quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Alegria de pobre

É, amiga proletária, colega assalariado, esse post é dedicado a você, que sabe o valor de um vale transporte e a imensa alegria de descobrir que a recarga do vale refeição foi feita antes de o saldo chegar ao fim.
Eu também sou assalariada. Renda digna (pago as contas no fim do mês, mas só compro roupas novas no Natal, quando entra o décimo terceiro). Não sou rica, mas tomo banho todos os dias, com xampu Seda e sabonete Dove. Você também? Então vai entender minha imensa alegria.
É que hoje, pela primeira vez na história desta gravidez, eu estava de pé no ônibus e a mocinha não grávida que estava sentada no assento preferencial me cedeu o lugar. Foi lindo! Fiquei toda boba, inclusive porque JU-RA-VA que o vestidinho soltinho que escolhi para este dia de labuta não revelava minha barriguinha. Ah, amigos, ledo engano! A mocinha simpática e educada que me cedeu o lugar percebeu que por baixo daquele tecido vaporoso (mentira, era só um vestido de algodão, modelo trapézio, sem firulas ou vaporosidades) havia uma gestação.
Saltei toda feliz no meu ponto, fiquei pensando em quanta emoção estava sentindo, até que me lembrei que feliz mesmo seria não precisar pegar ônibus, né?
Beijos que eu vou ali passar hidratante Nívea na barriguinha.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Querido Papai Noel

Acho que eu fui uma menina boazinha na maior parte do ano (se você, é claro, descontar os momentos de TPM e a loucura hormonal da gravidez). Assim, gostaria de pedir uma coisinha neste Natal.
Querido Papai Noel, eu queria muito ter um parto digno, saudável e seguro. Mas não gostaria disso só para mim, não. Um parto assim deveria um direito para todas as mulheres aqui no Brasil, mesmo as que não foram tão boazinhas ao longo do ano.
Seria ótimo se parir com respeito, dignidade e segurança fosse algo certo e comum, que mais mulheres pudessem escolher a posição em que dar à luz, que pudessem escolher com quem gostariam de partilhar este momento mágico (se com o pai da criança, com a própria mãe, se com amigos próximos, ou até mesmo em meio a uma festa familiar, como quer a Wanessa ex-Carmago), que as mulheres tivessem o direito de comer, beber e se locomover como quisessem, que elas também pudessem seguir a risca a determinação da OMS e escolhessem em que lugar se sentiriam mais seguras para seus filhos nascerem. Seria ótimo se TODAS as mulheres de baixa renda tivessem um tratamento carinhoso e respeitoso nos locais onde vão para dar à luz, que elas fossem respeitadas em seus gritos, urros, gemidos e dores, que seus medos e apreensões fossem levados a sério e que pudessem escolher um parto normal porque este é mais seguro e mais saudável, e não fossem alijadas de seu direito a uma cesárea (caso ela se mostre necessária) porque parto via vaginal é mais barato. Sabe, Papai Noel, isso tiraria aquele ar de glamour com que a cesárea tem sido vista, porque se as redes pública e privada de saúde brasileira oferecessem partos normais dignos, não seria necessário lançar mão de um recurso radical como uma cirurgia de médio porte para que as mulheres se sentissem mulheres de verdade, sem aquele papinho de "na hora de fazer foi gostoso, agora aguenta" e outras (muitas) formas de violência contra as mulheres no momento mais importante, transformador e delicado de suas vidas. Afinal, quando o parto normal passa a ser anormal porque cercado de mitos, preconceitos, limitações (não pode ficar de quatro, não pode beber nada etc.), falta de respeito e de sensibilidade, realmente fica complicado criar uma política de saúde eficaz para o problema do excesso desmedido de cesarianas no país.
Muito obrigada,
Ártemis

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Das coisas que ficam

Eu ainda estou enjoando. São dez semanas de náuseas diárias e constantes, e não há gelo, água com gás, suco de limão, suco de laranja, frutas cítricas, beliscadas de hora em hora (eu já comia de 3 em 3 horas), bolachinha de água e sal e reza braba que deem jeito. Nem remédios funcionam muito bem, exceto por um (mas é que ele me dopa e, por isso, não sinto enjoo), que me deixa mongol e, portanto, é caso de emergências emergenciais urgentes.
Minha barriguinha já se nota. Mui discretamente (prometo fotos, junto com a tal do elástico na calça jeans), mas hoje foi a primeira vez que uma pessoa completamente desconhecida me perguntou assim, na lata: você está grávida? (Corajosa a pessoa, não? Imaginem se eu não estivesse grávida...) Fiquei toda boba, claro. E até demorei para entender que ela falava comigo. Acho que passei tanto tempo fingindo que papos sobre gravidez e bebês não eram comigo que ainda vai demorar um pouco para responder rapidamente (quem respondeu a essa pergunta foi uma colega de trabalho, que estava comigo na hora e não está desmiolada como eu - aliás, tenho certeza de que estou passando TODOS os meus neurônios para esse bebê! Como estou lenta e tapada, minha gente!).
Embora o auge dos desejos tenham se manifestado lá pela nona semana, de vez em nunca ainda sinto verdadeira obsessão pela coisa mais inusitada: cerveja de trigo. Quem me conhece sabe que eu não sou de beber cerveja (embora a de trigo sempre tenha mexido com meu coração). Mas não sei o que os hormônios fizeram comigo que eu não posso ver um copo de cerveja, principalmente se for de trigo, que eu fico LOUCA. Óbvio que eu fiquei só na vontade e, quando a intimidade permitia, pedia para dar uma cheiradinha no copo da pessoa que estivesse bebendo cerveja perto de mim. Marido é que adorou. Durante uma semana eu danei de comprar cervejas importadas que ele achava que eram para ele. Tolinho! Mal sabia que tamanha generosidade travestia um egoísmo sem precedentes, e eu comprava as garrafas só para que eu pudesse apreciar o aroma daquele líquido divinamente dourado. Outra obsessão dessa gravidez é milho: cereais matinais, salgadinhos gordurentos, milho cozido com ou sem manteiga, pipoca, creme de milho, qualquer modalidade está valendo! Imagino que essa criança nascerá amarelinha, porque cerveja e milho, né?
Então, é isso que fica: a família que estou construindo (e gerando), a certeza de que Natal não é só correria de presentes, amigos-ocultos burocráticos ou confraternizações loucas (no bom ou no mau sentido da palavra "louca"), mas sim um momento de refletirmos sobre os significados dos nossos gestos e nos prepararmos para tentarmos ser pessoas melhores para o mundo.
Não volto antes do Natal e, por isso, desejo a todos os que passam por aqui (comentando ou não) um dia especial, cheio de amor, paz, família, milho e cerveja de trigo. Que o Natal faça renascer em vocês a esperança e a alegria de que nos valemos para viver o ano novo.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Das coisas que passam

Então que tudo o que eu mais queria era ficar em casa, de pernas para o ar, bebendo toda a água do mundo (e tomando toda a cerveja de trigo do mundo, mas falo sobre isso amanhã), curtindo a mini barriga e curtindo absolutamente nada dos enjoos diários e constantes que venho sentindo.
Mas eu sou proletária, minha gente.
Sou proletária e a renda familiar depende de mim. Assim, tive mesmo foi que ir para a labuta e labutar bem bonitinho, todos os dias (ou quase), engolindo gracinhas (que pararam depois que eu dei um mini chilique de grávida descompensada e chorei e tudo) e cumprindo prazos, metas e burocracias. Tudo com um sorriso no rosto e minhas calças alargadas no glamour do elástico (depois tiro foto e mostro para vocês).
Daí pensava, em meio a enjoos fenomenais e tensões pré-translucência nucal (um capítulo a parte, diga-se de passagem, o qual não me furtarei de contar), que meu blogue ficou sozinho e abandonado, que minha vida blogosférica foi deixada de lado porque eu precisava entregar dois trabalhos importantíssimos, e mudou chefia, e chegou dezembro, e eu não comprei um presentinho sequer ainda, e marido viajou me deixando com a alegria de ser buchuda em um shopping lotado do Rio justo na semana em que São Pedro lembrou que já era quase verão e ligou o maçarico. Resultado? Tanta coisa para contar, que minha primeira meta de 2012 é conseguir colocar o assunto em dia e voltar a comentar (porque eu sempre visito, mesmo que não comente) a vizinhança, levando um panetone e desejos de muitos babies saudáveis no ano que vai começar.
Então, para tentar dar conta de tudo, começo com as coisas que passam.
E não estou falando daquele Black & Decker super velho que sua mãe insiste que é melhor que "essas porcarias de plástico e que soltam vapor", não.
Me refiro a esse barata-voa que reina em todos os lares na semana que antecede o Natal (querida leitora, se você encomendou seu baby há nove meses - ou derivados, tipo, 1 ano e 9 meses, 2 anos e 9 meses etc. -, receba meu afetuoso abraço solidário, porque você deve estar enlouquecida ao cubo!). Também faço menção honrosa ao fim de ano nas empresas, com almoços, confraternizações, brindes, metas e novas perspectivas para os 12 meses que virão. Eu me livrei do amigo-oculto corporativo, mas também mando aquele abraço maroto para você, amigo, amiga, que se lascou ao tirar o chefe ou aquele cara meio estranho do RH e agora vai lançar mão de todos os clichês natalinos, da gravata à agenda, do par de meias à camiseta polo. É difícil. Eu sei. Mas essas coisas passam.
O que fica, e o que realmente vale a pena ficar para 2012, é assunto para amanhã.

