quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

O parto — parte 1

Eu estava finalmente dormindo. Tinha tomado um remédio para insônia, porque nos últimos meses de gravidez estava bem difícil dormir. No meu sonho, eu sentia contrações e ia para o hospital. Chegando lá, a única sala de parto com banheira estava ocupada por uma japonesa. E eu falava "não acredito que mais uma vez eu não vou ter o quarto com banheira por causa de uma japonesa".
Acordei rindo, porque não teve nada disso no primeiro parto e eu estava em casa ainda, grávida de 40 semanas e 2 dias, conformada de que Gael nasceria só depois das 41 semanas.
Mas aí, meu riso virou surpresa, porque o que me fez acordar não foi a japonesa ladra de banheira, nem a insônia insistente, mas sim contrações. As contrações que eu vinha sentindo no sonho eram reais!
Comecei a cronometrar. Estavam vindo mais ou menos de 2 em 2 minutos.
Acordei marido e disse "alô, povão, agora é sério :chora cavaco!". Começamos a entrar em semi pânico juntos.
Era madrugada, contrações bem juntinhas, segundo filho — que geralmente nasce mais rápido que o primeiro, é isso no meu caso era meio assustador porque eu tive um TP ativo rápido para uma primípara. Nossas principais preocupações eram deixar Arthur bem com um amigo que mora aqui perto e chegar no hospital a tempo, sem parir no uber, sem sujar o carro alheio.
Liguei para a midwife, mesmo sabendo que ainda era muito cedo, porque eu precisava de respaldo profissional no monitoramento das contrações. Eu ainda achava que iria conseguir desligar meu lado racional e mergulhar fundo no trabalho de parto.
Ela confirmou que era cedo e que, apesar do curto espaço entre contrações e da possibilidade de ter um parto rápido, eu ainda estava sem sinais de TP ativo, com contrações fracas.
Fiquei em casa monitorando, portanto, por algumas horas. Sempre ligando para a midwife e tentando contato com o amigo que cuidaria do Arthur. Quando ele finamente atendeu o telefone, decidimos que deixaríamos Arthur com ele e iríamos para o hospital em seguida. Acordamos Arthur, contamos que Gael estava chegando, perguntamos se ele preferia ir ao hospital conosco ou ficar na casa do amigo. Ele escolheu o amigo, e marido foi levá-lo lá — o amigo mora no quarteirão do lado.
De repente, esse amigo liga. Para a nossa sorte, ele tinha alugado um carro para ir buscar a irmã no aeroporto! Teríamos, então, carro para ir ao hospital e a irmã dele para cuidar do Arthur enquanto ele nos levava lá.
Arrumamos o que faltava na mala — que preparei de novo em cima da hora, coisa de alguns dias antes — e fomos. As contrações estavam mais fortes e continuavam nos 2 minutos de intervalo.
Cheguei no hospital — Felipe, o amigo, entrou com o carro na contramão da emergência, para dar aquela emoção — e fui para a ala da maternidade.
O hospital daqui é imeeeeeeenso, com várias especialidades e alas. Foi onde fiz o check-up cardíaco, onde levamos Arthur quando ele deu uma cambalhota de mal jeito e machucou o pescoço alguns dias antes (eu estava de 39 semanas e tal!), enfim, é um hospital bem grande mesmo.
Na recepção, me fizeram assinar o tempo de consentimento e de ciência (de que poderia morrer em decorrência de complicações, algo bem legal), colocaram uma pulseira de identificação em mim e me encaminharam para o quarto. A midwife da clínica estava lá, preenchendo papéis, e disse que já iria nos encontrar. Pedi que me colocassem no quarto com banheira e... não tinha japonesa alguma ocupando o lugar, e a midwife já tinha reservado ele para mim.
Aqui, as coisas funcionam no sistema de plantão. Ao menos na clínica que escolhi. A midwife que estava de plantão não era a minha favorita. Na verdade, nem curtia muito ela. Mas ao longo do trabalho de parto me afeiçoei a ela e foi difícil a troca do plantão!
Entrei no quarto com marido, a midwife veio logo atrás.
(Continua na próxima postagem)

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