou o relato de parto domiciliar da filha. Eu fiquei abismada com aquilo: a poesia do nascimento, a coragem de enfrentar a dor sozinha, a loucura de parir em casa (hoje, continuo achando loucura, mas não no sentido ruim da coisa, como eu achava antes). Já estava pesquisando e lendo sobre nascimentos e, sem dúvida, esse relato marcou minha vida. Foi um turning point da minha trajetória. Outro blog que eu lembro de ter lido há muuuuuuuito tempo é um coletivo, que nem sei se ainda existe, chamado "Mães empoderadas". Ali, as mamães postavam fotos e informações sobre seus filhotes. Eu adorava!
  3. Qual a tua maior esquisitice?  Não comer pizza, definitivamente. Eu acho supernormal, mas as pessoas ficam estarrecidas quando eu aviso que não gosto de pizza.
  4. Se tivesse que dar uma dica a uma amiga grávida, qual seria? Procure se informar MUITO sobre gravidez, parto, puerpério e amamentação. E procure essas informações para além do seu obstetra querido e idolatrado, mesmo que ele seja reconhecidamente um médico humanizado e pró-parto normal. É sua obrigação desde já zelar pela vidinha que mora em você, e fazer as melhores escolhas depende de pesquisas, informações de fontes múltiplas e decisões pensadas, de preferência em conjunto com o pai da criança. Porém, no fim das contas, o parto é seu.
  5. Se tivesse que dar uma dica a uma amiga que acabou de ter neném, qual seria? Peça ajuda. Durma quando seu bebê dormir. Crie uma rotina de sono já no primeiro dia. Sobreviva!
  6. Me indique um bom livro. Lilian, vou indicar Cinquenta tons de cinza...ahahah Mas além desse: Os filhotes, do Vargas Llosa (já que você gosta do hômi); O velho e o mar, Hemingway; O túnel, do Ernesto Sábato; e um conto lindo, lindo, lindo do Julio Cortázar, chamado "El río".
  7. Algo que tenha orgulho de ter feito? O Arthur, né? De tê-lo feito e de tê-lo feito nascer, do jeitinho que escolhi, no tempo dele, sem intervenções e com muito amor!
  8. Qual o melhor dia da semana pra ti? Sexta!
  9. Qual tua formação? Mestrado completo. Louca para entrar no doutorado, mas sem tempo de estudar com meu bebê-mamão.
  10. Como se vê daqui a 10 anos? Espero que com corpinho de 30.
  11. Quantos filhos pretende ter? Eu queria ter muuuuuitos filhos, mas, como diriam os Mamonas Assassinas: "money, o que é good nós não have". Espero conseguir, então, dar ao menos um irmãozinho para meu filhote.

Bora repetir as 11 perguntas daqui de cima?


11 blogs escolhidos:

Quem responder me avisa, por favor? Quero saber das respostas de vocês.
=)

Um beijo, Lilian! Adorei!

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Entre memes e mimimis (senta que lá vêm as histórias!)

Passei o feriado todo meio borocoxô, mesmo tendo viajado com o pequeno. Acho que tem a ver com os momentos todos da vida: creche, volta ao trabalho, falta de grana, urucubacas da vida cotidiana, leite que preciso estocar etc. etc. etc. (e bote quantos mais etc. você quiser).
Aí, nessa coisa meio finados na cachola, cadê parar com o mimimi? Mimimizei quinta, sexta, sábado e domingo. Nem eu me aguentava mais! Mas como "ali onde eu chorei qualquer um chorava", resolvi ir em frente na música e levantei, sacodi a poeira e dei a volta por cima. Hoje, segundona chuvosa pós-feriado, voltei para casa e pensei: que beleza! Vai ser tudo lindo, bora para o primeiro dia de adaptação na creche, pessoal da blogosfera gostou do novo layout (uhuuu!!), bora viver essa vida linda que tem aí na minha frente e...
Cara, sério: senta aqui do meu lado, no fundo do poço rotinístico, e chora comigo!

[Sentou? Então aproveita a proximidade e tasca um abraço aí que a coisa tá feia - mas daqui a pouco acaba o mimimi, prometo!]

Resolvemos voltar da viagem do feriadão hoje de manhã, para não pegar muito trânsito. Só não contávamos com a astúcia do Arthur, que chorou a noite toda, talvez boladão com a tempestade que caiu na madrugada. A viagem começaria 10 da manhã. Onze e meia eu e Arthur ainda cochilávamos, esgotados pela noite de ontem. Pegamos a estrada (vazia, o que me parecia um sinal auspicioso. Tola eu!) um pouco atrasados no cronograma: 13h. Arthur, nessa hora, costuma dormir um soninho gostosinho. Exceto quando anda de carro, né? Então, ele sentadinho, na cadeira da tortura, berrou por exata uma hora e sete minutos cheios. Depois de esgotar minha garganta e meu repertório de musiquinhas infantis, capotou. Que ótimo, não? Seria, se não estivéssemos na porta de casa. Então, tendo dormido cerca de 15 minutos, Arthur foi despertado. Abrindo as malas e guardando as coisas,  descobri que meu xampu vazou na bolsa (todinho!) e meus 9 potinhos de leite ordenhado e congelado DESCONGELARAM durante a viagem. [Por favor: chore comigo!] Pensei em fazer um bolo com meu próprio leite, já que tinha para mais de meio litrão ali prestes a ir para o lixo e Arthur não pode leite de vaca-bicho, só da vaca-profana aqui. Desisti da ideia ante à ansia de vômito que meu comentário causou no marido. Daí, lágrimas enxutas e tetas para fora (ordenha de novo, Ártemis! Quem faz meio, faz um litro!), constatei que, com a misericórdia do senhor dos leitinhos congelados, apenas dois potes haviam de fato descongelado. Emocinei-me, leitores. E me enchi de novas esperanças nesse dia tão fatigado.
Arthur começava na creche 14h e já eram 14h32 quando resolvemos almoçar. Vestimos o moleque, enfiamos seu corpinho cheiroso e arrumado no sling, arrumamos a malinha do primeiro dia e tocou o interfone. Fiquei felizona: estou esperando uma encomenda de mamadeira para o pequeno e achei, de verdade, que era o porteiro avisando que era o correio. Ahahahahahhahahah
Era a Light (companhia de energia elétrica aqui do Rio), avisando que estavam aqui para cortar a energia. Oi, moço? É, senhora, atraso da fatura de setembro, na última conta veio o aviso de corte, a senhora não pagou, vamos cortar. [Por favor: se desespere comigo! E me mande um dinheirinho, porque tá rodis aqui, viu?]
Bom, não teve argumento, pagamento ou choro que resolvesse a situação: cortaram a luz! Agora, você visualiza a cena: casa sem luz, bebê no sling, marido com a bolsa da creche, eu, com menos duzentão de leite materno no estoque do filhote (e o restante perigosamente num congelador sem energia), conta atrasada, atrasada no horário, menstruação atrasada (ops, isso não!), precisando ainda ir almoçar e adaptar o filho, que agora reclamava de sono, calor e pasmaceira (experimenta colocá-lo no sling e ficar parado para ver o que te acontece!).
Bom, pior que isso não podia ficar. Podia?