domingo, 18 de dezembro de 2011

As coisas que passam e as coisas que ficam

O bom da vida é o devir. Cada novo dia é sempre igual porque permite que tudo, qualquer coisa, aconteça. E com isso, a probabilidade de as coisas permanecerem, é quase nula.
Ainda bem!
Aquele ódio mortal passou. As pessoas continuam sem-noção e fazendo perguntas absurdas e comentários loucos. Mas agora eu lido melhor com a raiva que isso me provoca. Sei lá por quê. Coisas que passam.
Enfim, nesse meio tempo avancei na gravidez e superei o terrível primeiro tri, contei para as pessoas todas que estou grávida (sim, eu mantive segredo até contemplar os primeiros três meses) e fiquei MEGA doente. Uma gripe daquelas. Tô chumbada, toda trabalhada no soro fisiológico e no antitérmico para conseguir ficar sentada. Uma lástima! Porque além do super mal-estar da gripe, ainda continuo com muitos enjoos e com um cansaço faraônico (coisas que ficam).
Mas, o que realmente importa é que está chegando o Natal, uma das melhores épocas do ano, e vem aí 2012. E com 2012, vocês sabem, chegará o meu tão sonhado e amado bebê!

sábado, 3 de dezembro de 2011

Muito ódio no miocárdio

Estou passando por um momento de muito ódio no coração. As pessoas são más, crueis e despejam nas outras frustrações que não ousam confessar a si mesmas.
Estou muito chateada com algumas colegas de trabalho, muito chateada com uma "amiga" do marido e com todas as pessoas que desejam coisas ruins para mim e meu bebê.
Por isso, ando sumida, porque tudo o que escrevo sai com rancor, pessimismo e muita raiva. E não queria macular este espaço com palavras tão negativas. (Mas registro o momento porque ele faz parte da minha vida.)
Vou ali respirar fundo e fazer uns adho mukha.
Namastê!

sábado, 26 de novembro de 2011

Uma história natalina

Ontem nasceu meu primo. Lindo. Saudável. Enorme (quase 4kg e 50 cm).
Eu já volto para falar dele e da alegria que senti. Mas hoje, em homenagem à perfeição do nascimento de uma criança, venho contar uma historinha de natalina (de nascimento) que, assim espero, deverá inspirar a todas as tentantes que me acompanham.

Eu tenho uma prima médica. Ultrassonografista. Mas ela mora longe e quase não nos encontramos, o que é realmente uma pena, já que ela é super legal e carinhosa. Então que no nascimento do meu priminho lindo ela estava lá, para prestigiar o irmão (que é o pai da criança). Conversa vai, conversa vem, ela me contou que na semana passada esteve em seu consultório uma moça com o marido. Era o primeiro exame de ultrassom e a paciente estava tão nervosa que não abriu os olhos e ficou perguntando repetidas vezes: o bebê está dentro do útero?
Minha prima, médica experiente, achou estranho e disse que o normal e o que se espera em um exame desse tipo é que o bebê esteja dentro do útero, já que uma gravidez tubária é algo raro, e que devemos sempre pensar e esperar pelo melhor. E avisou: o bebê está dentro do útero, claro.
A moça começou a gritar de alegria, "está no útero! Está no útero!". E só se acalmou muito tempo depois. Mas não o suficiente para explicar o que estava acontecendo, e então o marido tomou a palavra.
Ele contou que eles tentavam engravidar há mais de 15 anos, que fizeram todos os exames possíveis e descobriram que ela tinha obstrução total das DUAS tubas. Assim, juntaram dinheiro e partiram para a fertilização in vitro, que não deu certo. Cansados, abatidos, desiludidos e sem dinheiro, desistiram do projeto filhos, afinal ela já estava com 37 anos. Então, ela decidiu se cuidar: começou a fazer ginástica e resolveu investir na parte estética com uma dermatologista. Recebeu a indicação de um remédio que só pode ser tomado mediante um rigoroso controle médico: exames de sangue que excluam gravidez, que mostrem taxas de colesterol etc. Ela argumentou com a tal dermatologista que era estéril e que não precisava fazer o teste de gravidez, mas a médica foi taxativa e não abriu mão.
Sorte.
Ela estava grávida. Engravidara espontaneamente, com obstrução total das duas tubas e o diagnóstico de esterilidade aos 37 anos.

Tentantes queridas: levem essa história linda para esse 2012 que vai começar daqui a pouco. Não desistam de sonhar, de manter viva a única coisa que as pessoas não podem tirar de vocês: a esperança! Médicos, diagnósticos, exames e remédios falham. Confiem em vocês.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

A gente não está com a bunda exposta na janela

Olha, a bunda pode até não estar exposta e disponível para passadas de mão, mas a barriga...
Eu mal tenho barriga, eu contei para meia dúzia de gatos pingados sobre a minha gravidez, eu não uso roupas de grávidas (elas não cabem em mim, lembram?), mas ainda assim, já tomei apalpadelas e afagos na barriga de meio mundo!
E nesse fim de semana aconteceu o episódio mais inusitado de toda a minha vida de mulher em estado interessante: contei para duas amigas sobre a gravidez e começamos a conversar sobre o assunto. Conversa vai, conversa vem, eu informei que agora sou a feliz proprietária de sutiãs tamanho 44. De repente, não mais que de repente, levei uma mãozada nos peitos. Isso mesmo: nas peitolas! Fiquei sem ação e, passado o choque, ri, é claro.
Mas agora, no silêncio da alcova, partilhando esses detalhes sórdidos da minha gestação com vocês me pergunto: se no primeiro trimestre já levei mão na barriga e nos peitos, onde eu compro um carro de som para poder colocar a música do Gonzaguinha tocando bem alto ao meu redor?

domingo, 20 de novembro de 2011

O glamour da sílfide

Não me critiquem. Antes que me atirem arrobas na cabeça e exclamações no olho, vou avisar: só quem é bem miudinha, como eu, sabe o quanto dói uma saudade. Porque 99,9% das pessoas viram para mim e exclamam, entre ares de admiração e inveja que "bom mesmo é ser assim, pequenininha, porque todas as roupas ficam bem em você".
Não é assim. Aliás, não é nada assim.
Quem foi uma criança ou adolescente na década de 80 e usou calça baggy (e hoje morre de vergonha das fotos), sabe do que estou falando. É que vestir 32/34 é achar que todas as lojas do mundo pararam nos anos 80 e ainda oferecem calças baggy. Ou pior: que seu corpitcho curtiu tanto os anos 80 que hoje em dia só consegue reproduzir nas calças skinny a aparência cafona das calças baggy.
Então, que eu engravidei. E minha barriga deu uma estufadinha (não tenho barriga ainda, mas a cintura já não é mais a mesma, sabem como é?). Mas a minha bunda e as minhas coxas, não. Aí vem a querida leitora amiga, que veste os normais 38/40 falar: "sorte a sua, porque estou grávida de 5 semanas e já engordei doze quilos, todos na bunda e nas coxas..", ao que eu respondo: "cara amiga leitora, não sei porque (ou melhor, sei, sim, mas tô com preguiça de explicar) as lojas acham que grávidas podem vestir 52, mas nunca, jamais, em hipótese alguma elas vestirão 34. Para cima, existem tamanhos, mas para baixo, não. Mulheres pequenas, mignons, não engravidam e não dão à luz".
E continuando minha ladainha, passei quase 30 anos para aprender onde comprar minhas calças modernas, nada de baggy, semi-baggy ou boyfriend. E agora, em poucas semanas, encaro a triste realidade: grávidas baixinhas, magrinhas e pequenininhas não têm roupas adequadas.
Sofrendo com os botões apertando meu baby (e entre o baby e o botão está minha barriga, lembram?), fui às compras hoje. Entrei em quatro lojas diferentes, duas delas especializadas em moda gestante, e sabem com o que eu saí? Com o palpite de que terei uma menina. Tudo o que experimentei ficou ENORME nas pernas, braços e bunda, e, aparentemente, OK na barriga e no peito.
Diante disso, pergunto: alguém conhece uma loja com roupas de gestante que venda algo no tamanho 34 (e gente, P não cabe também, viu?)?

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Altas confusões e aventuras

Pois é minha gente. A coisa aqui por essas bandas anda meio Sessão da Tarde. Digo isso não só pelas altas confusões e aventuras que resolvemos aprontar nesse feriadão, mas também porque, ainda bem!, tudo terminou relativamente bem, com risadas e aquela sensação de que já está na hora do lanchinho (até porque agora é sempre hora do lanchinho).
Tudo começou com nossos planos de viagem. Saca aquele filme "Férias frustradas de verão"? Poderia ser o título do post (mas achei mais impactante logo chamar atenção para as altas aventuras). Tudo porque nosso carro quebrou NO MEIO DE UMA PISTA DE ALTA VELOCIDADE. Mas ele não quebrou apenas: ele ficou sem uma das rodas, que saiu literalmente voando, atravessou duas muretas de segurança e parou no acostamento da pista contrária. Horror dos horrores! Resultado: mais de meia hora esperando o guincho, cada minuto passado dentro do carro, torcendo para que o carro não fosse acertado por um dos veículos que nos ultrapassavam em alta velocidade (e tirando uns fininhos que eu nem sei como ainda temos retrovisor).
Fomos rebocados, recolocamos a roda e voltamos para casa.
Vocês desistiriam de viajar? Porque nós aqui, brasileiros que somos, pedimos um carro emprestado, empacotamos tudo e seguimos com todas as rodas bem presas.
Ao chegar ao nosso destino, surpresa: sem internet e sem televisão. Tudo bem, pensamos, basta telefonarmos para os serviços de atendimento ao cliente e solicitarmos as visitas técnicas para termos tudo funcionando em 24h. Comprei umas palavras-cruzadas e passei o primeiro dia sob o efeito do combo progesterona + remédio para enjoo. Que beleza!
No dia seguinte, nada de os técnicos aparecerem, e assim foi até o fim do dia. Ligamos para as empresas, nos aborrecemos com a falta de profissionalismo, mas tentamos lidar com a situação da melhor maneira possível. No dia seguinte, já acostumados à falta de televisão e de internet, aproveitamos bem o dia até que... PUF! Acabou a luz. E assim ficou até irmos embora. Mais de 24h sem luz, sem geladeira, sem água fresca, sem computador, sem banho quente.
Moral da história: se sua roda sair na viagem de ida, dê meia-volta e fique em casa, porque é um aviso dos céus de que o feriadão vai ter altas confusões e aventuras.

