segunda-feira, 8 de agosto de 2016

O resgate oriental

Domingo de sol e todos no parque. Um festival de artes movimenta a cidade e parece que todo mundo está ali, na beira daquele laguinho artificial com patinhos nadadores.
Encontramos Lola, a menina fofa que corria com Arthur na aula de música. Conversamos um pouco, as crianças correm, tudo bem.
Lola vai embora e Arthur decide que quer ir ver os patinhos.
Lá na beira do laguinho tem pato e passarinho, e a brincadeira é correr na beirada, sobre o calçamento de pedras, para espantar as aves. O calçamento é estreito e de pedra, por isso, fico em pânico e vou junto. Falo 237854 vezes para ele parar de correr porque pode cair na água ou se estropiar nas pedras. Por 237854 vezes ele me ignora. E corre. E ri. E acha um barato arriscar cair na água cheia de cocô de pato.
Decido falar mais uma vez, porque sou mãe e recebi treinamento ainda na maternidade para efetuar repetições no nível "batendo recorde do Guiness Book".
Assim que termino de proferir o último fonema da advertência acontece aquilo!
Um oriental, que estava correndo junto a Arthur, brincando com ele de um pique-pega apavorante, usando uma mochila maior que seu corpinho de 3 anos, este menino resolve cuspir no laguinho artificial. Com os dois bracinhos jogados para trás em busca de equilíbrio, ele inclina o corpinho para a frente, vê o reflexo de seus lábios cuspindo na superfície do lago e, antes que até mesmo um pato consiga dizer "quém", cai de cara na água. Arthur continua correndo e pulando. A mãe da criança está em outro mundo, de costas para a cena, assistindo ao show de jazz que acontecia. Então, vendo o oriental ainda submerso naquela poça de concreto com pouco mais de dois palmos de profundidade, consigo me certificar de que Arthur não será o próximo a beber um drinque de cocô de pato e resgato o pequeno rapaz. Nos segundos que levei até alcançar o lugar onde ele caiu de cara na água, o menino conseguiu, sabe-se lá como, dar uma espécie de cambalhota e ficar de pé no lago. Por isso, quando chego, tudo o que faço é içar o garoto, ensopado e coberto de excrementos de pato, colocando-o de novo no calçamento de pedras. A mãe ainda está assistindo ao show, então fico com ele, olho para ter certeza de que está bem, sem cortes, machucados ou qualquer outro problema evidente. Ele parece bem. E só quando a mãe olha, finalmente, é quando ele começa a chorar. Assustado, provavelmente com frio. A mãe o conforta, o leva embora.
Sou parabenizada pela pequena multidão que estava acompanhando o show e viu tudo o que aconteceu.
Pego Arthur pela mão. Ele gargalha. Ri muito do oriental que mergulhou no laguinho. Se diverte de verdade. Eu sei que empatia não é o forte de crianças novinhas, mas como é de pequeno que se torce o pepino, tento falar que o menino chorou, que a gente não pode rir, mas não consigo, porque estou gargalhando junto com meu filho. Recebendo parabéns pelo resgate de pessoas que também gargalham. Indo contar, com o riso frouxo, a história para outros que assistiam de longe, e que também gargalham.
E assim, queridxs leitorxs, resgatei o oriental às gargalhadas - espero que uma ação neutralize a outra e eu fique com o karma zerado - e agora tenho um filho que não pode ouvir falar em cocô de pato sem ter um acesso de riso incontrolável.

4 comentários:

  1. Eu também ri daqui... Mas eu não devia rir porque já passei por isso.
    Mas me lembrei de um causo destes que a gente repete à exaustão "cuidado, pode cair aí..." Uma vez, em um casamento de um colega de trabalho, em um lugar maravilhoso com um lago, numa fazenda bem legal, adivinha né? Sim, depois de falar mil vezes "cuidado" minha filha caiu no lago e tivemos que ir embora com ela molhada até a cintura.

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  2. O que me deixou encucada foi a mãe do japinha deixar a criança solta por ai como se não houvesse amanhã...
    ps. também estaria gargalhando =D

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