Segundo o dicionário Aulete, existem cinco acepções da palavra "mimo", e somente uma tem cunho pejorativo. Acho curioso que justamente esta acepção, que associa excesso e carinho especificamente ao mundo infantil, tenha ganhado tal força que apague as demais. Como assim vivemos numa sociedade em que ignoramos solenemente "graça, leveza, coisa encantadora, delicada ou bela"?
Bom, aí eu comecei a remoer, né?
Tudo começou... ora, sei lá bem como começou. Acho que desde que Arthur saiu daqui da pança e não ficou no bebê conforto, nem no carrinho, nem no bercinho, as pessoas começaram a ficar incomodadas com as minhas escolhas. Ora, que chatura! Gostaria de saber de onde as pessoas tiraram a ideia estapafúrdia de que carinho faz mal, sobretudo, ao caráter de uma pessoa.
Pois bem, o fato é que fiquei aqui matutando sobre o que significa mimar uma criança, e sobre por que encher o filhote de carinhos e afagos causa tanto frisson.
Ora, mimar, se tomarmos a significação pejorativa da coisa, entendendo que uma criança mimada é necessariamente algo não desejável, logo inferimos a ideia de oferecer à criança uma resposta incorreta quando ela pede amor. Incorreta porque imprecisa, porque não precisa, desnecessária.
A criança PRECISA de amor, de cuidado, de afeto, de atenção. Ou seja, ela precisa de mimos, nas outras quatro acepções dadas pelo dicionário.
Por outro lado, a criança NÃO precisa do último videogame, de ganhar presentes e mais presentes a cada efeméride, de ter zilhões de brinquedos e DVDs e, sobretudo, ela NÃO precisa (e nem deveria) ser largada sozinha com todas essas desnecessárias materialidades. Note bem que eu não estou julgando ninguém, nem pretendo analisar a conduta de nenhuma mãe. Estou pensando genericamente sobre esse rótulo do "mimado", até porque ele foi o meu rótulo durante anos, apenas porque eu sou filha única.
Eu acho que as pessoas dizem que uma criança é mimada porque não entendem que amar é mimar, porque é cuidar, é zelar, é dar afeto, é dar carinho, é agradar/ser agradável. Isso não estraga ninguém. E mais: é coisa completamente diferente de dar materialmente as coisas. Esses "agrados materiais" são, muitas vezes, uma muleta para os pais, que compensam ausências físicas e emocionais, e para os filhos, que se agarram a coisas, quando deveriam se agarrar a pessoas e emoções. Na nossa sociedade, em que ter se confunde com ser, não causa espanto a confusão na mais primordial das relações, não é de se estranhar que mães e pais queiram mostrar à sociedade o quanto amam seus filhos enchendo-os de símbolos e emblemas do ter, do bem-cuidar: carrinhos caros, eletrônicos, coisas de última geração (e aqui se incluem alimentos ditos "de ponta", como leites fortificados ou vitaminas XPTO), tudo "do bom e do melhor". Não acho que façam isso de má fé. Ao contrário, querem mesmo dar tudo de bom e do melhor. Mas a gente está numa sociedade em que as escolhas (e escolher É consumir) estão pasteurizadas, ou pré-definidas. Vemos isso quando os pais são rotulados, tipo, se o nascimento se deu através de cesárea, os pais vão dar leite artificial, chupeta, Galinha Pintadinha e festa no buffet infantil. Em contrapartida, se o nascimento se deu através de um parto domiciliar, os pais serão adeptos de sling, evacuation comunication, amamentar até fazer 18 anos e só dar presente de garrafa PET reciclada. Como se fosse um pacote, feito aqueles de quando a gente casa: dez bem-casados, vinte chocolates, dois tipos de croquete, suco e refri.
Só que não é assim, né?
As escolhas estáo aí para serem... escolhidas. E muita gente está ocupada demais para fazer isso, ou então ainda não percebeu que pode ser assim. Ou já percebeu, já escolheu algumas coisas, outras não, mas não se livra do rótulo. E o rótulo serve para quê? Para vender! Vender ideias e produtos e estilos de vida a um grupo que possa ser enquadrado num determinado público-alvo. Então, se a criança está "mimada", num estado que parece beirar a patologia, vem uma série de produtos e soluções para ela: Super Nanny, livros, filmes, produtos que vão fazer do momento de interação com o filho algo inesquecível e dinâmico.
Mas eu vou contar um segredo, aqui, ó, bem baixinho. Só entre nós: as crianças não precisam de rótulos, nem de brinquedos, nem de angústias, nem de exigências de independência e maturidade precoces. Eles precisam de amor, limites claros para que não se machuquem (física e emocionalmente) e para que se insiram socialmente de acordo com os valores da família em que vivem.
Então, por favor, mime o seu filho! Continue amando, siga o seu coração, continue se questionando, mas respire fundo. Você não está sozinha nas escolhas, medos, dúvidas e angústias. Nós todas somos você, a mãe que quer (e deve) oferecer ao filho todo amor do mundo.
Pode me chamar de maluca, mas acho que as tais "crianças super nanny", são exatamente as que falta.....MIMO. Sempre entendi que mimar é cuidar e não no sentido pejorativo da palavra. Aqui em casa, com o Thomas, por motivos inerentes à minha vontade, precisei complementar a comida dele, mas nem por isso vou largar o coitado num bebê conforto pra eu descansar. Usamos sling, conversamos com ele, dou beijo, abraço, penso na festa de um aninho dele como as minhas sempre foram: em casa, com bolo, com brigadeiro, sujeira, com presentes abertos na hora, com foto com os parentes, mas por outro lado, ele usa chupeta às vezes. hehe é engraçado mesmo como as escolhas estão aí, escolhemos pensando no melhor deles, mesmo que não sejam as escolhas mais politicamente corretas. Sim, ele nasceu de parto natural e respeitoso, porém, toma enfamil. Tipo, é uma coisa dúbia, que as ´pessoas parecem que não entendem. Ou é parto natural e amamentação até x anos ou cesárea e leite artificial...às vezes as coisas precisam ser diferentes, rola uma quebra de paradigma.
ResponderExcluirAdorei seu post! E também concordo que mimar é amar. é cuidar, é ensinar. Dar presentes é legal, mas nada substitui o carinho, o afago, o colo anytime...hehe
Bom...meu comentario deu um post, né? heheehhe
bjoks
Carol
www.meuparasita.com
PS: vamos combinar um encontrinho nos estrangeiro, hein? hehe
caroltoom@ig.com.br
Artemis, estava conversando com marido sobre isso ontem. Pq ja vieram nos falar q criança acostuma com colo, detalhe, Pedro tem 14 dias. Oq o povo acha q uma criança q nem entendeu q saiu do utero precisa? Aqui nada de amamentar com hora marcada e as bisas piram na LD! kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.
ResponderExcluirVejo mta mãe compensando falta de carinho com presentes, mto triste!
Adorei o post.
Beijos
PS: Sorry a falta de acentos, mas digitar so com a mão esquerda ta tenso. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Bravo, bravo!!! Aplaudindo de pé, Ártemis!! \o/ \o/ \o/
ResponderExcluirQueria escrever um monte sobre isso, mas ainda tô procurando as melhores palavras, porque tenho casos muuuito perto de mim, não posso ser muito direta, haushaushau.
Adorei mesmo as suas palavras!
Vou compartilhar lá no face \o/
Beijo grande!!