E vocês? Muitas emoções?

sábado, 12 de novembro de 2011

Meus quinze minutos de fama

Que baita susto eu levei hoje!
É que a Carol me citou na página dela e minhas visitas, que normalmente são modestas, porém fieis (thanks!), se multiplicaram!
Veio gente de tudo quanto é canto do mundo e de repente me senti um fenômeno global, mundial, sensação da blogosfera... e aí eu acordei. Mas antes de acordar, sonhei que fazia uma ultra e encontrava nada mais, nada menos que DEZ fetos no meu útero! Cruzes!!!
Daí, claro que precisava vir aqui contar essa maluquice, e também (assustar todos os novos leitores) agradecer à Carol, aos meus leitores e dizer a quem chegou por agora que eu espero que gostem dessa selvageria (ui!) louca, porque, amiguinhos, do jeito que meus sonhos de grávida andam pirados, teremos ainda muitas emoções.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Positivo (parte II)

Era uma quarta-feira de setembro. Dia de consulta com a médica Iemanjá.
Saí do trabalho rumo ao laboratório (para buscar a ultra) e de lá iria para o consultório quando me dei conta de que minha carteira ficara em casa. Carteirinha do plano, identidade, tudo. Ou melhor: nada. Nada ali comigo. Liguei para o marido, pedi ajuda (santo homem!) e fui tentar, na cara de pau, buscar a ultra sem identidade. Consegui, mas marido não: o carro morreu na contra-mão atrapalhando o tráfego da esquina de nossa casa. Resultado: fui encontrá-lo, demorei um tempão para chegar ao consultório, o que fiz esbaforida e num franco ataque de falta de ar.
A recepcionista já havia ido embora e a médica quase se apiedou de mim. Cheguei apenas cinco minutos atrasada. Mais uma vez fui atendida com calma e paciência, mas, se eu já estava decidida a tentar uma outra opinião sobre meus OP (na semana anterior eu havia marcado uma endócrino), o fato de ela dizer que se enganou sobre a "atualidade" dos meus exames de sangue e me pedir duzentas dosagens hormonais me fez ter certeza de que eu não gostaria de continuar a me consultar com ela.
Não foi o fato de ela me pedir os exames. O que me deixou cabreira foi ter me sentido insegura quando ela fez isso: numa consulta os exames estão válidos, na outra, duas semanas depois, eles estão velhos demais? Isso e eu ter perguntado novamente sobre as minhas alternativas, sem ser beber água, claro, para meus OP. Ao que ela respondeu: por enquanto, água. Mais tarde, se você quiser, uma terapia de acesso ao inconsciente e blá-blá-blá. Não confiei mais.
Ela anotou todos os exames na guia e, aproveitando que minha cara de pau estava mode on, pedi um beta. Expliquei que sentia os seios doloridos e coliquinhas havia alguns dias. Ela riu, disse que a chamavam de cegonha, e anotou bem bonito: BHCG.
Eu ri.
E saí correndo para o laboratório, que colhia sangue até 19h, e já eram 18h50. Cheguei e perguntei se eu poderia fazer somente o beta naquele dia, porque os demais exames precisavam de jejum de 10h e eu, obviamente, não cumpria essa exigência às 19h. A mocinha explicou que tudo bem, que eu poderia fazer os outros exames outro dia, anotou isso na minha ficha e me mandou para a coleta.
Eu estava nervosíssima. Não sei por quê. Não era medo, não tinha grandes expectativas, não era um exame desconhecido. Mas o fato era que eu estava nervosa a rodo.
Mas respirei fundo, contei minha história para a enfermeira (é que quando eu fico nervosa, abro meu coraçãozinho e quero que todos me deem a mão) e me deixei furar.
Voltei para casa, contei para o marido sobre meu dia e avisei: a mocinha do laboratório disse que por volta de meia-noite deve ter o resultado. Vocês dormiriam cedo? Pois é, eu também não dormi. E a meia-noite, lá estava o resultado: indeterminado.
Quando eu abri o exame fiz um barulho de susto, e marido riu, achando que eu estava pregando uma peça nele. Quando ele viu meu olhar assustado e percebeu que eu comecei a tremer, logo entendeu e foi ver os valores de referência do laboratório. Eu já sabia de cor, por isso o susto foi imediato. Ele não. Talvez por isso tenha tido tempo de processar tudo de maneira mais racional e deu a boa ideia: Ártemis, desce, compra dois testes na farmácia e faz um hoje e outro amanhã de manhã.
Era bem tarde, mas eu desci na mesma hora. Comprei os testes e ácido fólico. Por via das dúvidas, tomei logo um comprimido e danei a beber água. É que, nervosa, não tinha a menor vontade de fazer xixi. Bebi quase toda a água da casa e fiz xixi no palitinho. A listrinha era tão discreta que marido nem a viu. Eu acendi a luz mais potente da casa e lá estava ela: clarinha, tímida, mas inegavelmente existente.
Respirei fundo, tentei colocar a cabeça no lugar e decidi: no dia seguinte iria à consulta com a endócrino (que eu já havia marcado antes do retorno na médica Iemanjá) e contaria minha história para que ela decidisse se e como me atenderia.
Acordei cedinho e, claro, fui fazer o segundo teste que eu comprara na noite anterior. Xixi no palitinho e: duas listrinhas. A segunda ainda clarinha, mas definitivamente visível. Tanto que marido nem precisou de legenda.
Me despenquei para o consultório e já lá dentro fui perguntada: por que você me procura?
Eu ri. Estava meio nervosa porque não tinha pensado muito bem em como começar o papo e acabei falando que eu marquei a consulta por um motivo, mas que algo havia mudado e agora ela me ajudaria de outra maneira, achava eu. Contei do meu histórico de OP, da médica do botox que me passou indutores, da médica Iemanjá que me mandou beber água, da ultra, do médico catador de milho que disse que eu não ovulara naquele mês, do exame indeterminado e dos testes de urina positivos. Ela me olhou e disse: vou passar um novo beta para você fazer daqui a dois dias. Se der negativo, você volta aqui que vamos pensar em um tratamento mais que água e menos que indutores. Se der positivo, aí não é mais comigo e você pode procurar um obstetra.
Fui para o trabalho com a bolsa pesando vinte toneladas: novo BHCG.
Aproveitando minha peregrinação médica, consegui um encaixe na minha dermatologista, já pensando em orientações anti-estrias. Ela viu meu exame indeterminado, me olhou muito seriamente e disse que o valor estava baixo demais, que eu deveria repetir o exame porque é muito comum que as primigestas perdessem o primeiro filho, que aconteceu com ela e que ela só me consideraria grávida quando eu fizesse a ultra e escutasse o coraçãozinho do feto.
Saí arrasada. Mas lembro que pensei: que bom que essa médica é minha dermatologista, e não minha obstetra. E me lembrei do que a minha ex-médica, a do botox, havia me dito quando que ainda era sua paciente: as grávidas precisam filtrar tudo que lhes dizem porque alguém sempre tem uma história escabrosa para apavorá-la.
Achei que a médica foi sem tato, mas não fez por mal. Respirei fundo e pensei que não havia absolutamente nada que eu pudesse fazer para controlar qualquer tipo de coisa naquele momento. Assim, decidi viver minha vida, um dia de cada vez, e esperar pelo dia do novo exame.

Os dias se arrastaram, mas finalmente chegou o dia 1­° de outubro, um sábado, três dias depois do primeiro beta. Aproveitei que seria furada e fui fazer os outros exames que a médica Iemanjá me pedira.
Acordei supercedo (quem me conhece sabe o quanto isso é digno de nota), respirei fundo e fui para o laboratório. A mocinha foi simpaticíssima e me avisou que no meio da tarde, por volta das 16h30 ou 17h eu já teria o resultado do beta. Me desejou sorte, tudo de bom e uma boa gestação. Achei fofo e ri.
Voltei para casa, arrumei minhas coisas e fui com marido para a região serrana do Rio. A casa em que me casei, pensava, é um excelente lugar para receber a notícia da minha gravidez.
Às 16h41, na casa em que me casei, abri o resultado do exame: positivo. Marido já estava escolado nos valores de referência e nem precisou que eu me assustasse ou tremesse. Eu estava grávida! Sem dúvidas!
Gostaria de contar aqui, sobretudo para fins dramáticos, que nos abraçamos e nos beijamos chorando copiosamente, mas a verdade é que ficamos tão atônitos que tudo o que conseguimos fazer foi rir um para o outro.