[Pausa para uma importante lição que recebi na faculdade: um professor meu, logo no primeiro período, ensinou-me que para a felicidade ou sorte sempre existe um limite; para o azar ou a tristeza, porém, sempre se pode cavar mais um pouquinho no poço e chafurdar mais e mais na lama das mazelas.]

Claro que podia!
Pagamos a conta atrasada numa fila quilométrica de banco popular (depois passo o número da agência e da CC para depósitos caridosos) em pleno dia 5. Todos os velhinhos do meu bairro, que tem muito velhinhos, estavam recebendo suas aposentadorias, ali, naquela hora. E todos os velhinhos do mundo AMAM bebês e sempre comentam do sling. Respirei fundo ante pitacos e comentário sem noção ("não machuca a perninha?", "coitadinho, todo encolhido/enrolado/apertado/espremido!", "vai dar problema no/na _______ [complete aqui, que estou sem paciência, mas pode ser qualquer parte do corpo ou aspecto da psiquê humana]"), e sorri e fui simpática com os comentários fofos (afinal, velhinho nenhum tem culpa da minha urucubaca, né?). Conta paga, bora almoçar voando e levar filhote para creche.
Tudo deu certo nessa parte do dia e achei que, enfim, minha maré de azar estava mudando.
Já dava uma banana mental para aquele meu professor quando entrei na salinha do berçário. Beleza: apenas dois bebês, menos estímulo e novidade para um Arthur sonado e meio mal-humorado com o dia so boring que eu estava lhe proporcionando. Meu sorriso se abriu, mas logo foi dispersado pelas tosses encatarradas dos dois bebês. Sim, amigos e amigas, os bebês estavam doentinhos e fizeram questão de partilhar TO-DOS os brinquedinhos que enfiavam em suas boquinhas virulentas com meu filhote saudável e tratado a leitinho da mamãe (Arthur ficando resfriadinho em 5, 4, 3...).
Respirei fundo, pensei que meu filho tinha imunidade por conta do meu leitinho, que era inevitável, vitamina S, bora pra frente que o dia tá tipo na metade. De repente, na janelinha do berçário surge marido: trouxe o cheque, porque a creche vence hoje. Passei meu cheque-voador e pensei: na saída da creche transfiro a rapa do tacho da poupança para cobrir o cheque, e vamos frilar o resto da vida para dar conta de tudo (alguém querendo me oferecer um emprego que pague mais?).
Arthur gostou dos amiguinhos, se acabou de rir para as professoras da creche, colocou todos os brinquedinhos melecados pelos amiguinhos ranhentos na boca e até dormiu, para mostrar que delícia ele é e como vai ficar ótimo sem a mamãe.
[E afinal me senti melhor, porque se vou sofrer de qualquer jeito, então que pelo menos eu sofra com meu filho ficando bem na creche, né?]
Decidimos, na saída da creche, antes de ir ao banco, que dormiríamos na casa da sogra, porque sem luz e com um bebê de 4 meses cheio das rotinas de sono não ia rolar (e toda mãe sabe que romantismo é só até antes dos filhos nascerem e depois que eles saírem de casa, logo, nada de "luz de velas, que coisa bacana"). No banco, errei minha senha por 3 vezes e, tal e qual Pedro negando Cristo, fui jubilada da alegria de fazer transações no caixa eletrônico (que é o equivalente moderno de ser estigmatizado como herege, dos tempos de Pedro). Banco fechado, senha bloqueada, cheque-voador planando como um Zepelin na praça, filho ainda com sono, sem luz e a caminho de uma noite na casa da sogra. O que mais poderia acontecer?
Acreditem: muita coisa! Mas o que aconteceu mesmo foi um amigo meu telefonar e dizer que a pessoa que estava com uma encomenda para o Arthur em SP (e que ele feria o imenso favor de trazer ao Rio) saiu de casa e o deixou do lado de fora da casa, tocando a campainha. Resultado: no donuts for me. Neither for Arthur. Ou, em outras palavras, adiós amigo!
Já na casa da sogra (com direito a novo transporte de potinhos de leite congelado e tensão absoluta no engarrafamento por conta disso), Arthur de banho tomado, ritual sonístico realizado, dormindo feliz (enfim!) na caminha... Claro que ia babar, né? Sogra chegou em casa brigando no celular, aos berros, causando frisson, agitando cachorro, que latiu muito, sobretudo depois que ela tocou a campainha freneticamente, como se não houvesse amanhã.
Resultado? Falta apenas uma hora e dez minutos para acabar este dia terrível, e as duas únicas coisas que o salvaram de entrar para o rol dos dias mais terríveis do universo foram o meme da Lilian (que postarei amanhã, querida, adorei a lembrança!) e a suuuuupergargalhada que meu filho deu para o papai.

PS: Minha sogra, apiedada da minha situação, pediu um japa especial, para aquecer meu coraçãozinho sofrido. Mas Arthur, claro, acordou, quis que eu ficasse grudadinho nele e não me deixou jantar. Para que eu não ficasse com fome, ela e marido deixaram umas peças para que eu comesse depois. Deliciosos rolls de hot filadélfia, cheinhos de cream cheese, que eu NÃO POSSO comer por conta da dieta de APLV. Diz aí: urucubaca feelings total, não? 

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Cara nova, velhas trollagens

Eu não sou a rainha do mundo digital-tecnológico. Por aqui, a coisa é analógica na maioria das vezes. No entanto, achei que pelo menos trocar a carinha do blog seria possível. Perdi algumas horas (e certamente uns neurônios), mas consegui.
\o/
Daí, fui toda feliz, orgulhosa e animada mostrar pro marido.

- Amor, mudei a cara do blog. Diz o que achou.
- Ahhhh, ficou bem bacana. Perdeu aquele ar "selvagem" daquela foto de fundo, o que foi uma pena, e ganhou um ar mais doméstico, mais de casa com os ovinhos fritos...

E eu crente que tava abafando com minhas florzinhas amarelinhas.

(Minha listinha de blogs sumiu, daí eu refiz. Se você desapareceu dela, por favor, me avise.)

domingo, 28 de outubro de 2012

Levando bolo (ou da solidão que me aflige)

(Eu deveria estar frilando, mas estou aqui, blogando.)

Quem lê meus posts, quem me vê de longe na vida deve pensar que eu sou a popular do pedaço. Não que meu blog seja bombante ou nada do tipo, mas é que aqui, com a graça do santo protetor das blogueiras (há de ter um desses!), só recebo elogios nos comentários (obrigada de verdade! Quem tem blog sabe o valor de um comentário), e aí parece que sou bacana, né? Na vida vista de longe, provavelmente também é um pouco assim, porque sou do tipo que não pesa na vida dos amigos porque não existe na vida dos amigos, do tipo que cresceu brincando de boneca em um prédio que só tinha adulto. E aí que eu aprendi a ser bem sozinha, como se não houvesse, na verdade, adultos no meu prédio, na minha rua, no meu quarteirão, na minha cidade. Sozinha.
Às vezes eu me importo muito com isso. Fico triste e me sentindo culpada por enfiar os pés pelas mãos quando o assunto é manter contato, cativar amigos para além do momento inicial. Outras vezes, porém, vou levando numa boa, achando bom ser meio Billy Idol porque a vida fica um pouco mais do meu jeito (afinal, "Well there's nothing to lose/And there's nothing to prove").
Acontece que desde que Arthur nasceu recebemos poucas visitas. E eu tenho ficado sentida com isso (hello, hormônios!). Muito pelo descaso das pessoas, que marcam milhares de coisas conosco ("querida, vamos aí neste fim de semana", "vamos fazer um passeio assim, assado dia tal?", "te ligo para combinarmos, sem falta") e somem, se esquecendo de que temos uma rotininha com o pequeno e, se a alteramos um pouquinho, corremos o risco de bagunçar o coreto e, depois, quem se lasca somos nós, eu e marido: ninando madrugada adentro, amamentando por horas a fio etc. Logo, se alteramos essa rotininha com Arthur é porque queremos partilhar este momento de alegria que vivemos com pessoas de quem gostamos. E a gente arrisca porque somos pais corujas e orgulhosos, porque estamos felizes, porque a gente acha que vale a pena. E às vezes não vale.
Não vale e eu volto a brincar sozinha de boneca, em um prédio só de adultos.

