Era uma vez uma mãe que acabara de se mudar para um país que falava outra língua que não a sua. Ela sabia relativamente bem os usos e desusos da gramática e do vocabulário, mas, como todo falante de segunda língua que acaba de aportar na nova terra, ainda precisava lapidar certos meios e modos no novo idioma.
Um dia, essa mãe estava com seu filho na cozinha, almoçando, quando um barulho ritmado e forte começa no pavimento de cima: POU, POU, POU. O filho, com seu dedinho gorducho e carinha de curioso emite um "hã". Aquele "hã" típico, que a mãe já conhece e sabe que signfica: que porra é essa, senhora minha progenitora?
A mãe, prestando bastante atenção, conclui que, àquela hora e naquele lugar, o barulho só poderia significar duas coisas: sexo selvagem enlouquecido ou uma pessoa batendo o bife para o almoço.
Diante das possibilidades, a mãe resolve escolher a resposta mais provável e, também, a mais simples e menos vexatória.
- Filhinho, esse barulho POU POU POU é o vizinho de cima batendo bife.
O filhinho, com seu dedo gorducho, carinha de curioso e olhinhos espertos logo assimila a informação, e para mostrar que entendeu direitinho, dá um tapão no próprio braço.
A mãe não entende de onde aquilo saiu, mas compreende que o filhinho do dedo gorducho captou o sentido de suas palavras. Ela, então, riu, e eles seguiram o almoço entre garfadas, batidas no braço e a frase "é o vizinho batendo bife".
Alguns dias mais tarde, o vizinho, que não é nenhum pé de anjo, caminha para lá e para cá em seu apartamento. A mãe e o filhinho de carinha de curioso escutam. O menino, então, aponta para cima e dá um tapa no próprio braço. Mensagem enviada, mensagem captada. Eles seguem comentando sobre o vizinho que batia bife, muito embora naquele momento apenas caminhasse (e ao que constasse, sem bater bife durante o processo).
Mais tempo se passa e, certa noite, durante o jantar, no dia da final do campeonato de futebol americano, esporte adorado no país estrangeiro em que moram mãe e filhinho de olhinhos espertos, o vizinho resolve dar uma festa. É um tal de passa pisando duro para cá, range o piso da cozinha para lá, bate portas, armários e pratos, grita e muxoxeia a cada lance da partida. E os dois seguem todo o tempo da refeição comentando (e o menino batendo no próprio braço) sobre o vizinho que batia bife, ainda que naquele momento ele apenas comesse snacks, bebesse cerveja e assistisse à televisão.
Eis, então, que um belo dia, no corredor do prédio, acontece o encontro. Mãe e filhinho dão de cara com o vizinho que bate bife, o qual, naquele momento, todavia, não batesse nada, apenas entrasse em casa, como eles.
A mãe arranha um cumprimento no idioma adquirido, o vizinho responde e o filho pergunta:
- Hã?
A mãe, educada, responde:
- Este é o vizinho, filhinho. Our neighbor, sweetheart.
E o filhinho, esperta e previsivelmente, embora a mãe não tivesse atinado para isso naquele momento, começa, feliz da vida, a bater com força no próprio bracinho.
Moral da história: sempre tenha na manga a desculpa de que "arm" (braço) e "neighbor" (vizinho), em português, são palavras muito, muito, muito parecidas em português. Ou apenas ensine que seu vizinho está fazendo sexo selvagem alucicrazy na cozinha durante o horário de almoço. Mas sem gestos, pelo amor!
usar o idioma para sair de situações constrangedoras também é meu lema. :)
ResponderExcluirsempre lia aqui e nunca comentava, agora perdi a vergonha.
bjs.