Positivo (parte I)

Era manhã de setembro. Dia 21, para ser exata. Na hora do almoço dei uma corridinha no laboratório porque havia uma ultra marcada. Essa ultra fora o único exame que a médica Iemanjá me pedira porque, segundo ela, os de sangue que eu havia feito uns meses antes ainda estavam atuais o suficiente. Confesso que achei bom. Já me acostumei, porque tendo OP desde que me entendo por mulher, fiz muitos exames de sangue. Mas convenhamos: não é nada legal ficar tomando agulhada. Então, o que é uma sala gelada e um exame que não dói se comparado aos hemogramas? Alívio.
Naquele dia eu tinha esperança. Mas eu sempre carrego minha dose de positividade, então não posso dizer que houve uma pista, um indício claro ou um evento marcante. Era só minha velha e incansável esperança. Essa mesma que vocês todos conhecem: a expectativa de que as coisas deem certo mesmo quando não há muito que indique isso. E ela foi minha companheira na sala de espera.
Laboratório cheio, não fui atendida na hora marcada. Nem liguei. Estava ansiosa, esperançosa e o médico, apesar de ligeiramente irritante, coitado!, era simpático. Antes do exame avisei que meu último ciclo se fechara em maio, que eu tinha esperanças de estar grávida, mas que sabia que tinha OP e que tudo poderia não passar de uma brincadeirinha hormonal sem graça do meu organismo.
Ele me examinou, mediu tudo o que tinha de medir e setenciou: você não está grávida e nem sequer ovulou esse mês. Se minha vida tivesse trilha sonora, eu ouviria aquele "quém-quém-quém" de desenho animado. Foi tipo a bigorna caindo no Coyote enquanto o Ligeirinho fazia seu "bip-bip" são e salvo. Na hora, pensei que o Coyote fosse eu e o Papaléguas meus OP. Mas depois descobri que não era bem assim...
Voltei arrasada, me arrastando com meu óvulo que não fora liberado e, para solapar de vez minha esperança e meu bom-humor, levei uma cusparada no casaco.

Mas, como diria minha avó, nada como um dia após o outro.
Joguei fora o casaco (já estava velhinho e fiquei tendo nojinhos incontroláveis da sacolinha plástica onde o havia colocado, quando ainda tinha esperança de mandá-lo lavar na lavanderia), acordei para ir trabalhar e... senti de novo o gostinho de metal na boca. No dia da ultra eu já tinha acordado com um sabor diferente na boca, como se eu tivesse bebido um copo d'água em que, sem querer, tivesse caído um prego enferrujado dentro. Não era nada muito intenso. Mas achei curioso. Lembrei que a única coisa que minha mãe sentira quando estava grávida de mim fora justamente um gostinho de metal na boca. Claro que achei que estava sugestionada e segui adiante. Trabalhei. As pessoas me olhavam na rua. Achei glamour. Achei luxo e poder. Mas nem dei muita pelota. Achei que fosse minha roupa colorida e segui minha vida.
De noite, como sempre, fui ao pilates. Havia comentado na aula anterior que eu achava que poderia estar grávida. A mulherada que faz aulas comigo ficou em polvorosa e quando cheguei essa foi a primeira pergunta: e aí?
Meu muxoxo denunciou a negativa. O jeito era descontar a frustração nos exercícios. E assim foi.
Chegou o fim de semana. Chegou uma nova semana. Chegou o dia da consulta com a médica Iemanjá. Uma quarta-feira.

Quer saber o que aconteceu?
No próximo post...

Hello, is there anybody in there?*

Ai, meu deus. Será que depois do meu sumiço colossal alguém ainda me ama, alguém ainda me quer?
Se acaso me quiserem, além de ser dessas mulheres que dizem sim por um sonho de valsa, aguentem só mais um tiquinho que eu já, já volto.

*Trecho da música "Confortable numb", Pink Floyd.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Só para atualizar

Meninas, muito obrigada pelo carinho, pelas mensagens carinhosas e por partilharem comigo a felicidade do positivo!
Ando meio enrolada no trabalho e por isso estou devendo um relato minucioso das coisas, mas em breve virei contar tudinho.

Só para tirar as teias de aranha venho aqui contar que hoje tive meu primeiro sonho, grávida, com o meu bebê. Sonhei que fazia uma ultra e era um menino.
Será?

PS: Leila, não recebi seu e-mail, não. Manda de novo: vida.selvagem@yahoo.com.br

domingo, 2 de outubro de 2011

Todos os olhos sobre mim

"Há mais coisas entre o céu e a terra, Horácio, do que sonha a nossa vã filosofia." - W. Shakespeare

Ah, Shakespeare! Tantos séculos depois e você ainda embala sonhos, angústias, descreve sentimentos e mantém a literatura viva e pulsante em uma sociedade imagética e consumista.

E o post de hoje é shakepeariano porque tocante, intenso, memorial e pulsante.



O fato é que eu danei de filosofar, e me angustiar, e quase enlouqueci, como o rei dinamarquês do poeta inglês, mas nem todo esse barulho foi capaz de alcançar a proporção que deveria. Eu devia ter gritado mais alto, ter arrebatadamente escrito frases e posts sem pé nem cabeça. Mas não, e o motivo disso, acho eu, é só porque as pequenas coisas da vida são, na verdade, as mais importantes - e, muitas vezes, são curtidas com discrição.

Eu acordei, como nos outros dias. Tudo igual: céu azul de primavera, aquela covardia preguiçosa de sair da cama, o mesmo caminhar de todos os dias. Casa, rua, ponto de ônibus, ônibus, rua, trabalho. Mas no caminho, sentia todos os olhos sobre mim.

Não sou linda, mas tenho meus dias em que atraio olhares, e esse era um desses. Fui, trabalhei, almocei, trabalhei, e fui à consulta da médica Iemanjá. Mostrei a ultra, contei do óvulo que ficou no folículo e recebi uma lista considerável de exames de sangue a serem feitos. Pedi, meio constrangida, um beta ali no meio.

- A gente não deixa de ter esperança, não é mesmo - ri amarelo.

E ela anotou: BHCG.
E eu ri. E saí correndo do consultório, pensando que era mais um dia de outono e, embora todos os olhos estivessem sobre mim naquele dia, tudo estava como deveria ser.

O beta seria a confirmação que eu aguardava para iniciar um fitoterápico, pois eu queria ovular. Apenas ovular no mês seguinte já me deixaria aliviada. E assim, em meio a olhares, fui.

A agulhada não doeu: a enfermeira era simpática e conversou comigo, até animada, se considerarmos que era uma quarta-feira à noite. Eu seria, muito provavelmente, a última a colher sangue naquele dia, e fim de expediente é sempre uma alegria. Ela, então, me garantiu que se eu fosse dormir tarde, já teria o resultado do beta naquele mesmo dia.

Eu ri.

Cheguei em casa e fui recebida com um elogioso olhar do marido: linda! Eu acordara assim, e gostei de receber esse carinho do homem (lindo) que eu amo. As horas se passaram ansiosas, mas novamente isso não era qualquer novidade. E por volta das 23h, abri o exame.

INDETERMINADO.

Eu ri. Marido riu. Eu tremia e foi ele que teve a ideia: passa na farmácia e compra um teste. Corri, no meio da noite, quase já dia seguinte, para comprar dois testes e ácido fólico. Comprei, bebi toda a água que tinha em casa, fiz xixi.

Duas listrinhas. Meu deus!!! Duas listrinhas, um beta indeterminado e todos os olhos sobre mim.

Eu ri. E fui dormir.

No dia seguinte, de manhãzinha, tinha endócrino, marcada na tentativa de encontrar uma solução para meus ovários policísticos. No consultório, eu ri. É que ela perguntou por que eu estava ali, ao que respondi:

- Eu marquei por um motivo, mas estou aqui, afinal, por outro.

E ela me deu outro beta.

Eu, justo eu, que durmo de madrugada, e acordo todos os sábados depois da hora do almoço, madruguei no laboratório. Me furei, conversei com a enfermeira (outra, mas igualmente simpática), e aproveitei para fazer todos os outros exames que a médica Iemanjá pedira. No meio da tarde, às 16h41 eu e marido abrimos o resultado.

GRÁVIDA.

Eu ri. Ele riu. E eu me lembrei de que tive todos os olhos sobre mim. E eu ri mais e com mais gosto, como quando a gente tem um segredo, daqueles bem grandes e maravilhosos, que nos deixam felizes e bonitas, mas que, por ser segredo, ninguém desconfia. Eu estava grávida, todos os olhos estavam sobre mim, mas ninguém sonhava, em suas vãs filosofias, que meu grande mistério, enfim, pulsa intenso, porém ainda quietinho, dentro de mim.

PS: Vocês perdoam meu sumiço, né?

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Drama queen, mas quem não seria?

Ai, gente, vocês desculpam o último post? Tem um Wando dentro de mim, que aflora quando eu sofro. Daí escrevo aqueles textos malucos, cheios de rococós e metáforas pieguinhas. Drama queen. Credo! Meu superego, que edita minhas postagens normais, tem tremeliques nervosos quando releio aquele melodrama barato, mas deixo ali porque, gostando eu (e vocês) ou não, faz parte do processo, faz parte de mim (e eu nunca prometi textos refinados e espetaculres, né? Pode ler aqui do lado, ó ---> só prometi loucurinhas hormonais - e venho cumprindo, tá?).

Dito isto, vou contar direitinho o que houve.

A médica Iemanjá, além de me receitar água, passou uma ultrassonografia para fazer. Saí do consultório, marquei o exame (minha gente, um parêntese: as pessoas andam muito emprenhadeiras, porque era um tal de "senhora, só temos vaga para final de outubro", que francamente! Haja grávida para ultrassonografar!) e fiquei quietinha, esperando para ver a linda formação "colar de pérolas" dos meus ovários. Os dias foram passando e meu corpo parecia se modificar: coliquinhas, mamas sensíveis, pontadinhas no abdômen e até mesmo um gostinho diferente na boca. Eu juro que tentei não me apegar, tentei dar uma de blasé.

Aham. Vai ser blasé querendo engravidar, vai.