sábado, 27 de outubro de 2012

Sobre madrugadas e James Brown

Ontem tivemos a pior madrugada desde que Arthur nasceu. Nem quando ele era um recém-nascido petitico sofremos tanto, acordamos tanto, choramos tanto. Foi caótico. Ele, tadinho, estava com febre e dor, reação às vacinas de quarto mês.
Hoje, em compensação, tivemos a melhor madrugada desde que filhote nasceu. Ele mamou meia-noite, acordou para mamar somente seis da manhã e levantou de vez às dez. Dez da manhã! Marido, que não amamenta, dormiu dez horas seguidas. E isso porque foi se deitar à meia-noite! Puro luxo.
E aí, nessa montanha-russa do sono, fiquei pensando sobre noites em claro e noites de sono.

* Quando as pessoas me perguntam "E aí, como vão as coisas? E a vida de mãe? Sofrendo muito com as noites em claro?" eu sempre respondo que nem acho ruim passar as noites acordada, não. Isso porque Arthur acorda, me acorda e, assim, acordados, mas juntinhos, seguimos madrugadas adentro. No entanto, mãe maluca que sou, sei que quando meu pequeno tiver 18 anos e for para festinhas, ficarei tão acordada quanto agora, madrugadas sem conta, mas com o agravante de não saber onde ele está, se está bem, se está seguro. Agora, pelo menos, sei onde ele está e que está alimentado, seguro e feliz.


* Antes de eu engravidar escutava muito a ladainha dos que não têm filho ou dos que acham que a vida é plana como suas vidas, e tudo deve funcionar segundo os padrões já conhecidos (assim, quem gosta de sair, acha que todos do mundo gostam de sair; quem gosta de pêssego, acha um absurdo que existam pessoas que não gostem da fruta, etc.). Essa ladainha funciona assim (e todo mundo já escutou): vai ter filho agora? Sua vida social acabará, você não conseguirá mais sair de noite, nunca mais verá seus amigos, diga adeus para festas e coisas boas da vida, porque você passará noites e mais noites dando de mamar, trocando fraldas, esgotada, e esse  bebê vai sugar sua vida, lhe deixar sem opções, estressada, mal amada, infeliz... e por aí vai o trololó.
Trololó mesmo! E dos bons! Porque, confesso, não sinto a menor falta de festas, badalações e eventos sociais que terminem tarde, envolvam música alta, ambientes fechados, bebidas e muita fumaça. Não que eu não goste de uma festa e de vez em quando não lamente perder umas comemorações ou shows ou eventos noturnos que gostaria de ir. Mas é que é tão bom, mas tão bom passar madrugadas em claro, em um ambiente fechado (nosso quarto), com música alta (mas agora é MEC FM), cheirinho de bebida (leite materno na boquinha do meu filho) e muita alegria (Arthur a-do-ra dar altas risadas de noite e de madrugada, seja dormindo quanto na hora de trocar fralda), que nem ligo de perder baladas bafônicas. O foco é outro. A vida é outra. E se acordo todos os dias cansada, esgotada e exaurida, isso tem o mesmo sabor dos meus tempos de roqueira frenética, em que voltava para casa às dez da manhã, depois de dançar até quase morrer nas festas. É o gostinho de estar no lugar exato onde se queria estar.

E por isso, nesse dia especial (como são, na verdade, todos os dias com meu filho), acordei meio James Brown. Acordei feliz, feliz, feliz...

 

I feel so nice, so nice 'cause I got Arthur!

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

A angústia do anonimato


Como todos vocês sabem, Ártemis é meu pseudônimo para escrever este blog. Na minha família, temos alguma tradição no assunto, pois minha bisavó fazia versos em uma época que mulheres poetas não eram bem-vistas e/ou levadas a sério e minha avó foi atriz numa época em que ser atriz não era ocupação para "moças de família". Hoje, claro, as coisas melhoraram e meu anonimato não é necessário para escapar de opressões machistas e preconceituosas, mas sim para evitar constrangimentos (meus) em relação ao que falo por aqui.
Até onde eu saiba, existem seis pessoas que leem este blog e sabem meu nome: marido, minha melhor amiga, a Anna, duas amigas do mundo "real" que estão grávidas e uma que já é mamãe. Esta última vive me dando força para que eu divulgue o blog entre meus amigos do mundo não virtual e  generosamente elogia meus textos.
Fato é que muito do que escrevo aqui acaba envolvendo pessoas do meu convívio e tenho medo de que minhas palavras ofendam ou exponham. E sigo escondida atrás de um nome escolhido (Ártemis tem tudo a ver com parto, nascimento e vida selvagem!).
Porém, desde que Arthur nasceu, tenho tido muita pena de ficar escondida atrás de um nome fantasia que, se por um lado me garante a liberdade de falar o que quiser, como quiser e como quiser, por outro me prende à uma identidade que, embora bastante sincera (já disse que escrevo por aqui com o coração, sendo muito honesta com meus sentimentos e ideias), não está completa. Essa espécie de vida dupla que levo acaba me deixando muito cansada, já que não posso sair falando do meu blog, um espaço tão importante na minha vida, na minha vida não virtual. Isso cansa, minha gente.
Por outro lado, o que fazer? Existem coisas que escrevo aqui que não gostaria de sair divulgando mundo afora, mas, por outro lado, são informações, muitas vezes, interessantes para quem quer engravidar ou está lutando por um parto humanizado. Já pensei, como tentativa de solução, apagar ou editar os textos. Mas além de um trabalho cão, acho que muitas coisas que escrevo têm valor sentimental para mim, um pedacinho da minha vida, e deixar os textos que representam esses momentos nos rascunhos seria doloroso para mim e, para completar, acho que o blog perderia uma "unidade" conseguida nessa coisa de autorreferenciação.
E aí, sigo aqui, angustiada com o anonimato, angustiada com a possibilidade de sair dele. Pensando muito no que a Anne Rammi disse uma vez.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Garota (seminua) de Ipanema

