sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Tô bem, obrigada!

Uma das particularidades da cidade onde vivo atualmente é que ela fecha cedo. Não é incomum ver todas as lojas com as portas cerradas às seis da tarde. Sete da noite, então, o raro é ver alguma coisa ainda funcionando.
Mas na primeira semana, eu não sabia, né? Ainda no fuso de Chicago, saí para fazer compras no mercado aqui perto às 18h45, horário local, 11h45 da manhã, horário interno de meu corpo recém-chegado.
Outra peculiaridade daqui, que não chega a ser peculiar, apenas um fato, é que moro em uma cidade onde a primeira língua é o holandês.
Vejam bem, eu falo português, me viro no inglês, arranho francês, compreendo espanhol, pesco alguma coisa de alemão e italiano. Mas holandês é complicado. Holandês é muito diferente de qualquer input linguístico que eu tenha: sintaxe, prosódia, léxico, tudo é muito novo para mim.
Então, estava eu no mercado, às 18h55, embora meu corpo cresse piamente que era quase hora do almoço, tentando descobrir se o produto que eu tinha em mãos era um detergente ou um suco quando vem uma senhorinha de cabelos curtos, óculos de aro de metal e colete com a logo do mercado e fala comigo. Eram muitas informações ao mesmo tempo: estômago roncando, olhos caçando uma língua conhecida no rótulo, ouvidos escutando aqueles sons desconexos. Parei o que fazia e disse, em inglês, confiante: "Ah, não, obrigada, eu estou bem."
Por que fiz isso? Só Freud talvez saiba. Mas foi o que deu para arrumar naquela hora, tirar da cartola uma frase aleatória em inglês que traduzisse apenas "me deixe em paz" de maneira educada.
A moça parou de andar e respondeu, então: "senhora, estou falando que estamos fechando a loja."
Sorri, agradeci mais uma vez, me enfiei na fila e voltei para casa com: um biscoito salgado que não queria comprar, dois pêssegos, uma fome desgraçada e um produto que não descobri até hoje se era suco ou detergente.
Brincadeirinha: era suco.

5 comentários:

  1. Respostas
    1. Não mesmo! Hoje uma moça fez um discurso imeeeenso para mim antes que eu pudesse perguntar "English?". Ela fez que não com a cabeça e foi fazer o discurso imenso para outra pessoa que falava holandês. eheheh
      Mas, Mariana, tédio também não existe na SUA vida! Dois filhos, faculdade, cursos...
      bjs

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  2. nossa que coisa hein?rsrs deve ser complicado se acostumar!

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  3. ahh quantas histórias vocês vão ter pra contar... e quantas experiências o Arthur vai ter =)

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  4. Já morei numa cidade em que isso rolava também. No domingo, então, sair depois das 18h era garantia de encontrar uma cidade fantasma. E o pânico dos vendedores querendo te expulsar na hora do fechamento?! E holandês é tenso mesmo.

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