Óbvio que eu pensei: TPM ou gravidez? Gravidez ou TPM? E decidi poupar meu rico dinheirinho e aproveitar a ultra para ver se surgia alguma resposta às minhas dúvidas existenciais. Deitei naquela sala gelada, no escurinho (perguntei a mim mesma onde estaria o cobertor para dar aquela cochilada maravilhosa) e veio o médico. Gente, eu sou chegada num médico humanizado. Aliás, eu sou chegada em profissionais humanizados. Mas acho que há uma grande confusão com o conceito, e as pessoas confundem humanização com intimidade. E esse médico que fez minha ultra era um dos confusos. Melhor: ele era uma mistura daquelas pessoas que querem puxar papo no ponto de ônibus com nossos avós tentando mexer no Facebook: lento, catador de milho no teclado e melhor amigo instantâneo. Sabem como é? E, amigo, quando se tem uma mulher, que não sabe se está grávida ou prestes a menstruar, deitada pelada, numa sala gelada e escura e sem a menor possibilidade de você fazer sexo com essa mulher, é melhor não ser lento, catador de milho no teclado ou melhor amigo instantâneo.

Mas o médico não sabia disso. E ele, coitado, foi paciente (e eu também! As máquinas daquela sala são testemunhas!), me explicou onde estava meu útero, meu endométrio e onde deveria estar o saco gestacional. (Amigo, pensei, você pode me dizer que está enxergando o santo sudário aí dentro que eu vou acreditar; para mim são borrões monocromáticos, e nada mais.) Até esse momento do exame eu estava tranquila e verdadeiramente interessada naquele método de ultrassonografia para dummies, afinal a qualquer momento eu poderia ver o que viria ser meu filhote. Mas ele fez uma pausa na movimentação do transdutor, concentrou-se na imagem e falou:

- Está vendo esse pontinho branco?
Ao que eu respondi, ansiosa:
- Sim. (Claro que eu só via um borrão cinzento.)
E ele:
- Se você estivesse grávida, seria aí que encontraríamos o saco gestacional.

Gente, sofri. Eu não alimentava muitas esperanças, mas ainda sobrava alguma expectativa de que eu estivesse grávida. A gente sempre tem esperança, não é mesmo? E aí, aquele médico paciente, metódico e atencioso que iria ver meu saco gestacional e mostrar e explicar cada pedacinho do meu filhote wannabe se transformou em um médico prolixo, lento e perguntador demais que passou a torrar o meu saco nada gestacional e a mostrar e explicar detalhadamente toda a minha anatomia falha:

- Está vendo esse pontinho aqui? Isso é um cisto no seu ovário. E aquele ponto maior ali? É um folículo. Ih, mas olha só, você produziu o óvulo e ele não saiu do folículo...

Oi, moço, queria dizer que eu não posso parir, dar de mamar, apertar e amar um cisto ou um folículo. A gente pode agilizar o processo que eu preciso ir ali no banheiro dar uma choradinha antes de voltar para o trabalho? (Isso eu só pensei, claro.)

E ele continuou ali, explicando, catando milho para escrever C-O-L-O--D-O--Ú-T-E-R-O e outros nomes anatômicos em cima de uma massaroca de cinzas. Enquanto isso, eu só queria terminar tudo, limpar aquele gel nojentinho e ir lamber minhas feridas quietinha - sim, quietinha, porque quase ninguém sabe que estou tentando engravidar.

Bom, para finalizar o meu dia ma-ra-vi-lho-so, à noite, voltando para casa exaurida pelo trabalho e pela desilusão do exame, recebo uma linda cusparada no casaco. É isso mesmo, querido(a) leitor(a), você não leu errado: uma CUSPARADA. Ostra. Escarro. Cuspida. Salivada. No casaco!!! (menos mal, eu acho.) O porcalhão estava no ponto, não me viu passar, virou-se para o lado e: SLAPT. No meu casaco.

Agora, querido(a) leitor(a), me responda: se seu dia tivesse sido tão glamoroso quanto esse meu, você também não escreveria um post drama queen daqueles? Eu escrevi.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Eu vou dedicar este post àquela primeira garota sentada ali na fila (para ler ouvindo Raul Seixas)

Gentes, voltei.
E fiquei esse tempo todo de convalescência delirando de febre pensando em vários assuntos bacanas. Mentira. Fiquei foi sofrendo sozinha, abandonada porque marido estava viajando, e pirando nas canções non sense de que eu costumo gostar.
Então, aviso: este post vai ser longo. Quer pegar um cafezinho?
...
E vai meio free style. Quer pegar algo que te ajude a transcender a barreira da lógica?
...
Não gosto de generalizar, mas aqui vou arriscar: todas as mulheres que decidem engravidar esperam (torcem, sonham, supõem) conseguir de primeira, ou, quando muito, em pouquíssimos meses. Daí, a gente, que tem ovários policísticos diagnosticados há trocentos anos, embarca nessa esperança delirante e... PIMBA! Claro que se frustra quando descobre que a concepção pode demorar um pouquinho mais ou, no meu caso, precisar ser induzida.
Não é o fim do mundo, eu sei. Muito menos um decreto de infertilidade. Mas dá aquele medinho de quando a gente está prestes a realizar um sonho enorme, imenso. Para algumas pessoas isso é o casamento com pompa e circunstância. Para mim é (e sempre foi) a questão da maternidade.
Tenho e tive muitas expectativas sobre gravidez, parto, nascimento, amamentação e maternagem. Eu sei, raciocinando como manda o figurino, que não devo esperar muitas coisas porque quanto mais completo é o planejamento maiores são as chances de decepção, afinal a vida é cheia de reviravoltas e não podemos controlar tudo, e blá, blá, blá. Juro que vou ninar meus filhos com essa ladainha (ou tentar educá-los assim, sei lá). Mas o que seria desse mundão cheio de psicólogos se não fossem as neuroses, não é mesmo? E mais ainda: o que seria dos lacanianos, junguianos, freudianos e kleinianos se não houvesse a linda, famosa e infalível neurose materna? Nada.
Assim, para manter o emprego de tão importantes profissionais, vou dar asas à minha loucurinha. Mas para vocês não pirarem comigo (ou me fazerem pirar indo bundear em outros portos, me abandonando), vou dividir tudo, achar o MDC da minha vida (ah, vai: toca Raul!), e colocar vocês para sofrer em pedacinhos (por favor não quebrem minha coleção do Pink Floyd).
Ou seja: vou fazer vários posts, tá? Bem maluquinhos. Bem cheios de frases à la Raul, o Seixas. Me amem? Me dão a mão? Deixem a luz acesa?

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Fever

Trezoitão. Na cabeça.
E foi assim que a gripe me derrubou de novo. Ontem, quando tomei o relaxante muscular, já estava sentindo os primeiros sintomas dela, e minhas dores pelo corpo e na cabeça não eram tensão, e meu pilequinho de ontem não era culpa do relaxante muscular. É que quando eu tenho febre, deliro. Não cheguei às vias de fato na última noite, mas tive uma alteração do meu estado mental normal (que já não é muito bom, não é mesmo, minha gente?).
Hoje, medicada (com outros remédios e sem febre), só posso dizer que apesar do texto confuso, truncado e subjetivo, eu realmente aguardo novidades bacanas para dezembro. E não é um bebê (ainda). O que será, heim?

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Pode postar de pilequinho?

Então que estou em uma semana trevas. Mil coisas acontecendo, trabalho, trabalho, trabalho. E há dois dias que eu vou dormir às quatro da matina, e acordo no dia seguinte, me arrastando, às oito - é claro, porque eu não dormi o suficiente.
Então, hoje resolvi usar um relaxante muscular, e estou aqui de pilequinho, mas ainda oprimida pelo cursor nesse blog, que até eu publicar o texto não vai parar de piscar, e que é como meus problemas na cabeça, piscando a madrugada toda, não me deixando dormir, que é como o tique-taque do meu relógio interno, que me avisa que eu não posso deixar muito para depois o sonho da maternidade, que é como o devir da vida.
Daí, que quando olhamos o cursor piscar, temos duas opções. Ou escrever para que ele pisque somente nos suspiros, nas vírgulas, nos intervalos, ou observá-lo (e se deixar oprimir com isso, ou entender que, às vezes, tudo o que pode ser feito é observar).
Hoje, em meio à correria do mês de agosto (oi, está assim para todo mundo?), eu escrevo, escrevo, escrevo, mas sei que quando termino a frase, não vou parar para pensar na próxima que devo construir. É tempo de apenas observar o cursor piscando porque, algumas vezes (muitas) nessa vida, lançamos a palavra, a ideia, a ação, os dados, e tudo o que podemos fazer é esperar, com paciência, para ver onde vão cair.
Tudo isso para dizer que (além de eu estar verborrágica por conta do relaxante muscular) às vezes me sinto oprimida e pressionada pela necessidade da novidade, pois vivo cercada de blogs de grávidas e mães (e como a vida a se gerar ou a crescer tem novidades!), e também que está chegando o momento (é em dezembro, mas a gente sabe que dezembro é logo ali) de tomar importantes e ousadas decisões.
Por enquanto, não as partilharei. Mas assim que chegar a hora, espero poder dizer aqui que nos intervalos entre as frases desse blog nasceu uma incrível novidade.
Torçam por mim!