Então que eu moro no Rio de Janeiro (esta semana: Hell de Janeiro, porque ô calor dos infernos, minha gente!). Então que eu precisei ir à Ipanema hoje. Hoje, justo hoje, quando raios, relâmpagos, trovões (e sei lá qual a diferença entre eles - sou carioca e só sei a diferença entre o charme e o funk, nada de diferenças entre coisas que nublam e fazem chover) riscaram o horizonte. Eu, de sling, numa roupa semi-adequada para amamentar (ô dificuldade de encontrar roupas dignas para amamentar, né?), carregando bolsa de um lado e guarda-chuvão do outro em meio aos carros... Opa! Guarda-chuva? É, eu esqueci o guarda-chuva na loja de sucos em que "jantei". Daí, marido foi lá, solícito e pimpante, resgatar o apetrecho.
Só que Arthur bolou no sling, tentou dar um duplo twist carpado para frente e fui obrigada a segurá-lo na bocada. Sabem como é? Sacar a peitola para fora e espetar na boca da criança quando ela entoa o "AAAhhhh" da revolta. Então, pego pela bocada, Arthur se acalmou e ficamos, no meio da rua, em Ipanema, mamando. Tudo muito bom, tudo muito bem e marido conseguiu resgatar o guarda-chuvão. Fomos, então, caminhando rumo ao carro.
Já pertinho do veículo, Arthur achou muito lindo, oh, meu Deus, que coisa bela umas luzes de Natal (oi? Já é Natal na Leader Magazine!) e parou de mamar para admirá-las. Já estou acostumada à essa exposição do peitinho sem cachê milionário da Playboy e me resignei, tentando dar aquela viradinha marota quando dois homens com cara de taradões vieram em nossa direção. Taradões fora da área, continuamos a caminhada até a porta do carro - e aí Arthur já tinha desencanado das luzes, do peitinho, e queria mesmo era dar um belo arroto. Coloquei filhote na vertical, ele arrotou, abri a porta do carro, amarrei o menino na cadeira elétrica, digo, na cadeirinha do carro e dei a volta para me sentar no meu lugar.
Já dentro do carro noto uma sensibilidade mamilar pouco comum e... peitinho de fora. Exposto, escancarado, para taradões e carolas, no meio de Ipanema, desde que Arthur quis arrotar. Só digo uma coisa: ainda bem que não estávamos a pé, se não faria exposição do peitinho por todo o Rio de Janeiro!

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Uma rapidinha com amor

Meninas lindas do meu coração! Obrigada, obrigada, obrigada!
Me senti acolhida, compreendida e amada. Ainda na lama da culpa e da angústia de ficar longe do pequeno. Mas muito mais querida porque vocês sabem o que estou passando.
Infelizmente não posso abrir mão do meu trabalho. Tanto em termos financeiros quanto devido às minhas ambições pessoais (vou ser mais feliz se for mais que mãe, embora quisesse poder fazer uma pausa maior que os meros 4 meses a que tive direito).

Essa postagem rapidinha (mas com amor) também é para dizer que essa vida selvagem daqui de casa tem novidade: Arthur e eu entramos no rol das mamães e bebês dietéticos. A intolerância à proteína do leite está aí para provar que somos mamíferos, porém deveríamos beber o NOSSO leite (papo para outro dia, prometo). Nada de leite de vaca em casa. Sofrendo só por causa do chocolate. Oh, céus! Tá, e também por causa do pão de queijo. Mas vamos que vamos e prometo vir aqui ainda essa semana comentar mais sobre a ida do Arthur para a creche.

sábado, 20 de outubro de 2012

Por onde andei, quanto me perdi

Minhas fiéis escudeiras, amigas e seguidoras Anna e Lilian, sumi, né? E nem respondi a vocês e a Jacqueline sobre as dicas da cadeirinha. Que feio!
Mas então: Arthur odeia a cadeirinha. Tem um cachorrinho e uma bola pendurados no raio da cadeirinha, mas se distrai por poucos minutos. Tentamos vasto repertório musical e radiofônico (programas de entrevistas, narrações de jogos, "No divã do Gikovate" etc.). Arthur não curte nada. Só o som insuportável do útero. Masssss... descobrimos que durante o dia ele costuma ficar muito bem no carro. Vai ver tem medo de escuro ou já está meio jururu por causa do cansaço do dia.Vai saber? Agora, priorizamos passeios de carro pela manhã.

Mas é óbvio que eu sumi e não foi por conta do meu filho em guerra com as formigas imaginárias (mais ou menos) e nem por causa do fim da OiOiOi.
Eu sumi porque minha vida entrou num turbilhão louco, insano, doidinho, e não dei conta (e continuo não conseguindo dar conta).
Em primeiro lugar, voltei a trabalhar como frila. Foi preciso porque vem a creche (e que facada!), vem o cartão de crédito com as roupinhas que comprei (que facada!) e vem o Arthur tomando mamadeira porque eu volto a trabalhar em novembro (que facada!). Com isso, morri financeiramente já no 5º dia do mês.
(Vendo textos, baratinho. Tratar aqui.)
Em segundo lugar, marido viajou, fiquei sozinha com Arthur e minha mãe. Eu tenho um relacionamento muito, muito, muito difícil com minha mãe. E a semana sem marido foi tensa de saudades e de desencontros familiares.
Marido voltou e, vejam só!, fez aniversário, passou num concurso e deu festa em casa para comemorar as alegrias. Tudo ao mesmo tempo. Pirei nos improvisos, nos frilas atrasados, na festa que não tem minha presença porque Arthur dorme 20h e eu vou junto (e continuo sem beber cerveja, neam?), nos dinheiros, nos desentendimentos avozísticos e no drama master da volta à labuta.
Posso chorar um 'cadinho?
[snif]

pronto (ou quase).

[vou chorar mais um pouquinho, tá?]

Fico sentada, vendo meu filho brincar no tapetinho de atividades que me custou os olhos da cara (mas promete o Eldorado do desenvolvimento cognitivo) e que vou pagar em 12X com juros no cartão, que vence dia 20, mesmo dia em que entrego o frila (mas só recebo 15 dias depois). E aí eu tenho vontade de chorar porque, se ele chora de lá, eu estou cá para afagá-lo e dar de mamar. Mas daqui a menos de um mês não vou estar, de segunda a sexta, nem lá nem cá. E ele terá uma "tia" no berçário, e uma mamadeira (com leite materno, se eu conseguir fazer um estoque. Vocês já viram o preço das bombinhas elétricas? De onde vou tirar dinheiro para alugar ou comprar uma?). Será que vão acudi-lo quando ele reclamar? Será que ele vai se sentir menos amado? Dói no meu coração pensar que ficarei tanto tempo longe dele e, quando for buscá-lo, meu filho, alma boa, pura, linda, vai RIR PARA MIM, quando eu merecia era um tapa na fuça por ter insistido em ter um filho, mesmo sabendo que teria de deixá-lo na creche aos 5 meses. E eu choro sem lágrimas. E penso: um milhão de vezes parir sem anestesia, um bilhão de vezes mastite, cisto no mamilo, monília, bicos rachados. Nada é páreo para esta dor: estar longe do Arthur.

