A biblioteca pública daqui é ótima. Especialmente durante o inverno, quando as opções de lazer passar a ficar mais restritas devido ao clima. É, portanto, um dos nossos passeios favoritos e vamos lá pelo menos duas vezes na semana.
Ontem fomos.
Logo na entrada eu ouvi uma moça falar "Ali na máquina, filha", em português. Era a minha xará, brasileira, que conheci lá mesmo, na biblioteca. Uma fofa. As filhas (são duas) também. Conversamos um pouco, mas Arthur quis brincar de alguma coisa. Ele mesmo, sozinho, deu boa tarde aos bibliotecários que estavam ali, explicou o que queria e escolheu o brinquedo. Aqui, a gente "aluga" uns jogos e brinquedos para usar dentro da biblioteca. Conversei um pouco com os funcionários, todos muito simpáticos, e perguntamos uns aos outros sobre coisas do dia a dia: "melhorou da gripe?" ou "e esse frio?!" ou "planos para o fim de semana?". Conversas comezinhas. Nada especial. Mas Arthur quis ir logo jogar o jogo que escolheu.
Era Monopólio. A gente joga free style, porque ele é muito novo para aquele tanto de regra. Isso significa que a gente escolhe os bonequinhos, roda o dado e fica andando no tabuleiro, pega o quanto quiser de dinheiro (que escolhemos pela cor, não pelo valor), coloca casinhas quando e onde quer, vaipara a cadeira a cada rodada (Arthur acha muito engraçado, embora não entenda por que tem uma cadeia se é um jogo de casinha. "Mamãe, mas quem é o ladrão? O que ele fez?", pergunta ele todas as vezes). Basicamente, a gente faz o que quer, quando quer.
Então estávamos no meio do jogo quando chegaram Finn e Colin. O Finn tem pouco mais de um ano e é filho do Colin, marido de uma colega de trabalho do marido. São ótimos, os três, e papeamos um pouco, marcamos um play date para os meninos e logo o pequeno Finn ficou com fome, fazendo gestos (ele usa a linguagem de sinais para bebês para se comunicar. Um fofo!), e eles se foram.
Guardamos o jogo e quando nos levantamos para devolvê-lo à mesa dos bibliotecários, onde ele fica, encontramos no caminho nosso ex-vizinho. Antes de se mudar para cá aquele meu vizinho que morreu, vivia uma família aqui embaixo. O menino é bem mais velho que Arthur, deve ter uns 8 anos, então eles não interagem muito. Mas os pais são muito simpáticos e o ex-vizinho veio perguntar do zica e conversamos longamente sobre zica, dengue e malária.
Arthur, entediado, saiu correndo e eu fui atrás, pedindo desculpas, toda enrolada.
Encontrei meu filhote sentado em um dos computadores. A seu lado, Vidhya, uma amiguinha fofa da sala dele. Eles ficaram quietinhos, interagindo com um joguinho de palavras/histórias que ela estava vendo/brincando, e eu conversei com a babá. O irmãozinho da Vidhya é um bebê redondo e sorridente e foi bem difícil me concentrar na conversa com aquele ser todo simpático para cima de mim.
Já tinha enfiado gorro, luvas e casaco no Arthur quando chegou meu próprio marido.
Então eu me dei conta de que, enfim, chegamos aqui. Chegamos na comunidade. Chegamos na nossa vida. Chegamos a um ponto em que conversamos, conhecemos e reconhecemos as pessoas, sabemos coisas sobre suas vidas e nos preocupamos com elas e elas conosco. Chegamos ao momento em que o coração se divide: amigos aqui, amigos lá. E vocês sabem, em coração dividido cabe mais amor. Então eu acho que está bom. Muito bom.
Nenhum comentário:
Postar um comentário