OBS: Super parabéns para a Carol, que virou mamãe do beBenjamin!

terça-feira, 26 de julho de 2011

A enxaqueca, a mídia e o que aprendi com exercícios físicos

Longe de mim querer (na verdade, poder) julgar os outros. Mas existem algumas situações que não acontecem na vida alheia que merecem minha atenta reflexão, seja porque se trata de pessoa querida e que me pede ajuda, seja porque eu me solidarizo e me imagino naquela situação. Nesse último caso, eu julgo a mim mesma, tendo em vista tal (ou tais) acontecimento(s).
No meu trabalho as mulheres são maioria absoluta. Com isso, reina a ditadura da dieta: não posso comer isso porque estou de dieta, não posso beber aquilo porque tem muitas calorias. Com isso, pequenos prazeres desaparecem e vivemos sob o duro regime da restrição de gorduras e carboidratos.
Ontem, uma amiga querida ficou em casa. O motivo: enxaqueca. Quem já teve enxaqueca ao menos uma vez na vida entende que as dores são restritivas e até imobilizantes. Essa amiga vive de dieta. Não acho que a enxaqueca tenha necessariamente relação com a dieta, mas isso me fez pensar que muitas vezes em nossas vidas negligenciamos nosso corpo, ou dele exigimos para além dos limites, em busca de um modelo que não condiz conosco, seja porque nosso estilo de vida é diferente, seja porque nossas necessidades fisiológicas são diferentes (ninguém pode querer ter o metabolismo acelerado de uma modelo de passarela, né?). Daí, minha cabecinha monotemática logo enveredou pela seara da maternidade e pensou que durante a gravidez exigimos demais de nosso corpo e mente: somos obrigadas pelo corpo a produzir mais recursos, pois um serzinho está se formando e precisa de energia; por sua vez, a pressão social, personificada em sua maior instância pela mídia, nos obriga a uma série de condutas cada vez mais rígidas: engordar pouquíssimo, praticar todas as atividades físicas com a mesma disposição, nada de estrias, corpo normal no pós-parto em tempo recorde. Haja autocobrança, minha gente.
Daí, volto as minhas atenções para minha vidinha: é difícil viver e compreender que o outro é apenas o outro, uma maneira diferente de lidar com as mesmas (ou muito parecidas) imposições da vida. É complicado perceber que nossos problemas são problemas, sim, mas que as outras pessoas desse mundão de meu deus também têm suas dificuldades.
Mas por que tudo isso? Ora, porque eu voltei a praticar exercícios regularmente (havia dado uma paradinha, o que minha coluna, essa ingrata, logo percebeu e denunciou) e a maior lição que a prática de atividades físicas me ofereceu foi entender os limites do meu corpo. E que se dane se a pessoa do meu lado consegue levantar vinte quilos na caneleira, que faz um pas de bourrée com perfeição ou consegue correr sete quilômetros diários. O que importa e o que vale para mim são limites claramente definidos, e que de modo algum me colocam acima ou abaixo das demais pessoas.
Mas não parei por aí na reflexão: matutando sobre o que aprendi com minhas atividades físicas, lembrei que muito em breve viverei totalmente imersa na ansiedade das tentantes e que devo ter muito cuidado para não me cobrar demais, não me impor determinadas metas que valem para os outros (mas não sei se servem para mim). E por falar em metas alheias, e a barriga depois da gravidez, heim? E os exercícios durante a gravidez? E...
Bom, aí eu fiz o que eu podia fazer em meio a tantas coisas que levam a outras coisas que levam a outras coisas: entrei para a meditação.
Todo mundo comigo: OOOOOOHHHHHMMMMMMMMMM

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Dia especial

Hoje é um dia muito especial porque há dezoito anos minha tia me deu o melhor presente que eu poderia ter recebido.
Eu morava em outro estado, e minha família toda estava no Rio, esperando o momento em que minha tia se tornaria mãe. A cesária (eletiva) foi marcada para um sábado e eu só consegui chegar depois que a cirurgia já havia acontecido. Lembro até hoje de chegar no quarto e encontrar o bebê mais lindo que eu já tinha visto: ela era carequinha, com uns olhinhos azul-cinzentos e o rosto perfeito. Dez dedinhos nas mãos, dez outros nos pés. Perfeita. Linda. Minha boneca, já que eu ainda era uma criança.
Aquela era a primeira prima que eu via nascer e que eu testemunharia o crescimento. Fiquei absolutamente encantada: queria segurar o tempo todo, queria trocar fraldas, colocar para arrotar, assistir ao banho, brincar, apertar. Ela era linda e, poucos meses mais tarde, se tornou um pouco minha também. Foi uma surpresa, pois nunca imaginei que eu poderia ser a escolhida para batizá-la (uma responsabilidade da qual tinha plena consciência mesmo tão nova e a qual sempre levei muitíssimo a sério), mas também porque nem minha tia nem ninguém poderia supor o quanto eu e minha afilhada desenvolveríamos uma relação tão amorosa, tão amiga, tão especial.
Hoje ela fez dezoito anos. Muito mais velha do que eu quando a conheci. E é bom ver minha boneca crescer bem, inteligente, amiga, íntegra e divertida. Amo muito minha afilhada: são laços de sangue, mas também é a afinidade, a mútua admiração, o respeito recíproco. Por isso, já escolhi - e acho que há dezoito anos - a madrinha do meu primeiro filho (ou filha). Ah, sim. Mantendo a tradição familiar, isso também será uma surpresa para ela.
;)

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Minha mãe que disse

Quem tem internet já sabe: hoje é dia do amigo. Foram tweets, músicas, declarações meladas de amor, tipo uma micareta do dia dos namorados. Daí que a comemoração mais bacana de hoje foi o lançamento do Minha mãe que disse, uma enoooorme base de dados da blogosfera materna. Ali, estão cadastrados mais de setecentos blogues e a participação das internéticas (e internéticos) não para por aí: é possível mandar textos, comprar, vender, botar a boca no trombone, fazer abaixo assinado, rifa e... opa, rifa, não. O fato é que nesse ambiente colaborativo, a amizade das idealizadoras, a Roberta e a Flávia, se desdobrou em uma rede de infinitas amizades possíveis, imaginadas e até mesmo estabelecidas. Ali, encontrei uma penca de blogues que leio (e os quais ainda não tive tempo de listar aqui do lado) e um outro tanto de novidades — eu também já estou por lá, minha gente.
E para completar toda essa belezura, elas ainda estão promovendo um sorteio de boas-vindas! Claro que eu estou participando do sorteio de lançamento do Minha Mãe que Disse! Mas para descobrir o que elas estão sorteando, tem de dar uma passadinha .

terça-feira, 19 de julho de 2011

Noite caliente

A noite passada, aqui no meu lar, selvagem lar, foi caliente. Ui! Para vocês terem uma ideia, não preguei os olhos até o dia raiar. Isso porque marido ia viajar num daqueles voos corujões, sabem, e decidiu que antes de passar uma imensa semana longe de mim, ia fazer uma senhora despedida.
Então, às quatro da manhã, ele resolveu me fazer uma surpresa e veio me dar um beijinho de "até logo, meu amor". Para não me assustar, deixou a luz do quarto apagada enquanto se debruçava sobre mim, com a xícara de café na mão e... Opa! Xícara de café na mão enquanto se debruçava sobre mim com o quarto às escuras?
Claro que o café se derramou: colchão, lençol, pijama, minha pele, chão do quarto, paredes, abajur, livros, tudo, absolutamente T-U-D-O ficou tingido e morno. Por sorte não nos queimamos, mas eu passei a madrugada inteirinha esfregando chão, tecidos e paredes, tentando evitar manchas e cheiros de mofo (café mofado é horrível, já sentiram?), pois marido precisava pegar o voo. Resultado? Noite insone e marido viajando.
Ninguém pode negar que esta foi uma madrugada selvagem e caliente, mas aposto que a maioria começou a leitura pensando besteira. Não foi?

terça-feira, 28 de junho de 2011

Das cafeteiras de nossa vida

Eu tenho uma penca de emotivas e carinhosas tias-avós. Então, quando eu resolvi casar e homenagear meus avós, a comoção rolou solta.
Ontem estava em casa e recebi um telefonema da minha mãe:
- Ártemis, sua tia Gilda comprou uma cafeteira para você.
- Ah, mãe, que bacana. Vou ligar para agradecer amanhã, hoje estou exausta e...
- Minha filha, acho que você deve telefonar logo porque você não sabe o que aconteceu...
E começou a contar.
Minha tia-avó se emocionou bastante com o casamento e resolveu que queria me dar um presente. Entrou em uma loja e se apaixonou por uma cafeteira. Comprou, mandou embrulhar bem bonito e foi para casa. Lá, encontrou meu tio-avó no computador (sim, eles são fofos assim: moderninhos e usuários de novas tecnologias!), na hora do lanche. Tia Gilda, cuidadosa com o marido, se ofereceu de levar para ele o bolinho da tarde, virou-se e... SLAPT... escorregou. Quebrou o fêmur. Três fraturas. Dor. Muita dor. No hospital, foi levada para cirurgia, mas antes de conseguir resolver o problema do fêmur, precisou ficar internada, tomando não-sei-o-quê para baixar creatinina. Cirurgia feita, placas, pinos, ossos e taxas sob controle, ela telefona para minha mãe e avisa que a minha cafeteira está com o filho dela. Minha mãe pergunta:
- Mas, tia, como a cafeteira foi parar com meu primo se a senhora foi para o hospital logo depois de comprar a cafeteira?
Bom, minha tia-avó, deitada em sua sala, com o fêmur quebrado em três pedaços, provavelmente urrando de dor, lembrou-se (e fez questão) de pedir para alguém levasse a minha cafeteira para a casa do filho dela, pois seria mais fácil para eu buscar.
Fofuras à parte, isso me fez pensar nas cafeteiras que temos na vida.
Quantas vezes, em meio a uma confusão dos diabos, sentindo dores atrozes, nos importamos com a cafeteira em vez de nos concentrarmos no que realmente importa?
Eu ainda não sou mãe, mas suspeito que a maternidade deva ter tudo a ver com esse raciocínio, pois que vejo muitas mães empenhando energia e dedicação àquilo que não importa muito, enquanto o que verdadeiramente tem valor fica relegado a segundo plano.
Não acho, porém, que todas as cafeteiras de nossas vidas sejam necessariamente ruins, pois diversas vezes elas nos servem de proteção a situações para as quais não temos estruturas emocionais adequadas. Outras vezes, as cafeteiras fazem alguém importante tão feliz por se sentir especial, que compensa. Acho que o desafio, como sempre, é encontrar o meio-termo, o equilíbrio, a harmonia.

