segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Outubro rosa

Apaguei. A história não era minha, e quando pensei em deixar o anonimato, converti para rascunho histórias com nome e sobrenome entre os que me conhecem. As minhas histórias ficam. As dos outros não podem, não devem. Só se eu for anônima, porque assim as histórias dos outros seguem protegidas. Optei por continuar anônima, mas apaguei aquela história de cinco anos atrás.
Publiquei no dia - vejam que coincidência - que exatamente um ano depois eu daria luz ao meu filho. E hoje - será que um ano antes de eu dar à luz de novo? será que um ano antes de algo grandioso acontecer de novo? -, mesmo sem vocês terem como acessar o começo, venho contar o desfecho.
Foi vencida pelo câncer de mama uma amiga querida.
Câncer é caminhão, e atropela os sonhos e os planos. E ela estava no caminho, indo em frente como todos nós, seguindo a vida do jeito que a vida deixava. E veio o câncer. E vieram muitas outras coisas depois dele. Coisas de que não vou falar, porque a história, mesmo eu sendo anônima, não é minha. E minha amiga fez o que fez a vida toda: enfrentou, seguiu a vida, buscando vida onde os outros enxergavam a morte. Foi viva, minha amiga, até o fim. Catou os planos e sonhos do caminhão, salvou o que não tinha se partido por inteiro e trilhou a estrada, com coragem. Cinco anos depois, ontem, minha amiga morreu. Deixou em mim saudade e sua história, marcada por coragem e busca incansável. Deixou um vazio no mundo, mas, em mim, também deixou algumas lições. Não vou partilhar todas, mas uma, faço questão.
Por uma infeliz coincidência, em outubro se concentram as campanhas de conscientização sobre o câncer de mama. É o outubro rosa. Por isso, peço licença a vocês, que vêm aqui me ler, para interromper a minha jornada e lembrar da jornada da minha amiga, lembrar às minhas leitoras que câncer de mama é o câncer mais comum entre as mulheres no mundo (no Brasil, ele ocupa a segunda colocação) e é relativamente raro antes dos 35. Minha amiga tinha 32 quando descobriu o câncer. Raro não significa impossível, significa menos comum. Amamentar reduz os riscos de câncer de mama, mas conheço mães que amamentaram e, ainda assim, tiveram câncer de mama. Riscos reduzidos não significa imunidade.
Por isso, façam o autoexame, mas gastem um tempinho para ler esta página, do INCA, que explica por que o autoexame, isoladamente, não é considerado uma ferramenta eficiente de redução das mortes por câncer de mama graças à deteção precoce.
Fiquem atentas a seus corpos, conheçam seus corpos, seus sinais, cuidem-se: vão a médicos, clínicas, façam exames, perguntem quando não tiverem certeza e não tenham medo de pedir segundas, terceiras, muitas opiniões se ainda resta alguma dúvida.
Minha querida amiga nos trouxe esta lição. Sejamos todas humildes e espertas para aceitar e aprender.
Fica a lição, mas fica também a saudade.

2 comentários:

  1. Eu não sou anônima, mas vou manter o silêncio e dizer apenas que seu post veio no momento certo. Tocou, emocionou.
    Assim é a vida, né?

    Mas discordo que sua amiga foi vencida, já que o câncer com ela morreu. Ele nunca vence, vez ou outra apenas empata quando não permite que a pessoa o vença e siga em frente.

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    1. Pois é, Mariana. Também estou emocionada aqui.
      Gostei da sua interpretação, realmente o câncer não vence, apenas empata.
      bjs

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