segunda-feira, 3 de outubro de 2016

O drama das malas (e outras histórias) - parte 2

[Clica aqui para ver a parte 1]
Chegamos ao aeroporto com cinco malas: duas grandes, uma imensa (lembra que compramos uma mala? Pois é, escolhemos a maior da loja!) e duas malas de mão. E mochilinha do Arthur e carrinho, claro.
Sair do táxi foi uma prévia do que viria pela frente, mas resolvi viver um minuto de cada vez, caso contrário eu surtaria ali mesmo, no embarque.
Bom, chegamos com algum esforço e muito suor ao balcão de atendimento da companhia aérea. Ali, havia duas balanças, onde pesamos todas as nossas malas (e também nosso filho, já que não consegui marcar consulta com a pediatra antes de virmos embora) e constatamos, não sem um desespero profundo e intenso se apossar de nós, que havia sobrepeso.
Sobrepeso é um nome bem bonito para taxa extra, né? Para um "estão fodidos e vão ficar ainda mais duros antes de embarcar".
Abrimos as malas no aeroporto (por favor, visualizem a cena) e ponderamos como poderíamos passar uns quilos para as malas de mão. Bichinhos de pelúcia foram realocados, cogitamos jogar fora o tapete de brincadeiras do Arthur (também conhecido como Arthurópolis), retiramos um casacão pesadão do maridão e... tchanã! Todas as malas dentro do peso ideal, menos a gigante recém-comprada, que continuava com sobrepeso. Não tinha jeito, não iríamos conseguir redistribuir mais de dez quilos de tralha, então decidimos ficar dentro da primeira faixa de excesso de peso da bagagem. Paciência (tô aceitando frila, viu? se alguém do meu círculo profissional estiver lendo isto, por favor, mande mensagem e trabalho). Aí, fomos fazer o check-in e gerar os bilhetes de embarque. O que poderia acontecer de errado? Nada, certo? O mais difícil tinha passado.
ahahaha (riam comigo)
(mais um pouco)
Já falei aqui que Arthur tem um nome bem comprido e que isso, nos EUA, é uma coisa tipo bizarramente louca e esquisita. Pois bem: a máquina digitalizadora não conseguia ler os sobrenomes do menino e ficamos muuuuuuuuitos minutos tentando gerar os bilhetes. No fim, não conseguimos, e fomos advertidos pelo moço da companhia que poderíamos ter problemas no embarque por conta da fiscalização, que o atendente que fizesse a checagem dos bilhetes precisaria ser compreensivo, já que o nome do Arthur saiu errado/cortado. Ok. Tem outro jeito? Então vamos.
Vocês escolheram uma fila com um atendente paciente e compreensivo? Nem a gente. Precisamos chamar o rapaz da companhia aérea, que veio explicar por que o nome estava diferente do passaporte e tal e, finalmente, passamos.
Ufa! Sem mala, com check-in feito, de posse dos bilhetes de embarque... já sonhava com os sonhos lindos que teria dentro da aeronave. Com as horas que passaria relaxando, sentada, sem carregar mala, sem correr. Com as horas que passaria...
Ah, sim, onde eu estava? Estava, enfim, embarcando. Mas não sem antes ter um filho que se enturmou com duas crianças no saguão do aeroporto e tocou o terror, correndo e passando por baixo das fitas que formavam o serpear das filas de embarque em frente aos guichês. Passageiros sorriam, passageiros faziam caras de reprovação, passageiros eram empurrados e atropelados por aquelas crianças desgovernadas, mas eu deixei. E deixei conscientemente. Porque, pensei eu, é muito melhor que ele queira correr FORA do avião do que DENTRO. E bem melhor que ele gaste energia, que se canse e extravaze para que façamos uma viagem com uma criança cansada. E vocês sabem: criança cansada é criança feliz.
Bom, não posso dizer que foi um voo perfeito, mas também não foi um desastre. Tirando o fato de que eu morro de medo de avião e qualquer balancinho me faz estremecer, tirando o fato de que não sobrou comida para o Arthur (não a que ele queria, pelo menos), tirando o fato de que nos sentamos na última poltrona da aeronave e, acima de tudo, tirando o fato de que eu não consegui pregar os olhos durante absolutamente todas as horas de voo por causa do fuso e do estresse acumulado, o voo não foi terrível.
Terrível mesmo foi a chegada. Primeiro porque não dormi. Segundo porque a companhia aérea perdeu nosso carrinho e Arthur, cansado, sonolento e, óbvio, irritadiço, não encarou isso numa boa (nem eu). Terceiro porque depois da imigração, recuperamos as malas, que eram apenas três, mas ainda assim davam muito trabalho.