Claro que eu telefonei ontem mesmo para minha tia-avó, para agradecer o carinho, a atenção, a preocupação e, claro, a lição que ela nem sabe que me deu, mas que nunca mais me deixará olhar uma cafeteira com os mesmos olhos.

domingo, 26 de junho de 2011

Pré-balzaquianices

Vinte e nove não são trinta, mas que eu sou uma pré-balzaca, ah, isso eu sou. E como em todas as idades (pelo menos para mim), as neuroses não nos decepcionam. Ao contrário, nos acompanham incansavelmente, apenas mudando algumas perguntas de lugar.
Pois bem, hoje, na agenda, tinha um programa bacanérrimo, que incluía reencontrar amigos que há muito eu não via, uma festa com muito rock'n'roll e uma disposição que só o finzinho das férias e a iminência de se tornar uma balzaca e ter de provar que os hormônios que aos dezoito floresciam, aqui ainda florescem como lá dá a um sábado à noite.
A despeito de eu ter ficado com preguiça de ir cortar meu cabelo e ele ainda estar esquizofrênico, fiz uma produção satisfatória, com pernocas de fora e tudo. Carreguei o marido que, de boa vontade, tomou um Redbull para aguentar o tranco, e lá fomos nós para a tal festa.
Quando o táxi parou, não entendi muito bem:
- Moço, a festa não é aqui, não.
- É, minha senhora, mas tem muita gente na rua e é melhor vocês seguirem a pé.
Fingi que não ouvi o "minha senhora" e saltei glamurosa, usando aquele velho truque da mãozinha na frente da saia para evitar calcinhas exibicionistas, direto para uma fila que, cacetada!, quase dava a volta no quarteirão.
Marido foi se certificar de que não estávamos na fila do Banco do Brasil, mas só porque quando eu gritei "vê se essa fila não é para montar acampamento para o show do Restart" ele já estava meio longe. Fiquei rezando, quietinha, para que ninguém me chamasse de tia ou para que eu não encontrasse minha afilhada atracada a um barbudo (vocês já repararam que a moda da garotada da ala masculina é cultivar uma barba meio Che?). Marido volta com o boletim completo: é fila para o ingresso, devem ter umas quatrocentas pessoas na nossa frente e você não deu um passo desde que chegamos aqui. É, amor, essa parte de ter ficado no mesmo lugar eu já sabia.
Apesar da perspectiva desoladora, decidimos ficar e entrar na festa. Acho que o primeiro sinal de que sua idade não é compatível com a proposta da festa é quando você decide ficar na fila pelo motivo errado: provar que está tudo bem e que você ainda aguenta mofar numa fila quilométrica só para se espremer com desconhecidos em um espaço relativamente pequeno. Mas quem disse que seu orgulho, que após meia hora de fila já é amigaço da neurose pré-balzaca, deixa que você admita isso? Você fica, achando que está camuflada no meio daquela meninada, mesmo sabendo que você usa um perfume Chanel enquanto elas se bezuntam de hidratante Victoria's Secret. Rá.
Então, estava eu ali, me autocongratulando bastante por praticar exercícios regularmente e, por isso, ainda poder ficar uma hora de pé na fila sem ter a coluna em frangalhos, quando ela chegou e parou a meu lado (na verdade, ela furou fila mesmo, mas quem liga, não é mesmo?). Nós fizemos faculdade juntas, embora nunca tenhamos sido amigas. Eu não lembro o nome dela, mas dou aquela avaliada global para checar se tudo o que tenho feito para me manter mais ou menos está de acordo com os padrões etários. Cabelos sem muitos fios brancos, poucas e discretas rugas, pelancas controladas, suaves bolsas sob os olhos, mas de um modo geral eu e ela estamos bem. Tenho ímpetos de ir parabenizá-la, mas decido massagear apenas um ego e fico quietinha, aproveitando a brisa agradável da noite.
O relógio indica que minhas aulas de ginástica realmente fazem efeito: uma hora e meia de fila e necas de dores lombares. Então, no meio da multidão, surge um camarada, aos gritos, anunciando que aqueles que desejarem abrir mão do desconto fajuto que a tal "lista amiga" oferece podem seguir diretamente para a bilheteria e entrar, sem fila, sem estresse. Ora, ter um emprego, e não um estágio, tem suas vantagens, afinal. E agarrada firmemente a esse pensamento, vou com o marido para a tal não fila.
Acontece que a não fila é outra fila. Menor, é verdade, mas com os mesmos adolescentes barbudos e meninas que conversam sobre Pe Lanza.
É nesse exato momento que minhas neuroses, até então discretas, resolvem dançar "Conga conga conga" dentro do meu cérebro: será que se eu desistir e for para casa vai ser coisa de velha? Será que eu vou ter crises claustrofóbicas de velha se eu entrar com esses meninos bêbados? Será que eu sempre fui tão pudica ou as saias realmente estão encurtando e minha idade aumentando? Será que no meu tempo de boates e festas as filas eram tão enormes assim e eu não percebia? Será...
- Ártemis, você quer mesmo enfrentar mais essa fila para entrar com toda essa gente na festa? - marido me chama de volta à realidade.
- Sim, claro. Não vejo o pessoal há tanto tempo e...
A verdade é que eu não queria entrar e ter de lidar com tanta gente. Resgato a adolescente que fui e ela me diz: programa de índio, não importa a idade.
- Vamos embora, marido.
Marido concorda, me abraça e resume a noite:
- A vantagem de ter quase trinta em vez de dezoito é que você já tem experiência suficiente para saber quando um programa não vale o esforço.
Voltamos para casa para viver o que 100% deles quer, mas bem menos de 1% vai conseguir ali dentro: amor.
É, eles invejariam meus quase trinta.

sábado, 25 de junho de 2011

A falta que ela me faz

Minha melhor amiga mora longe. Muito longe. Tão longe que a distância não se mede mais em quilômetros, mas em milhas, essa medida desconhecida e misteriosa, e em anos - o tempo que ela fica longe do meu abraço.
Então, neste mês de maio, minha melhor amiga veio me ver casar (ela, é claro, foi madrinha). E no mês de junho ela veio me visitar novamente, para me ver comemorar um aniversário, o primeiro que passamos juntas desde que nos conhecemos. É que sempre moramos longe uma da outra. Apesar disso, todas as vezes em que nos reencontramos, parece que foi ontem que nos despedimos. Deve ser por isso que eu me permito ter novamente catorze anos, e rir até doer a barriga, e pular de alegria quando a vejo, e ser ridícula porque a amo.
Sei que deveria me sentir muito feliz por ter uma pessoa tão especial quanto ela na minha vida, e assim me sinto na maioria do tempo, mas quando vem chegando a hora da despedida, não consigo deixar de pensar que eu gostaria muitíssimo de tê-la comigo sempre, todos os dias, porque os momentos especiais às vezes são programados, como um casamento, mas muitas vezes acontecem numa distração, no descuido que a rotina tem ao ser engolfada, ela mesma, num tédio sem-fim. Sei que minha melhor amiga estará aqui quando eu precisar. Sei que ela estará presente mesmo quando distante. Mas é que me dói deixá-la levar a menina que eu fui. Daí, eu me lembro que estarei guardando a menina que ela foi, e, por isso, todas as vezes em que nos encontrarmos, estaremos felizes em nossa meninice, e então estou mais uma vez contente por tê-la.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Ansiedade, essa palavra de quatro letras

O ser humano é um bicho engraçado, tenta rotular e determinar tudo aquilo que o cerca, de modo que ele possa dizer "eu sei" ou "eu conheço". Não é de hoje que elegemos uma doença ou patologia como o "mal do século", desde a Peste até a depressão, passando inclusive pela opção sexual, tudo parece estar sujeito ao aval daquele carimbador maluco do Raul (o Seixas), pois se não for selado, registrado, carimbado, avaliado, rotulado, não se voa, não se move e se liberta. Há algum tempo venho ouvindo a máxima de que o mal do século é a ansiedade, porém acho interessante notar que há não muito tempo esse posto era ocupado pelo estresse. Mas aí a inflação estabilizou, os loucos anos 80 deram lugar a menos yuppies e os anos 90 e sua geração Y explodiram o estresse, dando à depressão um memorável primeiro lugar na lista dos mais-mais e, em breve, os anos 10 deslindarão uma nova doença que irá desbancar a ansiedade. Até lá, fiquemos com ansiedade como o mal do século. De posse desse, quero pensar sobre outro clichê, para ir treinando, já que dizem que ser mãe é, entre outras coisas, cultivar e repetir clichês.
A primeira palavra que passa a fazer parte do vocabulário das mães deve ser ansiedade. Mesmo a mais zen, a mais ponderada tem suas angústias assim que se descobre grávida ou, não raro, mesmo quando começa a planejar a ampliação da família.
Para mim, a ansiedade é plural e composta por quatro letras.

M
De menstruação.
Muitas mulheres têm uma relação complicada com seus períodos. Cólicas, intensidade do sagramento, variações de humor, inconveniência, muitas são as reclamações que coleciono nesses quase trinta anos de feminilidade. E realmente, ser mulher e menstruar impressiona. Aos seis anos impressionava porque era sangue, e nossas mães diziam não estar machucadas. Hoje, aos 29, impressiona porque está intimamente relacionado ao poder de gerar, parir e perpetuar a vida. É visceral. Mas, para mim e meus ovários policísticos, menstruar é um motivo de ansiedade, já que nunca sei quando acontecerá, nem em que intensidade e, sobretudo, se fará parte de um ciclo ovulatório e, portanto, fértil.