[snif]

Arthur dorme grudado em mim. Eu amo. Eu o amo.
Amamentar está quase indolor. Já ordenhei 140ml de leite, mas preciso, segundo consta, de 400ml diários. Alfafa ajuda, me disseram. Também o "Chá da mamãe", da Weleda. Extrato de algodão, reza a lenda, é porreta.
Arthur passou por dias difíceis: dormiu mal, mamou mal, chorou sentido. Sente minhas dores? Acho que o maldito refluxo ajudou. E o salto de desenvolvimento. Ele aprendeu a gargalhar (e tão lindo que é, resolveu não causar ciúmes em casa e o fez para o nosso cachorro). Ele aprendeu a rolar. Levamos ao pediatra e na receita estava escrito: "Agora podemos usar o bebê-conforto e o sling." Porra! Não podia antes?! Devia ter sido avisada na primeira consulta: vamos liberando apetrechos aos poucos, viu? Mas não: fiz cara de paisagem, com Arthur no sling desde 7 dias de vida e no bebê-conforto desde o primeiro dia. Resultado? Rola, gargalha e senta com apoio. Aos quatro meses. O pediatra falou: " é, ele está mesmo bem durinho!"
Quase uma da manhã. Marido bebendo com poucos amigos na varanda de casa. Merda. Poucos têm filhos. Fazem muito barulho, e eu preciso ficar enfurnada no quarto, com Arthur, que só dorme grudado em mim (e eu amo!), com a porcaria do barulho infernal ligado, para abafar os ruídos externos. Sabiam que eu nem ouço mais essa barulheira? Durmo e tudo com o útero e o coração bombeando o sangue de alguém. Mas o que me angustia mesmo é que faltam poucos dias para eu voltar ao trabalho e ficar nove horas (até ele completar 6 meses serão "apenas" oito horas) longe do meu filho tão lindo, tão perfeito.

E aí, eu entro aqui no meu cantinho e vejo que as pessoas sentiram minha falta. Que apesar dos comentários modestos em quantidade, pessoas se interessam, se preocupam, querem saber, torcem, ajudam. Dá vontade de fazer um teste de gravidez, porque ando mais sensível que dente lascado, mas não é bebê no forno, não. É bebê nos braços. Choro, choro, choro. Mas sem lágrimas, porque desde que Arthur nasceu pareço uma fortaleza. Ninguém mexe com a minha cria. NInguém contesta minhas escolhas. Mas ele vai para a creche. Tão vendo o drama? A droga? O desgaste? CRECHE. Muito boa, bonita, limpa, bom programa pedagógico, referências. Mas não é meu colo, meu aconchego, meu peito, meu cheiro.
E aí penso: preciso do meu emprego para pagar as contas. Acontece que trabalhando, gero mais uma despesa, a creche, e preciso trabalhar mais. E, de certo modo, lá se vão mais horas longe do filhote, preocupada com outras coisas que não são tão importantes assim, afinal. (Já dizia Pessoa que "o sol doira sem literatura".)

Me lasco. Sofro. Não durmo e sumo.
Vocês perdoam esse post loucão, essa autora loucona e todo o sumiço e o mimimi? Aceito abraços e beijos e cafunés.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Sentadinho no formigueiro

Sentadinho no formigueiro, Arthur berrava. Arqueava o corpinho, ficava com o rostinho vermelho, urrava. O formigueiro, é claro, é imaginário, e eu chamo de cadeirinha do carro. Não há calçamento de paralelepípedo, buraco no asfalto ou pista livre de sinais que o faça relaxar e dormir, como 99,9% dos bebês fazem.
Isso é frustrante para mim, que além de adorar dar uma voltinha, de amar viajar para a casa de campo e de curtir muito conhecer novos lugares, também estava aprendendo a dirigir (já tenho carteira, mas nunca tive coragem de usar o carro... shame on me!). Já tentou dirigir enquanto seu filho é atacado por formigas carnívoras sedentas por sangue humano? És fueda! Não há espelho retrovisor que garanta uma boa direção e nem rádio que minore o som ensurdecedor.
Minha solução Tabajara foi colocar o cd com o afamado barulhinho do útero também no som do carro. E seguimos, meio surdos, completamente incomunicáveis: eu e marido (no banco do carona), e filhote e suas formigas imaginárias.

Alguém aí tem uma luz? Uma palavra de apoio? Um relato parecido? Um Baygon?

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

E o bom conselho?

Vocês já me viram dando muito ataque de pelanca por conta dos pitacos que recebi e ainda recebo sobre como criar o meu filho e tocar a minha vida. Acontece que, conversando com uma das amigas grávidas (uma que agora é ex-grávida porque o filhote lindíssimo dela nasceu!), e dando meus pitacos (quem resiste? hipocrisia com sinceridade pode?), percebi que alguns conselhos que recebi foram surpreendentemente bons!
Daí, resolvi fazer uma listinha do que funcionou aqui em casa e que pode ajudar alguma grávida ou mãe recente nesse mundão wireless e 3G de meu deus.
E se você for adepta do ditado que diz que "se conselho fosse bom não se dava: vendia-se", aceito o depósito de uns caraminguás na minha conta... heheheh

