Eu estava tensa. Acabara de descobrir que o Ney Matogrosso era o primeiro homossexual brasileiro a fazer a transformação para virar um autômato. Na tevê, ele, o Ney, se preparava, então, para fazer mais um salto sobre a trave. Fazia parte de sua apresentação, ele estava acostumado, mas ainda assim eu estava nervosa. O fato de estar dando uma entrevista para a Murda* ao mesmo tempo em que reproduzia com exatidão os movimentos de Ney não contribuía para que relaxasse. Observava a posição dos pés dele para imitar, enquanto me perguntava como seria essa transformação, já que nunca conheci um autômato que não tivesse nascido assim, e também tentava me concentrar na pergunta da entrevista. Mergulhei as mãos em uma bacia de amido de milho. Ney se preparou. O amido é suave e adstringente ao toque. Ele sobe, surpreendentemente ágil e forte para a idade. Amo o Ney! Eu subo. Murda aguarda minha resposta. Ney se prepara para atravessar a trave em uma pirueta coreografada. Eu tento, mas não consigo dar uma estrela e sinto uma dor lancinante na coluna. Acordo: com fome, toda torta na micro cama do meu filho e muito pau da vida porque não fiquei sabendo se o Ney conseguiu terminar o show sem se machucar, nem o que comentou sobre se transformar em um autômato, muito menos o que eu ia responder para a Murda. E pior: provavelmente passarei o restante da madrugada tentando me lembrar - sem sucesso - qual será que era a pergunta da Murda.
Então, leitorxs, muito cuidado na hora de escolher o livrinho que vão ler para o filhote dormir, mas mais cuidado ainda para não dormir sem perceber. A próxima vítima da Murda perguntadora ou do Ney autômato pode ser você!
*Murda é um monstro inventado por Shel Silverstein em seu Fuja do Garabuja, que foi nossa escolha para a hora de ir dormir.
HAHAHAHAHA
ResponderExcluirEsses dias sonhei que estava trabalhando na produção de um show do Roberto Carlos, minha função era organizar os presentes que ele ganhava...
Vai saber de onde o tal rei surgiu no meu subconsciente
hahahaha encontrei alguém que tem sonhos tão doidos quanto os meus!
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