E
De estrutura, de estabilidade.
Não conseguiria contar a quantidade de vezes que pensei sobre o assunto. Existe um dito popular que afirma que "filho vem com pão debaixo do braço", mas como classe média malresolvida, sempre penso se devo esperar mais tempo, para ter mais dinheiro, mais estrutura, uma casa maior, mais tempo, mais qualidade de vida, mais segurança para ter esse filho. E aqui, onde digo "segurança", desdobram-se diante dos meus olhos muitos outros significados para essa tal segurança (outra palavrinha de muitas letras). Minha segurança mora nas escolhas e é irmã siamesa da insegurança, ou seja, onde uma vai, a outra é carregada a reboque, e basta ter a andança interrompida por arrogâncias e surpresas para olhar para o lado e se lembrar de que ali está a gêmea. Minha segurança, então, é instável porque sinaliza o outro lado da moeda e é constantemente posta à prova pelas circunstâncias e decisões que tomo (ok, acontece assim com todos, não sou diferente, mas isso não minimiza a ansiedade que isso traz).

D
De dor.
Morro de medo de dor. Com o parto não poderia ser diferente. Mas meu medo da dor não se limita ao momento do nascimento, com suas contrações misteriosas, suas intervenções indesejadas. Morro de medo da dor que um parto diferente daquilo que desejo possa me causar. E falo aqui bastante especificamente da cesárea. Não sou radical e tenho bem claro que ser uma boa mãe não está necessariamente relacionado ao tipo de parto a que fomos submetidas (se não, mães adotivas jamais seriam boas mães e isso definitivamente não acontece). Porém, quero muito, muito, muito ter um parto normal, sem anestesia (mas e a dor?), sem episiotomia (mas e a dor?) e sem desassitência. Por outro lado, como bancar esse desejo? De dar a cara a tapa? Sustentar minhas escolhas e decisões? E se eu perder o controle e acabar frustrada no meu intuito de parir naturalmente? E se eu tiver de lidar com essa dor (a dor do que não foi porque não tive força e fibra) por toda a vida? Dor e estrutura se entrelaçam numa perigosa dança: médico, informação, poder de escolha, confiança no profissional, acesso aos melhores recursos; é necessário dosar tudo isso em uma química perfeita, que me permita ter o parto que eu quero, mas não sei se sou capaz.

O
De ônus.
Sendo muito sincera, nem só de alegrias vivem as mães. E aquilo que não é só alegria me deixa ansiosa, pois preciso de garantias inexistentes de que conseguirei lidar com uma nova realidade feita de sono entrecortado, baby blues, cansaço, birras, manhas, rebeldia (adolescente ou não), brigas, dores, dores, dores. Serei eu capaz de ser uma boa mãe mesmo sendo posta tão à prova?

Então, minha ansiedade tem quatro letras: M-E-D-O
Conseguirei eu ser mãe? Conseguirei eu ser uma boa mãe?
Tenho muito medo porque não posso determinar o que o futuro me reserva. E assim, tentando antecipar dores e alegrias, fico presa, impedida pelo carimbador maluco que carrego dentro de mim de ultrapassar esse clichê: da ansiedade da treinante.

E vocês? Quantas e quais são as letras da sua ansiedade?

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Safari: eu sobrevivi

Sobrevivi.
Mas depois eu conto mais sobre o safari, porque agora as malas estão prontas e saudade no meu peito não me deixa escrever muito: em pouco mais de 24h estarei em casa, em uma nova dimensão de selvageria, que inclui a vida de recém-casada e o canídeo que habita (e bagunça) nosso lar, selvagem lar.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

All we need is love (and food)

Ok. Chegou a hora de fazermos o safari. Amanhã iremos para o parque e, caso não sejamos devorados por um leão faminto, volto para contar como foi assim que possível (o que, espero, não seja daqui a três dias, quando termina a aventura). Dos medos que envolviam este safari, já posso riscar um (o voo até a cidade mais próxima do parque) e acrescentar mais outro: o frio. Está tão frio, mas tão frio aqui que acho que os bichinhos vão me reconhecer pelo cheiro. Vai ser um tal de "ih, lá vem aquela maluca do casacão bege" e "olha, aquele urubu está voando só com uma asa" (porque a outra estará tapando o nariz), afinal, sabe-se lá se será possível tomar banho com os 3 graus que estamos enfrentando.
Mas nem só de tormentos congelantes vivemos nós, os recém-casados - sim, marido não para de contar isso para todos por aqui. Então, vou aquecer seus coraçõezinhos.
Chegamos no hotel depois de um voo caótico. Ventos loucos, decolagem e pouso com tremeliques e chiliques (fiquei tão nervosa que senti um calor miserável e, ao descer no aeroporto, achei que os três graus estavam bacanas, fresquinhos e agradáveis). Claro que eu não comi durante essa viagem maldita. Deixei para me alimentar no hotel, já devidamente instalada e com os quatro dois pés no chão. Rá! Óbvio que o restaurante do hotel estava fechado, que o hotel fica longe para dedéu de qualquer lugar habitável e que o McDonald's por que passamos não faz entregas. Pânico. Se houvesse calor, um fio de suor escorreria por minha fronte, mas o máximo que consegui foi um esganiçado "ahhhnn...". Bom, de vez em quando é mesmo bom ter cara de maluca, pois a mocinha da recepção se apiedou de minha pessoa e se ofereceu para me levar (e me trazer de volta, em um PT Cruiser com aquecimento!!) no tal McDonald's (a única coisa que ainda vendia algo parecido com comida por perto).
Não aceitei, claro. Mas meu estômago, esse maroto, roncou tão alto que abafou minha educação e tudo o que me restou foi agradecer com todo o meu ardor.
Embarquei no carro da moçoila, nervosíssima, pois não sei muito bem como agir em situações assim: fico grata, mas tão grata, que quero pagar com aquilo que tenho de melhor, que é minha habilidade com as palavras. Seria ótimo diverti-la nesta noite fria com ótimas histórias e gracinhas. Seria, se eu dominasse o inglês, né? Então, o que eu fiz, na verdade, foi um constragedor discurso de como fomos enganados pelo motorista de táxi que nos levou ao hotel, repleto dos mais clássicos e atrozes erros de sintaxe e concordância. (Alô, IBEU! Precisam de alguém para servir de exemplo do que NÃO dizer?)
Enfim, tentei, errei, me esforcei (ela também) e, conversa vai, conversa vem, eu pergunto o nome dela e sabem o que ela me responde?
- Meu nome é Lerato, e na minha língua, significa AMOR.
Não é lindo? Em plena lua de mel o amor se apieda de minha fome e me leva, num carro confortável, estiloso e quentinho, para arranjar comida.
Cheguei à conclusão de que, realmente, os quatro rapazes de Liverpool estavam certos: tudo de que precisamos é amor (e alguma comida).

quarta-feira, 8 de junho de 2011

A lua de mel e o mito da selvageria constante

Não sei se sou uma exceção. Mas acho que não. O fato é que aconteceu uma coisa muito curiosa nessa minha lua de mel. (Calma, não precisa tirar as crianças da frente do computador ou desconectar o celular, porque o que vou contar é, como diria minha bisavó, aceito nas melhores rodas e famílias.)
As pessoas têm uma incrível e até invejável ideia de que a lua de mel deve ser um momento de desconexão total com o mundo: não devemos nos comunicar de maneira nenhuma, porque estaremos muitíssimo ocupados o tempo todo, seja visitando lugares, seja...hmmm, ok, você entendeu meu ponto. Mas o fato é que, graças!, não ficamos transloucados e incomunicáveis, temos alguns momentos de descanso no hotel, temos a oportunidade até de termos privacidade e momentos a sós! Minha lua de mel, além de ser uma lua de mel, é também uma parte das minhas férias, e faz parte da minha noção de descanso e entretenimeto navegar hoooooras a fio pela internet, lendo o que eu quiser, assistindo o que eu bem entender, conversando com os amigos e... pois é, é aí que mora o problema: as pessoas simplesmente pararam de falar comigo porque, em sua invejável concepção de lua de mel, eu mais do que estou ocupada, eu PRECISO estar ocupada o tempo todo, e conversar é um desperdício de tempo, energia e sei lá mais o quê.
Resultado disso é que compramos um pacote de internet para usarmos de noite - quando as lojas e passeios estão fechados por aqui, mas ainda temos bastante tempo para gastar antes de irmos dormir -, e não existe uma viva alma que, espontaneamente, venha falar comigo. Quer dizer, existe só uma: minha mãe, fofa, que todos os dias quer saber da viagem, se estamos aproveitando bastante, descansando bem. Deve ser porque ela já teve uma lua de mel e sabe que selvageria em tempo integral não é a regra, assim como essa minha solidão de amigos em plena lua de mel não deve ser exceção.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Ah, a vida selvagem!

Às vésperas de embarcar no meu primeiro safari (é sério!), resolvi criar um blog sobre família. Ou melhor: sobre a família que estou construindo. Em plena lua de mel, prestes a experienciar a vida indomável (ui!) na África, percebi que viver a dois, a três, a quatro (e a quantos sua dinâmica familiar permitir), pode ser bastante selvagem. Sobretudo se pensarmos que conhecer intimamente alguém significa frequentemente encontrar sua natureza despida da polidez social. Significa encontrar no outro um ser roots, que vive de acordo com instintos básicos de sobrevivência e territorialismo (já tentou disputar um lugar no colchão com o marido esparramado? Então você sabe do que estou falando, espertinha...), que muitas vezes vira bicho ou desperta a fera que existe em nós (com duplo sentido, mas sem Sucrilhos, por favor).
Porém, no meu horizonte de perspectivas não brilha apenas a breguice desse texto o safari vindouro; acredito que minha vida selvagem e íntima tenha tudo para se tornar ainda mais indomável muito em breve, pois eu e marido estamos nos programando para ampliar a família.
Assim, este será meu diário de bordo. Excursões frequentes (não as prometo diárias porque às vezes o clima não permite) into the wild, todas bem-guiadas, embora nem sempre sãs.
Só se lembrem de manter os braços e pernas dentro do veículo, e boa viagem!