  • Sobreviva - acho que esse foi um dos melhores conselhos que recebi para o puerpério. Nossa sociedade midiática e imagética cria estereótipos tão distantes da realidade que não raro nos frustramos com a doce vida que levamos. Eu, como representante da classe média achatada e (mal-)resolvida da zona sul carioca digo, minha realidade é doce, sim, pois tenho comida no prato (chã, patinho ou lagarto do Prezunic, mas é comida!), um teto (alugado) e pequenos luxos (creche para o filhote, tv a cabo e queijo brie na geladeira de vez em quando). Mas o que vemos na mídia são supermães, que perdem todos os quilos da gravidez no primeiro mês, têm peles maravilhosas e sem estrias, espinhas ou cravos, cabelos sedosos, nada de olheiras, corpos recuperados (em termos estéticos) em poucos dias. Males da nossa sociedade (desde os tempos de Pessoa, mas talvez ainda mais distante no tempo e mais profundamente em nossa cultura, não sei) que são potencializados pela mídia, até mesmo a mídia "informal", como os blogs. Afinal, minha gente, quem nunca viu por aí, nos blogs, supermães cujos filhos são lindos, espertos, maravilhosos e irretocáveis, cujos partos foram enlouquecedoramente perfeitos e cujos puerpérios são tirados de letra, sem estresses, sem tristezas, e elas nunca, jamais, em momento algum erram (e se erram é somente para fazer algo ainda mais brilhante na sequência)? Então, minhas amigas, sobreviver é um conselho maravilhoso! Porque uma mãe de primeira viagem não sabe um monte de coisas, precisa se adaptar e adaptar a família toda a uma série de coisas novas, porque uma mãe recém-nascida está louca de hormônios e está sendo sugada literal e emocionalmente por um serzinho absolutamente desconhecido e muitas vezes idealizado (o que leva a frustrações quando, por exemplo, o bebê não dorme a noite toda desde que voltou da maternidade, como o bebê da vizinha da prima da tia do marido). Logo, sobreviver, fazer o que dá, como dá, quando dá é ótimo. Não tente ser supermãe logo de cara. Não dá. Por maior que seja o instinto materno, você vai errar ou se desesperar ou as duas coisas juntas em meio a uma crise de choro do baby blues. Sobreviva. Aos poucos monte rotina, conheça seu filho, descubra o melhor caminho para vocês.
  • Respire - quando nada parece estar sob seu controle ainda existe uma coisa que você pode controlar e que vai realmente te ajudar a ir adiante e ultrapassar a agrura da vez: respirar. Respire de maneira consciente, inspirando e expirando.
  • Durma quando o bebê dormir - dane-se que tem visita na sala. Ela provavelmente dormiu a noite toda e vai dormir essa madrugada também. Quanto a você, já não há garantias. Então, durma!
  • Faça uma cestinha - em uma cestinha com alça (ou qualquer outra coisa com alça), coloque comidinhas (frutas, barrinhas de cereais, nozes etc.), uma garrafa de água, os telefones (celular e sem-fio), um caderninho e uma caneta. Carregue com você pela casa. No começo você se sente uma idiota fazendo isso, mas depois você vai perceber quão independente se tornará.
  • Dê banho enrolando o bebê numa fralda de pano - sério, isso mudou minha vida! Arthur odiava tomar banho, até que ouvimos o sábio conselho de enrolar o bacuri na fraldinha. É assim: você tira toda a roupa da criança,tira a fralda, limpa as partes pudentas e enrola o bebê numa fralda de pano. Daí, emerge o "pacotinho" na banheirinha e, para lavar, vai desembrulhando as partes: perninhas, bracinhos, peito... Tiro e queda! Arthur hoje em dia AMA tomar banho. Ah, e tem que notar o que seu bebê prefere: água mais quentinha ou mais morninha.
  • Rotina, rotina, rotina - "lavar roupa todo diaaaaa, que agoniaaaaa...". Ninguém sabe o que é rotina de verdade, só o Bill Murray naquele filme do Dia da Marmota (aproveite a licença-maternidade para ver Sessão da Tarde!) e os pais de bebês e crianças pequenas. E realmentte é fundamental estabelecer uma rotininha para que seu bebê se sinta mais seguro e feliz, e para que você consiga se organizar para fazer outras coisas na vida além de amamentar e trocar fralda, tipo ir ao banheiro, escovar os dentes e, com sorte, até tomar banho. Aqui em casa, a rotina foi crescendo a partir da hora de dormir. Ou seja, primeiro ensinamos ao Arthur que existia dia e noite, e que de noite ele deveria dormir. Assim, às 19h começávamos a entrar no modo "hora de dormir" e falávamos mais baixo, reduzíamos a intensidade das brincadeiras, ficávamos na penumbra e vetamos visitas pós oito da noite. Às 20h preparávamos o banho, com tudo absolutamente igual e ritualizado: mesma hora, mesma música, mesmo sabonete líquido (cheiro), mesma ordem de limpeza na banheira, mesmas frases na hora do banho, tudo igualzinho. Daí, sentávamos no sofá, só com a tv ligada (no mudo), e eu amamentava até que filhote dormisse. Ele aprendeu bem rápido e em poucos dias já estava no esquema. A partir daí, conseguimos ir montando uma rotininha, que ainda não está 100% estabelecida, mas que já é uma boa estrutura com a qual operamos muito bem, obrigada. Vale a pena, portanto, investir nesse sistema depressivo de repetir tudo de maneira idêntica, pois depois tudo fica melhor e mais fácil de gerir. Como dizia Renato Russo, "disciplina é liberdade".
  • Os 5 S - esse truque aprendemos na marra mesmo! Marido e eu íamos lá pelo quinto ou sexto dia do Arthur zumbizão, chorando horrores, dormindo nada. Daí marido foi catar na internet explicações para o inexplicável e deu de cara com um artigo científico de psicologa que citava o sistema dos 5 S do pediatra norte-americano Harvey Karp. Finalmente dei bom uso aos famosos cueiros do Arthur e resolvemos 98% das choradas desesperadas com o barulhinho infernal do útero materno (o que temos salvo em todos os computadores, no dropbox e em pelo menos 3 cds). Nos deixa meio surdos, é verdade, mas Arthur adora e fica visivelmente mais calmo. Funciona que é uma maravilha com o secador de cabelos e, se seu bebê não for muito criterioso, com tv ou rádio fora de sintonia (o chiadão mesmo). Arthur é seletivo e só se acalma com o som "original" ou com o secador. Mas voltando ao método, não curto todos os S propostos pelo cara e, por mais que treinasse, nunca consegui fazer aquele suave chacoalhar de lado com meu pequeno. E como não usamos chupeta, aqui em casa os 5 S viraram 2 S mesmo: swaddle e shhh.
  • Você vive para isso - essa descoberta eu fiz sozinha, e acho que pode ajudar alguém, embora eu saiba que não funciona para todo mundo. No começo do puerpério eu ficava muito angustiada por "não ter tempo para mais nada", até que um dia me dei conta de que cuidar do Arthur era absolutamente tudo o que eu tinha para fazer na vida e parei de "brigar" com meu lado "quero fazer tudo". Passei a curtir bem mais meu filho e fiquei mais feliz por ter o privilégio de poder cuidar dele nesses primeiros meses. Então, mamãe recém-nascida e angustiada com a mesmice do púerpério, tente pensar que você, agora, vive para isso: para cuidar do seu filho.
  •  
    Ser mãe (e ser pai) é tarefa exaustiva não só porque os filhos, no começo, dependem absolutamente de nós para sobreviverem. Mas também porque existem mil caminhos, um verdadeiro jardim borgiano, em que se vai escolhendo uma das muitas possibilidades de resolução de um problema imediato (o que elimina automaticamente todas as demais possibilidades de resolução daquele problema, naquele momento) e, assim, vai-se construindo um labirinto (muito mais que caminho) por onde devemos transitar e para o qual não há qualquer garantia de resolução, pois mesmo que sigamos os passos e escolhas alheios, nossos filhos são únicos e podem ter necessidades ou podem interpretar o mundo de modo diferente de outro bebê. Ou seja, cada pai e cada mãe tem a mui árdua tarefa de buscar, por conta própria, sem garantias de sucesso e arcando com as consequências dessas escolhas, aquilo que é (ou parece ser) mais certo naquele momento para si, para seu bebê e sua família. Por isso, meu conselho final não poderia ser outro: ame e faça escolhas conscientes. A maternidade (e a paternidade) é sem garantias. E é assim para todo mundo.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

100 dias com ele

Cem dias e parece que nunca vivi sem ele. O que de certo modo é verdade porque esperei por ele anos e anos. Tá certo que achava que seria mãe de uma menininha. Mas só porque minha família só gera mulheres e, antes do Arthur, o último homem que havia nascido fora em 1959. Então, exceto por esse detalhe (não insignificante, é claro, mas ainda assim um detalhe), eu passei toda a minha vida adulta com Arthur, gestando a ideia de concebê-lo, pari-lo e criá-lo.
Quando me descobri grávida, estive grávida da ponta do cabelo à unha do pé: enjoei, dei piti hormonal, comi coisas loucas (não bebi coisas loucas), fiz xixi no palito, exame de sangue, ri sozinha, chorei acompanhada das malditas estrias, tive medo, esperança, confiei cegamente e me abandonei na aventura. (Outro dia até me peguei pensando, muito surpresa, que confiava tanto em que eu conseguiria parir que nunca passou pela minha cabeça que eu poderia precisar de uma cirurgia e que eu não tinha dinheiro para pagar equipe cirúrgica particular! Olha que doideira!) Vivi para e com Arthur por muito mais que os 9 meses de gravidez.
Quando ele nasceu, saí derrubando mitos meus e alheios. Sambei na cara da sociedade cesarista, como vocês já sabem, e também desmistifquei dentro de mim muita coisa da maternidade. Coisas boas, como o mito do amor instantâneo pelo recém-nascido, e coisas ruins, como dificuldades de relacionamento entre pais e filhos ou a minha incapacidade de criar e sustentar um filho (um dia, quem sabe, falo um pouco mais sobre isso por aqui). Renasci em mim mesma e no pequeno ser que acabava de trazer ao mundo.
Agora, cem dias depois, ainda estou trabalhando arduamente na reconstrução da minha identidade, agora partida no binômio mãe-bebê e na multifacetada mulher do século XXI. Também me empenho em usar o tempo de licença-maternidade para conhecer meu pequeno filhote, para criar e estreitar laços, para ir fundo no verbo maternar. E é difícil, viu, gente? Não pelo Arthur, docinho de menino, bebê delícia, mas por mim. Saber construir a mãe que quero e posso ser é tarefa exaustiva, e que jamais se esgota. É se questionar e rever conceitos, ideias e possibilidades todos os dias. É buscar se encaixar em uma realidade cambiante, e muito mais cambiante que a vida sem filhos porque há, além das variáveis da vida cotidiana normal, uma vida absolutamente dependente de mim. Agora, cem dias depois de parir Arthur, sei que estou cansada, mas profundamente feliz e realizada. Cem dias com ele são muito mais que cem dias com ele: é toda a nossa vida como mãe e filho. E como é bom viver essa nossa toda vida!

