O quarto era simples, em termos estéticos, mas com tudo que eu precisava para parir, em termos de equipamentos.
Na visita que fizemos ao hospital no começo do terceiro trimestre, nos informaram de várias coisas que considerei bem chatinhas. Uns protocolos irritantes, tipo acesso venoso obrigatório, monitoramento contínuo obrigatório, impossibilidade de parir dentro da banheira, só para citar os mais inconvenientes para mim.
Entrei, portanto, esperando uma chuva de obrigatoriedades, mas parir com midwife é tudo de bom, e meu monitoramento foi intermitente e não tive acesso venoso!
O esquema de trabalho lá é assim: eu tenho a midwife que me acompanha particularmente, o hospital tem a midwife de plantão e a estudante sob sua supervisão porque se trata de hospital-escola. Assim, a midwife do hospital e sua aprendiz vieram se apresentar a mim. Não faço ideia do nome delas. Mas foram as duas que controlaram os monitores cardíacos (um para mim, um para o bebê) no começo do TP, e foram elas que perguntaram uma série de coisas, tipo: eu aceitava credê? E vacina de hepatite B? E injeção de vitamina K? Como eu planejava lidar com a dor?
Autorizei a estudante, a vacina e a vitamina K. Vetei colírio e circuncisão. A midwife da clínica disse que eu não precisava de acesso venoso e nem de monitoramento contínuo, então neguei isso também.
Já eram umas 6 da manhã, e as contrações estavam super tranquilas ainda. Eu conversava e brincava entre elas.
Foi então que me deu uma fome horrorosa !Aliás, eu tive fome no começo do TP também, e a midwife falou que esse era um sinal de que eu NÃO estava em TP ativo.
Beleza.
Falei que estava com fome e rolou aquele constrangimento, porque eu não poderia comer no hospital. A midwife comentou que tinha uma cafeteria no hospital, que seria bom eu dar uma caminhada para ajudar nas contrações, e eu, idiotamente, não entendi que ela estava dando um jeito de dizer onde e como eu poderia arranjar comida no hospital. Além de estar em TP, sou caxias demais para burlar regras assim, então nem me liguei.
Fui à cafeteria para comprar café para marido e para caminhar. A cafeteria fica bem longe da ala da maternidade, e eu fui numa boa, tirando foto fanfarrona, fazendo graça, mas já voltei com dores mais fortes, parando para respirar/contrair naquele looooongo corredor.
Voltei sem comida e a midwife, então, precisou pedir as únicas coisas que eu poderia comer: gelatina, suco de maçã e caldo de galinha. Comi uma gelatina aos bocadinhos porque não queria vomitar. Mas aí minha glicose dei aquele show que vinha dando: subiu rápido, desceu rápido e eu fiquei miserável! Pediram, então, o caldo, que tomei com muita alegria ao longo do TP e que me salvou legal em termos de energia e tapeação da fome.
Aliás, isso foi bem diferente do parto do Arthur, quando eu perdi totalmente o apetite e não comi nada do que eu tinha comprado para enfrentar o processo. Dessa vez eu estava faminta, e me senti assim mesmo já avançada na dilatação.
Bom, entre 6 e 9 da manhã eu fiquei em trabalho de parto latente, conversando, comendo, bebendo, acompanhando as conversas entre marido e a midwife, monitorando as taxas todas no painel de exames, uma beleza! Entrei na banheira, andei pelo quarto, fiz tudo que meu corpo pedia. A medidam e marido se revezavam para fazer massagens na minha lombar — outra diferença em relação ao primeiro trabalho de parto, quando eu não queria ninguém pensando em encostar a mão em mim, menos ainda durante as contrações!
Antes de deixar o plantão, a midwife perguntou se podia fazer um toque. Autorizei, até porque eu estava muito curiosa e bem tranquila. Ela mediu e eu estava com 4cm. Debi, esse era o nome dela, uma vovozinha fofa e de voz calma, se despediu e começou o plantão da Barbara. Bróder, meu santo não cruzou com o dela! Nem no pré-natal, nem na hora, nem depois. Ela foi muito correta durante meu TP, mas foi só isso. Sei lá, não deu aquele clique legal, sabe?
Bom, como eu não tinha escolha, foquei no trabalho de parto, tentando me desconectar do mundo ao redor e mergulhar no processo, em mim, buscando me conectar de maneira profunda com meu filho.
Eu fechava os olhos, abria a boca, relaxava os músculos faciais, vocalizava e buscava a melhor posição. Naquelas horas de trabalho de parto latente, usei bola, banheira, massagens, cama, chão, banqueta, tudo! Exauri os recursos do quarto.
A coisa começou a engrenar às 10 da manhã. Entrei, nitidamente, na fase ativa. Já estava mais aérea e distante das pessoas ao redor, as contrações vinham bem doloridas e eu já estava começando a xingar — um hit para meus partos desde 2012. Também a memória ficou confusa, parece que tudo foi um grande embolado de sensações e não um continuum de tempo e fatos. Sei que tomei mais caldo de galinha, chupei gelo, mudei bastante de posição porque todas doíam muito, em algum momento parei de falar "oh my goodness" e comecei a berrar, urrar e gritar "oh my fucking goodness", porque, sim, ao contrário do que eu imaginei, eu pari em inglês, e isso fez com que meu lado racional ficasse alerta e operante durante toooooooodo o TP! Isso foi beeeem diferente em relação ao primeiro parto, e dessa vez eu não consegui mergulhar naquele estado de entrega absoluta, porque eu precisava estar presente e responder de maneira coerente à equipe que mal me conhecia — mesmo a Barbara tinha me visto uma única vez durante o pré-natal
Quando chegamos perto de meio-dia, Barbara pediu para fazer novo toque. Deixei. Estava com 8cm.
Nessa hora eu me desesperei!
(Continua na próxima postagem)
Estou aqui na própria partolandia!!!
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