Vou resumir aqui as mais de DUAS horas que gastamos entre pegar as malas e ir reclamar da perda do carrinho: foi FODA.
Minha pressão deu chilique, Arthur deu chilique, marido deu chilique, eu dei chilique. Estávamos todos exauridos, esgotados. Acho que marido era o pior de todos, embora tenha conseguido dormir, porque parte da correria final ficou nas costas dele, incluindo reclamar o carrinho, já que Arthur só queria ficar comigo e ele precisou ir sozinho.
Vocês acham que acabou, só porque chegamos em solo belga?
Nã-nã-ni-nã-não!
Chegamos em Bruxelas. Moramos em Ghent. Ou seja: precisávamos pegar um fucking trem até a cidade e, de lá, sabe-se lá o quê mais.
Amigxs, deem aqui um abraço, deem. Eu não sei o que eu fiz na encarnação passada, mas deve ter sido pesado. Porque esse karma de viagem zicada não passa! Ártemis, viajando com caos since 1982.
Descobrir como pegava o trem, arrastando duas malas grandes, uma imensa, duas de mão e uma criança mau humorada de cansaço pelo aeroporto e pela estação de trem foi uma prova de resiliência e determinação incríveis. E, enfim, quando conseguimos comprar as passagens, ir para a plataforma de embarque correta (obrigada, Bélgica, pelos elevadores na estação de trem!), sentarmo-nos em um dos bancos duros do saguão... Arthur quer fazer xixi. O trem chegava em cinco minutos, não havia tempo para ir procurar um banheiro, não havia alguém para perguntar se tinha banheiro dentro do trem, não havia mais fralda que evitasse um acidente desastroso, mas existia a minha garrafinha de água, rapidamente transformada em banheiro.
Finalmente embarcamos no trem certo rumo ao destino certo!
E ele tinha banheiro (fica a dica).
Entre cochilos e "ohhhhs" por causa da paisagem, chegamos a Ghent.
Lembram que agradeci aos elevadores em estações de trem da Bélgica? Esqueçam!
Em Ghent não tem isso. A cidade é medieval e o que tinha eram uns portugueses solidários que nos ajudaram (obrigada! obrigada! obrigada) a descer com as malas por aquelas infinitas escadas da estação.
Cereja do sundae de cocô da nossa chegada foi tentarmos sacar dinheiro no caixa eletrônico para pegarmos um táxi e irmos para a cama, digo, para a casa que (assim esperávamos) tínhamos alugado pela internet, e o cartão ser BLOQUEADO porque nos esquecemos (não sabíamos que precisava) de desbloqueá-lo para ser usado fora dos EUA.
Acho que ficamos uma boa hora na estação de Ghent, ligando para o banco dos EUA, tentando resolver a pendenga.
Resolvemos, entramos no táxi, chegamos no endereço e... era uma casa de verdade! Ufa! O senhorio era um fofo, falou várias coisas, respondi como dava, mas lá pelas tantas me desculpei e expliquei que, para mim, eram quatro da manhã e ele, enfim, nos deu a chave da cama, digo, da casa.
O fuso me castigou, vocês já sabem, mas hoje eu vejo que o que não nos mata, nos fortalece: tinha uma celulite na minha coxa direita que foi extirpada com essa maratona de sobe-desce-puxa-empurra de malas. Quero dizer, foi extirpada no primeiro dia, porque aqui tem cerveja e chocolate, e a celulite está aqui de volta, firme e forte. Mas prometo que vou chegar o ao Rio sem ela: ainda temos três malas mais duas de mão para arrastarmos de volta, todo este trajeto de novo. E depois de novo. E de novo. E de novo...

3 comentários:

  1. Eu tenho desânimo de ir na Barra porque é longe, sem mala, só com criança.
    Imagine com malas and criança, avião , fuso horário e alfândega

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    1. eu tb! eu tb! só que eu não tive escolha, né? eheheh
      bjs

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  2. Estou amado e me divertindo muito com a desgraça alheia!
    Digo, sorry, como moro aqui, visualizo toda a desgraça pois vc descreve tudo com muita riqueza de detalhes. Lembrei do meu surto de raiva de ter de suspender UMA marinha para 4 dias de Paris naquelas estações fedidas subterrâneas, arcaicas, horrorosas, sem elevadores!
    Estou amando os relatos! Bem vinda a EU e eu acho que aqueles varais na calçada e pontas de cigarro pelo chão vc vê em bairros pobres e de estrangeiros. Tipo gueto mesmo. Moro perto de um!!!

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