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Para onde vão os sonhos depois que parimos? - parte 2

Parir. Gosto tanto dessa palavra! Começa com uma consoante plosiva bilabial absolutamente familiar: a mesma letra de papai, papá, pé. Depois, se abre por completo, em um A que vai no topo da pirâmide fonética das vogais, lindo, vivo, amplo. E aí termina com a multiplicidade de erres, termina-se rindo: RIR. Pode falar: lindão parir, né?
Pois é, mas como fazer para sonhar depois de fazer nascer uma pessoa?
Essa pergunta anda me apoquetando (e inspirando textos como o de ontem) porque se por um lado é muito fácil querer, desejar e planejar muitas coisas, é inquietante saber que todas as possibilidades incluirão o Arthur. Para o bem (fazer parte de seu crescimento, ajudá-lo a viver seus sonhos e desejos, tê-lo por perto e fazer da minha vida, da vida dele e da vida do marido a nossa vida) e para o mal (projetar, tolhir, supor, sufocar de amor). Hoje, se planejo uma viagem, Arthur e marido vêm antes do destino, da mala ou do dinheiro. É lindo, mas dá medo, porque parece que meus sonhos não são mais meus, embora tenha sido exatamente com isso que sempre sonhei.
Não quero que vocês leiam este texto como se fosse um desabafo desesperado, por favor. Leiam com leveza. Pensem no sol através da bolha de sabão e leiam, pois assim é a pergunta na minha cabeça: leve, furtacor, cambiante.
Se sonho, incluo minha família, e o sonho é nosso. Mas como manter o direito que nós três temos de sonhar? Como planejar novos rumos e evitar saltos no vazio, tombos coletivos e rastejar na mesmice em nome da segurança?
Tenho muito medo de que minha vida se torne pouca para mim. Notem bem: para mim. Não quero optar pelo trabalho em casa e achar que merecia mais valia, décimo terceiro e competitividade. Não quero escolher pelo trabalho CLT e pensar que deveria estar em casa, cuidando de perto do que me faz feliz, tendo a chance de vivenciar todas as experiências da maternagem. Não quero embarcar no sonho do marido e supor, mais tarde, que me faria melhor tentar do meu jeito.
Acho que embutida nessa pergunta dos sonhos está meu questionamento infindável pela identidade: onde estou? quem sou? como viver plenamente este desafio que sou eu?
Enfim, para onde vão os nossos sonhos depois que os filhos nascem? Às vezes eu acho que os meus foram todos inspirados com sofreguidão pelo Arthur na hora do parto, e que ele os vai liberando delicadamente, para sempre, a cada suspiro ou sorriso.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Para onde vão os sonhos depois que parimos?

Meu sonho sempre foi Parir. Com letra maiúscula, sem anestesia, nada de véu e grinalda: parir. Dilatar, contrair, fazer nascer de dentro de mim o amor maior da vida de tanta gente - eu, marido, avós, futura companheira (ou companheiro) e quem mais quiser e puder amar meu filho. E assim, por anos, cultivei esse sonho, acalentei esse sonho, cuidei, acarinhei e busquei trilhar caminhos que me fizessem realizá-lo. Fiz minhas oferendas à Nossa Senhora do Bom Parto, tendo sempre cuidado com minha saúde e minha mente, para que o parto fluísse e, no que dependesse de mim, acontecesse.
E aconteceu. Foi lindo, intenso, mágico, fundador. E, se por um lado ficou (na lembrança, na memória, no Arthur e na mulher que hoje sou), por outro, passou. Foi um momento, brevíssimo nessa vida longa (ainda bem!) que venho tendo. Onze horas em trinta anos é um átimo.
[Suspiro]
Agora, claro que continuo sonhando com os próximos partos. Meus e alheios, sonhando com uma melhoria significativa das condições de nascimento no Brasil e no mundo, sonhando com ocitocina natural democratizada. Mas, confesso, tenho e tive outros sonhos, que diante da beleza e da magnitude da maternidade se tornaram sonhos outros, sonhos distantes, não porque irrealizáveis, já que Parir, com maiúscula, dá uma sensação de tudo poder, mas distante porque as prioridades são outras e as vontades acompanham risadinhas e mãozinhas na boca.
Em termos profissionais, por mais que ame minha ocupação extra-casa, dá uma vontade muito grande de não voltar quando a licença-maternidade acabar. Porém, trabalhar é preciso, maternar é impreciso, e temos necessidade aqui em casa do meu salário no fim do mês. Ossos da luta pela igualdade de gêneros. Além disso, tenho um projeto profissional em suspenso no espaço etéreo do sonho.
E aí eu me pergunto (e a quem mais quiser responder, claro) para onde vão os sonhos depois que parimos? Porque meu espaço se multiplicou e se expandiu, abarcando outros mundos. Mundos em que Arthur e marido vivem, e meu caminho não pode mais ser trilha, aberta no facão da tentativa-e-erro que tantas coisas exigem. Não penso em pedir demissão, não penso em dar um passo rumo ao impalpável. E sofro sorrindo (porque tenho meus amores a meu lado) porque não sei como e quando dar vazão a minhas aspirações de outrora. Notem bem, não digo que não tenho meus pequenos sonhos, minhas ambições profissionais imediatas e plausíveis. Falo daquela conquista epopeica que, ao lado do parto, fundaria uma Ártemis completamente completa e realizadora das forças em potencial. Claro que trabalho e continuarei a trabalhar, mas onde e quando ousar?
Faz-se necessário, portanto, um mapa. O mapa dos lugares alcançáveis depois da realização de dois grandes sonhos: parir e maternar. Para onde rumar agora que tenho meus olhos postos na plena alegria de querer, lutar, conquistar e ser feliz? Como continuar (em moto contínuo) a ser feliz? Os sonhos param em um momento? Ser feliz é mesmo uma condição imanente aos seres, ou apenas "estamos felizes" e o devir, graça da vida, acabará com tal estado tão logo entremos no rio caudaloso do cotidiano? E se somente "estamos felizes", como manter-se feliz se não sabemos onde os sonhos estão?
Quem souber responder, agradecida. Por enquanto vou feliz, querendo continuar assim por tempos imortais.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Há um ano

Há um ano, a essa hora, eu engravidei. Tá, mentira que eu sei exatamente quadno eu engravidei, mas as contas deram assim e eu vou fingir que foi assim porque é aniversário da minha gravidez e eu faço o quiser no aniversário da minha gravidez, né?
Achei bom engravidar em setembro porque combinou com essa coisa de querer um parto natural, afinal as fêmeas engravidam, geralmente, na primavera. E com tudo ao redor florescendo, acabei me sentindo ainda mais em sintonia com a natureza. Que beleza!
Mas fora esse motivo meio Discovery Channel, engravidar em setembro faz com que:
- seu primeiro trimestre termine às vésperas do Natal, e aí você pode anunciar a altos brados que está grávida, dando de presente de Natal a boa nova e recebendo em troca 2.784 presentinhos para o bebê  (dos quais, 2.416 serão sapatinhos de crochê) e um óleo de amêndoas para você, ou melhor, para a parte de fora daquilo que carrega o bebê;
- seu verão seja passado com uma barriga modesta, mas já definida, e aí você pode colocar um biquininho fio-dental e... ops! Você pode colocar um biquini de mãe de família (conhecido como sunquini) e até ir para o carnaval fantasiada de havaiana safadinha (coisa que você não fazia desde os 15 aninhos);
- você tenha temperaturas agradáveis nos dois extremos da gravidez, pois enjoará em meio a pólen, flores e temperaturas amenas primaveris, e parirá em meio à neve, se não morar no Rio de Janeiro (porque se morar, parirá mesmo debaixo de um solzaço, num dia quente e que deu praia);
- você possa se cobrir bastante no fim da gravidez, o que é genial, se você, como eu, teve estrias até na testa;
- ao final de todo o processo, você tenha um marido, namorado ou companheiro mais compreensivo, pois, sentirá calor aos 16 graus e ligará o ar-condicionado ou ventilador, enquanto ele se encolhe debaixo de três cobertores. Assim, ele saberá como você se sente sem o combo progesterona-prolactina aloprando sua sensação térmica e será mais parceiro na próxima vez que você pedir "amor, diminui o ar?";
- seu parto caia no inverno. E parir no inverno é ótimo para se enroscar bem enroscadinho com o filhote recém-nascido e curtir o calorzinho gostoso que todo bebê exala!

Diz se não é ótimo engravidar em setembro?!

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Um é louco, dois é sufoco, três é demais!

Fechamos um ciclo. Mais um. Os primeiros foram três: os trimestres da gestação. Depois veio o ciclo do trabalho de parto, que começou antes do dia do parto, com o aninhar e preparar a casa para seu novo habitante. Então veio o parto, com força, doloroso, intenso, arrebatador, inesquecível. E nasceu. Ou melhor, nascemos. Três: pai, mãe e filho. Ok, quatro: pai, mãe, filho e cachorro, que também precisou se adaptar àquele serzinho que chorava e roubava a atenção dos humanos da casa.
O primeiro mês foi uma loucura! Me entreguei por completo à tarefa de conhecer meu filhote. Sofri todas as dores da amamentação, do baby blues e a palavra de ordem, certamente, foi superação. Superar o medo que dá de não conseguir dar conta, de não conseguir viver novamente. Superar limites e estabelecer outros que precisam ser bem claros: do meu filho, cuido EU! Minha cria, meu filhote, meu.
O segundo mês foi um sufoco! Rotina do bebê estabelecida, era preciso entender meu novo lugar no mundo, criar uma nova rotina para mim, para o pai, para o cachorro. E sufoco foi ainda amamentar com dor, com sangue, com lágrimas, com intensidade. A palavra de ordem foi adaptação. Porque as coisas começaram a se estabelecer e não havia mais tanta necessidade de se matar um leão por dia, de se provar que seria possível.
O terceiro mês, então, fecha mais um ciclo. Dizem que é o fim da gestação propriamente dita, e que a partir de agora tenho um bebê, não mais um recém-nascido. Com isso, digo que foi tão bom viver essa loucura dos primeiros meses e ir conhecendo aos pouquinhos esse serzinho tão perfeitinho, lindo e cativante que é meu filho, que, com certeza absoluta, o mês se expressa bem na palavra fascinação. Arthur se desenvolve e me surpreende cada vez mais, com o tanto de amor que desperta em mim (e com o tanto de tralha que já acumula: cadeirinha de carro/bebê conforto, carrinho, balancinho, brinquedinhos, banheira, berço, roupinhas... e ele tem apenas 60 cm!!!). Ainda bem que ele veio, do jeitinho que é, do jeitinho que chegou e como tudo, cada segundo se desenrolou, porque assim eu pude me descobrir a mãe que hoje sou. Longe de ser perfeita, mas certamente querendo ser melhor, cada vez mais, para poder saber mostrar a meu filho como trilhar seu caminho com segurança, respeito ao próximo e a si mesmo, leveza de espírito, fé, saúde e determinação.
Espero que nos próximos ciclos que eu, marido e filhote fecharemos tudo corra bem e que consigamos crescer no amor, na alegria, na paz e também, porque faz parte da vida, nas adversidades que aparecerem.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Uma hora pequenina

Eu morei 6 meses em Portugal. E me ria muito das diferenças dos falares lusitano e brasileiro. Durex lá é camisinha, bala é rebuçado, torrada é toste, sanduíche, sandes, suco é chamado de sumo e nosso isopor recebe o pomposo nome de esferovite. Uma mulher muito bonita é, com sotaque da terrinha, uma gaja bué da gira. E lá, quando se vai ter um bebê, não recebemos os votos de "uma boa hora", como acontece por aqui. Além-mar se deseja à parturiente uma hora pequenina.
Achei lindo quando ouvi pela primeira vez porque é assim mesmo que acontece, a meu ver, o parto: uma hora pequenina em muitos sentidos. O primeiro deles é no que diz respeito à duração do parto. Mesmo uma mulher que fique 24 horas em trabalho de parto vai ter uma hora pequenina porque, se compararmos a duração do processo à duração da vida de nossos filhos, a hora pequenina é, na verdade, uma hora ínfima. Além disso, uma coisa pequenina nos inspira cuidados e, geralmente, nos enche de ternura. Pensem em coisas pequeninas: bebês, filhotes, miniaturas, detalhes. Os detalhes, tão pequenos (de nós dois, ou não), geralmente são aquilo que fazem a diferença na vida, pessoas e objetos. Logo, essa hora pequenina, traz o cuidado, o amor, a delicadeza e a ternura de que precisamos, e, assim, faz toda a diferença nas nossas vidas. Por fim, uma hora pequenina também quer dizer que você deseja para aquela mulher um parto sem sofrimento (eu tive muita dor no meu parto, mas nenhum sofrimento, felizmente!) e breve. E nesses votos de brevidade está implícito o carinho de dizer que você deseja que haja alguma dor na vida dessa pessoa, mas que ela seja passageira, exista apenas para abrilhantar ainda mais os momentos de alegria e, existindo por pouco tempo, deixe que os bons momentos superem os momentos menos prazerosos.
Assim, quero desejar uma hora pequenina a todas as grávidas que passam por aqui, mas em especial a quatro delas: Thais, Paloma, Stephania e Lia. Que vocês tenham um momento sublime, completo e inesquecível!